Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 11
Capítulo 11




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Seria uma tarefa domestica comum, coisa que todos acabam fazendo quando se mudam. Ficar sentada na cama, pegar as roupas da mala, abri-las, verificar o estado das mesmas, ver se cheiravam a mofo para já as separar para serem lavadas e, se tudo estivesse certo, pendurá-las em um cabide e as por no armário.

O que não era comum era o tempo e o silencio em que estava fazendo aquilo. Mesmo com Ayame tentando puxar conversa ela apenas respondia em uma ou duas palavras, isso quando não murmurava concordando.

- Haruka-chan! Por favor, parece que levou uma apunhalada!

Ela abaixou a camisa que estava verificando o estado e praticamente a deixou cair no chão.

- Me desculpe, mas... é difícil explicar. Quanto mais penso no assunto, mais fico agoniada. Ela me ofereceu moradia na casa dela como... não sei dizer... só porque Shiromaru gosta de mim?

- Acho que é porque ela quer ser sua parceira.

- Parceira... – fechou os olhos e sorriu fracamente – que tipo de parceira eu vou ser para ela?  Não faço parte daquele clã, ela vai ficar inferiorizada em relação aos outros. Nunca vai poder fazer... seja lá o que for que os outros do clã fazem. Você ouviu a Tsume, provavelmente não poderemos fazer os jutsus do clã... – ela riu levemente – já estou agindo como se fosse aceitar... não acredito.

- Acho que você só está procurando desculpas para não ir morar naquela casa. Está com medo, não é? Medo de morar com uma família e decepcioná-los.

Ficou em silencio e com os olhos fechados. Tentava segurar as lagrimas que queriam surgir em seus olhos. Tinha na verdade ficado maravilhada com o convite. Tinha crescido com vários outros órfãos, que na pratica eram vários irmãos. Cresceu com eles, chorou com eles, brigou com eles e tinha sua parcela de amigos e inimigos infantis que fez durante isso. Mas foi só durante a época em que um adulto cuidava dela por um dia que teve um vislumbre de como seria ter uma família. Imaginava que não seria muito diferente do orfanato, apenas haveriam menos irmãos, menos confusão para tomar banho, menos aniversários e bolos – certo, esta parte era ruim – e talvez um pouco menos de privacidade para certos assuntos, mas grande privacidade para outros.

Mas tudo isso porque uma cadelinha tinha gostado do seu chakra? Sentia-se estranha com isso. Era como se nada tivesse a ver com seus méritos, aparência ou comportamento, era mais como ganhar em um sorteio. De uma certa forma, era para deixar Shiromaru feliz.

Amarrotou a camisa em uma bola e a atirou dentro do armário. Não adiantava procurar motivos, Ayame estava certa! Estava com medo de ser uma decepção. Estava com medo porque era certeza que seria uma decepção. Não era uma família, muito menos uma família de ninjas, era um clã! Um clã com habilidades naturais as quais ela não tinha, não podia ter e que nesse assunto seria inferior a todos os outros. E ficava apavorada de pensar nisto.

Por outro lado, desde que tinha deixado Shiromaru lá estava sentindo falta dela. Tinha sido divertido lavá-la naquela banheira enorme, e também alimentá-la. Foi como cuidar de uma irmãzinha na verdade. Tinha até mesmo planejado naquela tarde visitá-la, talvez até levá-la para passear. Mas não contava em encontrá-la no banheiro de seu novo apartamento.

- Haruka-chan?

- Você tem razão, Ayame-chan... estou com medo. Medo porque é certeza que vou decepcioná-los...

- Ei! Ela não te convidou para fazer parte da família, só para morar ali. Se te incomoda tanto isso de manchar o nome do clã deles, então... espera ai! Estava pensando mesmo em aceitar ser adotada?

- Bem... – ela coçou a cabeça – é verdade. Do jeito que ela falou, pensei que podia ser isso. Mas... – começou a sorrir – você me deu uma idéia agora.

Apesar da amiga ter ficado curiosa, não disse o que tinha pensado para ela. Voltou a arrumar suas coisas mas agora com mais alegria.

Ao fim de uma hora, ambas tinham terminado de arrumar tudo e já tinham uma bacia de roupas para serem lavadas. E ficaram na duvida sobre onde iam lavá-las. Pelo jeito teriam que ir a uma lavanderia, mas ainda estavam praticamente sem nenhum dinheiro. Iam ter que pedir algum emprestado urgentemente.

Acabaram decidindo lavar as mais leves na bacia mesmo, usando a água da pia do banheiro. Estavam terminando de enxaguar a roupa quando bateram na porta.

