Scorose - Quase sem querer escrita por Aline Lupin


Capítulo 7
Um segredo só pode ser revelado pela pessoa que o guarda


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde pessoal, tudo bem com vocês? Feliz dia dos namorados. Espero que gostem do capítulo. Boa leitura!



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Seguimos as semanas de aula, ansiosos. O baile está bem próximo e não sei o que vou vestir. Lily já escolheu seu traje. Vai vestir um vestido de camponesa da Holanda, com tamancos e vai usar tranças no cabelo. Confesso que queria rir quando a vi trajada desse jeito, mas não quero magoa-la. Agora tenho que correr contra o tempo, pois o baile e no sábado à noite e já estamos na quinta-feira.

Continuo andando apressada, pelos corredores, com a mochila pesando sobre meus ombros. Hoje teve aula de Runas Antigas, Feitiços e Poções. Preciso carregar muito livros e estou começando a me irritar pelo peso constante. Quem sabe eu não faça um feitiço indetectável de extensão na bolsa. Fico pensando nisso e não olho para frente, esbarrando em uma armadura. Ela cai no chão, em um estrondo. Sinto minhas faces arderem de vergonha, mas não vejo ninguém ao redor, a não ser os ocupantes dos quadros reclamando pelo barulho e uma cabeça alta e loira encostada na parede. Droga! Tenho público.

— Você deveria ter mais cuidado, Rose – comenta Scorpius, tentando conter o riso.

Reviro os olhos, e uso minha varinha para reerguer a armadura do chão. Não quero responder ele e nem falar. Estou tentando escapulir do castelo e ir atrás de um vestido em Hogsmeade e estou sem tempo. Passamos a semana todo juntos, Scorpius parece empenhado em ser meu amigo e cumprir suas tarefas. Somente depois da ronda vai levar um pedaço de carne quase crua para seu amigo David e alguns bolinhos de abóbora. É claro que ele não precisa comer nada além da carne, mas David parece fascinado por bolos, de qualquer tipo. Confesso que queria falar mais com ele, mas tentei fazer uma visita essa semana e ele não parecia feliz em me ver. Recusou-se a conversar e desapareceu. O que eu tenho de errado, afinal? Enfim, fazer amizades nunca foi meu forte, sempre faço perguntas incomodas e sou controladora. Não sei como Alvo e Scorpius me aguentam até hoje.

— Aonde você vai? – pergunta ele, caminhando atrás de mim.

Suspiro. Não vou dizer, não vou.

— Vou a Hogsmeade – abro a boca, sem pensar.

— Você sabe que não pode sair do castelo, a não ser nas visitas programadas – comenta ele, indiferente.

Bufo, indignada. Ele quebra as regras quase sempre e eu não posso quebrar uma? Que hipocrisia.

— É uma emergência – explico – O baile vai ser no sábado e eu não tenho uma roupa para vestir.

Ele me encara, curioso.

— Você vai ao baile? – ele parece surpreso. Apenas assinto. Não quero discutir – Não posso acreditar. Vai com quem?

Mordo a bochecha. Eu não disse para ele que estou falando com Leon e nem que vou com ele. Isso é péssimo.

— Ah, sozinha – murmuro. Ele parece acreditar.

— Eu não pensava em ir, mas já que você vai, posso leva-la – ele oferece.

— Ah, não precisa – eu recuso, me sentindo idiota. Como posso ser tão insensível – Mas agradeço. Vou ficar bem, você pode fazer seja lá o quer for fazer no baile. Só não se esqueça da ronda depois.

Ele parece chateado, mas não diz nada. Paramos na frente do retrato da Mulher Gorda. Está me encarando, com intensidade, como se quisesse dizer algo. Está hesitante.

— Se você quiser, eu ajudo você a escapar, para comprar seu vestido – ele diz, por fim.

Eu fico estática. Sinto-me mal também, pois não fui sincera com ele quanto ao baile. Eu deveria dizer que vou com Leon? Ou ir com ele? Eu não sei, realmente.

— Eu adoraria – respondo.

— Bem, vejo você em trinta minutos em frente ao salgueiro – ele sai andando, com os ombros baixos.

Como posso ser tão cruel? Ele sempre está sendo muito solicito, ultimamente. E eu não sou nem um pouco sincera com ele. Entro no salão comunal e vejo meus colegas estudando ou conversando. Entro no dormitório e encontro com Lily.

— Lily, preciso da sua ajuda – digo, largando a bolsa em cima da cama e abrindo meu baú. De dentro puxo um sobretudo preto e uma touca da mesma cor. Troco minha farda da escola por uma blusa da lã escura e calças pretas e amarro minha bota para neve – Vou para Hogsmeade hoje.

