Sonho Renascido escrita por Janus


Capítulo 10
Capítulo 10




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Os três se mantinham agarrados uns aos outros, morrendo de medo de caírem ou de serem devorados. Não era bem o que esperavam de uma carona como a sensei tinha dito de forma displicente. Mas considerando como ela tinha se portado de forma estranha, não deviam ficar surpresos com mais nada.

- Não disse que era mais rápido assim? Curtam o passeio! Duvido que  possam ter essa tranqüilidade com outro meio de transporte – disse a sensei deitada de costas e de olhos fechados, mordiscando um palito grande que era tudo o que sobrou de seu dangô.

Curtir o passeio? De que jeito? Se não se agarrassem poderiam cair ou pior, virar comida de cobra gigante. Estavam se perguntando se iriam sobreviver se ela continuasse sendo sensei deles.

A sensei contudo não parecia se incomodar. Estava bem relaxada e satisfeita com seus alunos. Verdade que tinha sido um pouco cruel demais com os mesmos, mas a hokage tinha sido clara quando disse que também ia avaliá-los. Como ela queria que seus alunos fossem aprovados por ela, tratou de testá-los da maneira mais pratica possível, quase como se estivessem fazendo um exame chuunin, guardando as proporções.

- Sensei! – gritou Miyoko que não tinha conseguido se segurar mais na cintura do colega e começou a cair. Ela apenas esticou o espeto de madeira na direção dela e esta o agarrou com as duas mãos, escapando por pouco de uma queda um pouco alta.

- Miyoko-chan, você precisa de mais músculos nestes braços – disse enquanto a puxava para perto de si – e também precisa aprender a relaxar, olha como eu estou fazendo.

- Como você consegue? – perguntou ela apavorada.

- Pratica – respondeu ela voltando a por o espeto na boca – vocês vão aprender isso com o tempo, ou acham que esse passeio nas costas de Miara vai ser o único?

Os três a observaram com os olhos arregalados.

- Deixem de serem medrosos e relaxem! Ou não estão agradecidos de terem ido passear, terem um belo jantar e ainda se divertir na aldeia de Ryushin? Sabem que posso levar uma reprimenda por tê-los levado até lá sem avisar ninguém?

Olhou para eles apertando os olhos, tentando entender do que tinham tanto medo, se de cair ou de serem devorados pela cobra que tinha invocado para voltarem mais rápido. Talvez das duas coisas. Será mesmo que ia valer a pena ser sensei? Ser avaliadora do exame chuunin era mais divertido. Ainda estaria fazendo isso se não fosse seu interesse de ter um discípulo. Como apesar de ter procurado muito ninguém se interessou, resolveu tentar ser sensei. Pelos últimos quatro anos não tinha sido escolhida para um time, e agora que teve sua primeira chance, não ia aceitar facilmente que seus genins fossem reprovados.

A grande serpente fez uma curva mais fechada a direita e as crianças gritaram de medo, ela apenas colocou a mão na cabeça para evitar do cabelo se agitar muito e inclinou o corpo para se manter no mesmo lugar. Adorava quando ela fazia aquilo, era como estar em um parque de diversões.

Ficou decepcionada quando os conheceu. Sabia que genins raramente sabiam um jutsu ou outro fora o básico dos básicos da academia, ocasionalmente alguns se formavam já sabendo algo, cortesia de terem nascido em um clã ou por possuírem um parente que era um ninja. Era o caso de Miyoko. Seu irmão era um ninja e ela tinha aprendido alguns jutsus com ele. Já os outros dois eram uma lástima. Mas mesmo Miyoko não era lá grande coisa. Sabia andar em superfícies e se movimentar rapidamente na floresta, mas eram técnicas básicas. Pensou mesmo que estava sendo muito exigente, mas tinha de ser. Não queria que fossem reprovados pela Sakura. Não fosse essa ameaça, ela simplesmente teria feito uma prova qualquer e os aprovaria, contando que poderia treiná-los adequadamente com o tempo.

A cobra finalmente parou de se mover quando chegaram na entrada da aldeia. Ela pulou despreocupada para o chão e viu seus genins a seguindo, e ficando próximos a ela demonstrando o medo da criatura. Apenas maneou a cabeça tristemente. Será mesmo que um deles poderia se tornar seu discípulo? A cobra desapareceu logo depois e ela começou a andar devagar atravessando os grandes portões. Cumprimentou displicentemente os que estavam vigiando a entrada e que ficaram surpresos de terem visto uma cobra daquele tamanho ali. Só faltava terem acionado o alarme pensando ser um ataque.

