Social Studies escrita por Morgan


Capítulo 3
III. Aquele em que Rose entende


Notas iniciais do capítulo

Gente, preciso dizer: amei os comentários falando mal da Rose HAHAHA, me senti representada, pq geralmente sou eu nos comentários alheios falando mal dela. Mas espero que esse capítulo faça vocês se sentirem um pouco melhor em relação a ela, talvez? Boa leitura, até as notas finais ♥



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Rose comeu em uma velocidade surpreendente, correu para o quarto e passou a fazer as modificações de seu trabalho, estava tão distraída que nem olhou para o visor do celular quando o mesmo começou a tocar.

— Sério que você não tem senha no seu celular?

— Ahn... Quê? – Balbuciou Rose sem entender. Ela afastou o celular apenas para ver o nome Esquentadinha brilhar na tela, começando a imaginar o que havia acontecido. – Ah, puta que pariu...

— "Idiota", sério? Eu esperava algo mais criativo de você.

— Achei que resumia você bem o bastante – ela suspirou. – Como conseguimos trocar de celular?

— Acho que foi na hora do banheiro apertado, lembro que nós dois tínhamos colocado em cima da pia.

Rose sentiu as bochechas corarem pela menção daquele momento. Colocou a mão no rosto apenas para se xingar logo em seguida, pois não importava se estava vermelha ou não, estava sozinha. Scorpius não podia vê-la.

— Que droga. Você, ahn, quer destrocar agora? – Questionou a garota, mesmo que o relógio digital ao lado de sua cama já apontasse que havia passado das dez da noite.

Scorpius ficou em silêncio por alguns segundos.

— Não precisa se não for importante para você. Nós... – Scorpius hesitou novamente. – Podemos destrocar depois do meu turno no Joe's amanhã? Eu só fico até a hora do almoço.

Rose tinha certeza que havia algo de errado com Scorpius. Ele parecia contar as palavras que dizia, como se pudesse dizer algo de errado a qualquer momento e esse era, definitivamente, um lado dele que ela nunca havia visto. Scorpius era sempre confiante. Tão confiante a ponto de irritá-la. Mas o que aconteceu depois assustou a ruiva ainda mais.

— Claro. Eu posso... ir até aí. Quer dizer, até lá. Posso ir até o Joe's.

Sabia que era sua voz, sabia que havia aberto a boca e proposto aquilo, mas definitivamente não soava como ela.

— Ok, tudo bem. Você pode me mostrar o que falta do trabalho lá então. Podemos aproveitar.

— Sim, claro.

Um silêncio tomou conta da linha antes de Scorpius não resistir e soltar uma risada curta.

— Então... Boa noite, Idiota.

Rose não conseguiu evitar o sorriso que tomou conta de seu rosto.

— Boa noite, Esquentadinha.

*

Rose não soube exatamente o porque de ter ignorado as duas ligações de Albus no telefone de casa, nem de ter pedido a Hugo para responder as mensagens de Roxanne sobre ela apenas depois e muito menos – essa era a parte preocupante – de ter ficado tão incomodada com as mensagens de Marina Chang no celular de Scorpius a ponto de desligá-lo. Não sabia o conteúdo e francamente era a última coisa que queria, mas sabia que estavam chegando e isso era o bastante para um sentimento pequeno e intragável se formar dentro dela.

Rose teve que se forçar a ignorar aquilo, assim como ignorou as lembranças que rondavam em sua mente sobre como Scorpius havia ficado próximo dela, como ele havia sido carinhoso e atencioso com a tia, o que deixou Rose com o peito aquecido, pois não conseguia não sentir-se feliz quando via famílias unidas e felizes como a sua e teve que fazer muita força mesmo para ignorar a conversa que tiveram em frente à sua casa.

A lanchonete em que Scorpius trabalhava era muito perto da casa de Rose, foi por isso que, logo após o almoço e de se despedir de seu pai e de Flora – ironicamente o nome da primeira rosa que nasceu no jardim da família –, a garota pegou sua bicicleta antiga e seguiu até lá.

