Scorose - Quase sem querer escrita por Aline Lupin


Capítulo 6
Um segredo não é um segredo quando compartilhado


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Alvo entrou primeiro na Casa dos Gritos. Tentamos andar devagar, para que madeira abaixo de nós não estalasse e denunciasse a nossa presença. Procurei aguçar meus ouvidos, tentando ouvir a voz de Lilian. Não conseguíamos ouvir nada. A casa estava cheirando a mofo e a poeira era visível no ar. Várias vezes tive que conter os espirros, pois o cheiro era muito forte do ambiente. Subimos um lance de escada e foi impossível ela não ranger sobre nossos pés. Alvo foi o primeiro a entrar no cômodo. O local estava um caos. Havia uma cama com um dossel quebrado, no fundo do quarto. Os lençóis e cobertores estavam espalhados pelo chão, assim como roupas e comida. A janela estava quebrada e havia um armário tombado no chão. Podemos ouvir um barulho no andar de cima e corremos para lá. Comecei a ficar preocupado, pois alguém gritava. Era voz de Lilian. Sai em disparado pela escada e chegamos no sótão. Era um caos. Lorcan estava com uma mala de couro marrom nas mãos, entreaberta e Lilian corria de um lado para o outro, gritando com um bicho peculiar. A cena era cômica. Alvo veio em seguida, esbaforido e estancou a minhas costas, quase me derrubando no chão.

— O que está havendo aqui? – Exclama ele para Lilian e Lorcan.

Os dois para olham para nós e ficam vermelhos. Lilian para de correr e a criatura que parece um ornitorrinco dos trouxas, mas pequeno, para de se mover. Ele nos encara, curioso e se aproxima. Vem até mim e escala minha calça, roubando meu relógio de bolso. Fico pasmo diante disso. Nunca havia visto uma criatura dessa.

— Jim, solte isso agora – pede Lorcan, com voz calma.

O ornitorrinco continua olhando para ele, mas não parece inclinado a fazer isso.

— Parado aí, seu ladrãozinho. Devolva meus brincos – grita Lilian, correndo atrás dele.

O bicho desce as escadas e ela vai atrás. Começo a rir, da situação e Alvo me acompanha.

— Como você conseguiu arranjar aquilo, Scamander? – Pergunto à Lorcan.

Ele fica vermelho feito tomate e tosse um pouco antes de responder:

— Meu pai deixou eu tomar conta da maleta dele esse ano. Disse que um tesouro de família. Que preciso assumir esse legado – explica ele, sonhadoramente, segurando a maleta com força – Mas não estou indo bem nessa tarefa. Meu pelúcio escapa o tempo inteiro, ele vive roubando coisas brilhantes – Ele passa a mão pelos cabelos loiros, nervoso.

Assinto para ele, compreendendo-o. Sei como é se sentir desajeitado e não cumprir uma tarefa direito.

— Então o nome daquilo é pelúcio? – pergunto, tentando acalma-lo.

— Sim, é uma criatura mágica, Scorpius. Eles adoram coisas brilhantes e são ótimos para caçar tesouros – explica Alvo.

Lorcan apenas assente, indo para a saída do sótão. De repente aparece alguém na porta, carregando o pelúcio pela pata. Não pode ser ele.

— Perderam isso? – ele pergunta, presunçoso.

— Sim – assente Lorcan, aliviado – Muito obrigado David.

— David, você não pode ficar saindo por aí conversando com os outros. E o que combinamos? – diz Alvo, nervoso, esfregando as mãos.

David sorri, mostrando seus dentes brilhantes e caninos pontudos.

— Não sou eu que convidei essas crianças para meu castelo – responde ele, entregando o pelúcio para Lorcan, que o coloca dentro da maleta e fecha com força, não sem antes sacudi-lo, espalhando vários objetos pelo cômodo – Tente não perdê-lo dessa vez, por favor.

— Sim – gaguejou Lorcan, nervoso.

— Ok, David, você foi o salvador da pátria – zomba Lilian, o encarando, em desafio.

Ele apenas sorri, fazendo uma mesura.

— Sempre as ordens, minha dama.

— Espera, o que está havendo aqui? – pergunto, confuso – Como vocês sabem sobre David? – Aponto para Lorcan e Lilian.

