Trevo de Quatro Patas escrita por Maremaid


Capítulo 10
Entre quatro paredes


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!

Sextou! Uhuuu! õ/
Fiquem com o capítulo de hoje... boa leitura!



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Nico estava completamente fodido. E não era no sentido bom da palavra. 

Nos últimos dias, havia passado tanto tempo preocupado com Cérbero e pensando em Will que seu trabalho acabou acumulando. Agora, Nico precisava correr contra o tempo para terminar logo a tradução do livro que estava trabalhando. E ele ainda nem estava na metade!

Por causa disso, dedicou-se ao projeto com todas as suas forças, parando só para fazer coisas realmente necessárias — comer, ir ao banheiro, levar Cérbero para passear e tirar uns cochilos aqui e ali. Na quinta-feira, o segundo dia de trabalho intenso, Nico estava obstinado a só parar quando terminasse, mas Cérbero parecia ter outros planos. 

O filhote ficou se esfregando na perna dele, tentando chamar sua atenção. 

— Agora não. Estou ocupado! — ele respondeu, sem tirar os olhos da tela do notebook. 

Cérbero latiu em resposta. Ele tentou ignorá-lo, achando que assim o filhote ia desistir e arrumar outra coisa para fazer. Infelizmente, não foi isso que aconteceu, pois começou a latir de novo, como se estivesse bravo.  

— Tente de novo daqui a alguns meses quando você virar um cão adulto e feroz. — Nico bufou. — Talvez aí tenha medo de você!

— Au! Au! Au! 

— Ok! O que foi? — Nico finalmente olhou para Cérbero, que estava agitado demais, se mexendo de um lado para o outro como se o chão estivesse quente. — Por que você está tão inquieto? Parece até que…

Nico parou no meio da frase e conferiu as horas: eram quase sete da noite. 

— Droga! Droga! — ele levantou rapidamente e correu para o sofá, procurando a guia. O filhote soltou um latido alegre como se dissesse “Finalmente você me entendeu, humano!” e o seguiu. 

Em questão de segundos, Nico prendeu a guia na coleira de Cérbero e saiu apressado do seu apartamento. 

***

Essa foi por pouco! 

Cérbero costumava demorar vários minutos para achar uma boa árvore, mas estava com tanta pressa que fez seu xixi na primeira que viu pela frente. Nico não queria nem imaginar o que poderia ter acontecido se ele tivesse demorado só mais um minuto para entender o recado.

Eles voltaram para o prédio, cada um com um espírito diferente: Cérbero sentindo-se aliviado por cumprir seu objetivo e Nico sentindo-se desanimado, sabendo que precisava voltar para o seu trabalho infernal. 

Quando as portas se abriram no sétimo andar, Nico achou por um momento que o elevador havia se transformado em uma máquina do tempo e  havia o levado para uns 10 anos no futuro. O homem parado na sua frente parecia uma versão mais velha de Will: o mesmo cabelo loiro — só que um pouco mais comprido —, os mesmos olhos azuis da cor do céu, o mesmo sorriso estupidamente branco e o mesmo bronzeado perfeito. 

Nico piscou e esfregou os olhos com a mão livre, achando que isso tudo não passava de um sonho. Porém, o homem permanecia na sua frente e lhe olhava de uma forma esquisita, enquanto segurava a porta do elevador.

— Ei, garoto, você está se sentindo mal? — perguntou o homem. 

Nico abriu a boca, sem saber ao certo o que responder, quando uma voz vinda do corredor disse:

Espera! Espera! 

— O que foi? Esqueci algo? — “Will do futuro” se virou e olhou para a pessoa que vinha na sua direção.

Foi então que um segundo Will apareceu no seu campo de visão, mas esse era jovem, aquele que Nico conhecia. 

Espera… dois Wills? 

Oh, claro! Ele havia adormecido enquanto trabalhava! Só isso justificava o que ele estava vendo. Ok, esse sonho era estranho demais até para os padrões de Nico. 

— Sim, sua carteira. — “Will do presente” riu e entregou o objeto para sua versão mais velha. — Você é tão desligado, pai! 

— Ei, já disse para você não me chamar assim! — o outro reclamou em um tom de voz mais baixo, mas ainda alto o suficiente para ele ouvir de dentro do elevador. O homem se virou e deu um sorriso sem graça para Nico: — Ele está brincando, há-há. Sou novo demais para ter um filho dessa idade! 

 Foi então que a ficha de Nico caiu. Nossa, ele estava tão exausto que já estava confundindo sonho com realidade!

Aquele homem absurdamente parecido com Will era mesmo o pai dele! Nico havia visto uma foto deles juntos, naquele dia que entrou no apartamento do vizinho para dar banho no filhote. Will até mesmo havia mencionado que o pai pedia para chamá-lo pelo nome. Como pôde ter se esquecido disso?  

Nico estava aliviado por isso não ser um sonho, mas havia outro problema: se as coisas realmente dessem certo entre ele e Will, bem, esse homem na sua frente seria seu futuro sogro! 

Will inclinou-se para frente e olhou para dentro do elevador, um sorriso lindo surgiu em seus lábios. 

— Oi, vizinho. 

— Oi. — Nico saiu do elevador com o filhote, não conseguindo evitar dar um pequeno sorriso em resposta. Esse era o efeito que Will Solace lhe causava.

Will e seu pai se entreolharam, parecendo ter uma conversa mentalmente que Nico não conseguiu entender. Então, o homem olhou para Nico e deu um grande sorriso.   

— Você deve ser o famoso Nico. — Ele estendeu a mão na sua direção. — É um prazer finalmente te conhecer.

“Famoso”? Will havia falado sobre ele para o pai? Ok, isso era um pouco constrangedor. 

— É um prazer conhecê-lo também, senhor! — Nico exclamou, apertando a mão dele rapidamente.

Uma pequena carranca surgiu no belo rosto do homem, mas ele disfarçou com um sorriso.

— Por favor, me chame só de Apolo. “Senhor” me faz parecer um coroa! 

— Mas você é um coroa. — Will resmungou atrás dele. — Tem mais de quaren... 

— William Andrew Solace! — Apolo apontou o dedo indicador na direção de Will, falando daquele jeito autoritário que só pais conseguiam fazer ao dizer seu nome completo.  — Nem. Mais. Uma. Palavra!

Will revirou os olhos e moveu dois dedos na frente da boca, como se estivesse fechando um zíper. Apolo soltou um suspiro frustrado e, ao virar-se novamente para Nico, sorriu novamente.  

— Gostei da camiseta. 

Nico olhou para a própria roupa, esquecendo por um minuto de que estava usando uma camiseta do Ramones

— Hm, obrigado.

— Queria muito ficar e conversar mais com você, Nico, mas tenho um compromisso importante e não posso me atrasar — ele conferiu as horas no relógio elegante que usava no pulso e finalmente entrou no elevador. — Tchau.  

— Tchau, senh… Apolo — Nico se corrigiu rapidamente. 

— Comportem-se, garotos — ele deu um sorrisinho malicioso. —, mas não muito.

