Debaixo das cerejeiras escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 6
Capítulo 6 - A neve a estrela


Notas iniciais do capítulo

Eu não queria deixar as duas ajudantes de Isane e Kiyone sem nome, então me decidi por Hiroko e Yuka, que são, respectivamente, os nomes da primeira e da segunda atriz que interpretaram a capitã Unohana no Rock Musical Bleach. ♥ E minha homenagem pessoal à personagem, da qual sinto muita falta. Ç.Ç ♥

NOTA: A fanart está assinada por alguém chamado "Pixiv", e disponível no blog/site "zerochan". O mais legal dessa fanart é que ela foi feita a partir de uma foto real de um casal segurando seu bebê.



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Capítulo 6 – A neve e a estrela

— Eu nunca imaginei que isso pudesse doer tanto... – Rukia chorou contra o pescoço de Ichigo, enquanto ele a abraçava e beijava sua testa – Tem certeza que anestesia funciona com todo mundo? Ou que funciona no gigai? – Ela perguntou a Isane.

— Sim, o gigai a recebe e metaboliza da mesma forma. Algumas pessoas têm uma resistência maior a substâncias inibidoras de dor, e precisam de doses mais fortes, mas não podemos arriscar isso nessa situação, você ainda precisa sentir suas pernas pra movê-las e empurrar os bebês pra fora. E agora a dor aumentou porque finalmente o trabalho está progredindo. Acho que seria ainda pior sem anestesia.

— O que... – Rukia tentou respirar – Você quer dizer com progredindo?

Isane abriu um pequeno sorriso, não querendo enfurecer Rukia em seus pensamentos nublados pela dor.

— Quero dizer que está perto de eu conseguir ver o primeiro bebê, a cabeça dele está no canal de parto, por isso a dor aumentou.

                Novas lágrimas deixaram os olhos violetas e Rukia conseguiu sorrir, tão ansiosa para ver os bebês quanto para que aquilo tudo acabasse.

                - Vê? Nem vamos sentir isso passar, o primeiro logo estará aqui – Ichigo sussurrou para confortá-la, beijando mais uma vez sua testa.

                - Vou fazer você ter o próximo bebê, então veremos o que acha de sua própria noção de tempo.

                Ichigo riu baixinho, vendo o quanto ela estava imersa no momento para não estar lhe batendo ou xingando de maneira pior, coisa que ela tinha feito minutos atrás, até começar a ficar cansada de resistir mentalmente à dor e liberar sua frustração em lágrimas e em se encolher contra ele em busca de algum conforto.

                - Eu sinto muito, querida.

                Rukia apertou sua mão em resposta e ele acariciou os dedos delicados da esposa.

                - Eu preciso... – Rukia falou entre as respirações.

                - Provavelmente nesse empurrão ou no próximo já poderei ver a cabeça dele ou dela – Isane falou.

                - Devo... Empurrar mais forte?

                - Até onde você suportar sem se esforçar além da conta – Isane respondeu.

                - Como você quer que eu te ajude agora? – Ichigo perguntou à esposa, até então vinha permitindo que ela segurasse e apertasse suas mãos, ou apoiava suas costas para ajudá-la no movimento.

                Rukia o encarou enquanto respirava fundo, preparando-se para o momento.

                - Me segure... – ela murmurou.

                Ele assentiu e a acomodou melhor entre seus braços, abraçando-a da melhor maneira que podia, enquanto Rukia envolvia as mãos em volta de seu braço como apoio, emitindo um último gemido de dor antes de começar a empurrar. Ela chorou ao se apoiar no colchão e no abraço de Ichigo de novo, respirando rapidamente em busca de ar. Kiyone apoiou sua cabeça com uma das mãos e esfriou sua pele deslizando um pano úmido por seu rosto, ao que Rukia foi muito grata quando sentiu a dor e a falta de ar aliviarem.

                - Ela está bem? – Rukia pode ouvir a voz preocupada de Ichigo quando seus olhos violeta se fecharam.

                - Sim, ela só perdeu um pouco o controle da respiração com a dor – Kiyone lhe disse – Rukia, você quer água?

                - Não sei se consigo beber qualquer coisa agora.

                - Eu acho que valeria a pena tentar. A dor faz parecer que nada pode reduzir o desconforto, mas esfriar o corpo pode fazer milagres. Se você não conseguir, tudo bem – Isane lhe disse.

