Scorose - Quase sem querer escrita por Aline Lupin


Capítulo 8
Uma noite de Halloween


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, agradeço muito pelos comentários e favoritos. Não sabem o quanto isso me dá forças para continuar essa história. Uma boa leitura!



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Odeio isso, odeio tudo. Odeio esse vestido e odeio meu cabelo. Estou bufando na frente do espelho. Não tenho David para me ajudar e não posso ir até ao seu esconderijo pedir ajuda. Lily não sabe mais o que fazer. Nenhuma de nós entende sobre esses trajes estranhos.

                - Só falta fechar essa coisa – ela aponta para o espartilho – Mas você está engraçada. Meio amarrotada.

                Reviro os olhos. Acho que colocamos as peças na ordem errada. Dispo-me mais uma vez, tentando lembrar a ordem das peças. Quando termino, Lily passa o vestido sobre minha cabeça e colocamos o espartilho e o casaco longo que vai até meus pés. Finalmente, parece o traje que vesti na Casa dos Gritos. Mas estou suando e meus cabelos estão espetados. Preciso fazer alguma coisa, mas o quê?

                - Espere, vou escovar seus cabelos, sente aqui – pede minha prima.

Sento em sua cama, enquanto ela escova meus cabelos, desembaraçando cada nó. É torturante, mas sei que ela conseguira fazer sua mágica. Ela termina de prender meus cabelos e mostra o resultado com seu espelho de mão. Ela fez um coque alto, com tranças laterais e deixou alguns fios soltados na parte da frente. Meu rosto está harmonioso e com uma leve maquiagem. Pareço uma dama dos séculos passados.

— O que achou? – ela pergunta, na expectativa.

— É maravilhoso – abraço Lily com força e ela dá tapas no meu ombro, constrangida.

— Ok, já chega de demonstração de afeto – ela se afasta, mas está sorrindo.

Nós duas descemos para a Sala Comunal e encontramos nossos colegas. Todos estão fantasiados e a sala está com decoração de Halloween, planejada por todos os monitores. Foi muito trabalhoso, mas no final tudo ficou perfeito. Tem abóboras falantes nos cantos da sala, esqueletos dançantes, e a lareira está decorada com teias de aranhas e aranhas de brinquedo. Não quero aranhas de verdade andando pelo castelo. Só de pensar, me arrepio inteira. Há tanta vida no castelo e o clima de festa está no ar. Os fantasmas estão desfilando com bom humor e conversando com os alunos no Salão Principal. Todas as mesas foram retiradas para dar lugar a uma pista de dança. Onde eram as cadeiras dos professores, fizemos um palco, para que uma banda de rock bruxo pudesse tocar. Além de claro, uma mesa para DJ. Nem todos gostam de rock então tivemos que pensar em todos. Mesas redondas estão espalhadas pelos cantos, para que as pessoas possam sentar e fizemos uma grande mesa com comida e bebida, sem álcool. Mas duvido que os alunos mais velhos vão respeitar isso. Provavelmente vão contrabandear uísque de fogo. Estou tão contente que entro no salão e não me lembro de que deveria ter esperado Leon para vir à festa. Acompanho Lily de braços dados e recebemos elogios pelas nossas fantasias. Nick Quase Sem Cabeça diz que estou muito formosa e pede uma dança comigo, não sem antes retirar sua cabeça, como se fosse um chapéu. Vou ter que me lembrar de fugir dele, pois não vou dançar com um fantasma. Logo Lily encontra Lorcan, que está trajando com mago, com vestes caiando até os pés e um cajado. Ele está descalço. Tento não rir, pois ele está muito desengonçado. Apesar de ele não ser baixo, as vestes deixarem ele encolhido. Ele sorri ao nos ver e cora quando chega perto de Lily. Ela não percebe, apenas engancha o braço no dele e diz que vai passear pelo salão. Fico sozinha, observando tudo, não sem antes localizar os monitores que vieram à festa e dar instruções para que a qualquer movimento suspeito, entremos em ação. Eu deveria relaxar, mas não consigo, ainda mais com a aglomeração de estudantes. Uma festa sempre é motivo para baderna. Dou risada internamente, recordando o discurso da diretora Mcgonagall. Estou parecendo ela dizendo que é necessário ter disciplina em qualquer âmbito da vida. Não posso deixar de discordar.