— Pai! — Will o repreendeu, ficando com as orelhas vermelhas. Até mesmo Nico sentiu seu rosto esquentar com a insinuação.

Apolo franziu a testa, provavelmente ia reclamar de ser chamado de “pai” novamente, mas as portas se fecharam antes. 

— Bem... — Will soltou um suspiro — Definitivamente não foi assim que eu imaginei apresentar vocês.

— Você falou de mim para o seu pai? — Nico ainda não conseguia acreditar nisso. 

— Claro que falei — Will respondeu como se fosse óbvio e abaixou-se para fazer carinho em Cérbero. O filhote havia ficado tão incrivelmente quieto que Nico havia até esquecido da sua presença ali. 

O jeito como Will e Apolo pareciam tão próximos era um pouco estranho para Nico, pois ele nunca teve um bom relacionamento com o próprio pai. Nico e Hades eram estranhamente parecidos: não gostavam de falar sobre os próprios sentimentos, odiavam socializar com outras pessoas e eram tachados como “mal-humorados” pelos familiares. E quando uma das partes não está disposta a falar primeiro, as coisas não podiam dar mesmo certo. E, bem, ainda tinha o fato de ele ser gay, claro — não que o pai tenha surtado quando ele saiu do armário, pelo contrário, ficou extremamente calmo quando recebeu a notícia, como se já desconfiasse disso. Mesmo assim, o pai seria a última pessoa na face da Terra com quem ele conversaria sobre garotos. Normalmente, falava com Bianca ou Reyna sobre esses assuntos. Nem com Hazel ele conseguia falar sobre isso, sempre pensava que ela era nova demais para certas conversas. 

— Hm... — foi tudo que Nico disse em resposta.

— Ei, relaxa, ele gostou de você — Will colocou a mão no seu ombro, em um gesto tranquilizador.

— Sério? — sua voz saiu incerta.

— Claro! Eu conheço o meu pai muito bem. Ele só foi embora mesmo porque precisava, caso contrário, teria te chamado para conversar um pouco.

— Eu não tenho certeza se quero conversar com ele... — admitiu.

Will soltou uma risada.

— Não é um interrogatório! Ele só quer te conhecer melhor, seria um bate papo bem tranquilo. Você até ia esquecer que ele era meu pai, já que age como se ainda tivesse 30 anos. Ou menos. — Ele revirou os olhos e mudou de assunto: — Então, você já terminou o livro? 

Nico soltou um suspiro frustrado. 

— Infelizmente, não. 

— Você anda tão ocupado ultimamente, sr. Di Angelo. — Will segurou o braço de Nico de forma carinhosa e fez biquinho. — Quando você irá abrir um espacinho para mim na sua agenda super lotada?

A última vez que eles haviam se visto pessoalmente foi há dois dias, quando saíram para jantar com Cérbero e… bem, tiveram aquele momento no sofá. Tinham conversando só por mensagem desde então e, mesmo parecendo triste, Will havia sido totalmente compreensivo que Nico precisava de foco completo em seu projeto.

— Estou quase terminando. Eu pretendia me levantar da cadeira apenas quando terminasse tudo, mas Cérbero tinha outros planos — ele olhou de soslaio para o cachorro, que estava deitado no chão do corredor como se estivesse em casa.  — Melhor eu voltar. 

— Eu te acompanho! — Will disse de forma animada, sem soltar seu braço. 

Nico não retrucou, afinal, também queria ficar perto de Will mais um pouco. Quando ele tocou na maçaneta, reparou que a porta estava aberta. 

Will franziu o cenho para ele e seu olhar dizia: “Não acredito que você não trancou a porta, seu idiota”.  

— Eu estava com pressa! — Nico se justificou.

— Ok, ok. — Ele murmurou, provavelmente sem vontade de iniciar uma discussão. Empurrou o garoto para dentro e entrou junto.

— Hm, você não vai voltar para o seu apartamento? — Nico perguntou, tentando não soar grosso.

— Estava pensando em brincar um pouco com Cérbero, assim você pode trabalhar tranquilamente. Mas, se você não quiser, eu posso ir embora... — ele apontou para a porta. 

Eles não se viam pessoalmente há dois dias. Nico então pensou que ter o vizinho em seu apartamento até que poderia ser algo positivo, pois poderia incentivá-lo a terminar o trabalho ainda mais rápido.

— Não, pode ficar — respondeu, pegando o manuscrito e o notebook em cima na mesa. —  Vou para o quarto, fiquem aqui na sala. 

Ele colocou as coisas na escrivaninha que tinha em seu quarto — e que não havia usado nas últimas semanas, pois sempre trabalhava na mesa da cozinha para poder ficar de olho em Cérbero. Nico reparou que não havia pegado o carregador e estava voltando para buscá-lo quando Will entrou no seu quarto trazendo o fio.  

— Valeu — agradeceu.

— Imagina. Por que seus livros ficam no quarto? — Will perguntou, apontando para a pequena prateleira que ele tinha na parede da escrivaninha. Sempre tão curioso.

— Ah, não é como se eu tivesse uma grande coleção para exibir. São apenas alguns exemplares que ganhei da Editora — respondeu, organizando as coisas na escrivaninha.

— Espera. Esses são os livros que você traduziu? 

Nico apenas assentiu e Will pegou um dos livros, folheando as primeiras páginas. 

— Seu nome está aqui! — Ele parecia maravilhado, apontando para o nome de Nico na folha de rosto. — Está até autografado!

— Os autores sempre vêm para uma sessão de autógrafos no lançamento, então a equipe toda acaba ganhando um exemplar autografado — ele deu de ombros, como se não fosse nada de mais. 

— A única coisa que ganho de graça é amostra de remédio e nem são para mim! — Will botou o livro na prateleira e pegou outro, folheando até achar o nome de Nico novamente. — Seu trabalho é incrível, que inveja!

— Solace, você irá salvar vidas. Obviamente, sua futura profissão é mais incrível do que a minha. — o lembrou.

— Claro que a minha profissão é importante, mas a sua também é! Como poderíamos ler um autor italiano se alguém não traduzisse isso para a nossa língua? 

Para Nico, não tinha nem como comparar o trabalho de um médico com de um simples tradutor de livros, mas ele sabia que não venceria essa batalha, afinal, Will sabia ser muito teimoso quando queria. 

— Certo. Agora, volte para a sala — ele sentou-se na sua cadeira giratória. — Preciso me concentrar aqui. 

— Você está dizendo que sou uma distração? 

— Uma bela distração — Nico confirmou e só então percebeu que havia falado aquilo em voz alta. Droga!

Ele observou pelo canto do olho Will dar um sorriso gigante e convencido no rosto por causa do elogio repentino.

— Posso pegar um livro para ler enquanto te espero? 

— Claro, mas sugiro você ficar longe desse aí — Nico disse ao ver Will olhando com interesse para a capa de um dos livros de fantasia. — Tem lobisomens. E outras criaturas místicas.  

— Ah! — ele soltou o livro como se estivesse pegando fogo e Nico se controlou para não dar risada do jeito medroso do vizinho. 

— Leia essa série — apontou para os livros que estavam na esquerda. — É sobre um grupo de jovens heróis procurando um artefato antigo, é um dos meus favoritos.