Uma visita tão cedo? Ayame foi atender e Haruka ficou olhando da porta do banheiro. Era o sensei e Minato. Só podiam ser. Se bem que tinha imaginado que podiam ser alguns dos amigos do orfanato para verem como estavam se saindo em sua primeira casa própria. Tinham contado muita vantagem para eles quando foram pegar suas roupas, especialmente da luta contra o sensei.

- Como estão minhas genins? Limpando a casa? Lavando louça? Pegando uma vassoura para varrer as visitas chatas para fora?

As duas riram um pouco do sensei. Até que tinha sido um alivio a forma descontraída dele de agir.

- Não temos vassoura ainda – disse Ayame – do contrário eu já estaria varrendo os dois! Que tal fazerem algo de útil e nos ajudarem a lavar o banheiro?

- De novo? – disse Minato olhando feio para ela – já fiz isso no meu. Só Deus sabe o que vivia ali antes...

Ayame fez uma expressão de asco, e Haruka tentou tirar aquilo da cabeça. Se um menino disse tal coisa, era porque devia estar um nojo mesmo.

- Espero que não tenham vindo se convidar para jantar, porque não temos nem água. Só da pia.

- Na verdade, vim só ver como vocês estavam. Minato-kun disse que estavam sem nenhum dinheiro e queria saber...

- Ramen não! – se apressou Ayame para falar.

- Eu aceito! – disse Haruka pondo as mãos na cintura – ela pode passar fome se quiser.

- Querem deixar eu falar? Eu queria emprestar algum dinheiro para vocês, e o Minato-kun queria pedir uma coisa também.

- Você quem disse para eu pedir – disse Minato o olhando com os olhos bem abertos.

- É para uma boa causa – disse ele o olhando – afinal minha namorada está fora e só tem a hokage disponível para eu convidar que não a deixaria irritada comigo. E acredite, se tem alguém que pode me assustar mais que minha namorada, é a hokage!

- Está bem – disse ele olhando para as duas que agora estavam lado a lado curiosas com aquela conversa.

Ele ficou um pouco vermelho, e parecia até estar tremendo um pouco. Mas o que será que ele ia pedir? E o que tinha a ver com a namorada do sensei? Será que ia pedir ajuda para comprar um presente para ela? Até que podia ser um passeio interessante, talvez com um pouquinho de sorte até poderia jantar com ele.

- Bem – começou ele – err... o Kiba vai conhecer.. quer dizer, o sensei vai apresentar uma amiga para o Kiba hoje - que boba estava sendo, tinha almoçado e jantado junto com ele durante os dias na área de treinamento, claro que não era a mesma coisa que ficar sentado em uma mesa batendo papo, mas adoraria um passeio com ele qualquer dia – e ele gostaria de poder ir junto para, para... para o que mesmo?

- Deixá-lo mais a vontade. Vai ser só um jantar, mas ele sempre fica nervoso em primeiros encontros, continue.

- Bom... – jantar? Primeiro encontro? – para deixá-lo mais a vontade. O sensei sugeriu que eu fosse junto com uma irmã mais nova de uma outra amiga dele, mas ai ele pensou melhor e disse para eu convidar uma das duas...

- EU, EU, EU! – disse Haruka dando um pulo e o agarrando no pescoço antes que terminasse de falar.

Ele a olhou impressionado e Ayame também a olhou não acreditando. Ora, ora.. ela estava com ciúmes mesmo. A hora da vingança tinha chegado.

- Tudo bem para você, Ayame-chan? – disse ela sorridente – ou você queria ir com ele também?

Ela abriu a boca e a fechou depois, quase fazendo uma careta. O sensei cruzou os braços e deu um passo para trás, como se aquela não fosse a primeira vez que tinha visto duas genins possivelmente disputando um encontro.

- Ou você estava pensando em convidar ela, Minato-kun? – ela o olhou também com um largo sorriso. Mesmo que ele dissesse que sim, iria dizer que tudo bem mas ia fazer uma cara tristonha, para que ele sentisse pena.

- E-eu... ia perguntar se alguma das duas ia querer jantar comigo hoje, um jantar de amigos, pois é só para fazer companhia para o Kiba e a moça que vai estar com ele...

- Que tal as duas irem com ele? – disse o sensei. Ele deu um outro passo para trás em seguida quando notou o olhar de ambas sobre ele – só uma sugestão... decidam entre vocês...