Ir de bicicleta foi uma boa ideia, no fim das contas, pensou Rose. Pois quando se aproximou, talvez um pouco mais atrasada do que deveria, e viu Scorpius encostado do lado de fora da lanchonete, enfiando o avental laranja na mochila antes de esticar todo seu corpo e passar a mão cansada pelo pescoço e pela nuca, causando em Rose um arrepio nem tão característico assim, e um coração acelerado ao dar um de seus sorrisos ladinos quando percebeu a presença da ruiva, ela pôde culpar seu péssimo condicionamento físico e a viagem que fez de bicicleta e não seus pensamentos torturosos ao ver o rapaz.

— Nunca pensei que seria eu a dizer que Rose Weasley está atrasada – disse com um sorriso. – Fazia tempo que eu não via essa garota do lado de fora.

Scorpius passou a mão no guidão da bicicleta amarela de Rose, provavelmente lembrando-se, assim como Rose, das incontáveis corridas que James Sirius e Fred organizavam no parque de Hogsmeade onde Scorpius e Rose não se incomodavam em perder, contanto que não perdessem um para o outro.

— Fazia tempo que ela também não via o lado de fora.

— Sinto falta de James e Fred às vezes e das suas ideias meio malucas para acabar com o tédio do domingo. 

— Eu também, mas só às vezes.

Scorpius sorriu.

— Você trouxe o trabalho, não é? – Ele apontou para a mochila na pequena cesta que ocupava a parte da frente da bicicleta de Rose. – Claro que trouxe. Rory anda com a mochila dela para cima e para baixo. Vamos ao parque.

— Parque?

— O dia está muito bonito para ficarmos enfurnados em algum lugar.

Rose avaliou por um tempo antes de finalmente dar de ombros.

— Tudo bem.

— Vai me dar uma carona?

— Vai sonhando, Malfoy. Vai surfando nessa sua coisa aí – retrucou Rose com um sorriso divertido, virando-se e seguindo em direção ao parque.

— Isso foi extremamente ofensivo com a Daisy – foi a primeira coisa que Scorpius disse após sentar-se ao lado de Rose apenas alguns minutos depois dela ter chegado embaixo de uma grande árvore no meio do parque que gerava uma sombra confortável.

— Daisy? O nome do seu skate é... Daisy? Eu não sei com o que fico preocupada aqui, honestamente.

Scorpius apenas riu, estendendo o celular de Rose para ela, então a garota fez o mesmo.

— Por que está desligado?

— Você recebe muitas mensagens, ele não parava de vibrar – Rose já havia treinado aquela desculpa várias vezes. Não havia a menor possibilidade de dizer que as notificações só passaram a incomodar quando ela viu o nome de Marina piscar na tela. 

— O seu também não – retrucou. – Nott, huh?

— Você leu?

— Será que eu li? – Scorpius deu de ombros. – Você nunca vai saber e isso talvez faça você colocar uma senha nessa coisa, sua tonta!

A boca de Rose se abriu, indignada. 

— Você é ridículo.

— Você já disse isso.

— Ótimo – Rose começou a tirar abrir a mochila, mas Scorpius colocou a mão sob a sua, chamando a sua atenção.

— Ontem você me fez uma pergunta que eu não pude responder. Você ainda quer saber?

— Você sabe que sim.

Scorpius sorriu. Rose sempre queria saber sobre tudo. Se Albus era um grande fofoqueiro, Rose era uma grande curiosa.

Ele respirou fundo, afastando sua mão da garota e tentando juntar as palavras.

— Bem, ahn... Naquele dia, na frente do meu armário, você... – Scorpius parou. Parecia não conseguir respirar, muito menos falar e Rose sentiu-se envergonhada e preocupada. Envergonhada em ter pedido para saber algo que, claramente, parecia pessoal demais agora e preocupada, pois nunca havia visto Scorpius daquele jeito.

Já tinha visto Scorpius Malfoy com raiva, irritado, feliz, magoado e já até o viu chorando certa vez dentro de uma sala de cinema, mas nunca constrangido a este ponto.