Os minutos vão passando, os casais estão dançando na pista ao som de uma música lenta e estou a procura de Scorpius e Alvo. Eles disseram que viriam apenas para ajudar na monitoria, o que eu agradeço muito. Mas até o momento não os encontro. Estou preocupada com o movimento dos alunos perto da mesa de bebida. Alguém pode por álcool no ponche ou no suco de abóbora...

— Ai está você, ruivinha – diz uma voz atrás de mim.

Viro-me e encontro olhos verdes e brilhantes. Leon está trajando com espadachim, com vestes negras e uma espada na cintura. Como ele conseguiu entrar com uma arma no castelo?

— Não se preocupe – ele se apressa, vendo meu olhar recair sobre sua espada – É uma espada de mentira. Não vai ferir ninguém.

Suspiro, aliviada.

— Ótimo, pois eu teria que confisca-la – digo.

Ele sorri para mim e se aproxima, tocando minha cintura.

— Você está linda – ele elogia, bem perto do meu ouvido, causando arrepios na minha nuca – Achei que fosse me esperar no seu salão comunal. Queria fazer uma entrada triunfal.

— Eu esqueci – respondo, tentando manter certa distancia entre nós. Não quero dar ideias erradas para ele. Ainda estou desconfiada – Além do mais, isso não é um encontro. Vim para festa apenas para fazer a monitoria.

Ele franze o cenho, tentando esconder seu desagrado.

— Então por que está vestida desse jeito? – ele me olha de cima abaixo, com malicia – Parece que veio para se divertir.

Reviro os olhos, bufando.

— Uma garota não pode se sentir bonita uma vez sequer?

Ele ri.

— Com certeza. Eu devo concordar que isso uma garota linda é ótima para vista.

Que cantada furada.

— Ok, Leon. Chega de papo – o corto – Preciso que você fique de olho nos alunos que estão pertos das mesas de bebidas. Tenho certeza que alguém trouxe bebida alcoólica para a festa.

Ele parece frustrado, seu semblante está carregado.

— Rose, sério mesmo que precisamos ficar de olho nesses pestinhas? – ele bufa, cruzando os braços – Queria curtir essa noite, queria tirar você para dançar – ele pisca para mim.

— Não vai ter dança Leon, odeio dançar. E preciso de você para cuidar disso.

— Uma dança e eu faço o que você quiser – ele sugere, com tom galante.

— Uma dança. Agora vai para o outro lado do salão e fique de olho em tudo.

Ele se afasta, não sem antes beijar as costas da minha mão. Sinto minha pele formigar, mas afasto essa sensação. Não vou me deixar enganar por um rosto bonito. Continua a rodar pelo salão e no fim minhas suspeitas se mostram certeiras. Dois sonserinos do quinto ano e um corvinal trouxeram hidromel e uísque de fogo. Tirei pontos das casas de cada um, para horror de Leon e dos sonserinos e dei uma detenção por um mês. Estou tão contente que não me importo de não estar dançando ou flertando com alguém. Meus pés estão me matando depois de uma hora de baile e sento em uma cadeira ao fundo do salão, não sem antes pedir para os monitores ficarem de olhos abertos. Fecho meus olhos, sentindo a música contagiante da banda tocar. Sua melodia é sobre amores perdidos e guerras desoladoras. Mas há poesia em como eles transmitem essa história. Ela toca em seu coração, como se enfeitiçasse. Claro, música tocada por bruxos sempre enfeitiça, mas essa tem um algo diferente. Parece que já vive algo assim, como se eu me identificasse. Em algum momento, não sei, pois nunca vive isso, perdi alguém muito importante e que me afastei por circunstâncias misteriosas. Tento não dar vazão a esses sentimentos nostálgicos, pois provavelmente deve ser efeito da música.

— Parece uma bela dama da noite – uma voz de veludo diz aos meus ouvidos.

Fico assustada e quase caiu da cadeira. Olho para os lados e não consigo ver quem disse isso. Estou sozinha aqui.

— Você não consegue me ver porque eu estou debaixo da capa – fala de novo a voz masculina, acariciando meu ouvido.

David. Não acredito que ele está aqui.

— O que você faz aqui? – sussurro, tentando não olhar na direção dele.

— Não aguento ficar trancando no Halloween, ruivinha – sinto que ele sentou na cadeira ao lado – Precisava ver como você ficou no vestido e ver este castelo grandioso.