Pensando melhor, não tinha sido assim tão dura com eles. Apenas os deixou sozinhos na área de treinamento e os atacava sem aviso, e sua tarefa era apenas se defender. Depois do segundo dia, viu que eles não iam conseguir isso, e pensou mesmo em reprová-los, mas seu desejo de ensinar alguém ainda era forte, e mudou o teste. Deveriam agora procurá-la pela mata.

- Certo alunos, podem ir para casa agora. Vou falar com a hokage – disse ela pondo as mãos na cintura e os olhando atentamente – ainda estão com medo? Por acaso têm aversão a ofídios?

- Hã... ofi... como?

- Cobras! Serpentes! Qualquer criatura sem membros. O que ensinam naquela academia? A cozinhar? Não... nem isso vocês sabiam direito – ralhou ela desgostosa – de qualquer forma, porque ficaram com tanto medo assim?

- Ela é enorme!

Olhou para o garoto com o olhar murcho. Era só pelo tamanho?

- Outa-kun, isso não é desculpa. Você não viu o tamanho de outras criaturas que podem ser invocadas. Miara é até pequena comparada as lesmas que a hokage pode invocar.

Cruzou os braços e bateu o pé quando os três se entreolharam após ela falar aquilo. Essa era a nova geração de genins? E ela foi idiota para os aprovar? No segundo teste ela tentou facilitar ao máximo, nem ao menos tentou se manter oculta. Por vezes ficou no solo mesmo, apenas se escondendo atrás de árvores conforme eles andavam. E não perdendo o seu humor, atirava pequenas pedras neles só para indicar onde estava. Depois de algum tempo eles perceberam isso e iam na direção de onde as pedras vinham, mas de forma inexperiente não imaginavam que ela apenas ia mais para trás, avaliando em quanto iam insistir em localizá-la naquela direção. Depois de trinta metros ou menos desistiam, achando que tinha ido para outro local. Chegou a dormir em uma árvore bem próxima a onde estavam acampados, e nada de a perceberem ali. Acabou desistindo daquele teste também.

- Talvez eu devesse poupá-los da avaliação da hokage.

Eles a olharam assustados. Ainda podia reprová-los se quisesse. Mas a tinham surpreendido no ultimo teste e não ia voltar atrás agora.

- Vão para casa – disse ela – quando a hokage decidir o que fazer eu falo com vocês.

Voltou a andar pela rua principal sem se incomodar com o que eles iam fazer. Quando decidiu pelo terceiro e ultimo teste, foi franca com eles. Ou mostravam alguma habilidade ou era melhor mesmo voltar para casa e pensar em fazer outra coisa da vida. Desta vez disse que ia fazer um acampamento e ficar ali esperando por eles. Deviam apenas localizá-la a partir do dia seguinte e tentar capturá-la. Ia ficar disfarçada como um ladrão e não ia usar absolutamente nenhuma habilidade de ninja, quando muito uma faca e apenas socos. Talvez até pedras, mas nada mais. Se não conseguissem derrotá-la assim, não serviam mesmo para nada.

Ela esperou por eles por todo o dia seguinte e nada de aparecerem. Irritada ela foi atrás deles e depois de muito procurá-los, qual não foi sua surpresa ao vê-los em um outro acampamento com um prisioneiro com eles. Ficaram muito surpresos de vê-la, mas ela ficou mais surpresa ainda ao descobrir que eles tinham capturado um condutor de carroças que tinha decido roubar a carga e vendê-la em outro local, para depois dizer que tinha sido roubado. Ele tinha montado acampamento próximo da área de treinamento em que estavam já faziam vários dias. Os ANBUs já o estavam vigiando, mas como ele parecia apenas um viajante perdido não tomaram outras providencias. Primeiro ela pensou que ia ter uma grande sessão de desculpas para com ele, e que também iria ouvir um belo sermão da hokage por aquilo. Mas não... assim que ela chegou ali ele desesperado confessou tudo e implorou para o deixarem longe daqueles monstros, que achando que era ela disfarçada, o torturam com cócegas para que confessasse, achando que era parte do teste ter uma confissão do ladrão. Isso sim a deixou impressionada, tanto que além de aprová-los lhes premiou com um passeio em uma aldeia não muito longe dali, onde ela costumava ir para passear as vezes e também obter um bom estoque dos deliciosos dangôs que possuíam.

