3 meses antes

Klívia procurou assiduamente por seu carregador portátil, mas sem sucesso. Havia revirado o quarto inteiro e nada. O celular apontava apenas 9% de bateria quando conferiu pela última vez. Droga! Em meia-hora precisaria se encontrar com Rachel e Kory no show que ocorreria na praça; Garfield e Victor eram os líderes de uma banda indie que iria se apresentar naquele sábado. 

Como tinha se esquecido de deixar o celular carregando naquela tarde?!

Andou até o quarto da irmã para pedir o seu emprestado, pois eram do mesmo modelo.

Katherine estava silenciosa em seu quarto, o que foi uma surpresa para Klívia, afinal conhecia sua irmã como ninguém e em dias normais ela estaria pulando na cama com uma música chiclete da Taylor Swift tocando no rádio de sua escrivaninha, alegre, com o cabelo preso de qualquer jeito, cantando desafinado e utilizando a escova de cabelo como microfone.

— Mana — chamou-lhe a atenção. — Pode me emprestar seu carregador portátil? O meu foi pra Nárnia.

— Claro, está na primeira gaveta da minha cômoda — respondeu sem parar de abraçar o urso de pelúcia. Klívia pegou o carregador.

— Valeu.

Kathy apenas balançou a cabeça.

— Ei, está tudo? — perguntou se aproximando de sua gêmea.

— Claro — forçou rapidamente um sorriso. — Por que não estaria?

— Está muito quieta esses dias e mal está se alimentando também, sem contar que você nem está saindo com suas amigas toda sexta-feira como sempre faz. Você está estranha! Aconteceu algo?

— Para falar a verdade, nem eu mesma sei direito o que está acontecendo. Eu não estou me sentindo segura para fazer as mesmas atividades que fazia antes.

— Como assim?

— É só que... — parou por um breve momento para escolher as palavras e suspirou cansada. — Não é nada demais, você não iria entender. — encolheu-se.

— Bem, eu posso tentar.

— Não é nada demais. — reafirmou. — Não se preocupe, eu estou bem, deve ser só paranoia minha mesmo, ando assistindo muitos filmes de serial killer ultimamente.

— Ei, você é minha irmã. — apertou sua mão, fazendo-a olhá-la. — Nascemos juntas, crescemos juntas e sempre compartilhamos tudo juntas. Sabe que pode confiar em mim para tudo.

— Obrigada por sempre estar aqui comigo, de verdade. — sorriu. — Mas estou bem, juro.

Klívia desconfiou, resolveu procurar motivos para a irmã estar assim em suas memórias e lembrou-se de um momento que a chamou a atenção no início da semana.

— Isso, por acaso, tem haver com aquele cara que te encurralou no estacionamento na segunda-feira? — perguntou esperando a resposta da irmã, que tossiu nervosa.

— O quê? Não, longe disso, muito longe — sentiu sua mão gelar. — Eu nem conheço aquele cara, ele só ficou estressado porque arranhei a caminhonete dele sem querer e ele não estava bravo, imagina.

— Sério? Porque parece que está me escondendo algo.

— Já disse, estou ótima. Confie em mim! Não era o que você mesmo estava prezando até agora?

— É, mas...

— Relaxa! — orientou. — E você tem um showzinho para curtir agora, se esqueceu? Vai lá terminar de se trocar porque em menos de 10 minutos a Rachel estará aqui e você sabe como ela odeiaaaa atrasos! — ressaltou rindo.

— Ok, vou indo, mas já sabe, se precisar de ajuda.

— Já sei, já sei. Agora vai, divirta-se por nós duas. — disse praticamente empurrando Klívia até a porta. — Tire várias fotos legais também para postar, afinal como eu sempre digo: sem fotos, não rolou. — Forçou mais um sorriso, beijou-lhe a bochecha e fechou a porta.

Klívia ficou parada no corredor, confusa.

Kathy deslizou-se pela porta e abraçou os joelhos contra o peito. Chorou baixo.

Depois de seu desaparecimento, Klívia lembrou-se desse dia com peso na consciência.

Deveria ter prestado mais atenção...