Social Studies escrita por Morgan


Capítulo 4
IV. Aquele em que o trabalho termina


Notas iniciais do capítulo

Chegamos no capítulo final, eu nem acredito nisso!! Não vou me estender aqui, vejo vocês nas notas finais! Boa leitura ♥



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Scorpius parecia mais do que preparado para aquilo, tão preparado que Rose até cogitou que talvez ele pensasse sobre aquilo por muito mais tempo do que ela imaginava. Antes de pararem na estação de trem, os dois passaram na casa de Dominique, que guardou a mochila e a bicicleta de Rose, assim como o skate de Scorpius. Rose fez uma nota mental para perguntar quando voltasse por que a prima não parecia nem um pouco surpresa em vê-los juntos e muito menos fez perguntas, apenas aceitando de bom grado esconder os pertences dos dois.

Os ovos foram fáceis de achar e por algum motivo que Rose preferiu não saber, Scorpius já tinha uma tinta spray na mochila que carregava consigo. Infelizmente, não importa o quanto pensassem, não conseguiam saber onde poderiam arranjar um taco de golfe nem nada que pudesse fazer o estrago que Scorpius queria. Por fim, o garoto pensou que deveria ter pelo menos uma pedra na casa do pai que poderia ser acertada em uma janela.

Rose sentia-se animada e nervosa. Claro que já havia fugido com os primos antes. Era prima de James Sirius, pelo amor de Deus. Em uma tarde que resultou em um castigo de seis meses, quase todos haviam dirigido o carro de seu tio Fred.

Ideia dos próprios filhos dele, aliás.

Mas era totalmente diferente estar sentada ao lado de Scorpius Malfoy indo para Londres para que ele pudesse colocar a raiva que sentia do pai para fora. Rose sabia que aquilo era importante para o garoto. Sabia, de alguma forma que seus pais nunca entenderiam, que aquilo ajudaria Scorpius. Principalmente se ele pudesse ver o próprio pai e dizer algumas coisas também, mas não conseguia entender porque aquilo parecia tão importante para ela. Seu coração gritava que não podia sair do lado de Scorpius, gritava tão alto que qualquer outro pensamento se tornou vago e confuso e Rose Weasley nunca foi o tipo de pessoa que não seguia o próprio coração.

— Que tal um carro como aquele? – Apontou Scorpius para um conversível preto estacionado no fim da rua. Eles haviam acabado de chegar em Londres e passaram a viagem quase toda falando sobre os últimos detalhes da pesquisa que teriam que apresentar no outro dia. Não parecia nada importante naquele momento – principalmente porque Rose sabia já ter adiantado tudo que importava –, porém era um tópico seguro.

— Não vamos ter um conversível, Scorpius, vamos ter um filho!

— É uma filha – interrompeu, parando no ponto de táxi. – Olivia Weasley-Malfoy.

Rose franziu o cenho, fazendo toda força do mundo para não rir do garoto enquanto o carro parava em frente a eles.

— O que? Eu também escrevi algumas coisas. Não ia te deixar fazer tudo sozinha.

— Não precisávamos dar um nome para a criança, Scorpius! – Rose riu, batendo a porta do carro e se esticando entre os bancos para entregar um papel para o motorista. – Boa tarde, podemos ir até esse endereço, por favor? Obrigada.

— Eu gosto de Olivia – ele deu de ombros. – É um bom nome para uma criança.

— Se você gosta tanto, então não deveria cogitar querer um carro onde ela não cabe!

Scorpius apenas ignorou o comentário, passando a argumentar a favor de uma festa de casamento, que Rose prontamente negou, pois não batia com a renda que ela havia criado. Eles riram e quase se esqueceram de onde estavam. Até o táxi parar.

Juntos, Scorpius e Rose pularam com facilidade o portão na frente da casa e seguiram pela pequena estradinha em direção à casa que despontava ao longe.