- Não vou reclamar com uma condição – disse Ayame a olhando com um sorriso de vitória. Mas o que ela estava planejando?

- Qual?

- Já que se formos as duas não vamos dar a tranqüilidade que o sensei quer para esse casal, eu não vou disputar esse jantar, mas amanhã quero sair com ele para dançar um pouco. Afinal, também quero passear. Aceita?

Dançar? Safada! Droga, devia ter pensado nisso antes. Um jantar vai ser bom para bater papo, passear um pouco, relaxar... mas na dança podia se divertir muito mais, e até se agarrar um pouco nele. E agora? Não queria que o Minato-kun pensasse que estava a fim dele. Talvez nem estivesse, apenas o estava achando bem interessante ultimamente, mais para amigo um pouco mais intimo, mas nada indo para um namoro. Se bem que isso ia depender dele, e ele parecia não querer ir adiante. Ele não era bobo, devia estar percebendo que ela e Ayame estavam tendo algum interesse.

Bom, no atual nível de seu interesse, o máximo que ia acontecer se ele e Ayame começassem a namorar seria ficar um pouco chateada com a amiga, mas sabia que ia passar.

- Tudo bem – disse ela a olhando com um sorriso mais fraco – mas deixe ele virgem – e apontou o dedo para ela.

- Não prometo nada – respondeu a amiga entrando na brincadeira.

Minato apenas ficava mais e mais vermelho. Coitado, quase sentiu pena dele. Ainda mais que ninguém se incomodou em perguntar o que ele achava daquilo. E ela não ia dar chance para ele sequer pensar no assunto.

- Quando vem me buscar? – perguntou para ele.

- Eu...

- Vai tomar banho, não é? E usar uma roupa mais normal também, certo?

- Hã...

- Será que devo usar um vestido? Acho melhor saia, afinal é só um jantar e talvez um passeio, o que acha daquela saia azul curta que tenho?

- Bom...

- Então está certo – ela se esforçava para não cair na risada – estou te esperando daqui a... quando vai ser sensei?

- As oito da noite – ele também a olhava tão impressionado quanto Minato.

- As sete e meia – disse ela – e se for bom, até te dou um beijo, agora, vá para casa se aprontar.

Ela praticamente o empurrou para fora do apartamento. O sensei acabou saindo também junto com Minato, e quanto fechou a porta não se conteve mais e gargalhou, sendo acompanhada de Ayame.

- Você não toma jeito – disse Ayame.

- Ora, precisava ver se meu futuro marido é fácil de ser domado... – e riu mais um pouco. Antes de ir ao banheiro terminar de enxaguar as roupas.

- Não aposte nisso – murmurou Ayame ocultando um sorriso de malandra.

Levou cinco minutos para ambas perceberem que o sensei saiu sem deixar o dinheiro que tinha comentado. Ayame saiu correndo atrás dele e felizmente conseguiu achá-lo em uma rua próxima. Ele lhe deu o bastante para poderem se manter por três dias.

 

-x-

 

Olhava atentamente seu rosto verificando se estava tudo certo. Dentes bem limpos, cabelos também limpos, um leve desodorante... Não precisava estar nervoso. Não precisava! Era só um jantar, já teve outros jantares, porque estava nervoso com este?

- Pare de se embonecar e apenas seja você mesmo – disse sua mãe o olhando severamente da porta do banheiro.

Devia ser por isso que estava nervoso. Sua mãe não ajudava muito nesse assunto. Com certeza preferia que namorasse alguém do clã, o problema era que não tinha sobrado nenhuma Inuzuka de sua idade, ou com pelo menos cinco anos de diferença. Para sua mãe isso não importava, ela não fazia questão de que fosse alguém do clã. Seu pai não era – talvez por isso tenha fugido dela, e também as mulheres que Kiba namorou. Pessoas normais deviam fugir mesmo.

- Mãe, sou eu quem vai em um encontro, não a senhora.

- Só estou dizendo para ser você mesmo. Já está limpo, não precisa ficar vendo todos os detalhes. Se ela não gostar de você como é, não serve para ficar contigo.

Ele bufou sem dizer nada. Nisso tinha que concordar com ela. Bom, estava com um jaqueta azul, camiseta branca e calça com um tom mais claro de azul combinando com a jaqueta. Estava bom. Pensou em tirar a bandana mas não. Significava muito para ele. Só a tirava para dormir.

As vezes...