— Valeu! — Will sorriu e deu um beijo rápido na bochecha de Nico. — Vou te deixar trabalhar em paz agora.

Antes que Nico pudesse dizer algo, Will já havia saído do quarto, fechando a porta devagar.

 ***

— Terminei! — Nico anunciou ao sair do quarto. Sentia como se tivesse tirado um peso enorme das costas. 

Will estava sentado no sofá lendo o livro e se virou assim que escutou sua voz.

— Já? — ele parecia surpreso quando consultou o relógio no pulso. — Faz pouco mais de uma hora que você se trancou no quarto. Eu ainda estou no começo do livro. 

— Eu falei que faltava pouca coisa. Mas ainda darei uma última revisada amanhã antes de enviar. — Ele explicou e então apontou para o livro. — E aí, está gostando? 

— Sim! Devo dizer que o tradutor fez um ótimo trabalho. — Will deu uma piscadinha e fechou o livro, após marcar a página em que havia parado. — Posso levar comigo? Quero continuar lendo.

— Claro. — Nico desabou ao lado dele no sofá, fechando os olhos. — Ah, estou exausto! 

— Você está péssimo mesmo. 

Nico abriu os olhos e olhou para o rapaz ao seu lado. 

Valeu mesmo, Solace! Esse era exatamente o tipo de incentivo que eu estava precisando no momento — ironizou.

— Só estou falando a verdade. Você obviamente não dormiu quase nada nas últimas duas noites, suas olheiras estão escuras e fundas. E deve ter se esquecido de comer também. 

Will estava certo. Nico havia almoçado, mas havia esquecido totalmente de comer alguma coisa depois disso, então estava horas sem se alimentar. 

— Você só está se preocupando assim porque é a sua obrigação como futuro médico — Nico bufou.

— Não, estou preocupado porque é você. — Will apertou a bochecha de Nico de forma carinhosa, que em troca lhe lançou um olhar mortal. Ele o ignorou e prosseguiu: — Quer uma massagem? 

— Céus, sim, por favor! — Nico disse rapidamente, afastando as costas do sofá.

— Eu pensei que você ia negar. — Will riu, colocando suas mãos nos ombros dele e começando a massageá-los. Ah, isso era tão bom!

— Por que eu negaria uma massagem de graça? — questionou.

Quem disse que é de graça? — ele sussurrou perto do seu ouvido e pressionou os dedões na parte de trás do seu pescoço, achando um ponto dolorido. — Você está muito tenso. 

Nico sabia que ia se arrepender, mas mesmo assim perguntou:

— Como eu deveria pagar então? 

— Ah, eu posso pensar em várias maneiras interessantes... — ele respondeu, pousando os lábios na curva entre seu pescoço e o ombro direito, sem parar a massagem. — Hm, o que é isso no seu pescoço? 

Ah, o chupão. 

— Foi você! 

— Eu?! — ele se fez de inocente. — Não me lembro de fazer isso...

— Pois eu me lembro! Naquela outra noite, quando nós… — Nico não conseguiu terminar a frase, não poderia simplesmente dizer “quando nós demos uns amassos quentes no meu sofá”. — Hm, no nosso último encontro. 

Will não respondeu de imediato, então Nico inclinou a cabeça para o lado, o suficiente para ver a reação do outro. 

— Aahh, lembrei! — Will deu um sorrisinho malicioso. — Ela parece tão solitária aqui. Será que devo deixar uma do outro lado também para combinar? — e se inclinou na sua direção, mostrando os dentes como um vampiro. 

— Nem pense nisso! Se você deixar outra marca em mim, eu juro que… — ele não terminou a frase, porque percebeu que Will estava se divertindo com a situação. Em vez disso, levantou-se abruptamente. — Está ficando tarde, melhor eu tomar banho! 

— Quer companhia? Posso esfregar suas costas. Ou te ajudar a relaxar de outro jeito… 

Nico poderia ser inexperiente na área amorosa, mas entendeu perfeitamente o que Will quis dizer com essa insinuação. Seu rosto começou a ficar vermelho só de pensar nisso. 

— N-não preciso! — Nico exclamou, incapaz de olhar para o vizinho. 

Will soltou uma gargalhada. 

— Caramba, sempre é tão divertido implicar com você! — ele fez uma pausa, parando de rir completamente. — Vou fazer o jantar no meu apartamento, vá para lá quando terminar. Ah, pode levar o Cérbero junto. 

— Eu posso comer qualquer coisa aqui. 

— E esse é exatamente o problema. Se você não aparecer em meia hora, eu volto aqui e te arrasto, entendeu? — ele se levantou do sofá, colocando o livro debaixo do braço.

— Ok, ok — Nico revirou os olhos, dando-se por vencido e o acompanhou até a porta.

Antes de abrir a porta, Will segurou seu rosto com as duas mãos, lhe dando um beijo rápido, porém intenso. 

— Para te ajudar a recuperar a energia. — Ele explicou ao se afastar, dando uma piscadinha sexy. — Até depois.  

E então saiu do apartamento, deixando um Nico di Angelo com o coração acelerado para trás. 

***

Vinte e sete minutos depois, Nico estava tocando a campainha do apartamento de Will. 

— Oi! Você chegou bem na hora. Entre! — Will abriu a porta com um sorriso no rosto. Ele estava usando um avental preto com o rosto do Darth Vader que dizia “Eu sou seu chef!”. Até Nico que não era fã de Star Wars havia entendido essa referência. — Já estou quase terminando. 

— Precisa de ajuda? — entrou no apartamento e soltou Cérbero, que saiu cheirando tudo que via pela frente. 

— Lave as mãos e arrume a mesa para mim, por favor. 

— Sim, chef. 

Nico fez o que lhe foi pedido. Em questão de poucos minutos, eles já estavam sentados à mesa, jantando. Ele trouxe também ração para Cérbero, assim o pestinha não ficaria pedindo comida para eles. 

— Desculpe, queria ter feito algo melhor, mas meu pai apareceu aqui de surpresa e me atrasou — Will bufou. 

— A comida está boa. — Nico o tranquilizou. — Seu pai sempre aparece assim de surpresa?

Ele precisava saber essa informação. Afinal, o quão ruim seria se eles estivessem dando uns amassos e seu pai aparecesse sem avisar?

— Não. Ele me ligou perguntando se eu já estava em casa, respondi que sim, então ele disse “ah, que bom!” e desligou. Fiquei sem entender nada, mas menos de cinco minutos depois ele tocou a campainha. — Will revirou os olhos. — Veio pegar uma camiseta emprestada porque manchou a dele com café no caminho. Disse que tinha um encontro e se atrasaria se voltasse em casa para se trocar, mas por sorte meu prédio ficava no caminho.

— Ah, isso justifica porque a camiseta estava tão justa nele. — Nico disse em um murmúrio baixo.

Infelizmente, Will ouviu. Ele pousou o garfo no prato e arqueou uma sobrancelha ao dizer:

— Você ficou reparando no corpo do meu pai?

— Hm, bem, foi meio difícil não notar... — admitiu, coçando a nuca.