— Eu não posso ir junto? – pede ela, triste. Está deitada em sua cama, com um livro Animais Fantásticos e Onde Habitam. Aposto que está lendo para impressionar Lorcan.

— Não, Lily – Responda. Ela suspira frustrada – Não é que eu não queira levar você, mas vou ir atrás do meu vestido e preciso ser rápida. E seu for pega, você vai ter muitos problemas também. Podemos ser expulsas.

Ela ergue as sobrancelhas.

— E você indo sozinha também não corre esse risco?

— É claro que sim, mas você não precisa ter esse problema, não é mesmo?

Lily revira os olhos, fechando o livro.

— Ok, me diga o que fazer.

Explico o plano para ela. Vou usar a passagem do salgueiro para chegar mais rápido a Hogsmeade, sem levantar suspeitas. Para isso, vou precisar da capa de invisibilidade do Alvo. Scorpius vai me levar e trazer. Contudo, preciso que Lily mantenha a boca fechada quanto meu paradeiro. Se alguém perguntar, ela vai dizer que estou na biblioteca. Ainda não escureceu, então vou ter tempo de voltar e fazer as rondas, sem levantar suspeitas.

Corro até as masmorras, para falar com Alvo. É claro que não vou conseguir entrar sem uma senha, então espero um aluno entrar e peço para que ele chame Alvo o mais depressa possível. Meu primo sai em seguida pelo retrato, com olhos vermelhos.

— Seja o que for não vou ajudar – ele diz – Não vou sair daqui hoje.

— Ok. Você empresta sua capa? – pergunto, esperançosa.

— O que você vai fazer? – pergunta ele, ignorando o que eu disse.

— Alvo, é uma missão urgente – começo. Ele arqueia as sobrancelhas, desconfiado – Eu não tenho um vestido para ir ao baile e vou até Hogsmeade para comprar.

Ele bufa, impaciente.

— Você quer arranjar problemas, Rose? – ele passa a mão pelos cabelos rebeldes – Ok, mas por Merlin, tome cuidado. Se descobrirem que você saiu, não é só você que vai ter problemas. Essa capa só pode ser usada em casos extremos de necessidade.

— Sei, assim como você usou para visitar sua ex-namorada, aquele dia? – alfineto. Alvo teve um caso de dois meses com uma corvinal. Elisabeth Burke. Mas não deu certo. Ela é de uma família de sangue puro e Alvo não suporta a soberba deles.

— Não me provoque Rose. Não estou de bom humor – ele diz a senha para entrar no salão comunal e me deixa plantada na entrada.

Não espero muito, ele volta com a capa e me entrega com o Mapa do Maroto.

— Cuide disse como se fosse sua vida, Rose – ele pede, com seriedade – Não pode cair em mãos erradas.

— Ok, não se preocupe – tento tranquiliza-lo. Fazia muito tempo que não usava o mapa. Era raro eu quebrar qualquer regra.

Despeço-me dele, não sem antes abraça-lo com força. Ele sorri para mim e diz que vai esperar eu voltar Salão Principal. Suspiro, aliviada e subo as escadas correndo, para sair das masmorras e me encontrar com Scorpius ao lado do Salgueiro. Abro o mapa, quando estou descendo a colina e vejo o pontinho de Scorpius, andando de um lado para o outro. Ele está esperando e parece impaciente. Guardo o mapa com cuidado, no bolso interno no sobretudo e vejo sua cabeça loira e o salgueiro imóvel. Queria saber como ele fez para parar enfeitiçar essa árvore. Ele me encara com nervosismo e pede para eu entre pela passagem. Parece uma toca do coelho da Alice nos País das Maravilhas. Tenho receio de me aproximar, pois essa árvore ricocheteia e pode lançar um desavisado a vários metros. Não quero ser a próxima. Ele ri da minha hesitação e diz que já tem tudo sobre controle. Como não faço nenhum movimento para entrar ele sente perto da entrada e coloca suas pernas dentro, dando um impulso para frente. Espero para ver se ele volta, mas isso não acontece. Respiro fundo e vou me aproximando. Faço o mesmo movimento que ele e me vejo escorrendo em um chão de terra. Sinto um frio na barriga e medo do que posso encontrar mais a frente. Não consigo enxergar nada e rolo para frente de joelhos. Estou com muita dor e não consigo levantar. Escuto a voz de Scorpius ao fundo.

— Você está bem?

— Estou ótima – falo, com sarcasmo. Sento e aperto meus joelhos.