                Rukia abriu os olhos e encarou a capitã enquanto refletia, por fim concordando. Ichigo a ajudou a se erguer um pouco mais para que ela conseguisse ingerir o copo de água trazido por Kiyone, e apesar de sentir que não conseguiria engolir uma única gota, sem nem pensar conseguiu sorver todo o conteúdo sem incomodo, sentindo-se muito mais leve quando a água molhou sua garganta.

                - Obrigada – ela abriu um pequeno sorriso ao recostar-se novamente à cama e a Ichigo.

                - Melhor? – Isane perguntou.

                - Bastante.

                - Eu disse que ajudaria – a capitã sorriu.

                Rukia descansou por poucos segundos antes de uma nova e violenta contração, que dessa vez a fez gritar e derramar novas lágrimas, querendo mais do que tudo poder apenas se acomodar nos braços do marido e descansar quando ele apertou um pouco o abraço e beijou sua têmpora, sussurrando carinhosamente “continue, continue, vai acabar” contra sua pele. Quando a tensão deixou mais uma vez seu corpo, ela fechou os olhos, tentando recuperar as forças e sentindo uma pressão ainda maior e mais incomoda entre as pernas, não se importando mais em pensar no que realmente estava acontecendo até Isane chamar a atenção dos dois.

                - Excelente, Rukia! Já consigo ver a cabeça do primeiro – ela sorriu.

                Era a primeira vez que Isane a chamava pelo primeiro nome, se para confortá-la ou por impulso Rukia não sabia, mas estava bem com isso. As duas se tornariam muito próximas de agora em diante, querendo ou não, então abriu os olhos e sorriu em resposta, ainda chorando, agora tanto de dor quanto de alegria. Ao seu lado Ichigo riu, seus olhos castanhos brilhando tanto quanto os seus violetas.

                - Como ele se parece? Estou ansiosa – Rukia pediu baixinho.

                - Não dá pra ter certeza ainda, mas eu acho que se parece com o pai.

                - Ruivo? – Rukia riu baixinho.

                - Provavelmente.

                - Você conseguiu o que queria – Ichigo falou com amor.

                - Eu também estaria feliz com cabelos negros.

                - Eu sei – ele falou, beijando seus lábios.

                Ela respirou fundo quando sentiu a dor voltar, agora muito mais rápido do que antes.

                - Agora que o bebê está coroando, as contrações vão vir mais rápido – Isane explicou – Hiroko, Yuka, preparem tudo pra cuidar do bebê.

                - Agora mesmo, capitã – Yuka, a mais jovem e sorridente respondeu, e Rukia a viu estender uma toalha na mesa perto da cama.

                - Vou preparar a água – Hiroko, a mais velha e serena das duas falou, e Ichigo a observou encher um recipiente de acrílico com água.

                Elas eram irmãs e já estavam no esquadrão há algum tempo. Lembravam muito a capitão Unohana, sendo as duas parecidas e com longos cabelos negros, mas trançados nas costas e desde a raiz dos fios negros.

                - Tem certeza de que estamos bem? – Rukia perguntou à Isane após mais contrações e empurrões – Ele parece grande demais pra sair.

                - Então provavelmente é o menino, costumam ser maiores e mais pesados. Temos relatos de assim de outras mães de meninos nos registros. Mas não se preocupe com isso, seu corpo sabe se ajustar. Há casos em que uma cirurgia emergencial é necessária, mas se esse fosse um deles já saberíamos. O bebê está sendo empurrado pra fora aos poucos. A menina será mais fácil, mesmo porque provavelmente ela será um pouco menor que o irmão.

                - Eu ficaria grata por isso.

                - Você parece tão calmo – Kiyone comentou para Ichigo – O pai do bebê em Rukongai quase ficou louco.

                O ruivo riu.

                - Só parece mesmo – Rukia disse, rindo junto com ele por um instante – O coração dele parece que vai explodir – acrescentou sentindo os batimentos acelerados contra seu ombro.

                - Meu pai é médico. Houve muito que ele nos ensinou ao longo desses meses pra nos deixar o mais tranquilos possível. Ele já atendeu todo tipo de emergências. Mas o conhecimento não garante que tudo vá sair como esperado.