Então, sem pensar muito, Rose ficou de pé, pegando o skate do loiro que estava encostado na árvore e indo até o caminho asfaltado do parque. Scorpius não levou nem um segundo direito para segui-la, afinal, Rose havia pegado Daisy!

— Pode me ensinar? – Pediu ela. Scorpius franziu o cenho.

— Pensei que você achava que era um esporte bobo e irresponsável.

— Não – falou Rose na mesma hora, deixando que o skate caísse e colocando o primeiro pé em cima dele. – Você é bobo e irresponsável. O skate não tem nada a ver com isso.

Scorpius nem teve tempo para responder a provocação, pois na mesma hora Rose ameaçou colocar o outro pé e ele precisava fazer alguma coisa para evitar que a ruiva caísse e esfolasse o rosto. Ele a segurou pelos ombros bem na hora que o skate começou a andar.

— Você está sendo meio inconsequente, Rose. Só passamos um dia juntos, você não vai poder me culpar.

Ela revirou os olhos.

— Fala logo como fazer isso.

Demorou alguns segundos até Scorpius perceber que ela falava sério.

— Um pé em cima dele, um pouco para frente... Isso, aí tá bom. Agora é só impulsionar com o outro e quando ele começar a andar, você o coloca na parte de trás.

— E se eu quiser frear?

— Você pode colocar o pé no chão ou transferir o peso do seu corpo para essa parte de trás aqui – Explicou ele, batendo na perna de trás de Rose.

O movimento pareceu involuntário para o outro, então Rose não disse nada, embora devesse ter pensado direito ao pedir aulas de skate. Não achou que precisaria de tantos... toques. 

— Tudo bem, acho que já entendi.

Scorpius balançou a cabeça, puxando uma das mãos de Rose e repousando em seu próprio ombro.

— Devagar. Se você cair, seu pai me mata.

E assim eles ficaram. Rose impulsionou o skate para frente, fazendo como já havia visto Scorpius fazer milhões de vezes, mas dessa vez segurando no garoto que andava ao seu lado devagar.

— Sei o que você está fazendo – comentou Scorpius despretenciosamente depois de um tempo. Rose olhou para ele e o Malfoy apenas arqueou as sobrancelhas, a desafiando silenciosamente a dizer que ele estava errado. Ensinar Rose não era algo ruim, eles estavam trocando risadas e falando calmamente como não faziam em anos, mas Scorpius a conhecia e sabia que aquilo era mais do que só vontade de aprender alguma coisa nova. 

Rose nem sequer tentou disfaçar. 

— Você não precisa me contar nada se isso te deixa desconfortável.

— Mas acho que você merece saber. Foi em você que eu descontei.

Rose riu.

— Nós descontamos nossas frustrações um no outro há anos, Scorpius.

— Eu nunca descontei nada em você.

Rose parou, inclinando o rosto em direção ao garoto.

— Bom, então foi apenas eu.

Scorpius soltou uma risada baixa.

— Você disse que poderia fazer o nosso trabalho sozinha. Poderia ser uma mãe solteira e que tudo bem, porque já haviam muitas por aí. Disse que eu tinha essa "energia" também.

Rose parou de olhar para o skate embaixo de si, focando toda sua atenção em Scorpius, que ainda andava devagar com as mãos de Rose em seus ombros, a levando consigo.

— Acho que você sabe que somos apenas minha mãe e eu aqui em Hogsmeade.

— Claro que sei. Sua mãe é incrível. É a única pessoa que já vi ficar linda mesmo consertando carros o dia inteiro.

Scorpius sorriu, concordando.

— E meu pai está em Londres – ele hesitou por um momento. – Ele sempre esteve em Londres.

Levou um tempo até que Rose pudesse entender o que Scorpius queria dizer, mas quando entendeu, sentiu suas pernas falharem, fazendo com que ele tivesse que agarrar sua cintura quando o skate apenas escapou dos pés de Rose como se tivesse vida própria.

— Eu... Por Deus, Scorpius, eu sinto muito, eu não... Eu não fazia ideia. Sabia que ele não morava aqui, mas achei... Como sou idiota! Burra! Eu não tinha o direito de achar nada!