Rose não sabia o que estava esperando. Talvez esperasse uma mansão gigantesca como nos filmes, cercada de seguranças ou, quem sabe, um luxuoso prédio chiquérrimo. No entanto, a casa de Draco Malfoy não era assim. Quer dizer, ela ainda era grande, bem maior do que a dela, com certeza. Mas não era um prédio chique, uma mansão grega e muito menos era cercada de seguranças – o que ela achou um pouco burro, afinal o cara era famoso, não é? Era apenas uma casa moderna, provavelmente cara e como todas as outras casas de homens brancos ricos sem bom gosto. Nada ali emanava personalidade própria nehuma, exceto o Porsche branco parado na entrada. 

Aquilo emanava certa personalidade. Só não era nenhuma boa.

Rose se aproximou de Scorpius que fitava a porta de entrada com um nervosismo quase palpável. Sua mão parecia tremer e Rose a agarrou, apertando com força enquanto chamava pelo nome do garoto, fazendo com que olhasse para ela.

— Você está bem? Quer ir embora?

Ele piscou, sendo puxado de volta pela voz suave de Rose.

— Não. Só não acredito que estamos aqui. Por muito tempo, tudo que eu quis sempre foi conhecer este lugar. Mesmo que eu não admitisse, nunca parei de pensar em como seria a casa dele. Como seria...

Sua voz sumiu e Rose assentiu. Ele não precisava continuar.

— Agora eu só queria que desaparecesse – Scorpius abriu a mochila que carregava e tirou de lá o saco marrom de ovos podres, assim como a lata de tinta spray. Rose tocou o próprio pulso disfarçadamente, sentindo o quanto seu corpo estava prestes a se desligar.

Não se arrependia, é claro, mas ainda era uma burrice e tanto essa de vandalizar a casa de Draco Malfoy. Não que Scorpius achasse que fosse dar em alguma coisa.

— Minha tia Daphne sempre diz o quanto a família Malfoy é horrível e vive de aparências. Eu poderia colocar fogo na casa dele e ele jamais denunciaria. Não arriscaria que isso fosse parar nos sites de notícias – dissera ele ainda no trem. Scorpius não era bobo. Sabia que aquilo não mudaria em nada a vida do pai. Era apenas algo que ele pensava precisar fazer. 

Scorpius parou em frente a uma das janelas e pegou um dos ovos. Isso não vai dar certo, Rose pensou, começando a caminhar até o garoto paralisado em frente a vidraça. Ele estava com raiva quando resolveu vir até Londres, mas isso não quer dizer que a mantinha. A Weasley estava começando a achar que seria melhor se fossem embora e estava quase ao seu lado quando Scorpius ergueu o braço e arremessou o ovo que acertou bem no meio da janela, pintando-a de amarelo.

Rose parou no lugar, tampando a boca e o nariz pelo cheiro que começava a subir. Estava chocada. Estava mesmo, mas quando se virou para Scorpius, ele já a encarava e tudo que tinha no rosto era um sorriso. Um sorriso largo, verdadeiro, satisfeito e extremamente aliviado.

Talvez não fosse apenas algo que Scorpius precisava fazer. Talvez fosse algo que ele precisasse sentir também, muito mais do que qualquer outra coisa. 

Rose não se importou com mais nada. Ela pegou alguns ovos e juntos começaram a jogá-los pela casa. Nas janelas, nas paredes, na porta e até na pequena escadinha da entrada. A casa do advogado Draco Malfoy estava podre, assim como ele.

Depois que os arremessos de ovos começaram, Scorpius não conseguia parar de rir e parecia genuinamente feliz. Não era uma terapia, mas parecia chegar perto. E era de graça. E irritaria alguém, que era basicamente o modus operandi diário de Scorpius Malfoy. Ela não conseguia não sorrir também e não porque jogar ovos na casa de alguém era emocionante – e realmente era –, mas porque ver Scorpius daquela maneira a deixava assim.