Bem como umas pequenas garrafas de saquê adocicado para atenuar a raiva que a hokage iria sentir quando soubesse daquilo, isso se já não sabia.

Seguiu rápido em direção ao escritório dela, conferindo se estava com o que precisava em sua mochila de mão. Com o tempo acabou mudando o visual – mesmo porque pararam de fazer aquele modelo de jaqueta que gostava de usar e não tinha apreciado o novo modelo – e agora costumava andar com uma mochila pequena as costas, onde deixava muitas coisas úteis, inclusive seus adorados dangôs. Andou pelo lado de fora da parede e após confirmar que apenas Shizune estava com ela – essa daí não sabe mais fazer outra coisa da vida além de ficar do lado da hokage - bateu na janela sem muita cerimônia. Ela era um dos poucos shinobis a ter coragem de fazer isso.

Shizune olhou para ela através da janela e fez sua costumeira cara feia, a hokage nem se moveu, ficando ainda lendo alguns papeis. Esse era um cargo que ela realmente nunca ia querer obter, ficar trabalhando em uma interminável enxurrada de papeis todos os dias. Mas sabia que alguém tinha de coordenar toda a ação dos ninjas da aldeia, e a esmagadora maioria daqueles documentos era para registrar missões efetuadas, relatórios de missões, dossiês sobre pessoas importantes, contas de materiais, controle de fabricação de equipamentos... ela tinha de ser administradora, tesoureira, psicóloga e médica. Era melhor mesmo trabalhar de jounin e completar missões, pelo menos para ela.

Entrou pela janela após Shizune a abrir e com um gracioso salto posicionou-se diante da mesa da hokage. Pelo jeito, seria mais uma vez em que ela não iria soltar os cachorros pela sua entrada não usual.

- Anko-san, porque você insiste em não usar a porta como todos os outros?

Esse trabalho era da Shizune...

- Alias, eu devia saber que era você quem ainda não tinha terminado a avaliação dos seus genins.

- Bom dia para você também, Shizune – ela lhe mostrou a língua e fez uma expressão de moleca. Tinham quase a mesma idade, mas Shizune sempre agia como mais velha, e adorava a fazer se sentir mais velha ainda – Esta cada vez melhor como hokage, Sakura-chan – disse ela sorrindo – acho que na época de Tsunade-sama nunca vi esta mesa com tão poucos papeis como agora.

- Na verdade, são sobras de ontem – disse ela ainda lendo Tive uma reunião irritante que me atrasou um pouco. Mas me diga, o que houve que a fez demorar tanto para terminar de avaliar seus alunos? Só falta você me dar o resultado.

- Na verdade eu terminei minha avaliação antes dos outros. Apenas não tinha voltado para a aldeia ainda. Eles estão aprovados na minha opinião.

- Antes dos outros? Mas a maioria acabou faz três dias. O que esteve fazendo? – perguntou Shizune.

Notou que a hokage ainda se concentrava no papel que tinha em mãos, e portanto ainda podia ter alguma liberdade.

- Ora, fui dar um treino adicional para meus genins. Quero que meus futuros discípulos estejam preparados.

- Discípulos? – disse ela fazendo uma careta – não acha que eles têm de concordar com isso primeiro?

- Já estou de olho em um deles, tenho certeza de que ele vai gostar. E qual o problema? Já discutimos isso antes. Até a Sakura-chan já tem uma discípula que poderá se tornar senin um dia, porque não eu? Ou é inveja?

- Inveja?

- Já chega – disse a hokage de forma grave, mas sem se alterar – Anko... que tal me dizer o que esteve fazendo nesses três dias  após ter terminado a avaliação de seus genins?

- Ah, isso? – ela saltou em direção a mesa e sentou-se sobre ela, tomando uma liberdade que deixava Shizune possessa – bem, você sabe como eu sou – ela pegou um dangô da pequena mochila que tinha às costas e delicadamente deixou-a perto do rosto da hokage – fiquei com receio de ter deixado meus alunos apavorados demais nesses dias e os levei para relaxar um pouco.