                - Isso é verdade – Isane falou, lembrando-se de histórias com finais não tão felizes que lera nos registros de seu esquadrão – Mas você pode continuar apenas ansioso e despreocupado, porque está saindo tudo como esperado.

                Ichigo sorriu em gratidão.

                Minutos mais tarde um choro de dor e uma respiração profunda encerraram mais um grito de Rukia quando ela sentiu a pressão em seu corpo aliviar, pelo menos por enquanto, e o choro de um bebê ecoou pela sala.

                Ichigo beijou os cabelos negros da esposa enquanto ela arfava recuperando o ar e olhava na direção de Isane, tentando ver seu primeiro filho.

                - Nós acertamos, é o menino – a capitã sorriu ao erguer o bebê chorando para os dois verem.

                Ele era pequeno, apesar de parecer tão grande quando Rukia o estava empurrando para fora. Ignorando sua visão embaçada pelas lágrimas, ela instintivamente estendeu os braços para o filho. Isane o limpou rapidamente com uma toalha e o deu para ela, ajudando-a a acomodar o pequeno no peito. O bebê se encolheu e parou de chorar imediatamente. As quatro integrantes da 4ª divisão assistiram a cena maravilhadas, mesmo já a tendo visto antes, e trabalharam em silêncio para as próximas etapas enquanto os pais riam felizes para o menino.

                 Ichigo acariciou os poucos fios de cabelo do filho, que agora tinham quase certeza que eram realmente ruivos, e beijou sua mãozinha. Os dedinhos se mexeram e os olhinhos se abriram, revelando uma linda e intensa cor violeta, deixando o casal de olhos arregalados por um instante. Rukia limpou novamente as lágrimas dos olhos para ver melhor e olhou para o marido com um sorriso.

                - Você também conseguiu o que queria.

                - Pelo menos por enquanto, nós dois conseguimos, já que as cores podem mudar com o tempo.

                - É verdade – Isane falou baixinho, não querendo quebrar o momento dos três – O cabelo pode escurecer depois, ou ficar mais claro como o da sua irmã, ou de uma cor nova, ou cair e crescer de novo com outra cor. Os olhos podem ficar castanhos ou se manter dessa cor, só saberemos ao longo dos meses.

                Rukia e o bebê trocaram um olhar que parecia apaixonado, e se Ichigo tinha alguma dúvida sobre os recém nascidos terem alguma noção do mundo ao seu redor no nascimento, agora sabia que sim, mesmo que fossem apenas guiados pelo coração.

                - Ele já tem um nome? – Kiyone perguntou.

                - Yuki – Rukia respondeu.

                - E a irmãzinha? – Isane perguntou.

                - Hoshi – Ichigo disse.

                - São bonitos! E combinam com você – Kiyone falou com alegria para a amiga.

                Quando Rukia começou a sentir dores de novo, agora vindo muito mais rápido, Yuki foi carinhosamente ninado por Yuka e Hiroko enquanto Isane cortava o cordão e o entregava para as duas lhe darem banho.

                Apesar de estar quase esgotada, Rukia sentiu-se cheia de força de novo ao ver o rosto do filho, sabendo que faltava pouco para poder descansar com toda sua família, e em muito menos tempo do que antes, o choro de sua garotinha também se espalhou pelo lugar. Ela era mesmo um pouco menor que o irmão, mas a diferença era mínima. Seus cabelos e olhos, no entanto, eram idênticos aos dele. E agora Rukia relaxou aliviada com a filha acomodada no peito, também tendo parado de chorar imediatamente ao ser colocada ali, enquanto a mãe acariciava suas costas e Ichigo beijava as duas, esperando que Isane concluísse seus cuidados com Rukia.

                - Estamos bem – Ichigo disse baixinho, beijando sua bochecha e a sentindo sorrir.

                Logo os dois bebês estavam banhados e novamente acomodados no peito da mãe, por enquanto apenas vestidos com fraldas e envoltos por um cobertor e touquinhas enquanto Rukia os amamentava, sem conseguir tirar o sorriso do rosto. Um tubo de soro estava conectado a sua mão esquerda e um cobertor já a aquecia, tendo as demais shinigamis já concluído os cuidados com ela.

                - Mesmo com os kidos de cura ela ainda precisa de soro? – Ichigo perguntou.