Scorpius deixou a sacola nos pés de Rose e agarrou a tinta spray. Estava à meio caminho da porta quando parou de repente, como se uma ideia tivesse acabado de cruzar sua mente. Quando ele se virou, Rose podia garantir, nunca havia visto um sorriso inconsequente mais bonito na vida. Era tão bonito que a deixou desconcertada. Até ela perceber que Scorpius havia dado meia-volta e estava indo em direção ao Porsche branco e brilhante estacionado um pouco atrás deles.

A garota entrou em pânico na mesma hora. O último ovo que segurava caiu no chão perto dos seus pés e ela entrou na frente do loiro e do carro milionário.

— Scorpius, isso já é demais. Esse carro vale mais do que... do que... do que nós! Eu e você juntos!

— Rose, isso não é nada! Para ele, isso não é nada! Você sabe quanto dinheiro esse maldito tem? Muito, demais, esse provavelmente não é nem o único carro dele! 

Ela balançou a cabeça, ainda incerta com a ideia daquilo. Era um Porsche, caramba! Ovos poderiam ser limpos, uma vidraça poderia ser trocada e nem seria tão caro, mas um carro? Estava prestes a retrucar quando sentiu uma sensação esquisita, como se a observassem. Rose ergueu os olhos sem nem perceber direito, como se a presença dele a chamasse de alguma forma. Na varanda do segundo andar da casa, Draco Malfoy estava com um terno totalmente preto observando os dois. Seu rosto era impassível, não parecia demonstrar emoção nenhuma, raiva, irritação, decepção, nada. Era como uma pedra.

— Ele está em casa. Está olhando da varanda – avisou em voz baixa.

A postura de Scorpius mudou na mesma hora. Ele ficou tenso, rijo e seus olhos pareceram perder um pouco da cor e do tom divertido, mesmo que magoados, que carregava há poucos minutos.

— Que bom.

Scorpius deu um passo para o lado e se abaixou na frente do carro. Rose não tinha o que dizer e nem o que fazer, mas percebeu que a situação não poderia ficar nem um pouco divertida novamente. Também percebeu que Scorpius tinha razão sobre o pai: Ele não ligava. Ao menos, era o que parecia. Draco Malfoy se encostara na varanda e apenas assistia o que o filho fazia, mal notando a presença dela e não parecendo nem um pouco incomodado ou inclinado a fazê-lo parar. Rose olhou em volta, agarrando a mochila e a carteira de Scorpius que haviam caído no chão.

Ele se afastou do carro com os ombros ainda tensos, revelando a tinta vermelho-sangue que escorria lenta e brilhante pelo metal lustroso ocupando quase toda a parte lateral.

PAI #1

Scorpius não olhou para Rose. Ao invés disso, mirou o homem atrás dela, quase como se o desafiasse a fazer alguma coisa.

Rose percebeu que não entendia nada da dinâmica entre pai e filho que existia ali. Se é que havia alguma dinâmica além da falta de caráter de Draco e a mágoa de Scorpius. A questão é que ela não pensou que o mais velho fosse falar, mas Scorpius não pareceu surpreso quando a voz dele finalmente pôde ser ouvida, fria e rígida, sem gritos, apenas seu tom de voz normal que podia ser facilmente ouvido. Rose o odiou.

— Essa é a sua forma de dizer oi?

— É sim – respondeu, e antes que a garota pudesse perceber o que estava acontecendo, Scorpius virou-se, levantando uma das pernas e acertando o espelho retrovisor do carro. Um baque alto e uma exclamação surpresa e assustada (de Rose) foram ouvidos enquanto o objeto caía para longe com o impacto da força do Malfoy mais novo. Ele voltou a encarar o pai que ainda parecia não ligar para nenhum dos danos materiais que havia sofrido. Scorpius não gritava, mas a garota podia perceber em seu rosto, que ele queria muito fazer isso. – E essa é a minha forma de dizer para você parar de ligar para nós. Eu não vou ser a porra da sua marionete. Não é assim que se faz.

Scorpius não esperou por uma resposta, apenas foi embora esperando que Rose o seguisse. O que ela fez, logo depois de olhar para a figura imponente de Draco Malfoy mais uma vez e pensar ter visto a sombra de um sorriso em seu rosto. Mas seria impossível, não é? Não tinha nada naquela situação capaz de fazer alguém feliz, como ele poderia sorrir?