— Deixe que eu explique, meus amigos – intervem David – Eu estava tirando um cochilo esses dias e esses dois apareceram no sótão, correndo atrás deste maldito pelúcio. É claro que eles se assustaram comigo – ele aponta para si mesmo, de forma teatral. Lorcan e Lilian sorriem  para ele, como se fossem amigos de longa data – E bem, eu ajudei eles, na condição que não contassem nada que o tio David está hospedado nessa bela casa.

Encaro Alvo e ele parece tão preocupado quanto eu.

— Vocês estão vindo aqui desde então? – pergunta meu amigo.

— Sim, mas não vamos contar para ninguém, prometemos – responde Lilian, sincera.

— Ele não fez nada para vocês? – pergunto.

David parece ficar ofendido, pois mostra seus dentes de forma agressiva.

— Sou bem civilizado, Malfoy – se defende.

— Não sei, não conheço você bem, David – rebato irritado – Nosso primeiro encontro não foi o mais amistoso.

— Isso porque você é filho de um...- ele não chega a terminar. Arregala seus olhos e fecha a boca.

— Diga, pode dizer o que todos sabem – instigo ele, com a raiva borbulhando por dentro.

— Ele não quis dizer nada, Scorpius – Alvo interrompe, tentando apaziguar.

Fito os dois com descrença, pois sei exatamente de quem sou filho. Meu pai não aquele homem, não mais. Mas o estigma social prevaleceu. Somos sangues puros e é natural achar que ainda detestamos os nascidos trouxas, mestiços e outros criaturas mágicas. David é diferente de nós. Ele é metade bruxo e vampiro. É natural haver uma certa desconfiança, mas eu não teria se ele não tentasse me atacar. Hoje sei o motivo, mas a primeira impressão que ele teve sobre mim continua me ferindo.

— Bem, Malfoy, sabe que nos desentendemos, mas não há nenhum rancor entre nós, não é? – ele pergunta, me fitando com seus olhos amarelos. Ele faz um floreio para mim, sorrindo.

— Não sei, me diga você – respondo, encarando-o com desdém.

Ele ri, apoiando o braço nos ombros de Alvo.

— Esse aqui é meu companheiro, pelo menos – ele diz, com um sorriso descarado.

Alvo retira o braço, mas não parece incomodado.

— Ok, chega de brincadeiras – diz ele. Em seguida olha para Lorcan e Lilian, que observam tudo com curiosidade – Os dois tem que prometer que não irão falar nada sobre David. Combinado?

Os dois assentem.

— Muito bem, vamos sair antes que alguém mais saiba do nosso segredo – falo, descendo as escadas. Não espera encontrar ela no patamar da casa, olhando aflita para nós.

**

Cansei de esperar, faz exatamente meia hora que eles saíram. Olho no relógio de pulso mais uma vez. Passou mais um minuto. Está começando a escurecer. Estou com muito frio e não aguento mais. E se eles estiverem mortos? Ah, por Merlin! E se um lobisomem os atacou. Não, não, não quero pensar nisso! Ando em círculos, roendo as unhas, removendo o esmalte vermelho. O que eu faço agora? Como posso ajuda-los? Não percebo, mas estou entrando no terreno, afastado a cerca farpada e passo por entre elas e avanço. Saio correndo até a varanda da casa. Por que será que se chama a Casa dos Gritos? Será que a casa grita? Me sinto estúpida por pensar isso, mas outra ideia me ocorro. E se alguém, um assassino, está escondido ali? E se antes de matar suas vítimas, as submete a tortura, até que elas gritem de dor e pavor? Talvez é por isso que as pessoas chamem está casa dessa maneira. Sacudo a cabeça diante desta constatação, tentando afastar esses pensamentos.