Estava quase em cima da hora, era melhor ir agora. Saiu de casa e usando um pouco de arte ninja pulou por vários telhados até pousar em uma rua ao lado do local combinado. Ajeitou a jaqueta que tinha ficado um pouco amarrotada por aquela ação e andou calmamente para dobrar a esquina e ver a quinze passos de distância o Konohamaru... mas o que aqueles dois estavam fazendo ali?

Ele parou de andar ao ver Minato e Haruka ali, e de mãos dadas! Eles eram namorados? Não pareceu isso quando estavam na sua casa. Haruka estava bem arrumada para uma mocinha. Uma saia preta pouco acima dos joelhos – essa daí adorava preto pelo jeito – e uma camisa com um pequeno decote da cor cinza escuro. E Minato também estava apessoado, com aquela calça verde e jaqueta preta. Na verdade, achou Minato mais bem arrumado que ele. Ele não usava a bandana, mas podia ver claramente que Haruka usava esta no braço. Andou mais um pouco até chegar do lado deles e percebeu que não o tinham notado ali ainda, pois estavam em uma conversa até animada.

- Têm certeza de que é só isso sensei? A gente nem saiu do lugar.

- Haruka-chan, o Shunshin no Jutsu é apenas concentrar o chakra nos pés e liberá-lo rapidamente. Mas é como o Kinobori, não se aprende rápido. Mas deixem isso para depois, o Kiba já está aqui.

Os dois olharam para ele e deram um pequeno pulo de susto.

- Olá crianças – disse ele – aprendendo jutsus a esta hora? E aqui?

- Só estávamos passando o tempo antes de você chegar – disse Konohamaru – sua companhia foi usar o banheiro mas já... olha ela ai.

Ele se virou para a porta do loja e se conteve para não engasgar ou fazer outra coisa constrangedora. Era uma ruiva linda, com longos cabelos encaracolados e olhos que lembravam um felino por terem a íris um pouco ovalada. Imaginou que talvez fosse de algum clã, mas não devia ser nenhum que conhecesse. Mas o que o impressionou era seu odor. Sem perceber ele estava concentrando chakra nas suas narinas para farejá-la melhor, e se deliciava com aquele aroma. Não tinha como explicar. Não era um cheiro conhecido ou que pudesse comparar a algo, mas era simplesmente maravilhoso.

- Kiba, essa é Nayuko, como você, ela não gosta de formalidades ou formas de tratamento.

- O-oi – disse ele sorrindo, mas logo depois sorriu um pouco menos para não mostrar seus caninos que eram pontudos – Nayuko-chan.. quer dizer, Nayuko!

Ela riu levemente o observando.

- Pode me chamar de Nayuko-chan se quiser – seu sorriso era cativante – eu gostei de como você o pronunciou.

Ele mal reparou nos dois jovens olhando a cena trocando olhares.

- Bom meus caros, me desculpem mas eu devo ir agora. Preciso ver umas coisas com Kaoru-san.

- Você vai embora? – disse Kiba surpreso – mas...

- Sei que é falta de educação aproximar duas pessoas e as deixar sozinhas no primeiro encontro, mas esses dois aqui vão lhes fazer companhia – disse ele pondo cada mão em um ombro dos gennins – mesmo porque minha namorada ainda está fora em missão.

- Já faz cinco dias que não vejo a Moegi mesmo – disse a linda moça – espero que não seja nada muito perigoso.

- Mesmo que eu soubesse, não poderia dizer, se me derem licença...

Ele saiu andando pela rua deixando-os ali. Kiba começou a se sentir mal por ter de ficar com a moça e ainda ter de pajear aqueles dois. Konohamaru podia pelo menos ter arrumado um casal mais adulto para lhes fazer companhia.

- Bom... eu.. – ele olhava para os genins e estava ficando sem fala. O que ia fazer agora?

- Konohamaru já me apresentou a eles – ela sorriu para lhe dar confiança – e também me disse que vocês já se conhecem. Então não acho que tenha algum inconveniente. Não acha que eles formam um casal fofo?

Haruka agarrou no braço de Minato e este a olhou um pouco assustado. Ela deitava a cabeça no seu ombro de forma carinhosa, quase o usando como um travesseiro. Será que estavam representando apenas para ele? De qualquer forma era melhor dizer alguma coisa, só para pelo menos dar a impressão de que iria direcionar aquele encontro. Mesmo porque já apostava que seria ele quem teria de pagar as despesas do casal mirim também.

- Sim, já conheço os alunos de Konohamaru.

- Alunos? – ela os olhou curiosa.

- Sim, são genins.

Pelo olhar dos dois, aquilo talvez fosse algo que combinaram de não falar. E ele já estragou tudo, que ótimo.