Rose alcançou Scorpius já no portão. Estavam prontos para pular mais uma vez quando, de repente, ele se abriu. Scorpius não pareceu ter reparado que aquilo significava que seu pai estava os deixando sair, mas Scorpius também não parecia estar pensando em nada. Rose logo percebeu isso. O loiro andava sem rumo, parecia nem sequer saber onde estava. Foi por isso que ela apenas o empurrou contra um banco qualquer, em um parque qualquer e o fez sentar. Puxou a tinta que ainda estava em sua mão e jogou dentro da mochila do garoto que ela mal percebera que carregava com tanto afinco. Puxou os braços de Scorpius sem pedir licença e a colocou em suas costas. Fez isso muito mais para sentir que tinha algum controle na situação maluca que haviam acabado de protagonizar do que para se livrar do peso.

— Você está bem? – Quis saber ela, sentando-se ao seu lado. Scorpius respirou fundo, encarando as próprias mãos por um momento.

— Ele é muito cínico, não é? – Ele riu, balançando a cabeça. – E ele é meu pai. Meu pai. Eu sou parecido com ele? Tenho que ser parecido com alguém como ele?

— Você não é parecido com ele! Você não tem nada parecido com ele! – Rose hesitou. – Ok, talvez o cabelo, mas acaba aí!

— Não. Sou sim, sou capaz das mesmas merdas que...

— Scorpius – Rose agarrou o rosto do garoto, fazendo com que ele fitasse seus olhos e parasse de falar. – Você não tem nada a ver com ele.

— Como você sabe, Rose? – Murmurou ele, a voz baixa e quase chorosa. Bem diferente do tom que ele usara dentro da casa. O coração de Rose se partiu em dois ao perceber o quanto Scorpius Malfoy era um garoto frágil. Poderia fingir que não o quanto quisesse para qualquer outra pessoa, mas não para Rose. Não mais. Ela conseguia vê-lo com muita clareza agora. – Você nem gosta de mim. Você mesma me disse que...

Rose negou com a cabeça na mesma hora, interrompendo-o.

— Eu sei, sim. Você... Você é leal. Você nunca deixa seus amigos para trás, você é sempre o primeiro a ligar para casa e o primeiro a voltar também, porque não gosta de deixar sua mãe sozinha, mesmo sabendo que ela sabe se virar muito bem. Você foi suspenso por três dias por bater naquele cara que estava falando merda sobre Al e Ben. Você é engraçado e eu sei muito bem disso, porque tento não rir de todas as suas piadas e é muito difícil. Você também é tão sincero quanto eu, mas ao contrário de mim nunca machuca ninguém por isso. Você é empático e sempre sabe como conversar com as pessoas. E você pode até ser um pouco irresponsável na escola, mas nunca deixou que ninguém fizesse nada por você. Mesmo ano passado, quando você queria propositalmente bombar, seus trabalhos em grupos foram todos feitos. E você estudou de verdade só para não decepcionar Albus e desperdiçar o que ele estava fazendo por você no fim do ano. O que eu disse foi idiota, burro e eu nunca vou deixar de pensar o quanto não queria ter dito. Porque não é verdade. Não é. Você não é perfeito, Scorpius, mas não é como ele. Você nunca seria alguém como ele, porque você é bom. Eu sei.

Rose sentiu algo se revirar dentro dela. Não. Se tivesse que descrever era mais como algo caindo em cima dela. Bem ali, no meio de algum parque sem nome de Londres, logo depois de ver um conflito nem tão silencioso assim entre pai e filho, Rose se deu conta de que estava gostando de Scorpius. Seria possível que um único fim de semana a tirar dos trilhos daquela maneira ou aquilo sempre esteve dentro dela?

— Obrigado.

— Eu não fiz nada.

— Você fez tudo. Você veio comigo, me apoiou e me ajudou e isso... Eu nunca vou me esquecer disso, Rose.