Nico não costumava reparar em homens bem mais velhos do que ele, mas para um quarentão — que Apolo nunca sonhe que ele o chamou assim! — o pai de Will estava em plena forma física.  

— É, eu sei... — Will riu. — Ele realmente cuida muito bem da saúde! Só come alimentos saudáveis, frequenta a academia diariamente, sem falar que gasta metade do salário só com produtos para a pele. É por isso que ele está tão conservado para a sua idade. Você não imagina a felicidade dele quando alguém pergunta se nós dois somos irmãos, e é claro que ele confirma! Fica se gabando, dizendo que é o mais bonito da família e blábláblá. 

— Você é muito mais bonito do que ele — as palavras saltaram da boca de Nico antes que ele percebesse.

— Sou?! — Will estava com um sorriso enorme e lindo no rosto.

Ok, era melhor Nico trocar de assunto antes que ele deixasse escapar mais alguma coisa que não devia.  

— Você fez comida demais! — Ele reclamou, pegando outro bife. — Vou acabar engordando assim. 

— Seria ótimo, afinal, seu peso está um pouco abaixo do recomendando para a sua altura. Você pode ser alto, mas é leve como uma pluma. 

— Como você… — ele começou a falar, mas não terminou a frase. Naquela noite em que Cérbero estava na clínica e os dois assistiram ao filme na sala, Nico ficou se perguntando como havia chegado à cama e agora sabia a resposta: ele havia sido carregado até lá por Will. — Ah! 

Will riu, mas logo seu sorriso sumiu quando ele apoiou o queixo com uma das mãos, de forma pensativa. 

— Posso te perguntar uma coisa? 

— Acabou de perguntar. — Ironizou e Will revirou os olhos de forma dramática. — Brincadeira. Pode falar. 

— Por que seu pai viajou por três semanas? Trabalho? Férias?

Nico quase sorriu. Ele já havia reparado que Will sempre se controlava para não perguntar mais sobre isso quando tocavam no assunto. 

— Aniversário de casamento. Eles estão visitando vários países da Europa. — respondeu.

“Exceto a Itália”, pensou. Nico sabia que seu pai não se sentia confortável viajando para lá. E Perséfone, sua madrasta, provavelmente também não gostaria do marido olhando para algum lugar e lembrando-se da esposa falecida.

— Ah, que legal! — Will sorriu, mas então ele ficou sério ao continuar. — Hm, suponho que a atual esposa do seu pai seja sua madrasta, não é?

— Sim. — Nico assentiu, surpreso. — Como você sabia?

— Naquele dia na praia, você disse que sua irmã mais nova era fruto de outro relacionamento do seu pai. — explicou. Nico nem lembrava mais que tinha mencionado isso. — Então... seus pais se divorciaram?

— Hm, não, ele ficou viúvo. Minha mãe faleceu quando eu era criança.  

Will parecia totalmente arrependido de ter tocado no assunto. 

 — Nico, eu sinto muito — ele tocou sua mão por cima da mesa. — Eu não deveria… 

— Tudo bem. — Nico deu um leve sorriso, mostrando que não havia problema. — Faz bastante tempo, eu  nem lembro dela direito.  

— Foi por isso que você veio para os EUA?

Nico assentiu. 

— Meu pai não gostava de morar lá, ele só fez isso porque minha mãe não queria ficar longe da família. Mas quando ela se foi, não havia mais nada que o prendia àquela terra desconhecida. Ele achou melhor criar os filhos na América, do mesmo jeito que foi criado. 

Nico agradecia muito por isso. Ele sabia que não teria a mesma liberdade para se assumir lá na Itália, não com aquela família conservadora e rígida que sua mãe tinha.

— Entendo. Quantos anos de casamento seu pai e sua madrasta estão comemorando para fazer uma viagem assim?  

— 10 anos.

— A sua irmã mais nova ainda é criança?! — Will arregalou os olhos, provavelmente pensando na diferença de idade entre os irmãos.

— Não, não! Ela já está na faculdade. — Ele explicou e fez uma pausa antes de concluir: — Essa é a terceira mulher do meu pai. 

— Ah… — Will ficou sem palavras. Nico lembrou-se que Reyna teve a mesma reação quando ele contou sobre a vida amorosa do pai.

— Mas este é seu casamento mais duradouro até agora, acho que ele finalmente se aquietou. — Nico deu de ombros.

— E a mãe da sua irmã caçula?

— Ela também já faleceu, mas foi depois deles se separarem. Os dois não foram oficialmente casados, só moravam juntos. Tecnicamente, ele é viúvo apenas uma vez. 

Will assentiu e deu um suspiro cansado. 

— Cara, quem dera meu pai se casasse também! Seus namoros nunca duram muito tempo, nem faço mais questão de decorar os nomes das pessoas com quem ele sai. Talvez eu não seja filho único como sempre pensei... — Will riu, como se fosse uma boa piada. Porém, sua expressão demonstrava que ele realmente achava que poderia ter algum irmão perdido por aí. 

Will soltou um suspiro cansado e mudou de assunto:

— Você nem tocou na salada, coma — ele não estava perguntando, simplesmente botou um pouco no prato de Nico.

— Hm, valeu — agradeceu, resistindo a vontade de torcer o nariz para os vegetais em seu prato. 

Quando terminaram de comer, Will disse que ia tomar banho e Nico se prontificou em arrumar a mesa. Infelizmente, seu vizinho não tinha uma máquina lava-louças, então ele teve que lavar a louça do jeito tradicional: esponja e detergente. Estava tão acostumado com a mordomia de ter uma máquina que lavava a louça sozinha que acabou fazendo mais bagunça do que pretendia. 

— Tudo certo por aqui? — Will perguntou de algum lugar atrás dele. 

Nico ficou pensando se Will havia tomado banho muito rápido ou se ele que era lento demais para lavar a louça. Provavelmente, a segunda opção.

— Claro, sua louça continua intacta — ele brincou, dando uma olhada por cima do ombro e então congelou ao ver o peito nu do vizinho.

É claro que Nico já havia visto Will sem camisa antes e sabia como ele tinha um abdome de arrasar — até mesmo tocou para saber se tudo aquilo era real, por sinal —, mas agora era um pouco diferente, porque a única coisa que o impedia de ficar completamente nu era a toalha branca enrolada em volta da sua cintura!

Céus, por que Will era tão sexy? O coração de Nico estava batendo tão rápido que ele achou que poderia enfartar a qualquer instante. Um futuro médico deveria cuidar das pessoas e não causar um ataque cardíaco nelas!

— Que bom — Will deu uma risadinha, pegou um copo no escorredor e foi em direção à geladeira buscar água. Seu cabelo cacheado estava molhado, então os pingos caíam nos seus ombros e deslizavam pelo seu peito firme.  

Nico pressionou bem os lábios, temendo que estivesse babando. Voltou a lavar a louça, mas ainda olhava de soslaio para Will desfilando pela cozinha. Foi aí que ele deixou um prato escapar da mão. 

— Ah, caralho! — xingou.

Will veio na sua direção no mesmo instante e tomou sua mão, colocando debaixo da água corrente e retirando a espuma.