Ela moveu o dangô para cima e para baixo, mas a hokage permaneceu imóvel observando seus olhos. Ia ser difícil daquela vez.

- Continue – pediu ela em uma voz monótona.

- Não foi nada demais, sei que devia ter avisado antes, mas vai concordar comigo que eles mereceram. Não é qualquer time iniciante que por um mero acaso acaba executando uma missão classe “C” no meio da avaliação.

- O time do Kiba também fez isso – disse ela ainda inexpressiva e mantendo o olhar.

Também? Que ótimo, tinha perdido seu trunfo para impressionar a Sakura. Mas como o Kiba tinha feito isso? Mas ainda tinha um jeito de escapar do castigo.

- Sério? Então é o time dele e o meu que estão aprovados? – ela pegou uma pequena garrafa do bolso de sua calça e a abriu ali mesmo – deve ser, já que ambos fizeram uma missão assim.

Sob o olhar atônito de Shizune, ela derramou levemente o liquido da pequena garrafa sobre cada uma das bolas de dangô, sentiu o odor deles depois disto e moveu o espeto para ficar diante da boca da hokage novamente, movendo-o um pouco para cima e para baixo para lhe chamar a atenção.

- O time de Konohamaru também foi aprovado – disse ela – são três times com o seu, portanto agora fiquei com uma posição um pouco delicada. Mas... não é o assunto aqui. Ainda não respondeu minha pergunta.

Ela estava muito irritada para uma mera escapada que tinha feito. O jeito era falar logo o que ela queria ouvir.

- Eu os levei para uma aldeia vizinha para se divertirem um pouco, só isso. ficamos em uma pousada lá. Não houve nada de mais.

Ela continuou a observando nos olhos, e começou a ficar preocupada. Será que tinha acontecido alguma coisa enquanto estava fora e precisaram dela? Sakura nunca ficou tanto tempo com esse olhar para com ela, mesmo quando merecia. E desta vez sabia não merecer. Ela nem ficou se engraçando para com os meninos de seu time...

Surpresa, viu a hokage abrir a boca e pegar uma das bolas, e logo em seguida pegar o espeto do dangô com a mão. Que alivio.

- Sakura-chan!

- Desculpe Shizune, mas sabe que eu adoro dangô com gotas de saquê adocicado – disse ela sorrindo – e sabemos onde ela estava.

- Sabiam? – ela arreganhou os dentes temerosa. Sabiam onde ela estava?

- Sim – ela pegou um papel e jogou para ela – essa é a sua missão de agora, pode fazer esta tarde.

- Essa é uma missão para genins iniciantes... devo chamar meu time?

- Não – ela estreitou os olhos – essa missão é sua! É o que merece por não me contar tudo.

- Tudo? – ela fez uma careta tentando se lembrar o que havia de errado – mas eu disse tudo. Francamente Sakura-chan, acha que só por ter dado uma escapadinha eu mereço essa tarefa de varrer todo o seu prédio?

- Você merece isso por não contar tudo, no entanto – ela sorriu – talvez se você me contar tudo o que houve, eu posso aceitar ser persuadida a deixar essa tarefa com o ANBU que estava na área de treinamento de vocês e não reparou que tinham saído sem autorização. Do contrário, ela é toda sua.

- Tudo bem, eu voltei montada em Miara para chegar mais rápido. Devo ter assustado uma ou outra pessoa pelo caminho.

Ela lhe esticou o papel com a tarefa mas ela não fez menção de pegá-lo ainda.

- Eu juro, foi só isso! O que mais eu fiz?

- Ainda falta você a persuadir – disse Shizune cruzando os braços e sorrindo divertida.

Ela bufou um pouco olhando fixamente para Shizune e desistiu. Estava ficando difícil negociar com a hokage ultimamente. Mas enquanto não fizesse nada realmente grave, seu castigo não seria assim insuportável. Mas teria que se desfazer de seus melhores dangôs.

Pegou um pacote destes e os colocou sobre a mesa, bem como uma garrafa de saquê adocicado ao lado. Olhou para a hokage e ela ainda olhava para ela. Ah, não... o que mais ela queria? Como se lesse seus pensamentos, ela apontou para Shizune que acenou para ela. Mas esse castigo realmente tinha sido dolorido! Pegou outra garrafa pequena da mochila e esticou a mão para Shizune, que o pegou sorridente. Só então a hokage pegou o papel de volta.