- Sério? – ela os olhou com um sorriso maior ainda – parabéns. Bem – olhou diretamente nos seus olhos, com um sorriso agora um pouco diferente, parecia mais.. selvagem? – onde irá nos levar, meu caro acompanhante?

Ele pensou um pouco. Ia ser num restaurante, isso já estava decidido desde antes do encontro. Mas faltava ainda definir qual o restaurante em questão. Pensou um pouco. Alguma coisa diferente? Algo trivial? Talvez um local com muitas opções?

- Está indeciso? – ela se aproximou e segurou no seu cotovelo – que tal simplesmente andarmos um pouco e ver qual nos chama a atenção?

Ele sentiu um calor subindo pelo pescoço, mas se controlou a tempo. E era uma boa idéia. Naquela rua haviam cinco restaurantes, era na verdade a principal rua da aldeia em que as pessoas vinham para comer fora.

- Claro – disse ele começando a andar com ela. Olhou para o lado e viu que os dois também os acompanhavam, mas Haruka estava muito mais agarrada no Minato – talvez eu devesse tirar a bandana – comentou casualmente.

- Claro que não – disse ela incisiva e estreitando os olhos, para dar ênfase na negativa – isso é o maior orgulho de um ninja de Konoha, eu não posso permitir que faça isso apenas porque vamos jantar. Alias – ela olhou para o casal mais jovem – vocês também possuem bandanas, certo?

Haruka levantou a manga da camisa mostrando a dela, e Minato apontou para a manga comprida da jaqueta que usava mostrando que a dele estava ali por baixo desta. Ela sorriu satisfeita e parecia que tinha até suspirado. Então ela era fissurada em ninjas. Como estava solteira naquela aldeia então?! Uma bela mulher assim já teria sido devidamente cortejada – e cantada – de todas as formas possíveis. Hum... era melhor ficar um pouco precavido.

- Ramen? – murmurou Haruka quando passaram em frente a um restaurante com varias pinturas dos pratos que serviam, uma delas era ramen. Pelo jeito essa daí tinha incorporado o apetite desesperado por ramen do Naruto - ai que vontade...

Ela chegou a morder os lábios, e ele pensou um pouco. Haviam outros pratos ali além de ramen, uma boa variedade na verdade.

- Tudo bem Haruka – disse ele – vou ser bonzinho e deixar você matar a sua vontade – em seguida olhou para sua acompanhante – que tal este daqui?

Ela olhou para o cartaz indicando os pratos e sorriu.

- Perfeito.

O par de casais entrou no restaurante que ainda tinha poucas pessoas e escolheram uma mesa ao lado de uma grande janela para poderem respirar o ar noturno da cidade. Haruka e Minato se sentaram de um lado e Kiba e Nayuko se sentaram do outro.

- Faz muito tempo que eu sonho em jantar aqui – disse ela mas animada – possui os melhores sashimi. Mas nunca vim porque não gosto de comer fora em restaurantes sozinha, e minhas ultimas companhias... não mereciam.

Que maravilha! Já tinha ganhado alguns pontos instintivos com ela. Pegaram o cardápio e os três levaram um tempo para decidirem o que pedir – todos já sabiam o que Haruka queria. Mas Minato acabou recebendo uma incumbência um pouco inesperada.

- Minato-kun – disse Haruka toda melosa – eu adoro ramen, mas a porção daqui é enorme! Você vai me ajudar a comer, não vai? – ela o olhava com os olhos implorando. Exatamente como Shiromaru fazia as vezes.

Ele a olhou um pouco confuso, mas concordou. Por isso mesmo pediu uma porção menor de arroz quando o garçom veio pegar os pedidos. Kiba estranhou sua acompanhante pedir dois Obunes. Ela devia mesmo adorar peixe. Ele pediu um kani kama.

- Você é do clã Inuzuka, certo? – perguntou ela assim que o garçom se afastou.

- Sim – disse ele um pouco curioso. Ela tinha dúvidas?

- Desculpe, deve ser normal para qualquer pessoa da aldeia saber disso, mas retornei para cá faz pouco tempo. Eu tinha quinze anos quando vi um Inuzuka pela última vez.

- Nem imaginava isso – disse ele agora ficando mais curioso. Então ela já foi moradora da aldeia mas tinha ficado fora por.. quanto tempo? Quinze anos? Devia ter partido um ou dois anos antes do ataque da Akatsuki – e já que perguntou, você é de algum clã também?