— Que susto você me deu! — ele soltou um suspiro de alívio ao perceber que Nico não havia se cortado. — Precisa ter mais cuidado! 

— A culpa foi toda sua! — puxou a mão de volta rapidamente e enxugou os braços molhados no pano de prato, incapaz de olhar para o vizinho. 

— Minha?! — Will arqueou uma das sobrancelhas, parecendo extremamente confuso. — Eu estava bem longe de você! 

— Porque você ficou zanzando pela cozinha! — Nico se justificou. — Odeio gente andando atrás de mim quando estou trabalhando e… será que você pode colocar uma roupa? 

— Você não gosta do que está vendo? — Will sorriu e passou a mão pelo peito nu. Inferno, ele era gostoso e sabia muito bem disso!  

Ah, Nico gostava, gostava muito. E era exatamente por isso que Will deveria botar uma roupa antes que ele perdesse o controle e pulasse no vizinho.

Exibido — ele murmurou, fingindo estar bravo, e voltou para a louça.

—  Você é tão fofo! — Will riu e passou os braços em volta da cintura de Nico, esfregando o nariz na bochecha dele. 

A única coisa que Nico conseguia pensar naquele momento era: “Will está encostando o seu maravilhoso peito esculpido nas minhas costas. E ele está só de toalha!”. 

— Porra, Solace! Estou ficando molhado! — Nico resmungou. Will olhou para ele de um jeito pervertido e foi então que percebeu como essa frase poderia soar ambígua. — Hm, porque você está pingando. Olhe para o chão… 

— Ok, ok! — Will o soltou e se afastou, andando de costas. Um sorrisinho atrevido surgindo no seu belo rosto. 

Nico só conseguiu respirar direito quando escutou a porta do quarto se fechando. 

Depois de alguns minutos, ele finalmente terminou de arrumar a cozinha e foi para a sala, sentando-se no sofá. Will estava demorando, então Nico achou que não faria mal se ele descansasse só um pouco enquanto o esperava.

***

Após se vestir e secar os cabelos rapidamente, Will voltou para a sala com Cérbero — que ele havia encontrado escondido no seu quarto — e avistou Nico dormindo no sofá. Ele estava deitado numa posição que provavelmente faria seu pescoço doer mais tarde, mas parecia estar tão exausto que Will não se atreveu a acordá-lo. Então, sentou-se na poltrona que ficava do outro lado da sala e resolveu ler suas anotações da aula de hoje. 

Cérbero passeou pela casa toda, farejando todos os cantos. Quando chegou à sala, aproximou-se de Nico e o cheirou, certamente pensando se seu amigo estava vivo ou não. Encostou o focinho no braço de Nico, que apenas se remexeu um pouco, mas não acordou. O filhote não parecia totalmente convencido, então colocou as patinhas no sofá, aproximando-se mais para checar melhor e encostou a sua língua na bochecha dele. 

— Hmm… — Nico resmungou, ainda dormindo. — Não me lamba de novo, Solace.

Will soltou um riso baixo ao ouvir isso. Cérbero parecia determinado a acordá-lo, pois lambeu seu rosto de novo.

— Eu já disse que você não é um… cachorro? — Nico finalmente abriu os olhos, encarando a criaturinha peluda na sua frente. — Mas que porra?!  

O susto foi tão grande que Nico caiu do sofá. O filhote pulou nele com a língua de fora, parecendo extremamente feliz, como se quisesse dizer: “Você está mesmo vivo, humano!”. Nico passou a mão no rosto e olhou para os dedos com baba de cachorro, numa mistura entre nojo e surpresa.

Foi aí que Will não conseguiu mais se segurar e desatou a rir sem parar. 

Nico olhou para Will com uma expressão furiosa, provavelmente o xingando de todos os nomes possíveis em pensamento, que fez com que ele colocasse a mão na boca para controlar as risadas. Então, sem falar nada, seu vizinho levantou-se e foi em direção ao banheiro para lavar o rosto. 

Will sabia que estava ferrado, Nico não deixaria ele se livrar tão facilmente assim. 

— Você... — Nico voltou para a sala, apontando o dedo indicador na direção dele de forma intimidadora. — Por que você deixou isso acontecer?

Will fechou seu caderno e colocou na mesinha de centro.

— Não sabia que ele ia fazer isso, achei que ia apenas te cheirar! — Will deu o seu melhor sorriso de arrependido, mas foi só lembrar-se da cena que começou a rir de novo.

— Não foi engraçado.

— Desculpa, mas foi sim. — Sua barriga estava até doendo de tanto que ele ria. — Você tinha que ver a sua cara de susto quando percebeu que era o Cérbero!

— Se você não parar de rir, eu vou te dar um murro. — Nico avisou, parando na frente dele com os braços cruzados. Com aquele visual todo preto e o rosto sério, outras pessoas poderiam achá-lo assustador naquele momento, mas não Will. Para ele, o vizinho até ficava meio fofo fingindo estar bravo.

— Ok, ok... — Will assentiu. Não que ele acreditasse que Nico fosse realmente bater nele, mas queria acabar logo com isso.  Ele apertou os lábios, mas sua risadinha escapou pelo nariz. — Desculpa!

Nico soltou um suspiro irritado e fechou a mão direita em punho, acertando o braço de Will com tudo.

— Ai! — Will esfregou a área acertada sem conseguir acreditar. Para um cara magro, Nico era bem forte. 

— Eu avisei... — ele deu de ombros.

— Eu te alimento e é isso que eu recebo em troca! — Will fingiu estar indignado. — Sou espancado dentro do meu próprio apartamento!  

— Não exagere, nem deve ter doído tanto assim. — Nico revirou os olhos.

— Claro que doeu! Olha! — Will levantou a manga da camiseta e mostrou que o braço tinha ficado mesmo avermelhado.

Nico inclinou-se levemente na direção dele e soltou uma risadinha.

— Bem feito. Agora, você não vai mais duvidar de mim. 

— Você precisa me dar um beijinho agora para sarar. — Fez biquinho, igual uma criança de 5 anos. — Minha mãe sempre fazia isso quando eu me machucava.

— Bem, eu não sou sua mãe e você não é mais criança, Solace. Garanto que você pode lidar com uma dorzinha.

Will aproveitou que ele ainda estava perto e o segurou rapidamente pela cintura, fazendo se sentar em seu colo na poltrona. 

— Por favoooor... — pediu, batendo os cílios.

— Porra, você sabe ser irritante quando quer, hein? — Nico bufou e deu um beijinho rápido no braço dele. — Pronto!

— Estou sentindo dor em outro lugar também...

— Azar o seu... — O olhar de Nico dizia que ele não estava nem aí. — Eu não tenho culpa, eu te bati só uma vez.    

  — Tem culpa, sim. Meu coração está doendo porque fiquei dois dias sem te ver! — ele botou a mão no peito e fez uma cara dramática como se estivesse sofrendo muito.

— Como você é cafona, Solace! — Nico fingiu vomitar.