- Não abuse muito, Anko – disse a hokage – agora que você é sensei, vai ter mais responsabilidades. E eu gostaria que se apresentasse ao hospital para fazer alguns exames assim que possível.

- Para que? – agora ficou irritada – passei dos quarenta anos. Se antes já estava estéril por causa deste selo amaldiçoado agora é certeza que não poderei ter filhos.

Esse era um dos motivos de tanto querer um discípulo. Descobriu para sua tristeza que graças a seu antigo mestre, nunca poderia ter filhos. E quando notou Konohamaru sendo indiretamente discípulo de Jiraia graças ao que ele aprendeu com Naruto e Sakura treinando agora uma possível sucessora, não aceitou deixar tudo o que aprendeu perecer com ela.

- Não é nada disso – ela estava sendo gentil – quero ter certeza de que está totalmente recuperada de seus ferimentos.

- Ah, isso – ela sorriu divertida agora – já não sinto mais dor nas costas faz uns seis meses.

Mesmo assim, ela se lembrou do incidente em que uma lança a atravessou na barriga quase partindo sua espinha. Não fosse Shizune estar lá não teria sobrevivido, ou talvez estivesse aposentada agora.

- Mesmo assim quero que seja examinada no hospital, ou vou pedir para Shizune fazer isso na sua casa.

- Você sabe ser convincente – retrucou fazendo bico – eu passo lá amanhã.

- Então pode ir – ela já tinha pulado de sobre a mesa e quando dobrou as pernas ouviu a hokage completar – pela porta!

- Chata! – disse ela saindo do escritório. Foi um pouco caro desta vez, mas tinha feito bem em se prevenir e comprar um conjunto extra de dangõs e saquê.

 

-x-

 

Ainda sentia a cabeça um pouco dolorida, e não conseguia entender a causa. Também se sentia um pouco aérea. Talvez tenha abusado demais da comida da véspera. Olhou para a amiga ainda dormindo largada na cama e sorriu. Pelo menos daquela vez não precisava acordá-la, e graças a Deus aquela cama era  grande e macia, do contrário Haruka a teria jogado ao chão de tanto que se remexe enquanto dorme. Pelo menos desta vez ela não roncou, apagou assim que deitou na cama e ficou assim até que Ayame dormisse também, o que foi logo em seguida. Pegou sua escova de dentes e procurou por uma pia. E quase soltou um grito quando percebeu que estava com odor horrível na boca. Escovou os dentes por mais tempo que o normal para se livrar daquilo e ao voltar reparou que Haruka ainda estava apagada na cama.

Olhou para o quarto em que estavam e reparou em fotos nas paredes, na mesa com uma cadeira em um canto, em um armário onde suas mochilas estavam encostadas. Devia estar exausta no dia anterior para não ter reparado antes. Foi olhar as fotos e viu uma que não deixava dúvidas que era de Kiba quando mais jovem. Ele era uma gracinha com aquele cachorrinho branco na cabeça. Espere... aquele era Akamaru. Nossa! Como ele tinha crescido. Pelo jeito aquela cadelinha preta ia crescer também. Ao lado dele estava uma mulher com um rabo de cavalo, devia ser a irmã falecida dele, tinha certeza disto pela marca tatuada de presas no rosto. Ela era bonita. Outra foto um pouco envelhecida ao lado mostrava uma garota com outros garotos e uma pessoa adulta atrás. Devia ser o time dela quando era uma genin. As outras fotos mostravam aquela mulher com três cães. Ela parecia ser uma ninja médica com aquela capa.

Ouviu Haruka se espreguiçar e sorriu. Já estava na hora dela acordar mesmo. Foi até sua mochila para separar a roupa que ia usar quando ouviu um grito de susto de Haruka, e por conseqüência, acabou pulando de susto também. Ao olhar na direção dela, viu-a com os olhos arregalados e sentada na cama, observando alguma coisa ali.

Era a Shiromaru. Nossa! Ela entrou debaixo das cobertas enquanto estavam dormindo e nem tinha reparado nela quando acordou? Estava começando a entender porque a amiga sempre gritava de susto quando era surpreendida por um destes cães.

- Eu sei que você gosta de mim, Shiromaru, mas já não acha que esta indo longe demais?