A garota o soltou, assentindo com a cabeça. Rose não sabia o que dizer e achava que Scorpius também não. Mas o silêncio entre eles não era constrangedor. A única coisa constrangedora, isso Rose tinha certeza, estava dentro de sua cabeça. Não conseguia lidar com estar gostando de Scorpius Malfoy e ter descoberto isso no momento mais delicado da vida do garoto. Então, eles foram para casa. O caminho de volta à Hogsmeade pareceu mais devagar, mas nenhum dos dois pareceu se incomodar. Foi apenas quando estavam novamente na frente da casa Granger-Weasley que eles trocaram mais de três palavras.

— Obrigado de novo. Você não precisava ter feito nada daquilo.

— Claro que precisava. Você estava lá – respondeu, e percebendo como poderia soar estranho, acrescentou: – E até eu preciso de algumas emoções na minha vida também.

Scorpius riu, olhando para ao All-Star amarelo de Rose por alguns segundos.

— Você devia falar com a sua mãe sobre o que aconteceu. Você não precisa lidar sozinho com isso. Sei que você pensa que seu pai ainda é importante para ela, mas você é ainda mais. Eu garanto.

— Vou falar – concordou ele. – Isso quer dizer que somos amigos agora?

Scorpius tinha o início de um sorriso no rosto e Rose o acompanhou.

— Há poucas coisas capazes de fazer duas pessoas como nós fazerem as pazes. Invadir uma propriedade privada é uma delas – o sorriso dele aumentou e satisfeita, Rose começou a se afastar. – Até amanhã, Scorpius.

Já havia aberto o pequeno portão para entrar na casa quando ele a chamou de novo.

— Rose?

Seu tom era ansioso e quando seus olhos pararam nos azuis de Rose, ela sentiu um arrepio percorrer o seu corpo. Já estava começando a se acostumar com eles. Mas aquele foi diferente, porque, por algum motivo, em meio aquele silêncio e aquela atmosfera que emanava dos dois, Rose pensou por um momento que as palavras dele poderiam ser diferentes. Poderiam ser um pouquinho parecidas com as que rondavam sua mente. Porém, é claro, não foram.

— Você, ahn... pode me mandar o arquivo do trabalho de Estudos Sociais? Eu quero terminar.

*

Rose estava com enormes olheiras no rosto. Gostaria de dizer que havia passado a noite em claro por estar preocupada por alguém que não ela finalizaria seu trabalho na véspera da apresentação, no entanto, a verdade era que Rose pouco se importava com isso. Havia tido a pior noite de sua vida tentando entender como e porque aquele turbilhão de sentimentos por Scorpius haviam a inundado. Eram tantas coisas diferentes que Rose dificilmente acreditava que nunca sentira nada por ele antes.

Talvez sempre tivesse sentido e esconder isso com implicância era apenas mais fácil de lidar. Bem, isso claramente não importava agora, pois e daí que ela gostava dele? Não era recíproco. Scorpius não a via desse jeito, não importa quantas casas eles sujem com ovos podres.

Quase se esqueceu de tudo isso quando a aula iniciou e Scorpius ainda não havia aparecido.

— E foi assim que Ben e eu nos tornamos milionários – Albus finalizou sua apresentação fazendo todos rirem, até mesmo o professor. – E eu acho muito simbólico dois garotos gays no parlamento.

— E que além de gay, também não é branco – disse Ben Chang com orgulho, entregando o trabalho que segurava ao professor que estava encostado na parede ao canto da sala, assistindo as apresentações. – O dinheiro vem das ações. Albus tinha uma boa poupança que seu pai rico deixou para ele. Eu, infelizmente, não posso dizer o mesmo.

Neville Longbottom revirou os olhos, ameaçando o afilhado com as folhas de papel que segurava enquanto os dois garotos passavam correndo de volta aos seus lugares.

— Tudo bem... Próximos: Weasley e Malfoy.