— Eu prefiro o termo “romântico”... — ele sorriu, acariciando a mão do garoto à sua frente, depositando um beijinho nos nós dos seus dedos, mas não conseguiu decifrar a expressão no rosto de Nico naquele momento. — Você não sentiu a minha falta?

— Senti... — Nico disse baixinho.

— Ótimo, porque eu também senti a sua... muito mesmo — Will beijou o pescoço do outro e foi subindo até chegar em sua orelha, foi aí que sentiu quando o vizinho estremeceu com o toque. Ah, Nico sentia sensibilidade atrás da orelha, bom saber! — Hm... — ele murmurou, passando a ponta do nariz na bochecha esquerda do outro. — Você fez a barba — notou.

Will já era vizinho de Nico há quase 2 anos, mas hoje foi era a primeira vez que o viu com a barba por fazer. Infelizmente, ele havia tirado na hora que tomou banho antes de vir jantar.

— Sim, estava me pinicando... — o outro se justificou, dando de ombros.

— Você estava sexy — murmurou, dando uma mordidinha no queixo dele.

— Solace. — Nico colocou as mãos em seu peito e o afastou. Ele parecia muito, muito surpreso. — Não precisa mentir para me agradar. 

— Não estou mentindo. Por que você está agindo como se nunca tivesse sido chamado assim antes?    

— Hm, bem, porque nunca fui? — Ele sugeriu, parecendo um pouco envergonhado. — Eu certamente me lembraria.

— Caramba, que tipo de caras você andou saindo? — questionou. Para Will, era impossível acreditar que ninguém tenha dito isso a Nico, porque... céus, ele era sexy! — Não precisa me responder, já sei: do tipo “babacas”!

— É, acho que sim... — ele deu um pequeno sorriso.

— Gosto quando você sorri também — confessou.

— Ok, agora você está mesmo tentando me bajular. Eu não sorrio!

— Como não? Você acabou de fazer isso!

— Eu não estava sorrindo! — ele fez uma carranca no rosto para provar isso.

— Sim, estava! — Will insistiu. — Sabia que você anda sorrindo com muita frequência nos últimos dias?  — colocou os dois dedos indicadores na ponta dos lábios de Nico, fazendo um sorriso aparecer. — Eu me pergunto qual será o motivo disso, ou quem é o motivo...

Nico tirou as mãos do outro do seu rosto.

— Se aparento estar feliz é porque as coisas estão dando certo na Editora, só isso — deu de ombros.

— Ah, tem certeza? O motivo da sua felicidade não seria, sei lá, eu? — questionou, sem conseguiu conter um sorriso bobo no rosto.

— Se achem menos, Solace... — Nico franziu o cenho e desviou o olhar, claramente envergonhado. 

— Você fica fofo quando está tentando bancar o ranzinza.

— Eu não sou ranzinza! — ele exclamou, parecendo ofendido. — E também não sou fofo!

Will riu.

— Ok, você não é ranzinza — disse apenas, o que significava que ainda o achava fofo.

Nico estava com aquela expressão no rosto como se fosse bater nele de novo a qualquer momento, então Will achou melhor tentar tranquilizá-lo e roubou um beijinho rápido. Então veio outro beijo, um pouco mais demorado e intenso. E mãos entrando por dentro da camiseta preta. E alguns gemidos baixinhos.

Eles se beijaram até perder o fôlego.

— Ok, tempo — Will pediu, respirando com dificuldade. 

Nico assentiu, também com dificuldade para respirar. Ele olhou para as mãos de Will em volta da sua cintura e disse:

— Será que você pode me soltar agora?

— Você não está se sentindo confortável no meu colo? — rebateu.

— Estou. E esse é o problema — Nico desviou o olhar. —  Melhor eu ir para casa. 

Will não queria que Nico fosse embora. Eles haviam ficado dois dias inteiros sem se verem, apenas algumas horinhas agora não eram o suficiente para recuperar o tempo perdido!

— Não vá... — Will segurou a cintura de Nico com mais firmeza e encostou sua cabeça no peito dele. Conseguia ouvir o coração do garoto batendo de forma descompassada, enquanto seu peito subia e descia rapidamente. 

— Eu preciso ir. — Nico murmurou baixinho. — Está ficando tarde.

— Fique. É muito perigoso você ir embora sozinho agora. — Will alertou.

O corpo de Nico balançou levemente quando ele deu o que pareceu ser uma risadinha. 

— Solace, eu moro do outro lado do corredor. 

— Exatamente, muito longe. — Ele respondeu, finalmente erguendo a cabeça e o encarando. — Durma comigo hoje. 

Nico arregalou os olhos e seu corpo enrijeceu. 

— O-o q-quê?! 

— Ei, por que você está fazendo essa cara? Não seria a primeira vez que dividimos a mesma cama — Will disse, referindo-se ao dia em que Nico havia ficado doente e ele caiu no sono ao lado dele.

— Bem, agora é diferente. — Nico estava olhando para todos os cantos da sala, exceto para ele. 

— Por que é diferente? — questionou. Um pensamento passou por sua cabeça e ele sorriu maliciosamente. — Ah. Você estava pensando em tirar uma casquinha de mim durante a noite, hein?

Os olhos de Nico se arregalaram.

— Eu não pensei! — ele balançou as mãos no ar de um jeito aflito e seu rosto começou a ficar vermelho.

Droga, droga! Ele ficava tão fofo quando estava envergonhado! Will queria enchê-lo de beijos. 

 — Eu vou me comportar. — Will o tranquilizou, resistindo a vontade de apertar aquelas bochechas coradas. — Sei que você está exausto e precisa de uma boa noite de sono. 

— Só dormir? — Nico perguntou, olhando para ele de forma desconfiada.

— Só dormir — assentiu em concordância.

Nico ainda parecia ponderar se isso era uma boa ideia, ou não. Então Will o soltou e colocou as mãos atrás das próprias costas, mostrando que não havia truques e sua proposta era sincera. 

—  Hm, eu deveria pegar uma roupa no meu apartamento… — Nico se levantou e olhou para a porta.

— Relaxa, eu posso te emprestar minhas coisas. — Will sorriu, mas Nico não parecia contente com essa resposta. — Ou você só está usando isso como pretexto para fugir? 

— Eu não vou fugir!  — Ele fez cara feia, como se sentisse ofendido pela acusação. 

— Ótimo, então vou pegar um dos meus pijamas para você. — Will levantou-se da poltrona e deu uma batidinha de leve no ombro de Nico ao passar por ele, indo em direção ao quarto. — Ah, eu tenho uma escova de dente ainda na embalagem no armário do banheiro, você pode usar também — completou, antes que seu futuro hóspede usasse isso como desculpa também. 

***

 Will estava começando a pensar que Nico havia dado um jeito de fugir pela janela basculante do banheiro, pois ele estava demorando mais do que o normal para se trocar.

— Ei, Nico — ele deu uma batidinha na porta. — Tudo bem aí? 

Só um momento! — sua voz exclamou lá de dentro. 

Alguns segundos depois, a porta finalmente abriu. 

— Estou me sentindo tão... colorido. — Nico saiu descalço do banheiro, olhando para a roupa que usava. — E está grande em mim, olha! —  ele levantou os braços, mostrando as mangas largas. 