A cadela apenas ganiu e balançou o rabo. Pelo jeito tinha respondido “não”. Viu a amiga sair da cama e pegar suas coisas na mochila e seguir procurando o banheiro. Quando tinha lhe dito bom dia, tinha sentido o mesmo odor que tinha sentido em sua boca antes. Pelo jeito devia ser aquele tempero delicioso da comida de ontem. E riu levemente ao ver a cadela seguindo Haruka pela porta. Aquela pelo jeito ia ficar triste quando partissem.

Vestiu sua roupa vermelha e se olhou no espelho daquele quarto. Ainda bem que era o quarto de uma garota, o espelho era grande o bastante para olhar seu corpo inteiro. Viu algumas marcas em sua barriga em decorrência da luta contra o sensei no dia anterior, mas nada demais. Agora que estava de volta à aldeia, podia novamente se cuidar melhor. Passou uma leve sombra nos olhos e ficou satisfeita. Gostava de se produzir, mas detestava maquiagem pesada.

Ficou verificando seus equipamentos e outras coisas em sua mochila e fazendo um balanço, ficou satisfeita de ter sido previdente quando saíram dias atrás. Acabou usando tudo o que tinha levado. Acabaram almoçando ainda na casa de Kiba e sua mãe e logo depois as duas estavam diante da casa daquela família se despedindo. Os três cães também estavam lá, e Shiromaru parecia realmente estar triste com a cabeça abaixada.

- Obrigada por tudo – disse Haruka se despedindo – e não fique triste Shiromaru, eu te visito quando der.

Achou ter visto Kiba e sua mãe trocarem olhares quando ela falou aquilo, mas não entendeu bem o que podia significar. Será que estavam pensando em dar a cadelinha para Haruka? Tomara que não. Quem ia cuidar dela quando saíssem em missões?

Foram direto para o prédio da hokage, onde tinham concordado em se encontrar. Ao chegarem perceberam que eram as primeiras e ficaram ali observando as coisas. Já do lado de fora perceberam que tinha menos ANBUs que na véspera. Na verdade, não viram nenhum ANBU, apenas alguns shinobis que deviam ser os guardas normais do local. Devia ter sido alguma coisa importante o que tinha acontecido ali no dia anterior.

Logo os dois chegaram, e Minato parecia ainda estar sonolento. Bom, ela própria estava, e até Haruka parecia cansada ainda.

- Que bom que estão aqui – disse ele alegre – espero que não tenham tido muita dor de cabeça.

- Dor de cabeça? – comentou. Sentiu-se mesmo diferente de manhã cedo, mas acabou passando depois de algumas horas.

- Sim, aquela bebida que a mãe de Kiba fez tinha bastante vinho. Fiquei um pouco preocupado quando os vi bebendo tanto.

- Por isso que acordamos com aquele bafo – murmurou com a cara amarrada.

- Nada que um café não possa resolver – disse ele – bom, vamos indo para conhecerem seus novos lares?

As duas anuíram e quinze minutos depois estavam diante da hokage. Ela era realmente jovem como tinham lhe dito na academia, e seus cabelos rosas lhe davam um ar todo diferente. Apesar de alguma vezes ela ter pego Minato para cuidar dele por um dia, nunca teve a oportunidade de vê-la. Estava impressionada com ela, especialmente por aqueles olhos verdes parecidos com os seus a observarem com tanta atenção, sem quase piscar.

- Time seis se apresentando, Sakura-neechan – disse seu sensei. Então era verdade que ele a chamava assim. Nossa! Estava impressionada com seu sensei agora, ainda mais depois que Haruka lhe disse que ele chamava o grande Naruto-sama de niichan. Que sorte que teve ao ter um sensei assim.

- Vocês não estão aqui para receberem nenhuma missão – disse ela apertando os lábios. Bom, conseguimos dois apartamentos. Um fica em cima de um restaurante, o outro fica próximo de sua casa, Konohamaru-kun – kun? Hum... ela gostou de ver que a hokage também era amistosa com seu sensei – como o do restaurante é maior e tem dois quartos, as meninas irão ficar nele. Mas...- gelou ao ouvir aquele “mas”, pois tinha olhado para ela quando o disse – não é caridade. Terão de pagar aluguel por estas moradias. Os primeiros dois meses não iremos cobrar, mesmo porque será ao fim deste período que iriei avaliá-los. A propósito, caso ainda não saibam, três times foram aprovados, mas a vaga inicial é para apenas dois. Portanto é melhor se esforçarem bastante nas missões que irão receber.