Rose sentiu o coração parar e mordendo o lábio inferior, ficou de pé. Scorpius estava com o trabalho e não estava ali, ela não era realmente culpada, não é? Poderia ser culpada depois da aula quando o matasse por se atrasar, mas não naquele momento. Estava prestes a dizer isso quando a porta da sala se escancarou.

— Oi, oi! Cheguei, cheguei! – Exclamou o loiro, apoiando as mãos nos joelhos, tentando recobrar o fôlego que havia perdido ao correr pelo corredor. Albus soltou um assobio longo antes de rir do amigo. – Desculpe o atraso, eu estou aqui.

— É, e vai estar no sábado de manhã também – falou o professor, apontando o meio da classe para Scorpius e Rose, que logos se puseram em frente aos colegas. Scorpius abriu o trabalho na primeira página e o estendeu para a garota, que precisou apenas de uma olhada rápida para iniciar.

— Então, nós ficamos com a gravidez surpresa – falou Rose. – Não é nada fácil para um casal que mal saiu da faculdade ter que casar e sustentar uma criança.

— É por isso que nós optamos por não ter festa de casamento nenhuma, ao invés disso, investimos todo o dinheiro que tínhamos em coisas para o bebê, que o Sr. Longbottom vai encontrar de forma detalha no anexo 2, porque dizer tudo que compramos seria complicado demais. Bebês são caros demais – Scorpius fez uma careta e algumas pessoas riram, inclusive Neville, que provavelmente estava pensando no próprio bolso. – Também demos entrada em um apartamento na principal – Scorpius se virou para o professor. – E a planta dele está no anexo 3.

— O apartamento custou uma bagatela de duas mil libras por mês.

— Não muito difícil de arranjar quando sua esposa é uma advogada talentosa – Scorpius sorriu, fazendo Rose sorrir também.

— E o seu marido um arquiteto esforçado – Albus olhou para os amigos sentados ao seu lado sem entender nada. A única pessoa que parecia não estar surpresa era Dominique, que tinha um sorriso escondido no rosto.

— Vamos terminar de pagar a casa em 15 anos, mas o carro é nosso – Falou o loiro dando de ombros. – Uma minivan para que Olivia Weasley-Malfoy consiga caber. E quem sabe alguns outros.

Rose arqueou as sobrancelhas para o loiro antes de voltar-se para os colegas de classe com uma voz divertida ao dizer:

— Não há absolutamente nenhum plano para isso!

Neville sorriu abertamente, satisfeito pelos alunos terem entrado tanto no espírito trabalho.

— Não vamos ser milionários como Albus e Benji nem nada, mas vai dar para sobreviver em empregos que gostamos.

— Podemos te emprestar dinheiro, Rosie, família é para isso – disse Albus, fazendo com que a turma inteira risse.

— Parabéns, vocês pensaram em tudo nos mínimos detalhes – disse o professor passando as páginas do trabalho que Scorpius havia entregado para ele distraidamente. – Muito bom, podem se...

— Na verdade... – Scorpius tossiu, meio constrangido, puxando o que parecia ser uma cópia dobrada e amassada da pesquisa do bolso de trás de seu jeans. – Eu acrescentei uma coisa. Só mais uma.

— Scorpius? – Murmurou Rose, confusa. Eles apresentaram bem, o professor havia gostado do que fizeram. Do que ele estava falando?

Longbottom assentiu, balançando a mão para que o garoto prosseguisse.

— Não tivemos uma festa de casamento, então eu pensei que poderíamos ter uma festa depois... para comemorar, sabe. Como a festa dos 20 anos de casamento do Sr. e da Sra. Potter mês passado. – Grande parte da sala assentiu. Era difícil morar em cidade pequena. – Então eu fiz a mesma coisa porque, depois de uma gravidez surpresa, uma corrida para comprar uma casa, trabalhos complicados e uma briga para escolher o carro, eles mereciam. No caso, nós merecíamos. Vou ler o que eu escrevi – Scorpius riu, passando a mão pelo cabelo nervosamente e abrindo o papel dobrado. Ele se virou totalmente para Rose e a garota sentiu suas bochechas arderem. Olhou em desespero para o professor, mas ele parecia tão curioso para o desfecho daquilo tudo quanto qualquer outro na sala.