Subo as escadas, com lentidão. Estou com muito medo. O assoalho range sobre meus pés, causando arrepios sobre meus pelos. Adentro a porta de entrada, parando no hall. A teias de aranha e começo a entrar em pânico. Como detesto essas criaturas. O ar tem cheiro acre e posso ver a poeira no ar e nos poucos móveis que compõem a entrada. Adentro o ressinto, e me deparo com uma escada de madeira. Ela parece perigosa para subir. Há uma que sobe e uma que desce. Talvez seja o porão da casa, mas não vou descer para conferir se Alvo e Scorpius estão lá, eles que me perdoem. De repente, escuto passos no andar de cima e risadas. Suspiro aliviada, são eles. Com certeza são eles, me aproximo e no topo da escada posso ver Lilian descer com Lorcan, Alvo e Scorpius. Surpreendo-me ao ver um quinto elemento no grupo. Ele é alto, esguio. Uma pele branca e pálida e cabelos negros, arrepiados. Ele tem a aparência de algo. O que será? Ele sorri, ao me ver. Então sinto seu pensamento. São como tentáculos, apalpando minha mente. O que está acontecendo? Ele diz claramente: “ Você é bem interessante, é inteligente a cima da média. Vou gostar de conhece-la”.  Fico alarmada, ele está lendo minha mente e falando comigo? Ah, por Merlin, ele é o oclumante. Ele fala mais uma vez comigo: “É claro, sua tonta, achei que você fosse a mais inteligente”. Quero revidar, dizer que ele é um intrometido, mas ele não parece querer responder, ele apenas sorri, mostrando seus dentes. Ah, é pior do que eu pensava, ele é um vampiro.

— Rose, você deveria ter ficado lá fora, como eu havia pedido – diz Scorpius, descendo rápido, me tomando pelo braço.

Afasto-me, apontando para o rapaz de olhos amarelos.

— Quem é ele?

Alvo e Scorpius, já no térreo, se entreolharam, nervosos.

— Pode contar para ela, já está aqui mesmo – o rapaz dá de ombros, andando mais rápido e parando um pouco mais próximo de mim. Sinto-me ameaçada, mas ele apenas sorri, amistoso.

— Estamos ajudando David – explica Alvo, olhando para Scorpius, pedindo auxilio. Ele apenas assente. Lorcan e Lilian escutam, na expectativa. Espera, eles também sabem e eu não? – Ele não tem onde morar e usamos e achamos esse lugar para ele. Usamos a passagem secreta em Hogwarts para dar comida para ele e...

—              Espera, passagem secreta? – interrompo, surpresa.

— Sim, Rose, existem várias passagens secretas – explica Scorpius – Achei que soubesse disso.

Sinto-me ofendida. Como eu não sabia? Eu sempre sei das coisas.

— Enfim, nós estamos ajudando porque ele não tem ninguém e é metade vampiro, metade bruxo – continua Alvo.

Fico curiosa, como eles se conheceram?

— Isso você vai ter que perguntar para seus amigos – responde David, piscando para mim.

— Pare de entrar na minha mente – reclamo, irritada.

Ele apenas dá de ombros. Ele pisca seus olhos amarelos para mim. Ele é absurdamente bonito.

— Obrigado, estou lisonjeado – ele faz um floreio.

— Pela última vez, pare com isso – fico vermelha feito tomate. Ele apenas ri.

— Você tem cabelos peculiares. Parece fogo – ele comenta.

Scorpius se aproxima de mim, tomando meu braço.

— Não se preocupe, Malfoy, não vou fazer nada com sua garota.

— O quê? – exclamo, desconsertada.

— Ele não contou para você? – ele pergunta, encarando Scorpius, com interesse.

Scorpius retesa, visivelmente irritado.

— Cale essa maldita boca! – ele explode, me assustando.

Eu me afasto para a porta, com medo.

— Calma Rose – pede Alvo, olhando com raiva para David – E você, Scorpius, controle seu temperamento – ele se vira para David – E você, pare de ler nossos pensamentos, por Merlin!

— Eu não consigo, é involuntário – ele explica, dando de ombros – Vocês carregam muitos segredos e não são sinceros uns com os outros.

Escuto interessada. O que os meus dois melhores amigos estão escondendo?

— Como vocês acharam o David? – pergunto.

— Foi Ted que achou ele – explica Scorpius, olhando para David, como se pedisse permissão para contar. Ele apenas assente – Nesse verão, Ted disse que precisava ajudar um amigo que não tinha onde morar e não poderia cuidar dele, pois foi para França fazer seu mestrado em Feitiços.

Coço a cabeça. Como Ted achou esse cara?

— Sei que está curiosíssima para saber mais sobre mim, mas hoje não é o momento ideal – diz David, lendo novamente meus pensamentos. Que cara irritante.