Meus olhos se ajustam a escuridão e posso ver que estamos no porão da Casa dos Gritos. Tento levantar e Scorpius oferece a mão. Apoio-me nele para me erguer e subimos o lance de escadas até chegar ao patamar. Estamos no hall de entrada da casa.

— Uma visita, que esplêndido – diz David, do andar de cima.

Sua ironia não passa despercebida.

— Eu avisei que viria, David – disse Scorpius, irritado – Não precisa se preocupar que já estamos saindo.

David desce as escadas com elegância. Hoje está trajando um casaco cinza, colete preto e uma camisa branca com dois botões aberto. Suas calças são roxas e as botas são escuras. Não sei como ele consegue essas roupas, estão em ótimo estado, contudo são bem excêntricas.

— E aonde vai, se posso saber? – pergunta ele, petulante. Ele fita meu olhos e me olha de cima  abaixo.

— Não é da sua conta – retruca Scorpius, me apertando junto a si, como se quisesse me proteger.

— Tsc tcs, que mau humor – David se aproxima de nós, como se nos examinasse – Vão a um encontro? Que romântico.

Eu fico vermelha e vejo a mão de Scorpius fechar e abrir.

— Não é nada disso – intervenho, segurando seu braço. Provavelmente vai querer partir para cima de David, o que não será uma boa ideia. Ele é alto e esguio, parece não ter tanta força, mas ainda possuí magia e parece ser perigoso – Eu vou atrás de um vestido.

— Eu sei, estava só irritando o loiro aguado – David dá de ombros. Eu tento segurar o riso, mas falho miseravelmente. Scorpius parece pronto para sacar a varinha, mas o fito em repreensão – Pois bem, eu acho que posso ajuda-la com isso. Se você tiver um gosto refinado como o meu, é claro.

David é muito espalhafatoso e se vangloria do seu bom gosto. Contudo, acho suas roupas um pouco fora de época. Parecem ser de dois séculos atrás.

— Assim você me ofende ruivinha – ele coloca a mão do coração, como se estivesse partindo.

Mais uma vez ele lê meus pensamentos. É muito insuportável.

— Ok, me mostre o que você tem, se é que você tem algo guardado.

Ele pisca, como se eu o tivesse esbofeteado.

— Vou mostrar para você, milady. É só me seguir.

Ele desparece escada a cima. Scorpius segura meu braço, me impedindo.

— Não está pensando em aceitar a ajuda dele, está? – ele parece nervoso.

— Scorpius, aceitar sua ajuda será mais fácil do que acharmos uma loja que venda esse vestido – explico. Ele parece irritado – Confie em mim, por favor?

Ele assente e me solta. Subo as escadas e ele vem atrás de mim, me escoltando. Chega a ser irritante. Encontro David no quarto que estranhamente parece limpo e agradável. Quem será que limpou?

— Elfos são bem eficazes – David responde ao meu pensamento.

Fico horrorizada.

— Você pediu para elfos fazerem isso? Você é muito folgado.

Ele apenas ri e dá de ombros.

— Tenho um profundo respeito por eles. Não pense que não sei como agradecer – ele rebate.

Ele vai até um baú que está perto da janela e usa sua varinha para abri-lo. A tampa se abre e não vejo nada, apenas escuridão. Provavelmente deve ter um feitiço indetectável de extensão. Impressionante, pois ele aprendeu tudo em casa. Sua mãe ou seu pai devem ser bruxos muito inteligentes.

                - Nem tanto, Rose – ele diz.

                Eu reviro os olhos.

                - Vamos ver o que temos aqui – ele puxa um tecido negro. Parece ser um vestido do século XIX.

                Fiquei abismada, nunca havia visto um vestido tão espalhafatoso. Era envolto em um caso de tom vermelho escuro com mangas longas e bufantes. O vestido tinha cor cinza chumbo, feito de seda, com colo reto. Eu não iria usar isso no baile, seria muito constrangedor.

                - Esse vestido é estilo rococó, do século XIX. Vai ficar muito bonito em você – ele disse – Veja só, tem até uma gargantilha vermelha, combinando com o vestido. Não me olhe assim, você precisa provar para ver o quanto é bonito.

                Torço o nariz e reluto em vestir essa roupa.

                - Se não vai provar, podemos ir embora, Rose? – pergunta Scorpius, estressado – Já está escurecendo, não temos mais tempo.

                - Ela vai provar, não vai, Rose? – David me encara com ar de súplica.

                - Ah Merlin, por que fui concordar com isso? – mesmo hesitante aceito.

                Scorpius sai do cômodo, não sem antes ameaçar David, se ele fizer alguma gracinha. Lógico que David fingiu estar muito ofendido, mas piscava para mim, como se estivéssemos compartilhando algum segredo. Não pude deixar de sorrir. Estava adorando conhecer melhor David e feliz por ele tentar ser meu amigo.