"A primeira vez que eu vi Rose, pensei: Que garota bonita. Queria que ela me notasse e escolhi a pior forma de fazer isso: eu a irritei. Tenho certeza que se você perguntar, ela ainda se lembra de como eu me comportei naquela tarde de setembro quando nos conhecemos através de Albus no pátio da escola, porque Rose é bonita, mas também é muito rancorosa e se lembra de tudo. Ela não ligou para mim e eu me senti pessoalmente atacado por isso. Todo mundo ligava para mim. Ela conseguia me tirar do sério até quando não era essa a intenção. Tudo se tornava uma bola de neve muito rápido conosco. Até as coisas mais simples, como desejar boa sorte antes de uma peça de teatro, se tornava difícil.

Mas tudo bem. Porque eu não trocaria nada da nossa história. Não trocaria nenhuma das nossas discussões, nenhuma das vezes em que nos ofendemos e vimos o pior um do outro antes de ver o melhor, não trocaria as corridas de bicicleta em que ela sempre vencia e nem as vezes em que eu fingi que meu carro quebrou apenas para que Al desse carona a nós dois ao mesmo tempo. Eu não sabia ainda, mas algumas manhãs eu só queria ouvir um pouco dela primeiro. Mesmo que tudo que ouvisse fossem xingamentos.

Eu não trocaria nada disso porque tudo que vivemos nos levou àquele dia do trem e dos ovos. Eu nunca pensei que cometer um crime seria tão bom. Mas percebi que qualquer coisa seria boa contanto que Rose estivesse do meu lado, mesmo que fosse meu pior pesadelo. Isso também nos levou àquela segunda esquisita em que apresentamos o trabalho do professor Longbottom, que, aliás, tiramos um A, e eu te chamei para sair no final. Que bom que você aceitou e agora podemos comemorar tudo isso."

Scorpius não olhava mais para o papel. Já sabia todas aquelas palavras decoradas, afinal, passara a madrugada inteira as escrevendo. Só conseguia olhar para Rose e observar cada pequeno traço dela, das sardas que invadiam das suas bochechas e ombros ao seu nariz arrebitado, seus lábios em forma de coração e seus olhos – os olhos mais azuis que Scorpius já havia visto na vida.

A boca dela estava entreaberta em choque e alguém teve que fazer um barulho no fundo da sala para que ela voltasse a se mexer.

— Você está... Está falando sério?

— É claro que eu estou. Você acha que eu arriscaria essa humilhação pública para brincar?

— E quando você percebeu isso?

— Provavelmente no dia em que eu inventei que o carro de Albus ainda não estava pronto apenas para buscar você.

Rose não conseguiu mais se segurar. Tudo que parecia rodar a um milhão por hora dentro de si, parou. Foi como se seu coração voltasse para o lugar e todas as suas dúvidas fossem respondidas. Havia, pelo menos, umas 25 pessoas na sala naquele momento, mas parecia só ter Scorpius a encarando com seus olhos cinzas esperançosos, as mãos que se mexiam ansiosamente apertando o papel que havia lido.

A ruiva olhou para o relógio pendurado na parede cor de creme. Faltavam 12 minutos para acabar a aula.

— Me desculpe, tio Neville. – Foi tudo que ela disse antes de agarrar a mão de Scorpius e sair porta à fora deixando as risadas e os vivas dos amigos e primos para trás que, é claro, estavam surpresos, mas ao mesmo tempo não conseguiam pensar em um casal melhor do que aquele que se formava diante dos olhos curiosos de todos. Ela convenientemente ignorou ter se esquecido que na escola Neville era apenas o Sr. Longbottom, assim como ignorou o mais velho ter dito, em meio a algumas risadas disfarçadas, que não desculpava nada e o primeiro encontro dela seria na detenção.

Eles só pararam de correr quando chegaram no estacionamento da escola. Rose soltou a mão do garoto.