— Pois bem, já que esse não é o momento ideal, quero saber como vocês vão mantê-lo em segredo – me dirijo a Scorpius e Alvo – Se Lily e Lorcan já descobriram o esconderijo desse vampiro, qualquer um pode saber.

— Nós não vamos contar nada, juramos – diz Lily, esperançosa. Lorcan apenas assente – Lorcan adora criaturas mágicas – David lança um olhar penetrante – Quer dizer, o que você é mesmo?

— Sou metade bruxo, metade vampiro. Não fui transformado – explica ele – Meu pai era vampiro e minha mãe bruxa.

Fico surpresa. Nunca havia conhecido um em minha vida, apenas li sobre isso em livros. Fiquei fascinada.

— Então quer dizer que você não é afetado pelo sol? – pergunto.

— Não, mas prefiro não andar a luz do dia – responde ele.

— Enfim, já foram feitas todas as apresentações, é hora de irmos – diz Alvo, indo até a porta – Vocês não vem?

Nós o encaramos e a David também.  Está estampado em nossos rostos que queremos passar mais tempo com o vampiro misterioso. Quer dizer, meio vampiro.

— Vão logo. Eu vejo vocês mais tarde? – pergunta ele, para Alvo e Scorpius.

Os dois apenas assentem e saem da casa. Eu fico parada, encarando David. Ele devolve o olhar, sem demonstrar nada. Ele é tão branco, seus traços são perfeitos.

— Se continuar encarando, vou pensar que está apaixonada – diz ele, sorrindo.

— Desculpe. Eu nunca vi um vampiro antes, nem um meio vampiro.

Ele morde os lábios. Parece tentar conter a tensão.

— Bem já me viu. Pode ir agora – ele diz, de forma ríspida.

— Desculpe, não estou querendo trata-lo como um experimento. É que fiquei curiosa sobre você e como você chegou aqui. O que aconteceu com sua família?

Ele não responde. Seu olhar está longe, como se de repente se recordasse deles, de seus pais, ou alguém que cuidava dele.

— Você pede para não invadir seus pensamentos, mas está querendo saber demais sobre minha vida – ele diz, depois de um tempo. Ele anda até as escadas, sem olhar para trás – Au revoir, Rose Weasley. Espero não vê-la novamente.

Ele desaparece tão rápido que pisco várias vezes para ver se ele ainda está subindo as escadas. Vou até o patamar e não vejo sinal dele. Saio da casa e me deparo com Alvo e Scorpius a minha espera.

— Por favor, Rose, não conte ao meu pai – pede Alvo, enquanto caminhamos para encontrar uma carruagem e voltar a Hogwarts. Lily e Lorcan estão atrás de nós e parece discutir algo de grande importância. Tsc tsc, segredinhos de crianças, penso – Ele não iria gostar nada disso.

Scorpius ri.

— Como se seu pai fosse santo na escola.

— Eu sei que não, mas isso aqui é diferente. Estamos usando as passagens secretas para alimentar um vampiro – diz Alvo, nervoso – Olha, eu gosto de David, mas não vale ser expulso.

Fico encarando os dois, com curiosidade. Quer dizer que esse era o motivo de eles estarem desaparecidos vários dias, durantes esses dias de aula.

— Relaxa, Alvo. Você tem sua capa, lembra?

— Como se ela fosse de grande ajuda. Entrar no Salgueiro Lutador é um inferno.

— Espera, Salgueiro Lutador? – pergunto, intrigada. Aquela árvore é assassina.

Os dois ficam em silêncio, como se tivessem percebido que deixaram algo importante escapar e que não deveria ser dito. Assim com Hagrid, que diz às coisas que não deveria dizer. Típico!

— Rose, isso fica entre nós, por Merlin – implora Alvo – Já quebramos regras demais. E já fizemos coisas como entrar na Floresta Proibida – Sim, é claro, nós entramos no terceiro ano. Queríamos ver os centauros e unicórnios. É claro que eu não queria ir, mas Alvo é tão convincente que cedi – Mas isso aqui é diferente. Ele é metade vampiro e nem deveria entrar em Hogwarts.

Congelo de medo. Ele está entrando em Hogwarts? Isso é péssimo. Vai ser expulsão na certa.

— Como vocês deixaram isso acontecer? – indago, nervosa.