                - É uma precaução extra. O corpo dela está tão curado quanto possível por dentro, mas é bom hidratar o gigai. Quando a Inoue-san vier vê-la e curá-la, a recuperação vai acelerar. E talvez... O fato de ela também estar grávida, e com a mesma energia, vá contribuir ainda mais.

                - Isane, vamos fazer a mudança agora? – Kiyone perguntou à irmã.

                - Daqui a pouco. Vamos deixar vocês por um instante pra verificar com seu pai se o quarto onde vão ficar agora está em ordem. É melhor ficarmos na clínica por precaução nas primeiras horas dos bebês, mesmo com os kidos e poderes de cura de Inoue, e apesar de terem nascido perfeitos. Protocolo padrão – ela disse a Ichigo e Rukia.

                - Meu pai disse que é assim nesse mundo também.

                - Principalmente, aqui nossas técnicas de cura, geralmente, não estão disponíveis. Aproveitem seu primeiro tempo sozinhos com seus pequenos.

                A sala de parto ficou em silêncio quando as quatro saíram, e Ichigo olhou para os filhos, a coisa mais linda que ele já tinha visto bem diante de seus olhos. Os olhinhos violeta estavam fechados e seus corpinhos confortavelmente encolhidos sobre o da mãe enquanto sugavam para se alimentar, os cabelos ruivos brilhavam como o sol, exatamente como os dele, e a pele dos pequenos estava num tom intermediário entre a sua e a pele alva de Rukia.

                A baixinha o olhou e ele a encarou de volta, devolvendo o sorriso e espelhando a emoção em seus olhos.

                - Eu te amo, anã – ele sussurrou para ela mais uma de tantas vezes.

                Rukia riu, tentando não chorar mais uma vez, e fechando os olhos quando o ruivo a beijou.

                Ichigo sentou-se na beirada da cama quando se separaram, querendo mais do que tudo prender a esposa num abraço apertado, mas sabendo que o momento era de seus filhos agora. A equipe de Isane tinha passado bons trinta minutos lhes dando instruções e sanando dúvidas dos dois, ensinando Rukia a amamentar corretamente, e explicando como o contato pele com pele na primeira hora de vida dos pequenos era importante para eles e o quanto os fazia se sentirem seguros e relaxados, e que também seria benéfico se o pai os segurasse assim. Portanto, passados agora cerca de quarenta minutos do nascimento de ambos, haviam sido pesados, limpos, e parcialmente vestidos, então Isane os devolveu a Rukia logo que teve certeza de que estavam bem, deixando que os quatro tivessem mais tempo juntos após a finalização dos pós-parto.

                - Como você se sente? – Ele perguntou.

                A shinigami refletiu por um momento, chegando à conclusão de que ele estava perguntando sobre suas emoções e não sobre seu corpo, uma vez que já sabiam que ela estava bem.

                - Eu não sei ainda. Acho que vai ser estranho me acostumar a não sentí-los mais dentro de mim, mas vou poder dormir melhor, quando não estiverem chorando durante a noite – ela riu baixinho – E talvez eu fique maluca e irritada com você durante os dias que eles ficarem mamando por muito tempo.

                Agora foi Ichigo quem riu, e se inclinou para beijar seu rosto.

                - Dessa vez você está autorizada. Só lembre de não me quebrar com uma voadora, ou não vou poder ser de muita ajuda, docinho.

                Rukia riu, e os dois se perderam em mais um momento de silêncio e cumplicidade quando olharam para os filhos e viram dois pares de olhos violeta os encarando profundamente.

                - Você ainda não os segurou... – Rukia pensou alto – Eles são tão quentinhos, e fofos.

                - Confesso que estou ansioso, mas posso esperar.

                - Que bom, porque não tenho vontade de tirá-los daqui agora – ela disse acariciando as costas dos pequenos e também confortando-se com a pele macia dos dois contra a sua.

                Ichigo não precisou esperar muito, no entanto, quando poucos minutos depois Yuki soltou o seio da mãe e ficou feliz em apenas observá-la. Os dois admiraram sua observação silenciosa por um tempo antes de Rukia pedir ajuda ao marido para o bebê arrotar.

                - Ei, querido – ela sussurrou para o menino, que riu para ela, fazendo-a rir junto e sentir o coração queimar – Este é o papai. Ele vai pegar você um pouco, certo?