                - Muito bem, como visto isso? – pergunto.

                 Ele puxa mais peças de roupas e começa a mostrar quais devo vestir primeiro. Primeiro deveria vestir a anágua, uma espécie de camisola, depois deveria vestir a saia, uma sobressaia e um pedaço de tecido triangular que cobria o peito e o estômago. Ele foi jogando as peças e se vira para que pudesse vesti-las. Fiquei muito envergonhada por ter que ficar nua diante de um homem, mas ele não se atreveu a olhar para mim. Vestida com essas roupas, ele se virou para me ajudar com o vestido e o espartilho. Ele apertou tanto, que não conseguia respirar.  

                - Dá pra diminuir o aperto? – pedi, sufocada.

                - É para seu busto ficar a mostra, tolinha – ele responde, mas afrouxa um pouco o aperto.

                Não sei como, mas ele conseguiu arranjar um espelho de corpo inteiro dentro daquele baú e o transportou para que eu pudesse ver minha imagem. Ele ajeitou meus cabelos e um coque elegante e me fez colocar a maldita gargantilha. Mas vendo minha imagem, pude entender o porquê de ele ter escolhido aquele vestido. Eu parecia uma personagem de um livro gótico ou do século XIX. Eu estava muito bonita, com ar de mistério. Ele até mesmo achou uma bota com cadarço e um salto considerável. Isso ajudou o vestido a não arrastar no chão, já que eu tinha meros um metro e sessenta centímetros.

                - Eu nunca me vi assim antes.

                Ele para analisar, com o queixo na mão, como se admirasse uma obra de arte.

                - O vestido caiu bem em você – ele comenta, como se eu não tivesse ficado tão bonita.

                - Você não sabe dar um elogio? – pergunto, indignada – Me fez vestir esse vestido e nenhum elogio descente?

                - Tsc tsc. Como reclama essa ruiva – ele zomba, mas seus olhos estão sorrindo para mim – Devo admitir, você está magnifique.

                Não notei que Scorpius estava na soleira da porta, apoiado no batente. Ele me fitava com interesse e parecia sorrir. Senti meu coração acelerar pela sua presença e tive vontade de perguntar a ele se tinha gostado do vestido. Mas me calei. Não era certo, não parecia certo perguntar.

                - Você está linda – ele disse, depois de segundos excruciantes de silêncio.

                Suspiro, aliviada. Estou tremendo da cabeça aos pés. Não consigo entender meus sentimentos. Sinto vontade de agrada-lo, desejo sua aprovação, mas ao mesmo tempo não quero sentir nada disso.

                - Obrigada – respondo, sem olha-lo.

                - Bom, já que gostaram, vou ver se acho uma roupa para você, loiro aguado – David diz, enquanto caça alguma roupa dentro do baú.

                - Isso não será necessário, eu não vou ao baile – Scorpius disse.

                Fico abismada. Ele não vai ao baile? Espera, não posso ir com ele. Melhor assim. Apesar de que eu meu coração está em pedaços.

                - Muito bem – David para de buscar as roupas, mas deixa separada uma muda – Bom vamos tirar esse traje, pequena ruiva. Trouxe uma bolsa para leva-los? São peças delicadas.

                - Não, David. Você poderia me emprestar? – respondo, com a voz fraca.

                Ele assente e buscar a bolsa. Scorpius sai do quarto nos deixando a sós. Enquanto me troco, David dobra as roupas e os sapatos e os guarda dentro de uma mochila de couro. Provavelmente usou o mesmo feitiço do baú, pois não parece ter nada dentro.

                - Deveria dizer a verdade para ele – comenta David, sem me olhar. Ainda estou terminando de colocar a calça.

                - Contar o quê? – pergunto, na defensiva.

                - Não sei, que talvez você queira a companhia dele no baile – ele responde, dando de ombros, com indiferença. Ele mira meus olhos, com intensidade – Vocês mentem muito um para o outro. Deveriam ser sinceros. A verdade sempre é o melhor caminho.

                Fico paralisada. O que ele sabe? Fico tentada a perguntar, mas tenho medo de saber.

                - Não vou contar Rose – ele responde por mim. Droga! Preciso esconder meus pensamentos – Tudo que vocês pensam para mim são segredos e segredos não devem ser revelados. A não ser pela pessoa que os esconde.

                - Onde você encontrou esses trajes? – pergunto, mudando de assunto. Ele percebe a manobra, mas parece não se importar.