Sinto pena de David. Ele sempre está sozinho e não posso culpa-lo por querer se divertir. Não haveria problema ele estar aqui hoje, pois não tem somente alunos no castelo, há vampiros, lobisomens, duendes, entre tantas outras criaturas mágicas. Hoje é dia de confraternizar com todos. Então penso em sugerir que ele saia de baixo da capa.

— Nem pensar – ele responde – Eu não quero que ninguém me reconheça.

Franzo o cenho.

— Por que não?

David permanece em silêncio por um tempo e penso que já havia partido, mas ele diz:

— Há pessoas que não precisam saber da minha presença – ele murmura.

— Queria ver você, não ficar conversando com ar – digo, sem pensar.

Sinto ele se aproximar de mim.

— Então vamos para fora do castelo – ele convida.

Saio atrás dele, sem pensar duas vezes. Ele diz para que eu o encontre nos jardins, onde pode ficar mais tranquilo e longe dos olhos da diretora. É curioso ele ter tanto medo de ser reconhecido e fugir do convívio social. O que será que aconteceu de errado para ele estar fugindo?

                - Onde você está? – pergunto.

                Vejo-o despir a capa e posso ver apenas sua cabeça flutuando. Seus cabelos negros estão arrepiados, com mechas azuis e seu rosto está branco. Ele pintou as pálpebras de preto e seus olhos estão brilhando, como os de um gato. Olhos com de âmbar, não parecem amarelos hoje.

                - O que achou? – ele pergunta.

                - Ele de achar você bizarro somente com a cabeça flutuante, parece diferente – respondo, rindo. Ele também ri e retira a capa e guardar em sua mochila.

                David está trajando com uma roupa de gala do século deste século, o que acho curioso. Ele sempre veste roupas ultrapassadas. Está com smoking preto e gravata borboleta vermelha. Não parece o mesmo rapaz que vi na Casa dos Gritos. Parece estar disfarçado.

                - É por uma boa causa – ele explica, sentando em banco e me convidando ao fazer o mesmo – Detesto essas roupas, mas eu não poderia aparecer comigo mesmo, não acha?

                Concordo com a cabeça. Sua marca registrada é estar sempre fantasiado. Hoje ele parece normal, apesar da sua maquiagem pesada.

                - Estou feliz que esteja aqui – eu digo e ele sorri para mim. Seus dentes parecem normais hoje, não como os de um vampiro – Como você conseguiu a capa?

                - Alvo foi me ver, antes de vir ao baile e ele me emprestou para que eu pudesse aproveitar a noite. Então o que faremos a partir de agora?

                Penso um pouco e tenho uma ideia.

                - Por que não vamos até o lago da lula gigante?

                - Parece chato – ele discorda, mas está sorrindo – Mas por você, ruivinha, vou onde for.

                Dou um soquinho em seu ombro e ele se afasta, rindo.

                - Então vamos, Drácula – digo, me levantando.

                - Não sou o Drácula, estou mais para Lestat – ele corrige.

                Franzo o cenho.

                - Les...quem?

                - Deixa pra lá, você é muito desatualizada.

                Caio na gargalhada e ele continua com ar ofendido. Ele me puxa pela mão e vamos andando até o lago. A noite está fria, mas não me importo. Estou quente por dentro e feliz por ter feito um amigo. Alguém não parece interessado em me enganar ou qualquer outra coisa. Ele está tão solitário quanto eu. David zomba de mim, dizendo que está ouvindo tudo que eu penso, mas não importa, estou contente. Ele me abraça pelo ombro e sentamos juntos em frente ao lado. A lua está iluminando a superfície e ficamos observando em silêncio, contemplando essa noite.

                - Você já conversou com o sereianos? – pergunto, depois de um tempo.

                - Nunca, me recuso a mergulhar nessas águas – ele torce o nariz – Imagina o que esse povo pode fazer comigo. Provavelmente vai fatiar meu corpinho.

                Dou risada.

                - Eu queria poder mergulhar nesse lago e ver o que ele esconde.

                - Aposto que não tem nada – ele dá de ombros – Eu vi o Scorpius hoje.

                Sinto meu estomago embrulhar. Não quero falar sobre ele.

                 - Não vai me perguntar o que ele disse? – David está me encarando, com olhar malicioso.

                - Não quero saber.

                Ele insiste.

                - Não quer saber que ele está tomando coragem para ver você?

                Fico surpresa, não consigo imaginar Scorpius fazendo isso. Ele parece sempre tão confiante e conversamos a semana toda. Por que de repente está com medo de me ver?