— Está tudo bem, Rose, você não tinha como saber. Não é o tipo de coisa que eu saio contando por aí. Acho que só Albus sabe o quanto nossa relação é... Bem, praticamente inexistente – ele riu, tentando soar despreocupado, mas Rose continuava negando com a cabeça, sentindo sua cabeça rodar de tanta culpa.

— Não, não é desculpa. O que eu falei foi péssimo e foi ainda mais por ser para você. Estava brincando com o que não deveria ter brincado e fui estúpida. Me desculpe, Scorpius, me desculpe de verdade. Eu falei tão mal de você e a babaca foi eu!

— Você está sempre falando mal de mim.

Rose riu, pois percebeu que era o que Scorpius queria que ela fizesse, mas ainda sentia seu coração afundar de vergonha e tristeza. Havia sido tão egoísta a ponto de simplesmente ignorar que nunca sequer havia visto o pai de Scorpius quando provavelmente conhecia o pai de todos os outros colegas de sua sala? E ainda dito aquilo para ele? Logo para ele? Por Deus, Rose queria que um raio acertasse bem no meio de sua cabeça. Não podia ficar mais arrependida nem se tentasse. O loiro pegou o skate que havia escapado e puxou a garota pela mão para o local onde estavam antes.

— Eu estava mais chateado naquele dia do que nos outros dias – disse ele depois de se sentarem. Rose não conseguia evitar encarar Scorpius, mas o garoto tinha os olhos fixos no lago à frente deles onde alguns patos nadavam despreocupados. – Veja, Rose, meu pai não gostou nada de saber que minha mãe estava grávida. Eu só possuo o nome Malfoy porque teria sido um escândalo se fosse diferente, o que me deixou com raiva durante tempo demais. Preferia muito mais ser apenas mais um Greengrass como a minha mãe.

Rose ignorou a culpa latente em seu peito. Scorpius parecia querer falar. Scorpius parecia precisar falar. Então ela ouviria.

— E ele nunca veio atrás de você?

— Não até o ano passado. Até o ano passado tudo que eu tinha dele era um nome, recibos bancários cada vez que a pensão alimentícia caía na minha conta e um artigo no Wikipedia que qualquer um pode ler. Mas, de repente, ele ligou para a minha mãe. Disse que queria me conhecer, queria saber das minhas notas, do que eu fazia, onde eu queria estudar... Foi... demais. Foi muita coisa mesmo.

Agora tudo fazia sentido. Scorpius sempre aprontou, isso Rose sabia, mas no ano anterior, ele parecia irreconhecível. Teria reprovado de ano com toda certeza se Albus não o tivesse prendido em casa durante dias e estudado para as provas finais e o ajudado a fazer todos os trabalhos que os professores passaram para ele como segunda chance. Algo que Rose havia julgado ao extremo, pois, para ela, se Scorpius queria bombar, que o deixassem. Mas não para Al... não, ele sabia. E ele cuidou do amigo.

— Sua mãe está bem?

Foi a primeira vez que Scorpius olhou para Rose ao contar sua história. Seus olhos pareciam brilhar e ele parecia... aliviado com a pergunta. Ou algo muito parecido com isso.

— 'Tá. Ela é muito durona, a Astoria Greengrass – ele tinha um sorriso genuíno no rosto ao falar da mãe e Rose sentiu muita vontade de apenas repousar sua mão em uma das bochechas do garoto antes de abraçá-lo. Mas é óbvio que ela não poderia fazer nada disso. – Não acho que ela o odeie, embora pudesse. Mamãe queria que eu desse uma chance a ele, mas isso é tão possível quanto, sei lá, Victoire e Teddy não se casarem. Eu nunca quis nem sequer o dinheiro dele.

— É por isso que você trabalha desde sempre.

— Um garoto precisa viver. E eu não preciso dele para isso.

Rose sorriu, não se aguentando e apertando a mão de Scorpius sobre a grama. O garoto encarou suas mãos entrelaçadas no mesmo segundo, mas não a moveu.

— É claro que você não precisa dele. Mas uma pensão não é sobre isso, é sobre ser o seu direito e uma obrigação dele. Ele não está te fazendo nenhum favor.