                - Herança de família – responde, sentando na cama. Ela parece nova e limpa. Tem um dossel vermelho e lençóis da mesma cor. É bizarro, pois o quarto está cheirando a mofo e ainda continua feio, caiando aos pedaços – Fiquei com essas roupas, quando sai de casa. Gosto de usar para figurinos.

                 Fico pasma. Ele recebeu isso de herança? O que ele faz com isso tudo? Veste e desfila por aí. Esse pensamento me fez rir por dentro.

                - Não eu, não visto, não cabe – ele ri e acabo rindo com ele.

                - Então o que você exatamente faz quando fica sozinho? – pergunto, curiosa.

                - Às vezes eu saio e falo com pessoas da minha espécie. No caso, vampiros – ele responde, se esticando na cama, olhando para o teto. Sento ao lado dele e fico contemplando o sol se pôr – Eu às vezes levo esses trajes para teatros e finjo ser ator. Enfim, eu vago pela noite tentando ocupar minha mente ociosa.

                Sinto pena de David. Ele parece ser realmente solitário. Deve dormir de dia e a noite ocupa seu tempo com o que pode. Não gostaria dessa vida.

                - Não sou tão solitário, pequena – ele diz, sorrindo para mim. Seus dentes brancos estão à mostra, o que é meio assustador – Apenas não consigo me acostumar com outro tipo de vida. Preciso viver pela arte, pelo drama. É isso que preenche minha alma.

                - Você nunca pensou em voltar para casa, tentar viver de forma diferente? – perguntei.

                Ele fica tenso, como se a pergunta o ofendesse.

                - Não, prefiro não saber de ninguém da minha família – responde ele, com indiferença – Somente conheço esse mundo, não poderia mudar, pois não me interesso por outras coisas.

                - Quantos anos você tem? Mais de cem anos? – Ele parece ter vivido tanto, aposto que tem muito mais.

                - Ei, não sou velho – Ele começa a rir, relaxado – Fiz 20 anos no começo de outubro. É só que minha vida inteira eu passei com pessoas muito velhas. Por isso esse meu jeito peculiar.

                - Gosto do seu jeito – deito ao lado dele e relaxo. A cama é macia. Nem parece que estamos em uma casa caindo aos pedaços.

                - Isso quer dizer que vai me visitar mais vezes? – Sua pergunta tem um quê de esperança.

                - Vou sim, se você não me enxotar – ele sorri para mim.

                - Nunca enxotei você, mas é difícil ficar do seu lado quando você cheira a medo. Não gosto de frangotes.

                Bato em seu braço e ele gargalha de mim sem dó.

                - Vamos Rose, já estamos atrasados – diz Scorpius na porta – Chega de conversar com o suga sangue.

                - Ei, não sugo sangue, seu idiota – revida David, arremessando um travesseiro em sua direção. Mas ele não parece bravo, está com um sorriso no rosto – Bem, obrigado pela visita. Agora deem o fora, por favor.

                Despeço-me de David, não sem antes socar seu braço. Ele apertou minhas bochechas e me empurrou para longe. É claro. Passar pela passagem foi mais tranquilo, agora que sei onde pisar. Scorpius imobiliza o salgueiro antes de sairmos. Temos uma vista maravilhosa de Hogwarts. O céu está estrelado e sem nuvens, roubando meu folego pela beleza. O frio é intenso, contudo. Ajeito minha touca sobre minha cabeça. Scorpius está contemplando a vista. Parece pacifico e sereno. Seus cabelos loiros estão bagunçados hoje. Ele não está mais tão arrumado como sempre, parece desleixado. O que não faz ele sem menos bonito. Continua tão lindo como sempre.

                - Gostou de quebrar regras hoje? – ele pergunta, olhando para mim.

                Meu coração dispara, só de ver seus olhos.

                - Acho que sim, valeu a pena. Tenho um vestido bizarro – Bato com a mão na mochila.

                - Bom, é melhor voltarmos, então – Ele puxa a capa de invisibilidade, nos cobrindo.

                Estamos de mãos dadas, tentando permanecer bem juntos. Sinto sua respiração, seu cheiro e seu toque macio em minhas mãos. Acho que estou confortável com isso, finalmente. Tenho medo só que meu coração se parta em mil pedacinhos. Ainda tenho que pensar em Leon e o quanto ele confunde minha cabeça, também. Contudo, não quero decidir nada agora. Estou apenas com meu amigo, só isso. Sua presença é o que mais importa hoje. Apenas isso.


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Notas finais do capítulo

Para quem quiser saber como é o vestido da Rose, segue o link: https://canary.contestimg.wish.com/api/webimage/5d5e37425dd9520be9da00fb-2-large.jpg



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