                - Você sempre é tão obtusa? – ele pergunta.

                Bato no ombro dele me afastando.

                - E você sempre é tão idiota?

                Ele deitada na grama, gargalhando.

                - Sou bem idiota.

                Deito ao seu lado, sentindo a grama fria sobre meu corpo.

                - Por que você está fugindo? – deixo escapar.

                Ele não responde. Continua olhando o céu.

                - Às vezes o único modo de viver em paz é fugir – ele responde, depois de um tempo – Tem coisas que não se pode fazer parte e pessoas que devemos manter a maior distancia possível. Então escolhi fazer meu próprio caminho.

                - Você está sendo muito vago – provoco, mas não insisto mais – Como você conheceu o Ted?

                - O Ted me conheceu na França – ele responde, sem olhar para mim. Parece incomodado – Estava andando com os mímicos nas ruas de Paris, quando nos conhecemos. Eu o parei para fazer um truco e acabamos conversando e viramos amigos. Fim da história.

                Não estou satisfeita, mas não quero que ele fique chateado por eu ser tão enxerida. Meu pai sempre diz que eu deveria ser aurora, pois gosto de desvendar mistérios e resolver problemas. Mas meu sonho sempre foi se medibruxa. Então, vou me preocupar apenas com isso.

                  - Vamos voltar ruivinha – ele diz, se colocando de pé e me ajudando a levantar – Você um baile para prestigiar.

                Sorrio para e saímos de mãos dadas, voltando para o castelo. Paramos em frente à entrada e ele se despede de mim, desaparecendo na noite. Sinto o frio percorrer minha pele e volto correndo para o Salão Principal. Não havia sentindo isso quando estava na presença dele. Continuo a ficar intrigada com seu passado e o quanto ele insiste em esconder. Parece ter acontecido algo grave. O que me deixa receosa, pois ele pode ser um perigo para mim e meus amigos. Contudo, ele passa uma confiança que nunca senti com ninguém. Não posso estar errada com a minha intuição. Quando chego ao salão, tudo parece estar normal. Nada fora do lugar, os monitores acenando para mim e aproveito para comer algo. Estou com fome e cansada. Queria encerrar essa noite e somente dormir. Não tenho tempo de chegar a mesa, pois sinto uma mão na minha cintura.

                - Você está devendo uma dança – Leon diz, no meu ouvido.

                Suspiro, frustrada.

                - Não posso nem comer em paz? – resmungo.

                Ele ri.

                - Só depois que dançar comigo.

                Ele me guia até a pista e coloca a mão na minha cintura e eu coloco a mão em seu ombro. Quando tento afastar nos corpos e nos aproxima mais.

                - Não precisa ficar com medo de mim, eu não mordo – ele me olha, sorrindo.

                Eu duvido muito, mas tento manter o mínimo de contato possível.

                - Sei que está chateada comigo, mas quero você se sinta o mais confortável comigo – ele diz. Parece ser sincero, mas eu não consigo parar de pensar o quanto me senti enganada por ele – Por favor, me dê uma chance para provar isso. Eu tenho certeza que você não vai se arrepender.

                - Eu não sei Leon, acho que é melhor a gente ser só amigo mesmo – digo, sem olhar para ele.

                Ele parece chateado, mas não insiste.

                - Tudo bem, amigos então – ele suspira. Ele se aproxima e beija minha testa.

                Dou um sorriso, pois sinto que dessa vez ele vai me respeitar.

                - Vou levar você para comer, antes que me bata – rimos juntos.

Ele me guia até a mesa e sento em uma cadeira vazia. Como uma tortinha de limão, acompanhada com um suco de abóbora e ele implica comigo, dizendo que ainda estou devendo mais uma música. Não dou importância, pois comer é sagrado para mim e não vou me estressar mais. Olho para a multidão e vejo Scorpius entrar no salão. Meu coração salta dentro do peito. Ele está aqui e não está trajando com nenhuma fantasia. Apenas veste uma camisa social e calça social preta e um All Star preto nos pés. Parece estar procurando alguém na multidão. No momento em que me vê, sorri. Eu aceno para ele e ele vem se aproximando. Algo muda em segundos, pois seu maxilar trinca. Seus olhos estão frios e sem vida. Fico preocupada. 

— Acho que é melhor eu ir andando – Leon se despede.

— Espera, não estou entendendo, por que você está saindo? – pergunto confusa.