— Naquele dia, ele tinha acabado de ligar. Não faço ideia de como ele conseguiu o meu número, mas ele me ligou – Scorpius riu amargamente. – O filho da puta teve a coragem de me ligar, Rose. Deixou a minha mãe sozinha e nunca fez questão de mim por 18 anos. 18 anos, Rose... E agora ele acha que pode se meter? Pode ligar e me perguntar como eu estou? Como se fosse da conta dele! – Scorpius balançou a cabeça, sentindo os olhos arderem. – Desculpa, não sei por que estou falando tudo isso. Acho que não contei nem a Albus ainda.

— Tudo bem, você pode falar o que quiser. Eu vou ouvir – afirmou Rose na mesma hora, aproximando-se ainda mais do loiro.

— Draco Malfoy. O grande advogado e empresário, Draco Malfoy – Scorpius respirou fundo, o nome do pai saindo de sua boca como se fosse a pior das ofensas. – Quando eu era menor, achei que ele apareceria. Sempre achei, mas nunca recebi nem um cartão de aniversário. Quando pude perceber as coisas como eram, parei de esperar. Fugi de cada coisa que pudesse ter a ver com ele, nunca tinha ouvido sua voz até o dia em que ele me ligou. Foi como se abrissem as portas do inferno. Mas eu sei o que ele quer agora.

— O que você quer dizer?

— Não é óbvio? Ele não quer um filho. Nunca quis. Ele quer um herdeiro, uma marionete em alguma graduação de Direito para coordenar os escritórios dele. Prefiro morrer antes de chegar perto de qualquer um desses lugares.

Rose balançou a cabeça sem acreditar nas palavras do garoto. Não sabia como era possível alguém fazer isso com outra pessoa. Era cruel e ela podia sentir todas as células do seu corpo borbulharem em pura raiva. Todas as pessoas na família Weasley se amavam incondicionalmente, era até difícil conceber que alguém podia se comportar dessa maneira com o próprio filho. Como se lesse os pensamentos de Rose, Scorpius sorriu de lado.

— Eu imagino o que você vá dizer, Albus disse o mesmo. Por que não dá uma chance a ele, Scorpius? Talvez ele esteja arrependido... Ele ainda é seu pai, blábláblá.

— Eu jamais te diria algo assim.

Scorpius arqueou uma das sobrancelhas em direção a ruiva.

— Draco Malfoy foi um babaca... não, ele foi asqueroso e a pior pessoa que eu já ouvi falar e se você quiser dar uma segunda chance para ele, tudo bem, mas eu não daria. Ele perdeu a melhor família que poderia ter tido e até agora não fez nada de verdade para merecer que você cogitasse perdoá-lo.

Então, sem nenhum aviso prévio, Scorpius soltou a mão de Rose e jogou seus braços em volta dela. Rose congelou no lugar, não sabia como se mexer, como se portar e muito menos como respirar. Todo seu corpo pareceu se acalmar e ao mesmo tempo entrar em combustão instantânea. Isso até ouvir Scorpius fungar perto do seu ouvido.

Poderia Scorpius estar chorando? Ela queria perguntar, mas apenas alguns segundos depois, o garoto se afastou. Seus olhos estavam ainda mais vermelhos, mas Rose já não precisava mais de uma resposta dele. Ele estava prestes a falar quando seu celular, que jazia perto dos pés de Rose, começou a tocar. Era apenas um número aleatório que Rose não deu importância, mas quando se virou para Scorpius, seus olhos estavam presos no visor. Ele puxou o celular com força, o erguendo acima da cabeça, mas Rose foi mais rápida, agarrando a sua mão.

— É só recusar! É só recusar, Scorpius! – Falou ela, pegando o celular da mão do garoto e o silenciando.

Scorpius riu, sem humor, olhando para as próprias mãos trêmulas.

— Eu odeio quando ele liga. Eu odeio quando ele troca de número. Eu odeio que ele se ache no direito de fazer isso, eu o odeio, Rose, odeio de verdade e não sei o que fazer com tanta raiva! Eu só queria...

— Bater nele?