Não só ela, mas todos os três engoliram em seco, temerosos da forma como ela tinha dito aquilo.

- Hokage-sama – disse Haruka tremendo um pouco – porque esta limitação de times?

- A aldeia oculta é uma empresa – começou ela relaxando um pouco – e os ninjas são empregados desta. Se tivermos empregados demais, não podemos ter serviço para todos, assim formamos os novos times de acordo com os shinobis que se afastam ou se aposentam. E já faz algum tempo que novos times não são propriamente necessários. Apenas aprovamos um mínimo para garantir a renovação do pessoal. Ou seja, não há nada que me impeça de rejeitar os três times deste ano.

Novamente ficou assustada com a possibilidade de deixar de ser genin. E o pior era que tinha que aceitar o que ela dizia. Não havia vaga para todos. Mesmo em um exercito existe um numero limitado de vagas para soldados por diversas razões. Era melhor mesmo aproveitarem e se aprimorarem o máximo possível.

- Vão para suas casas conhecê-las  - disse ela jogando dois conjuntos de chaves para o sensei – e voltem em dois dias. Eu darei a vocês sua primeira missão.

Ela se curvou junto com os amigos e saiu de lá com o coração na boca. Seu jeito de os olhar sério a tinha assustado. Já do lado de fora do prédio, percebeu que ela não tinha dito o endereço dos apartamentos.

- Sensei, sabe onde ficam esses lugares?

- Estão em um bilhete preso nas chaves – respondeu ele – o mais próximo fica perto do centro da aldeia, é o que fica em cima do restaurante. Vamos até lá.

Seguiram pelas ruas e logo chegaram ali. Subiram por uma escada um pouco escondida ao lado do restaurante – pelo menos não teriam problemas com comida – e lá em cima o sensei abriu a porta. As duas ficaram maravilhadas. Tinha dois quartos, uma pequena sala e um razoável banheiro com ducha. Não tinha muita mobília, mas para morarem já era um bom local. Ayame correu para tentar pegar o quarto com janela para os fundos do restaurante, pois gostava de sentir o calor do Sol péla manhã, e naquele quarto era onde ele ia iluminar tudo  naquele horário. Haruka ainda estava ocupada vendo o banheiro quando ela tomou posse.

- Este quarto é meu – disse Ayame gritando.

Minato e o sensei também olhavam ao redor, e o sensei comentou algo de ser maior que o quarto da casa dele. Como o neto de um hokage podia morar numa casa pequena? Ia perguntar qualquer dia. Ayame já estava tirando as coisas de sua mochila quando Haruka soltou mais um grito. Não podia ser...

Os três foram correndo para o banheiro e a acharam sentada no chão olhando uma bola de pelos preta pulando diante dela. Shiromaru!

- Mas como ela chegou aqui? – perguntou Minato.

Ayame desconfiava. Devia ter seguido Haruka de novo como tinha feito no dia anterior. Aquela cadela tinha um bom faro.

- Vocês não podem ter animais aqui – disse o sensei sério

- Mas eu não a trouxe aqui, ela me seguiu! Ei, calma! – disse ela quando a cadela pulou no seu colo.

- Leve-a de volta - disse ele – eu vou com Minato ver onde ele vai morar. E depois passem no orfanato e peguem o resto de suas coisas. Acho que só deve ter roupas, certo?

- Roupas e algumas outras coisas – respondeu Ayame olhando Haruka segurar a cadela no colo. Se ela continuasse a segui-la iriam ter problemas em breve.

Acompanhou a amiga quando ela levou Shiromaru de volta, e sentiu dó no coração ao ver como a cadela estava ficando triste por ser deixada ali. Bateram na porta e desta vez foi a mãe do Kiba quem atendeu. Ela olhou a cadela no colo de Haruka e sorriu divertida.

- Ela realmente gostou de você – disse ela sorrindo – que tal levá-la contigo? Acho que ela vai ser mais feliz do que se ficar aqui.

- Comigo? – Haruka estava pasma com a proposta.