Ele para e me olhar com pesar.

— Scorpius não quer me quer perto de você, Rose.

Ele sai, sem que possa pedir explicações. Estou fervendo por dentro. Como ele ousa interferir na minha vida? Olho para o lado e não vejo, mas Scorpius. Aquele loiro aguado vai ter que me dar muitas explicações. Levanto, ajeitando minha saia enorme e vou andando pela multidão com dificuldade. Tento encontra-lo, mas tudo em vão. Alvo está a alguns metros de mim, dançando com uma lufana. Elizabeth Jones. Ela é charmosa, com cabelos escuros, cacheando nas pontas. Parece perfeita para Alvo. Ele me vê e acena para que eu me aproxime.

— Estava procurando você por todos os lugares – ele diz. Cumprimento Elizabeth e ela sorriem sem graça. Parece tímida – Onde você estava?

— Adivinha?

Ele franze o cenho.

— Não faço ideia, Rose.

— Você emprestou a capa, lembra?

— Não emprestei, alias você me devolveu.

Fico nervosa, ele não emprestou a capa, então como...

— Aquele bastardo – Alvo exclama, entendendo. O que assusta Elizabeth – Desculpe Lizzy, é que um amigo andou mexendo nas minhas coisas.

Arqueio sobrancelha. Esses dois estão namorando?

— Vou ter que ir atrás dele – Alvo diz, levando a Elizabeth para fora da pista. Ele se desculpa e diz que volta logo. Ela apenas assente, com semblante triste. Pode Lizzy – Para onde ele foi você sabe?

— Não Alvo, ele ficou do lado de fora do castelo – respondo.

— Que droga, como eu pude ter sido tão descuidado. Se ele é pego, não sei o que pode acontecer. Não conheço David direito e não sei o que ele pretende com isso – ele anda de um lado para o outro – Já sei o que vou fazer, vou até a Casa dos Gritos. Ele deve estar lá.

Ele sai andando apressado e o acompanho. Corremos pelos corredores e encontramos Scorpius, que parece estar conversando com alguém. Tento identificar e parece ser o Leon. O que está acontecendo?

— Já disse que você não manda em mim – Leon vocifera. Está colérico. As veias do seu pescoço estão saltadas e os punhos cerrados.

— Você não tem o direito de escolher. Não depois do que você fez – Scorpius está tentando manter a calma na voz, mas ele está tremendo de raiva.

Aproximamo-nos e os dois nos encaram, surpresos.

— O que está havendo? – indago – Por que vocês dois estão discutindo?

Leon fica mudo. Não parece disposto a responder. Scorpius passa a mão pelos cabelos, irritado.

— Rose, isso não lhe diz respeito – ele é ríspido. Nem parece que somos amigos.

Cruzo os braços, irritada.

— Claro me diz respeito. Sou monitora e tenho que manter a ordem por aqui.

Ele dá risada, sem vontade.

— Você não sabe de nada, Rose – ele rebate, me encarando com raiva – Deveria cuidar dos seus assuntos.

Seu olhar me fere. Sua voz é como lamina que corta o ar. Estou tão magoada, mas não cedo.

— Por que você pediu para o Leon se afastar de mim? – acuso.

Ele se sobressalta. Seus olhos se arregalam de preocupação, mas não tenho certeza, pois logo seu rosto não demonstra emoções.

— Não sei do que você está falando - ele dá de ombros.

Leon parece tenso e aproveita a deixa para se retirar. Ele não me fita nos olhos e sai cabisbaixo. Estou furioso com Scorpius. Ele nunca foi de intimidar ninguém, mas parece que eu não o conheço de verdade.

— Scorpius, preciso que você me ajude. David pegou a capa – Alvo diz, cortando o silêncio que paira sobre nós.

Os dois saem andando, ignorando minha existência. Aquela noite havia acabado para mim. E ainda deveria ficar até o final do baile, para monitorar os alunos a voltarem as suas casas.

— Noite difícil? – pergunta Lorcan, ao meu lado.

Sobressalto-me com sua presença. Não havia o visto chegar.

— A pior de todas – respondo.

— Sabe às vezes nos julgamos os outros sem ao menos conhecer os fatos que estão por trás das suas atitudes – ele diz.

Fico surpresa diante do seu discurso. Como ele pode saber o que está havendo e me dar esse conselho? Para um menino jovem, Lorcan tem grande sabedoria.