- Pergunta por causa de meus olhos, não é? – ela corou levemente e olhou para o tampo da mesa – acho que sim, mas não posso responder. Minha mãe veio para Konoha quando eu mal engatinhava. Me ensinou uma coisa ou outra que acredito seja exclusivo de algum clã ao qual eu talvez pertença, mas nunca me falou nada a respeito. Talvez ela tivesse fugido deles ou tenha sido expulsa. Eu não sei – em seguida olhou para os dois genins que a observavam curiosos e com interesse – que inveja sinto de vocês dois!

- Inveja? – perguntou Minato surpreso – porque?

- Porque tiveram a sorte de terem um sensei amigável como Konohamaru! – ela olhou para o teto e começou a mostrar os dentes, como se fosse um cão começando a ficar nervoso – coisa que eu não tive. Ainda sinto ódio só de lembrar dele. Aquele mascarado de um olho só.

Mascarado de um olho só? De quem ela estava falando?

- Você já foi genin? – perguntou Haruka ficando animada.

- Fui sim, aqui mesmo nesta aldeia. E por três vezes – ela abaixou a cabeça e algo estava diferente nela. Parecia estar levemente ficando mais... selvagem? – em todas as vezes me formei na academia tendo as melhores notas, e em todas as vezes caí com o mesmo sensei exigente que me reprovou – sua voz já estava um pouco estranha também, até os dois diante dela estavam percebendo, mas também estavam fascinados com aquilo. Na verdade, ela estava começando a agir como sua mãe, quando contava algo que a irritava – E nunca teve a decência de explicar o porque daquilo. Ora.. sempre consegui pegar aquele maldito guizo dele. Mas ele sempre reprovava o grupo inteiro. Porque o escolhiam para ser sensei afinal de contas?

- Quem era? – perguntou Haruka morrendo de curiosidade.

- Kashi... Kasashi eu acho. Já faz um bom tempo.

- Kakashi? – arriscou ele. Só podia ser, mascarado com um olho só e que sempre reprovava os genins...

- Isso mesmo! – disse ela em voz bem alta apontando para ele – Kakashi! Kakashi-sensei. Ele sempre me reprovou. Da terceira vez fiquei tão arrasada que acabei indo embora da aldeia. Ele chegou a aprovar algum time? Alias, onde ele está? Seria bom ter uma conversinha com ele. Pelo menos para eu saber porque ele me reprovava.

Era impressão ou os caninos dela estavam mais sobressaídos? Até o cabelo parecia estar um pouco mais cheio, como se estivesse arrepiado.

- Ele morreu – disse Kiba, causando uma surpresa enorme no rosto dela. – Há quanto tempo voltou para a aldeia?

- Agora? Uns seis meses. Conheci Moegi quando ela fazia uma missão lá na vila em que eu estava morando, ou melhor, na vila em que eu vegetava, porque aquela vida era muito maçante. Ela me contou muito do que aconteceu aqui e senti vontade de voltar. Pelo menos aqui é mais agitado. Mas o que aconteceu com ele?

- Ele morreu na quarta guerra, e ele chegou a aprovar um time. O Time em que Naruto fazia parte.

- Bom, pelo que Moegi falou deste Naruto, se não o tivesse aprovado seria mesmo um péssimo sensei. Desculpe se pareço rude para com ele, e não quero desrespeitar os mortos, mas minha ultima lembrança dele não é agradável. Sabe porque ele rejeitava todos os times? Pelo que eu soube quando eu estava indo embora, ele nunca tinha aprovado nenhum.

- Acho que a nossa hokage talvez sabia. Ela também era do time que ele aprovou.

Ela abraçou o seu braço e encostou a cabeça do seu ombro.

- Pergunta para ela quando possível? Não vou ter sossego enquanto não souber.

Seu rosto parecia normal agora, exatamente como antes. Ele chegou mesmo a instintivamente retesar os músculos, como se um animal selvagem estivesse ao seu lado se preparando mais e mais para atacar. Estava realmente começando a gostar dela. Mas não conseguia encontrar o motivo disto.

O garçom trouxe os pedidos e por alguns momentos todos se concentraram em suas refeições. Haruka bateu os pauzinhos varias vezes enquanto agradecia pela comida, quase igual a como Naruto fazia. Minato já estava pegando sua porção de arroz – porque será que ele queria arroz afinal? – e olhou surpreso sua acompanhante que com uma maestria ninja, jogava vários sashimi para o alto de forma que caiam com perfeição no prato com shoyo que ela tinha preparado. Mesmo os outros dois pararam de comer quando viram aquilo.