— Não. Não sei. Acho que não. Mas gostaria de poder fazer algo que descarregasse tudo que ele me faz sentir.

Os dois viram o número piscar na tela novamente, dessa vez sem barulho e, involuntariamente, a mão de Scorpius procurou a de Rose, a apertando com força.

— Ele é um lixo – comentou a garota.

— Da pior espécie.

— E mesmo assim é um milionário. Karma não existe.

Scorpius riu quando a ligação foi encerrada por Rose, que não teve paciência para esperar cair na caixa-postal.

— Eu queria poder levar um pouco de karma para ele – divagou Scorpius. – Só ia precisar de ovos, um spray de tinta e um taco de golfe...

Rose já havia feito várias coisas que nunca pensara em fazer em um único fim de semana. Foi a um café com Scorpius Malfoy, conheceu a sua tia, visitou apartamentos com ele, mantiveram uma conversa civilizada e teve seu coração acelerado por causa dele diversas vezes durante esse tempo – muito mais do que gostaria de admitir. E agora estava ali, segurando a sua mão e com tanta raiva dentro de si por Draco Malfoy que poderiam pensar que havia sido ela a filha abandonada.

— E por que não leva?

O Malfoy piscou, olhando para Rose por um longo tempo, como se quisesse ter certeza que ela falava sério.

— A justiça divina está um pouco atrasada com o seu pai. Nós podemos acelerar o processo.

— Ele ia merecer, não é?

— Com certeza. E é só meia hora de trem.

— Isso não é nada Rory Gilmore da sua parte.

— Não, não é – admitiu ela.

Scorpius a encarou pelo que pareceram minutos antes de colocar-se de pé, estendendo a mão para a ruiva levantar também.

— Mas é bastante Rose Weasley. E eu acho que gosto bastante dessa parte.

A garota riu, jogando a mochila nas costas.

— Você sabe onde ele mora? – Scorpius assentiu. – E quer mesmo fazer isso?

— Se eu quero jogar ovos podres na casa do meu pai escroto e quebrar algumas janelas? Você está mesmo me perguntando? Eu que deveria estar fazendo isso. Não é problema seu, Rose, você não precisa se encrencar por causa de mim.

Rose revirou os olhos indo até sua bicicleta caída.

— Você sempre falou demais, Scorpius Malfoy.

— Achei que era isso que você mais gostava em mim – retrucou, juntando as próprias coisas e caminhando ao lado de Rose em direção à saída do parque.

— Definitivamente não. Prefiro quando você está calado.

Scorpius riu fraco. Ele sentia que sua raiva era capaz de derrubar a casa do pai se pudesse, mas não queria Rose metida naquilo quando ela podia apenas continuar seguindo sua vida e entregando seus trabalhos da escola em dia.

— Rose... – Tentou ele, mas a ruiva, como sempre, o antecipou.

— Não vou te deixar sozinho, Scorpius.

Dizer aquilo foi como um sopro leve dentro de Rose. Sabia que talvez tivesse colocado sentimento e significado demais em poucas palavras, mas também sabia que Scorpius não tinha como saber e, naquele momento, se livrar das confusões de sua mente, mesmo que apenas através de palavras de duplo sentido, parecia ser exatamente o que precisava. Rose precisava ignorar pelo tempo que lhe fosse possível, senão perderia a cabeça tentando entender se estava mesmo cometendo a loucura de gostar de Scorpius Malfoy. Ela pensava que não, mas então ele sorria, como estava fazendo naquele exato momento. Um sorriso grande, amplo, brilhante e sincero, nada como o que ela estava acostumada a ver. Até que estava acostumada a ver Scorpius sorrir, mas com certeza nunca o vira sorrir daquela maneira e definitivamente não para ela.

— Então vamos, ruivinha. Temos uma encomenda para entregar.  

 


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Notas finais do capítulo

Ahhhh, amanhã já tem o último capítulo. Eu nem sei se tô preparada para esse ato, pq amei TANTO escrever essa história, mas vou deixar para falar essas coisas amanhã hahaha. Espero que tenham gostado e me digam o que acharam! Até ♥