— Ele é muito solitário, Rose – explica Alvo – Fiquei com pena e mostrei a passagem da Casa dos Gritos até o Salgueiro. Queria que ele conhecesse Hogwarts e pudesse ver coisas diferentes. Ele é muito inteligente, também. Estou sozinho em casa, quando tinha uma família e eles ensinaram tudo que podiam.

Fico condoída por David. Ele parece atormentado e solitário. Usa seu sarcasmo para afastar os outros, o que é irritante, contudo parece ser uma pessoa incrível. Chegamos à carruagem e nos acomodamos. O sol já havia se posto, nos deixando em uma escuridão quase total, se não fosse pelas lanternas externas do veículo.

— Podemos visitar o David de novo? – pede Lily, ansiosa – Ele é tão legal. Está me ensinando a ler mentes. Isso não é incrível?

Fico indignada, há quanto tempo isso vem acontecendo pelas minhas costas?

— Não, Lily. Chega de visitas – corta Alvo, irritado – Isso vai nos causar problemas. Mcgonagall vai nos expulsar se suspeitar disso. Papai vai nos matar, em seguida.

Ela revira os olhos.

— Sei guardar segredo, Alvo. Eu estava visitando David e nenhum de vocês sabia.

Scorpius suspira, esfregando a testa. Sorriu para ele e o mesmo retribuiu. Sinto borboletas em meu estômago. Vou ir à enfermaria hoje, isso não está normal.

— Isso está fora de questão – corta Alvo, sério. Ele se dirige a Lorcan – Você, parece ser o mais responsável – Lorcan arregala os olhos – Você vai cuidar da minha irmã agora. Não deixe que ela chegue perto de David. Vocês dois vivem juntos por ai então é mais fácil. Eu não tenho tempo para ser babá.

Gargalhamos, exceto Alvo. Ele parece realmente tenso.

— Ah, Alvinho, por favor – implora ela, com olhos lacrimejantes – Eu adoro o David. Não pode tirar isso de mim. Deixa-me visitar ele com vocês, pelo menos um pouco?

— Está bem – concorda Scorpius, para horror de Alvo – Com uma condição. Será no horário que estipularmos e você deve manter segredo. De acordo?

— Sim! – ela exclama feliz, apertando a mão de Lorcan. Ele fica da cor dos cabelos dela. Muito fofo – Você vai comigo, Lorcan. Há muito que aprender com David.

Ele assente, embasbacado. Está visível que está apaixonado por Lily.

***

Chegamos a Hogwarts e nos despedimos. Scorpius diz que irá me encontrar em meia hora pra fazer a ronda dos corredores. Dessa vez ele promete. Fico muito feliz e acompanho Lily ao dormitório, sem escuta-la. Parece que estou andando nas nuvens. Quando saio pelo retrato da Mulher Gorda, tenho uma surpresa.

— Oi, Rose – sussurra Leon, apoiado na parede.

Sinto minhas pernas bambas. Toda minha energia se esvai.

— Oi – respondo trêmula.

— Queria conversar com você. Podemos fazer isso antes da ronda? – pede ele, esperançoso.

Reflito sobre seu pedido, quase aceitando, mas logo a imagem de Amélia Green segurando sua mão vem à tona.

— Não temos o que conversar – recuso, com rispidez. Apoio-me da parede, para esperar Scorpius. Leon não parece ter se mexido para ir embora.

— Rose, o que foi? – pergunta ele, nervoso.

— Não acredito que você está perguntando isso – estou nervosa, parece que meu estômago resolveu se rebelar hoje. Está queimando muito.

— Eu não estou entendendo – ele me encara, com sinceridade – Fiz algo ou falei algo que você não gostou?

Hesito em responder, mas quer saber, não me importo.

— Eu sabia que você não era um cara sério – começo e ele se encole. Parece magoado – Mas confiei em você, confiei minha amizade e deixei que me beijasse. Claro que devo ter entendido errado, pois o vi ao lado de Amélia Green, hoje. Vocês pareciam bem íntimos. É isso que faz comigo também? Acha que somos garotas fáceis, que você pega e descarta. Eu pelo menos não sou.

Ele me encara surpreso e de repente esboça um sorriso. Quero jogar algo na cabeça dele, mas não tenho nada em mãos. Idiota!