- Não aceitam animais onde vamos morar – disse Ayame também surpresa com aquilo. Ela estava dando a Shiromaru para Haruka? Assim sem mais nem menos?

- E quando eu for em missão, não vai ter ninguém para cuidar dela.

- Cuidar dela? – a mulher riu ruidosamente – querida. Ela é uma ninken, não precisa que cuidem dela. Pelo contrário, ela vai é cuidar de você.

- Cuidar e mim?

A mulher deu dois passos e colocou as mãos em seus ombros.

- Nosso clã possui cães como parceiros. Pela tradição, entregamos um filhote de ninken para um jovem do clã quando ele ou ela é ainda muito pequeno, para que cresçam com uma relação de confiança e parceira. Mas o seu caso é um pouco diferente. É verdade que não pertence ao clã Inuzuka, mas não há realmente nada que impeça que Shiromaru a escolha como parceira. Na verdade, ela já fez isso.

- Parceira? – disse Haruka confusa – como assim?

- Ela não é um animal de estimação. É uma ninken. Só precisa de algum treinamento que com certeza você pode fornecer. Verdade que provavelmente vocês não poderão fazer os jutsus que nosso clã faz, mas isso não impede que ela seja sua parceira.

Haruka olhava para a cadela em seu colo que parecia implorar alguma coisa.

- Mas Haruka não pode ficar com ela onde vamos morar.

- Então venha morar aqui – disse ela – tenho um quarto vago, e como acho que ainda vai demorar para meu filho me arrumar netos até que seria bom ter uma jovem em casa novamente.

Haruka nada respondeu, ficou muda com a proposta. Mesmo Ayame estava incrédula.

- Eu...

- Pense a respeito – disse ela pegando a pequena cadela do colo de Haruka – Shiromaru sentiu que você é o seu par perfeito. Não só pelo seu chackra, mas pela maneira como a tratou. Você lhe deu confiança ontem, cuidou dela como ninguém cuidou antes, exceto a mãe.

- S-só dei banho nela...

- Como eu disse – ela falava de uma forma inesperada agora, sendo gentil e afetuosa – pense a respeito. Não precisa responder agora. Mas ela vai continuar te seguindo, não importa o que você ou outra pessoa faça.

Haruka ficou ali olhando a pequena cadela pensativa, enquanto Ayame ficava imaginando que decisão a amiga iria tomar. Até que a perspectiva de poder morar sozinha lhe animava um pouco, mas tudo isso tinha ocorrido muito subitamente.

- Vou.. vou pensar...

- Vamos fazer o seguinte. Leve-a em sua próxima missão. Garanto que será útil.

 - Eu...

- Não aceito um não como resposta – disse ela – agora vá para sua casa pensar no assunto.

Encerrando a conversa, ela entrou na casa com a cadela nos braços, que parecia muito triste por ter de ficar longe de Haruka. Mesmo Ayame sentia-se confusa com tudo aquilo.

- Vamos para o orfanato, Haruka-chan. Vamos pegar nossas coisas lá.

Ela balançou a cabeça concordando. Sem dúvida alguma aquilo tinha sido um evento totalmente inesperado, e estava sendo duro para com Haruka. Chegou a sentir dó da amiga agora. O que ela iria decidir? Alias, Tsume disse para a levarem em sua próxima missão, isso seria em dois dias.

- Haruka-chan – disse ela a abraçando – ânimo.

- Não é isso. É que ela... me convidou para morar aqui – olhou para a casa por algum tempo – isso foi um pedido de adoção?

- Bom, Shiromaru com certeza já te adotou.

- Engraçadinha.

- Sério, Haruka-chan, vamos para o orfanato e pegar nossas coisas. Você vai ter um tempo para decidir e ainda vai ver como ela vai se comportar na nossa missão.

- Espero não ter que ficar protegendo ela... ai! O que o sensei vai dizer?

- Vamos perguntar para ele, oras...

As duas foram para o orfanato pegarem suas coisas. Imaginavam que talvez Minato já estivesse lá. Mas Ayame estava ficando mesmo curiosa com o que o sensei iria dizer a respeito quando ficasse sabendo.


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Notas finais do capítulo

Apesar de pesquisar bastante, não achei o nome da cobra que Anko invoca, por isso a batizei de Miara. Mas se alguém souber, me avise para eu corrigir(mas me cite a fonte, por favor)



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