Bem, essa era mesmo a primeira vez que ele via Nico usando algo que não fosse preto ou similar. A camiseta gola V era laranja e o short era vermelho com bolinhas amarelas. Ele havia pegado o seu menor pijama, mas mesmo assim aparentava um pouco grande em Nico por causa dos seus braços e pernas finas. 

— É um pijama, você queria que ficasse justo? Isso seria desconfortável para dormir — ele deu um passo para frente e riu. — Além disso, seu short está quase caindo porque você não puxou a cordão.

— Hã?!

— Você precisa ajustar na cintura. — Will ergueu a barra da camiseta dele levemente para cima e segurou o cordão do short, puxando.  — Viu?

— Ah… — Nico assentiu, olhando atentamente. — Meus pijamas são de elástico, não sabia. 

Claro, Nico parecia só usar calças de moletom e de flanela. Como ele não passava calor? Era primavera, pelo amor dos deuses! 

— Prontinho! — Will finalizou com um laço e olhou para cima, esquecendo-se totalmente como eles estavam próximos.

— Hm, valeu... — Nico murmurou em resposta, parecendo sem jeito. — Você não vai se afastar?

Mas Will não se moveu, seus dedos continuavam roçando a pele exposta da barriga, um pouco abaixo do umbigo. 

— Você quer mesmo que eu me afaste? — questionou, passando os dedos pelo cós do short e então deu um puxão, até o corpo de Nico vir para frente e bater no seu.

— Não... — Nico arfou. — Não quero.  

Will sorriu, satisfeito com a resposta e capturou seus lábios em um beijo longo e profundo. Quando percebeu, já estava pressionando o corpo de Nico na parede logo atrás dele.   

De repente, Nico colocou a mão no seu peito e o afastou, parecendo nervoso.

— Ok, deu. — Ele falou com certa dificuldade, ainda recuperando o fôlego. —  Você disse que ia se comportar.

Sim, Will havia dito isso. Céus, por que era tão difícil manter suas mãos longe de Nico?

— Eu estou me comportando... — respondeu de forma inocente. 

— Não, não está. — Ele apertou de leve a ponta do nariz de Will. — Vamos dormir. 

Will esfregou o nariz, fazendo cara feia igual uma criança que não havia ganhado o brinquedo que tanto queria.

— Ok, mas preciso arrumar um lugar para o Cérbero dormir na área de serviço primeiro. 

— Hm, eu não sei se ele vai querer… — Nico coçou a nuca.

Por que ele estava com aquela expressão de culpa no rosto? Isso era suspeito...  

— Seu apartamento é igual ao meu, acho que ele não vai estranhar. 

— Não é isso… Eu deixei que ele dormisse no meu quarto naquele dia que teve o temporal — ele confessou.  

— E daí? Isso já faz quase uma semana. 

— É que Cérbero continuou choramingando nas outras noites quando ficava sozinho… — Nico fez uma pausa, mordendo o lábio superior. — Então deixei que ele ficasse no quarto comigo. 

— Você fez o quê?! — exclamou, não acreditando no que havia acabado de ouvir. 

— Mas nunca deixei subir na cama! Sempre ficou no chão. — Ele deixou claro. — Eu sei que não deveria ter feito isso, agora ele está mal-acostumado.

— Ainda bem que você tem consciência disso. — Will respondeu.

Ele normalmente não via problema nenhum em um cachorro dormir no quarto do seu tutor, mas o problema é que Nico era apenas o tutor temporário de Cérbero. Daqui alguns dias ele iria embora, então como Nico ficaria após sua partida?  Mesmo tentando negar, Will sabia que ele estava se apegando ao filhote.

Estava pronto para dizer que não, que isso era uma péssima ideia e que Nico deveria cortar o mal pela raiz enquanto havia tempo, mas simplesmente não conseguiu quando viu o vizinho lhe olhando com expectativa.

— Ok, ele pode dormir no quarto com a gente... — Will suspirou, derrotado.

— Valeu! — Nico deu um sorriso sincero e depositou um beijinho rápido na sua bochecha. Bem, e ficou envergonhado logo em seguida ao perceber o que havia feito.

— Hm… — Will pigarreou e passou por ele, entrando no quarto. — Vejamos onde botei as coisas de inverno. 

Após Will achar um cobertor velho e fino — para Cérbero não passar muito calor durante a noite —, Nico fez uma cama improvisada no canto do quarto. O filhote rodopiou várias vezes, testando sua nova cama e enfim deitou, aprovando. 

— Tem certeza que ele não vai fazer xixi? — Will perguntou, ajeitando a cama box para eles dormirem. 

— Fique tranquilo, ele dorme a noite toda. Você nem vai lembrar que ele está aqui.

Claro. Isso explicava o motivo de Cérbero ter entrado no seu quarto sorrateiramente mais cedo naquela noite, como se já estivesse acostumado a dormir por ali, afinal, ele estava mesmo.

— Prontinho! — Will anunciou, colocando um travesseiro para seu hóspede.

Nico rapidamente deitou na cama, virando-se para o lado da janela, ou seja, de costas para ele. Uau, ele deveria estar mesmo cansado. Will desligou as luzes e deitou-se na cama também.  

Boa noite, Nico... — sussurrou, o abraçando por trás.

— Como posso ter uma boa noite de sono se você está tão perto? — havia certa tensão em sua voz quando respondeu. Nico ainda estava de costas para ele, então Will não conseguiu ver sua expressão naquele momento.

— Ah. Eu só achei que, bem, não teria problema eu te abraçar. — Will se justificou. — Você está desconfortável?

— Não, você... você só me assustou. Eu estava quase pegando no sono.

— Foi mal. Não era a minha intenção. 

Nico ficou em silêncio por alguns segundos e Will se perguntou se ele havia dormido. 

— Certo. Boa noite — finalmente respondeu.

Will sorriu e fechou os olhos. Quando ele estava quase pegando no sono, Nico se remexeu na cama.

— O que foi? — bocejou.

— Foi mal, não estou mais acostumado a dividir a cama com alguém. — Nico virou-se, ficando de frente para ele. O quarto estava escuro, então Will acendeu o abajur para clarear um pouco e conseguiu finalmente ver seu rosto.

— E com quem você costumava dividir?

— Bianca. — Ele disse rapidamente e então pareceu perceber como isso soava estranho e tratou-se de completar: — Hm, quero dizer, quando eu era criança! E não era todo dia, cada um tinha o seu quarto, só quando eu ficava... hm, com medo de algo. 

— Medo do quê? — quis saber.

— Trovões, ou algo do tipo... — deu de ombros. Então Will se tocou que o real motivo de Nico ter deixado o filhote dormir em seu quarto naquela noite poderia ser justamente os trovões. 

— Ah, também não sou muito fã de noites assim — confessou. — Gosto de dormir quando estava chovendo, mas trovões são muito barulhentos. Parece que o céu está se rasgando ao meio.

— É, parece mesmo... — ele concordou e logo depois soltou um bocejo.

— Desculpa, você está com sono, não é? Vou ficar quieto.

— Tudo bem, eu posso aguentar mais um pouco. Gosto de conversar com você.