                - Oi, coelhinho – Ichigo sussurrou para o filho quando se aproximou dele, fazendo os olhos de Rukia se encherem de lágrimas pela forma como chamou seu pequeno tesouro.

                Ele percebeu, e riu baixinho, virando o rosto rapidamente para beijar a bochecha da esposa em resposta.

                - Por que você não tenta isso também? A sensação é mágica – Rukia sugeriu.

                O ruivo assentiu, e desabotoou a camisa, tomando delicadamente o filho dos braços da esposa em seguida. Yuki emitiu um som irritado, mas que durou apenas o tempo de sentir-se aquecido contra a pele do pai. Ichigo respirou fundo com a emoção, e arrumou melhor a toalha em volta do recém-nascido, abraçando-o com ternura e beijando sua cabeça por cima da touca. Ele era tão leve, tão delicado, e tão bonito, bem como sua irmã. Até então ele nunca pensou que um dia seguraria um ser menor e mais leve do que Rukia. Ele já gostava tanto do peso leve dela em seus braços quando a pegava no colo, apesar disso não traduzir em nada sua força física.

                - Ele é tão bonito, Rukia. Os dois são.

                Ela assentiu, secando os olhos mais uma vez. Alguns momentos depois, Hoshi também se sentiu saciada, e entrou na mesma observação silenciosa que seu irmão fizera de sua mãe antes. Rukia sorriu para ela e trocou mais um olhar cúmplice com a pequena, que riu de volta.

                - O que acha de segurar os dois agora? – Rukia perguntou – Ichigo, você não vai derrubá-los. São muito pequenos pra você não dar conta. Eu treinei bem você.

                - Eu ainda não consigo ver a semelhança entre segurar chappys de pelúcia e bebês – ele reclamou, tão indignado quanto da primeira vez que Rukia o obrigou a treinar daquela forma, fazendo-a rir.

                - O momento finalmente chegou, você não precisa mais dos chappys.

                Voltando-se para a filha, ela fez tudo da mesma forma suave de antes.

                - Querida, este é o papai. Ele vai pegar você um pouquinho.

                - Ei, coelhinha – Ichigo sussurrou para a filha, sua voz embargada de lágrimas quando Rukia o ajudou a segurá-la com o braço livre, e Hoshi se encolheu confortavelmente contra o pai e o irmão após um breve murmúrio de reclamação, também ganhando um beijo do shinigami mestiço.

                Rukia deixou suas lágrimas finalmente caírem mais uma vez ao presenciar a cena enquanto arrumava sua roupa, e sua longa vida como um espírito voltou a sua cabeça, desde Rukongai, todas as dificuldades, batalhas e momentos que podiam não tê-la permitido estar aqui agora. Ela nunca imaginou que um dia sairia de uma criança perdida em Rukongai a uma filha dos Kuchiki, e nem que depois sairia de uma nobre solitária a uma shinigami muito mais forte e rodeada de amigos e carinho sem que algo ruim tirasse isso dela de repente, até conhecer Ichigo. E agora aqui estavam.

                - Você está bem? – Ele perguntou de novo – Não custa verificar – o ruivo sorriu.

                - Melhor do que nunca – ela respondeu, secando os olhos outra vez – Acho que vou ficar louca, processando tudo isso.

                - Nós dois. Mas estamos indo bem, colocar isso pra fora já é um passo, baixinha.

                Ela assentiu com um sorriso, que aumentou ao ver que os bebês tinham caído no sono.

                - É, eu sei como isso é bom – ela falou para os gêmeos adormecidos, lembrando-se das muitas vezes que ela mesma adormeceu sobre o peito do amado, em diversos momentos em que estavam sozinhos.

                - Eu também – cuidadosamente ele se inclinou para lhe dar mais um beijo nos lábios, e sentou-se com os pequenos na cadeira ao lado da cama.

                - Eu estava com medo de que vocês estivessem entrando em pânico, ou de que eu poderia interromper algo importante, mas parece que estão se saindo muito melhor do que esperávamos – ouviram a voz suave de Yuka quando ela surgiu de repente na porta.

                - Ainda é cedo pra saber sobre o quanto estaremos em pânico – Rukia sorriu.

                Yuka riu baixinho.