— Não sei, Lorcan, parece que as pessoas não gostam de dizer a verdade. Tudo seria tão simples – eu digo, frustrada. Começo a caminhar e ele me acompanhar.

— Nem sempre dizer a verdade é o melhor caminho.

Fito-o, surpresa.

— O quê? Você acha certo mentir?

Ele nega com a cabeça.

— Tem coisas que não devem ser ditas ou muitas vezes são escondidas, pois normalmente queremos proteger as pessoas que amamos.

Permaneço em silêncio, refletindo sua mensagem misteriosa. Apenas escuto o som dos nossos passos ecoar pelos corredores. Vejo que até os habitantes dos quadros aderiram à festa, estão uns conversando com os outros e vestido a caráter. Como queria ser feliz assim, sem preocupações. Depois que deixei Lorcan no salão, troquei minhas roupas para um suéter grosso e calça jeans e botas. Prefiro estar mais confortável, já que vou precisar ficar o resto da noite acordada.

Por volta da uma hora da manhã, os habitantes do castelo estão se recolhendo e estou ajudando na arrumação do salão. Estou exausta, mas trabalhar e único jeito de não pensar em Scorpius e sua frieza comigo. O que será que está acontecendo? Será que Lorcan está certo? Suas palavras não saem da minha cabeça e estou empenhada em achar um sentido nisso tudo. Ouço passos ecoando pelo salão e vejo Alvo, descabelo e cansado. Está sozinho.

— Ele sumiu – Alvo diz, se largando em uma cadeira.

— Quem sumiu? – pergunto, sem entender.

— Quem mais? David – ele dá de ombros – Eu acho que foi melhor assim.

— Ele sumiu? E ainda por cima com sua capa – digo, indignada – Temos que encontra-lo.

Alvo não parece disposto, pois relaxa na cadeira.

— Não vou ir atrás. Tenho certeza que ele vai voltar.

— E sua capa?

— Tanto faz. Meu pai nem precisa saber. Vou dar um jeito – ele se levanta, sacando a varinha – Vamos arrumar isso aqui e dormir, sim?

Concordo e nós dois trabalhamos na arrumação, junto com os professores e alguns alunos que se dispuseram a ajudar. O resto ficará para os elfos fazerem, mas me recuso a não fazer uma grande parte do trabalho. Eles não são nossos escravos. Após terminarmos, Alvo me acompanha em uma última ronda e nos despedimos no corredor no sétimo andar. Caminho para meu salão comunal e escuto passos atrás de mim, olho para trás de vejo Scorpius. Ele está desalinhado. Sua roupa está amarrotada e os cabelos bagunçados. Continuo a andar, pois não quero falar com ele.

— Rose, pare de andar – pede ele, puxando meu braço.

Tento soltar meu braço, mas ele não permite. Está puxando meu corpo para que fiquemos de frente um para o outro. Seus olhos estão cansados, como se não tivesse dormido há dias.

— Eu sinto muito – ele sussurra.

— Sente pelo o quê? – provoco.

Ele suspira, exasperado.

— Por tudo, por ter sido idiota, por te tratar mal.

Não estou disposta a ceder.

— Você sempre pede desculpas, mas você sempre faz as mesmas coisas – digo chateada. Ele me fita com tristeza – Não sei o que você quer de mim, não entendendo por que essa distancia entre nós. E você tem muitos segredos que não quer partilhar.

Ele fecha os olhos, cansado.

— Tem coisas que não precisam ser ditas, Rose. Não vale a pena.

— Então não sei pra que tentar ser sua amiga, se não podemos compartilhar nada.

Viro-me para ir embora. Continuo em alerta para ver se ele vem atrás, mas ele não vai.

— Então é isso? – ele pergunta.

— É isso o quê? – paro de andar, de costas para ele.

— Você vai simplesmente deixar de falar comigo?

— É sim – eu respondo e continuo a caminhar, sem olhar para trás.

Sinto meu coração doente. Meu corpo está dolorido, pesa como chumbo. Quero voltar e sacudi-lo. Dizer que ele é um idiota. Mas não faço isso, apenas continua a andar, sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Caso queiram escutar, separei uma lista de músicas que poderiam tocar na festa de Halloween. Obrigada leitor por me acompanhar até aqui! Até a próxima.
https://open.spotify.com/playlist/2A4KujV1ZL8kHdHGGcQB2V?si=kMovUIZiTueCxJ8fY91MRA&utm_source=native-share-menu&dl_branch=1



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