- Nossa! Que habilidade – disse Minato impressionado.

- Ainda me lembro de uma coisa ou outra dos meus poucos dias como gennin – disse ela sorrindo – quantas missões já fizeram? Ou – ela olhou para ele – isso é confidencial?

- Não sei se posso dizer – Haruka coçou a cabeça – é confidencial, Kiba?

- A rigor, sim – respondeu ele.

- Tudo bem, só estava puxando conversa mesmo. Nossa... meu acompanhante é um ninja e o casal acompanhante também. Quem diria que eu poderia vivenciar isso.

Devia ser por isso que Konohamaru não queria que eles dissessem que eram gennins para ela. O assunto da noite seria esse. Mas ele não se importava. A companhia estava agradável, e o assunto até que era interessante. Pena que não podiam falar detalhes de nada para ela. Apesar de já ter sido uma gennin da aldeia, não o era mais, e quase tudo o que faziam tinha de ficar restrito a conversa com outros ninjas. Podiam falar uma coisa ou outra, mas tinha que lembrar de não fornecer detalhes.

- Hum... – disse Haruka após literalmente devorar metade de seu ramen – que saudade que eu tinha disto. Minato-kun... – chamou ela cantarolando.

- Sim? – ele também estava no fim de seu prato de arroz – lembrei, quer que te ajude a terminar o ramen, não é?

- Claro – disse ela.

Para a surpresa dele e dos dois adultos, Haruka colocou os pauzinhos na mão esquerda e passou esta por trás do pescoço de Minato, de forma a alcançar a tigela de ramen e também dar de comer direto na sua boca. Ele ficou corado na hora. Que menina malandra.

- Que coisa linda – murmurou Nayuko vendo aquilo – essa daí sabe o que quer – disse murmurando no ouvido dele. E ele concordava. Parecia mesmo que eram namorados, mas pelo jeito que Minato ficou, parece que ninguém o avisou disto.

- Namoram faz muito tempo? – perguntou ela sorridente.

Minato a olhou assustado, e Haruka sorriu quase rindo.

- Só estamos passeando – Haruka respondeu – é que crescemos no mesmo orfanato e temos algumas intimidades. Mas eu adoro deixar ele sem jeito, não é Minato-kun?

Ele maneou a cabeça concordando.

- Mas quem sabe? – completou ela, deixando agora Minato pensativo. Ele até voltou a cor normal com aquela frase.

Observou Nayuko pegar agora os pedaços de sashimi muito embebidos com o molho shoyo e os arremessar para cima novamente, mas agora o alvo era a sua boca. E ela praticamente engoliu dez em seguida.

- Que delícia – murmurou ela. Ele quase que a sentiu... mas que sensação era aquela? Ela estava satisfeita, e muito. Quase como um felino que tivesse pego um grande peixe.

Vendo aquilo, ele não sentiu necessidade de se portar delicadamente e atacou seu kami com voracidade, até perceber ela o observando. Olhou para ela e a mesma sorria, mostrando um pouco os dentes.

- Sim? – perguntou achando que tinha feito algo errado.

- Estou contente que tenha se soltado. Não precisa ser normal comigo, porque não sou muito normal pelos padrões das pessoas. Na verdade, seu odor me atrai.

Odor? Ela... ela podia farejá-lo?

- Você...

- Ai! – gritou Haruka de susto pulando na cadeira, e quase que Minato recebeu uma peruca de macarrão que voou quando ela fez aquilo. Ainda bem que ele tinha bons reflexos. Mas pela maneira como Minato a olhava, parecia que ele sabia o que a tinha assustado.

Viu ambos olharem para baixo da mesa e curioso ele fez o mesmo. E lá estava a Shiromaru praticamente deitada no pé dela.

- Ela me seguiu de novo – disse Haruka com voz meio temerosa – ah, Shiromaru... sei que esta com saudade, eu também estou. Mas no momento não dá para ficar perto de você.

- Que cachorrinho fofo – disse Nayuko também olhando por baixo da mesa – é seu?

- È uma cadela ninken – disse Kiba – da minha família. Ela parece que adora Haruka.

- E como – disse Haruka pegando-a e a colocando escondida no seu colo – fique quietinha Shiromaru, o garçom vai ter um ataque se a vir aqui.

- Estranho, deixei Akamaru tomando conta dela.

Ele olhou para o lado e lá estava o seu parceiro sentando do lado de fora do restaurante, com a boca aberta e sorridente.

- Seu malandro, usou a filha como desculpa para vir atrás de mim, não foi?

- Filha?