— Você acabou de se declarar pra mim na frente de todo mundo.

— Acho que me declarei, não foi? – Scorpius suspirou como se dissesse que não podia fazer nada em relação a isso e com um sorriso no rosto, deu um passo à frente. – Seria mais fácil me dar um fora na frente de todo mundo.

— Não é loucura? – Murmurou ela.

— Gostar de você, a garota mais esquentada que já conheci? – Scorpius assobiou. – A maior de todas!

Rose revirou os olhos, mas sorriu ao sentir as mãos de Scorpius na sua cintura.

— Você é um idiota.

— Essa é sua forma de dizer que gosta de mim também, não é, Granger?

Rose tentou não sorrir, tentou mesmo, mas a proximidade era demais e o sol esquentava a pele dos dois, deixando os cabelos loiros de Scorpius ainda mais brilhantes e por Deus, ele sempre havia sido tão lindo assim? E estava ao lado dela?

— É – admitiu Rose. – Você vai precisar se acostumar.

— Vou me acostumar – respondeu ele na mesma hora, fitando os lábios de Rose enquanto falava. Scorpius segurou seu rosto. – Rosie?

— Hum? – Balbuciou ela, sentindo os dedos finos de Scorpius apertarem seu rosto levemente enquanto a outra mão circulava seu pescoço da mesma maneira. Seus corpos estavam colados e ouvir Rosie sair da boca de Scorpius foi provavelmente a coisa mais bonita que ela pensou ter ouvido. Como uma palavra de cinco letras podia soar daquela maneira?

— Sempre quis te chamar assim – falou, estavam tão próximos que ela sentia sua respiração acertá-la. Seus lábios estavam quase se tocando e a antecipação seria capaz de matar a garota. – Vou te beijar, Rosie.

Foi o que ele disse, mas foi Rose quem acabou com o espaço entre eles. Sentir suas línguas encostarem uma na outra causou uma onda de eletricidade por todo o corpo da garota. Sentiu a pressão que a mão de Scorpius fazia em seu pescoço e arfou baixinho enquanto davam alguns passos para trás, encostando-se em algum carro qualquer e deixando que Scorpius pressionasse seu corpo no dela. Rose não se incomodou com mais nada além do garoto que estava em seus braços e aquela sensação que estava começando a se tornar corriqueira.

Rose Weasley nunca gostou de perder o controle. Sempre foi controlada, metódica e sempre sabia o que esperar. Contudo, naquele momento estava perdendo toda a noção de tempo e espaço que conhecia nos lábios doces e macios de Scorpius Malfoy e continuou assim até o fim do dia, pois nenhum dos dois voltou para a aula depois daquilo. Fugiram sem culpa alguma até o parque onde Scorpius havia aberto seu coração pela primeira vez e decidiram que aquele seria o lugar deles. Iriam enchê-lo de memórias ainda mais felizes começando naquele dia. Afinal, Rose nunca quis tanto se perder sem precisar se preocupar e Scorpius nunca quis tanto manter algo que encontrou. 

 


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Notas finais do capítulo

E essa foi a minha segunda contribuição para o junho scorose! Queria primeiro falar o quanto eu tô feliz em participar desse projeto pela primeira vez e que se você gostou dessa, você definitivamente vai gostar das outras que estão vindo e estão todas reunidas no twitter @JScorose! Obrigada de novo, meninas, por esse projeto maravilhoso!

Social Studies surgiu com a ideia de ser uma one-shot, mas quando eu comecei a escrever, ela pareceu tomar vida própria: os conflitos, os traumas, as brigas, tudo isso só foi surgindo. A ideia era só um clichê bobo de trabalho de escola e no fim tivemos até um Scorpius com daddy issues hahahah. Eu me diverti DEMAIS escrevendo essa short, de verdade, e tô muito feliz em como ela ficou. Espero que vocês estejam também. Obrigada pelos comentários, favs e acompanhamentos. Me digam o que acharam nos comentários! E até dia 16/06, que é quando eu volto no JS com One Last Time ♥