                - A antiga capitã ficaria muito feliz em estar aqui agora. Ela gostava muito de vocês – Hiroko falou ao entrar.

                - Eu acredito que Unohana-san esteja feliz por nós, onde quer que ela esteja – Ichigo respondeu – Também gostávamos muito dela.

                Um silêncio confortável se estabeleceu por alguns segundos.

                - O quarto pra vocês está em ordem. A capitã e a tenente estão falando com os outros e tranquilizando alguns que já estão aqui querendo notícias de vocês – Hiroko falou – Vamos arrumar os bebês quando acordarem pra que vocês possam ir e ver os demais nas próximas horas.

                - Rukia-san – Yuka falou – Vamos aguardar mais um tempo pra que o efeito da anestesia passe e seu corpo esteja menos atordoado, então você também poderá tomar banho e descansar melhor. E chamaremos Inoue-san pra curar você por completo. E ela está muito ansiosa pra vê-los.

                Rukia assentiu com um sorriso, também ansiosa para que a amiga pudesse conhecer seus bebês.

                - E uma visita que chegou também veio pra nos ajudar. Eu poderia deixa-lo entrar agora?

                - Quem é? – Rukia perguntou.

                - Ei, Rukia, Ichigo! – A voz de Hanatarou foi ouvida do corredor, e o pequeno shinigami surgiu no quarto.

                Ichigo ficou feliz ao ver um sorriso iluminar o rosto cansado da esposa. Eles deviam tanto a Hanatarou, incluindo a própria vida de Rukia, além de ter se tornado um de seus melhores amigos desde que tinham se conhecido.

                Conversaram por alguns minutos até os gêmeos acordarem outra vez e carinhosamente Yuka e Hiroko os vestiram. Isane colocava a sala em ordem novamente enquanto Kiyone e Hanatarou instruíam Ichigo sobre como ajudar Rukia dali em diante e testavam os reflexos da shinigami. Com tudo encaminhado, Ichigo pegou a esposa no colo para que seguissem para o quarto, mas não antes de Isshin surgir no local.

                - Oi velho – Ichigo sorriu para o pai.

                - Oi, velho?! Mas que cumprimento é esse? Você agora tem que dizer Oi, vovô! – ele dramatizou com uma expressão de extrema alegria.

                Ichigo suspirou, ouvindo Rukia rir.

                - Terceira filha, como se sente?! O Ichigo serviu bem como um saco de panc... – Isshin se calou quando Ichigo pisou em seu pé.

                - Você tá numa sala de parto, velho imbecil! – Ichigo sussurrou – Na sua própria clínica!

                - Eu estou ótima. Com tanto cuidado de todo mundo seria impossível não estar – Rukia sorriu para o sogro – Ichigo foi maravilhoso, eu não sei o que teria feito sem ele aqui.

                Isshin retribuiu o sorriso da pequena shinigami, e por seu olhar o casal sabia que alguma lembrança boa e distante é que estava enchendo seus olhos de lágrimas agora. Mas nada foi dito sobre aquilo quando a voz de Hanatarou lhes chamou a atenção e os dois viram Isshin ficar mudo e boquiaberto, como raramente acontecia.

                - Os dois estão prontos, nós podemos ir – o baixinho falou.

                Todos ali se derreteram observando os gêmeos, adormecidos novamente, nos braços do pequeno shinigami. Os dois usavam macacão branco, mas o de Yuki cheio de leõezinhos azuis e o de Hoshi cheio de coelhinhos cor de rosa, além de toucas com orelhas de leão e coelhinho, ideia de Rukia, obviamente. Os dois pareciam tão pequenos, frágeis e irresistivelmente fofos.

                - Pai – Ichigo chamou com um sorriso – Você quer colocar seus netos nos berços pra que possamos ir em frente?

                Isshin abriu um sorriso enorme, e assentiu sem dizer nada quando caminhou até Hanatarou e o cumprimentou, pegando um a um os dois bebês e os acomodando nos berços transparentes com rodinhas que Isane havia trazido.

                - Filho, Rukia... – ele falou apenas para os dois enquanto caminhavam para fora da sala – Todos eles devem estar muito felizes. Eu tenho certeza.

                Os dois assentiram em silêncio, mas com o mesmo sorriso no rosto, e a mesma paz no olhar.


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