- Sim Haruka. Akamaru é o pai de Shiromaru. Mas eu conto melhor isso outro dia. Akamaru – chamou – leve Shiromaru de volta.

Akamaru encarou Nayuko ao seu lado e olhando para ela, esta o olhava de volta, com a boca semi aberta, mostrando os caninos e parecendo que com uma expressão lasciva. Mas o que estava acontecendo com ela?

Sentiu um leve rosnado vindo dela e Akamaru abaixou a cabeça em demonstração de submissão. Não acreditou naquilo. Ele... não esperava aquilo mesmo. Ele submeteu-se a Nayuko. Ele a aceitou simplesmente. Mas... isso só acontecia com os membros de seu clã. Ou com pessoas como ele...

Olhou para ela novamente e a mesma o olhava com uma maneira mais... sedutora? Nossa, onde ele foi parar? Sentia-se atraído por ela, mas agora já estava desconhecendo os próprios instintos. Felizmente, Haruka aproveitou um momento em que o garçom não olhava para o lado deles e jogou Shiromaru pela janela, onde Akamaru a pegou na boca e partiu a levando para casa.

Vinte minutos depois ele a acompanhava até a sua casa, andando calmamente ao seu lado. E agora ela o abraçava da mesma forma que Haruka abraçava Minato. Ao chegar diante de uma casa com três andares ela o olhou e diante dos dois gennins agarrou sua cabeça na altura das orelhas e forçou um beijo leve em sua boca que o pegou desprevenido. Ela se afastou um pouco e sorriu sedutora para ele.

- Nada mal para um primeiro encontro – disse ela – vamos ver no próximo.

- Pode ser amanhã? – se apressou em dizer, e depois se arrependeu. Não devia ir assim com tanta sede. Mas estava mesmo ficando muito interessado nela. Ela parecia ter alguns instintos animais similares aos dele. E conseguiu se entender com Akamaru muito bem.

- Amanhã não vai dar, me desculpe. Vou seguir com uma caravana para obter suprimentos médicos para o hospital, só vou voltar de madrugada.  

- Depois de amanhã vou pegar uma missão para o meu time. Geralmente é simples, mas não tem dia ou hora para terminar.

- Me avise quando voltar – disse ela – ou pode pedir para o Akamaru fazer isso – ela sorriu – tenho certeza de que eu e ele vamos nos dar bem. Alias, da próxima vez pode vir com ele, não fica bem um Inuzuka deixar o parceiro sozinho só para se divertir. Boa noite, Kiba.

- Boa noite, Nayuko-chan – disse ele quase sussurrando.

Observou ela entrar em casa e ficou ainda quase um minuto observando a porta fechada, só saindo do torpor quando Haruka o cutucou na barriga.

- Desculpe – disse ele corando – foi uma bela noite.

- E uma bela mulher – disse ela com um sorriso de malandra – Me deixa em casa, Minato-kun?

- Claro – disse ele a olhando – vou ganhar beijinho também?

Ela sorriu e o agarrou da mesma maneira que Nayuko, só que não foi um mero toque de lábios. Foi um pouco mais profundo, mas breve também.

- Se algum dia a gente namorar, ai você pode me beijar – disse ela.

- Haruka-chan..

Ela colocou o dedo nos lábios dele, não o deixando continuar.

- Ainda não Minato-kun. Hoje a gente só passeou, e a Ayame-chan – ele percebeu o tom de leve raiva na voz dela ao dizer o nome da amiga – ainda quer sair com você amanhã. Quando a hokage nos aprovar, ai sim a gente vê o que vai fazer, concorda?

- Eu...

- Ótimo, vamos indo.

Pegou ele pela mão e o puxou pela rua, deixando Kiba ali.

- Tchau Kiba, até mais.

Levantou a mão e acenou rindo intimamente. Então o filho de Naruto estava sendo caçado pelas meninas. Chegou a sentir pena dele. Mas era um problema que ele adoraria ter. Olhou novamente para a porta da casa de Nayuko e suspirou. Ainda não entendia direito o que sentiu ao seu lado, ou o que houve entre ela e Akamaru, mas sentiu que ela podia ser especial para ele. Murmurou um boa noite e seguiu para a sua casa, com a cabeça um pouco leve.


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Notas finais do capítulo

Coloquei três capitulos no fim de semana e parece que houve menos pessoas dando reviews. Tudo isso é a volta as aulas?!

Só curiosidade mesmo, não estou reclamando.
Aproveitando, a Haruka deve morar no clã Inuzuka ou não? (leitor decide)



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