— Eu também gosto — ele sorriu, passando a mão no rosto do Nico. — Mas sabe o que eu gosto mais ainda? — perguntou.

— Não, o quê?

— De quando a gente não está falando... — respondeu e, num movimento rápido, inclinou-se na direção do outro garoto e lhe deu um selinho, um simples encostar de lábios.

Will se afastou apenas o suficiente para ver a expressão do vizinho. Achou que Nico ficaria chateado, que bateria nele de novo e falaria “idiota!”. Mas não, ele ficou apenas parado, o encarando com os lábios entreabertos. 

Então, tudo mudou. Num momento, eles estavam deitados se encarando. No outro, estavam se beijando novamente. As únicas coisas que podiam ser ouvidas naquele quarto eram o som da respiração ofegante deles e o barulho de suas bocas se chocando. 

As mãos de Nico estavam no seu rosto, como se ele tentasse fazer com que Will chegasse ainda mais perto durante o beijo. Enquanto isso, as mãos de Will passeavam pelo corpo de Nico, saindo dos seus ombros, indo para a cintura e então parando na sua bunda — na qual ele deu uma leve apertada — o puxando para mais perto, até suas virilhas se encostarem por cima da roupa. Nico soltou um gemido sexy em resposta e Will sentiu pés se enroscando aos seus sobre os lençóis.

Então Will foi deslizando suas mãos até o tecido do short sumir e ele encostar na coxa de Nico. A pele do vizinho parecia fria em contato com seus dedos quentes, mas a sensação era boa. Céus, isso era maravilhoso!

Seus dedos foram subindo devagar pela coxa, entrando por baixo do short do pijama de Nico. Ele sentiu seus dedos tocando a bainha da cueca e sorriu.

— Espera... — Nico arfou, colocando as mãos no peito de Will e o afastou gentilmente.

— O que foi? — ele perguntou um pouco atônito. Nico não respondeu, apenas desviou o olhar, parecendo meio sem jeito. Foi então que ele lembrou-se onde sua mão ainda estava e a retirou. — Pensei que você estivesse gostando.

Will achou que Nico desconversaria e mudaria de assunto, mas não.

— Eu estava. — Ele confirmou, dando um suspiro. — Estava gostando pra caralho.  

— Ótimo, eu também — ele sorriu e tentou beijar Nico de novo, mas ele se esquivou. — O que foi? Você... não me quer?

— Eu quero. Porra, eu quero muito! — seu vizinho exclamou. — Mas não acho que agora seja o momento certo...

— Se você está preocupado com proteção, relaxa. Eu tenho camisinha, e também lubri...

— Merda, não é isso! — Nico o interrompeu e, mesmo com o quarto um pouco escuro, podia jurar que o viu corando.  — Eu só... eu não dormi direito por dois dias e realmente preciso repor meu sono. E você disse “só dormir”, lembra?

— Lembro...

Bem, Nico tinha razão. Afinal, Will havia o convidado para passar a noite no seu apartamento, deixando claro que eles iriam só dormir, porém não demorou muito para querer fazer tudo, exceto dormir naquela noite.

— Além disso — Nico prosseguiu —, Cérbero está no quarto com a gente. Você não quer que ele te ataque de novo, não é?

Will olhou por cima do ombro, para onde Cérbero estava no chão. O local pegava um pouco de iluminação por causa de uma fresta da persiana na janela, então ele percebeu que o filhote estava mesmo olhando na direção dele. A cama box era alta; o filhote, pequeno. Mas achou melhor não arriscar mesmo assim.  

— Hm, não quero... — respondeu, lembrando-se do que havia acontecido na outra noite. Ele adorava Cérbero, mas realmente havia ficado furioso com o filhote por alguns segundos ao interrompê-los. — Certo. Vamos deixar para depois que ele for embora.

Era quinta-feira de noite, quase sexta, e Cérbero voltaria para sua casa no final de semana. Para quem havia esperado quase dois anos só para ter uma chance com Nico, mais alguns dias não eram nada.

  — Hm, é... pode ser... — pela expressão de Nico, dava para ver que ele tinha esquecido completamente disso. — Vamos dormir, estou com sono. — e forçou um sorriso para dizer que estava tudo bem. Mas Will sabia que não estava e se odiou por ter tocado no assunto da partida do filhote justo naquele momento.

— Claro — assentiu, desligando o abajur.

 Nico não parecia realmente chateado, pois não deu as costas para ele dessa vez. Will se ajeitou na cama, ficando de barriga para cima e encarou o teto por alguns segundos. Por fim, fechou os olhos, mas o sono não vinha. Afinal, como ele conseguiria dormir sabendo que o garoto que gostava estava a apenas alguns centímetros dele?

Durma, William. Sua consciência ralhou com ele. Finja que Nico não está aqui, é só mais uma noite normal. 

Mas ele está

Finja que não está, idiota! 

Will se remexeu na cama, sentindo-se incomodado. Se já era difícil manter o autocontrole quando os dois estavam no mesmo cômodo, imagina então dividindo a mesma cama! Como ele achou que essa ideia poderia dar certo? Porque claramente não estava dando!

Ah, cara... Você está tão ferrado! Cavou a própria cova. 

Fique quieta, consciência! 

O quarto estava silencioso. Will queria abrir os olhos e descobrir se Nico já estava dormindo, mas temia que ele ainda estivesse acordado e o pegasse em flagrante bisbilhotando. Então contou até 100. Depois, 200. Nada. Socou o travesseiro, ajeitando em baixo da sua cabeça. 

— Você não precisa descontar no travesseiro... — Nico murmurou.

— Ah. Eu te acordei? — ele abriu os olhos e encarou o teto. — Foi mal.

— Tudo bem, eu estava pensando... talvez a gente devesse tentar de novo.

Will virou a cabeça e deu um sorrisinho malicioso.

— Não isso! — Nico deu um soquinho de leve no ombro dele. — Quero dizer... o abraço. — Então chegou mais perto, se aconchegando nos braços de Will e botou a cabeça em seu peito. — Mas se você tentar alguma gracinha de novo… vou te chutar para fora da cama.

— Uau, Di Angelo! Você seria capaz de me expulsar da minha própria cama? — perguntou, fingindo estar magoado.

— Sim. — Nico não hesitou em responder e encostou um dos pés na perna de Will, o empurrando devagar na direção do chão. — Devo continuar?

— Não! Já senti a força do seu punho, não quero sentir do seu pontapé.

Nico parou e fez um barulho que soou como uma risada. 

— Decisão sábia, Solace.

— Até que, às vezes, eu sou inteligente — ele riu e beijou os cabelos macios do garoto em seus braços. — Boa noite, Nico. 

— Boa noite, Will.

Então, abraçados, eles acabaram enfim pegando no sono.


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Notas finais do capítulo

Primeiro, foi o Cérbero interrompendo; agora, o Nico. Viram? A culpa não é dessa autora que vos fala! rs #parei

No próximo capítulo, Will tem uma surpresa para o terceiro encontro deles (Atenção: capítulo com alta dose de fofura!).

Até sexta-feira que vem! õ/



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