— Espera, Rose, você está com ciúme?  - ele se aproxima, ficando frente a frente. Estou intimidade, pois encosto mais na parede – Realmente, não temos nada sério, para você ficar assim. Mas posso garantir que respeito muito às mulheres. Na verdade, qualquer pessoa - ele passa as mãos pelo cabelo, como se quisesse dizer algo, mas hesita – Posso apenas jurar para você que não estou brincando com seus sentimentos, nem com os de nenhuma garota. Amélia é muito apaixonada por mim e nunca dei esperanças para ela. Contudo, ela insiste em estar por perto. Tentei ser amigo dela, mas ela não compreende isso.

Encaro-o, desconfiada.

— Não acredito em você – começo. Ele tenta me interromper, mas não permito – Como uma garota pode entender que você quer somente amizade, quando permite tamanha intimidade? Ela está bem próxima de você, Leon. Está bem claro pra mim que você está a iludindo.

Ele suspira, exasperado.

— Eu sei que parece isso e hoje resolvi dar um basta – ele me encara, com intensidade – Disse a ela que estou gostando de outra pessoa. Pedi para que parecesse de seguir e se quer minha amizade realmente, deve aceitar que não tenho nenhum sentimento romântico por ela.

Que tristeza me invade quando ele diz isso. Aquela garota está claramente apaixonada por ele e deve sofrer muito.

— Bem, não precisa se explicar para bem – corto, tentando encerrar o assunto – Não temos nada e você não me deve explicações.

Ele morde os lábios, tentando conter o sorriso. Seus olhos verdes reluzem, como se não acreditassem em nada do que digo.

— Rose, então por que está tão brava? Se eu não tivesse que me explicar, voltaríamos a sermos amigos sem problemas. Alias, não teríamos essa discussão.

Fico vermelha e desvio o olhar para os pés.

— Deixei você sem palavras, não é mesmo? – ele se aproxima e coloca uma mexa de cabelo atrás da minha orelha. Sinto seu hálito tocar meu rosto. Estou pegando fogo – Mas sabe, eu não me importo de explicar para você que me preocupo com seus sentimentos e não sou esse cara que todos falam. Se você me permitir, posso provar.

Reluto em acreditar nele. Estou tentada a ceder, mas respiro fundo.

— Não precisa, Leon – encaro-o, sem deixar transparecer meu nervosismo – Acho que passei dos limites e peço desculpas.

Ele parece triste e da um passo para trás, se afastando de mim.

— Não tem problema, Rose – ele coloca as mãos no bolso da calça – Pelo menos ainda somos amigos?

Eu não sei se quero continuar com esse jogo. Ser sua amiga está despertando algo que não sentia antes. Nunca tive ciúmes de ninguém. E se ele começar a namorar? E se eu surtar com isso? Não parece promissor.

— É claro – deixo escapar, mas me arrependo.

Ele sorri, genuinamente. Seus olhos estão brilhando.

— Então podemos ir ao baile de Halloween juntos, no próximo final de semana? – ele pergunta.

— Nossa isso é... – fico sem palavras. Nunca fui a um baile, nenhum baile que foi oferecido em Hogwarts, na verdade. E ele está me convidando para ir. Parece demais para mim – Sim, é claro. Vai ser ótimo.

Ele pisca para mim e parece contente.

— Ótimo – ele diz. Parece estar envergonhado – É a primeira vez que vou nesses eventos e quero estar ao lado da garota mais bonita da escola.

Ele não disse isso. Ah, mas é um galanteador.

— Não vai conseguir nada me elogiando, Leon – digo, mas acabo sorrindo – Você ainda vai ter que se esforçar muito para ser meu amigo.

— Com certeza irei me esforçar – ele me encara e se aproxima de novo. Toma minha mão, plantando um beijo nos nós dos meus dedos – Estou ansioso para levar você ao baile.

Ele se despede e sai assoviando pelos corredores. Escorrego para o chão, sentindo toda minha energia ceder. Não posso permitir me envolver com ele, vou acabar me machucando.


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Notas finais do capítulo

Pesquisei sobre vampiros na saga de HP e achei algo interessante sobre metade bruxo, metade vampiro. Inseri um personagem neste estilo e ele vai ter um papel fundamental na história. Espero que gostem.



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