Scorose - Quase sem querer escrita por Aline Lupin


Capítulo 12
Lembranças do passado


Notas iniciais do capítulo

Bom dia pessoal, tudo bem com vocês? Mais um capítulo da Scorose. Hoje vai ser mais a respeito da história do David, um personagem que criei e que gostei muito. Sua interação na história é fundamental, também. Espero que goste. Até amanhã posto a parte 2 dessa capítulo. Boa leitura!



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Chego até a cabana de Hagrid e bato na porta. Ele não atende. Tento abrir, mas está trancada. Olho para a Floresta Proibida e penso em me aventurar a entrar, mas hesito. Paro na orla da floresta e fico observando os sons que a floresta faz. São de arrepiar, mas minha coragem fala mais alto. Sento em uma árvore próxima a entrada da floresta e cruzo as pernas, em posição de lótus. Respiro fundo, sinto o cheiro do ar do inverno e da neve. Olho para o céu que está claro e fico meditando sobre todas as coisas que aconteceram esse ano. Até agora nenhuma confusão, apenas meu coração que está partindo ao meio. Fecho os olhos e apenas escuto minha respiração. Escuto passos, atrás de mim, mas não sinto medo. Apenas confio que nada de ruim ira acontecer.

— Pensando na vida, ruivinha? – diz uma voz masculina próxima a mim.

Abro os olhos e encaro os olhos amarelos de David. Ele está agachado, a trinta centímetros de mim.

— Você é um idiota, sabia? – eu digo, sentindo saudades e raiva.

Ele sorri, mostrando sua coleção de dentes perfeitos.

— Eu sei, mas você me ama - ele debocha.

Suspiro, aliviada por vê-lo.

— Por onde você andou? – pergunto.

Ele senta ao meu lado, cruzando as pernas.

— Por ai, curtindo a noite – ele responde. Lógico que está sendo evasivo.

Encaro-o, desconfiada.

— Achei que você não gostasse do sol.

Ele dá de ombros.

— Não gosto, mas ouvi você chorando e tinha que confortar meu bebê – ele responde, com sarcasmo.

Dou uma gargalha involuntária. Ele me acompanha.

— Não sou seu bebê e se falar isso de novo, eu te mato – ameaçou.

Ele não parece convencido, pois sua expressão é de zombaria.

— Ha, quero ver você tentar, baixinha – ele provoca. Eu o empurre para o lado e ele caí. Ele me empurra de volta e dou um soquinho em seu ombro – Senti sua falta, ruivinha. Não iria voltar, mas só vim por você.

Franzo a testa, sem acreditar.

— Sei. Não foi por mim que você voltou, for por causa da comida.

Ele coloca a mão no peito, parecendo chateado.

— Não acredita em mim? Sabe o quanto amo você? – ele usa um tom melodramático – É assim que trata seu melhor amigo?

Rio com gosto e ele faz uma carranca.

— Não adianta usar seus dons teatrais comigo, pois não acredito. Você está na minha lista negra por ter desaparecido.

— Tsc tsc, você não é minha mãe – ele dá de ombros – Mas um dia te conto o motivo de ter desaparecido. Não é sempre que posso ficar no mesmo lugar.

Sua entonação é de pesar e me sinto condoída por sua situação.

— O que aconteceu com você, David? – pergunto.

Ele parece hesitar em falar a verdade, o que me machuca. Ninguém confia em mim para guardar um segredo?

— Minha história é chata, Rose – ele desconversa – Agora minha vida é muito mais interessante.

— Não me importo que sua história seja chata, quero ser sua amiga.

Ele me encara. Seus olhos amarelos refletem uma doçura que nunca havia visto antes.

— Rose, minha vida inteira passei escondido dentro de casa – ele diz, olhando para longe. Parece voltar para outra época, outro lugar – Nunca fui bem recebido pela sociedade bruxa, por sem mestiço. Os vampiros não são bem vistos, sabe – concordo com a cabeça – Então minha mãe não quis me matricular em nenhum colégio. Ela sempre foi muito boa, de coração, ao contrário da sua família. São muito preconceituosos e quando souberam que ela iria se casar com um vampiro a deserdaram. Então mamãe se mudou para França e ficou com meu pai por lá, até que algo ruim aconteceu.

Ele pare de narrar sua vida, como se essa parte fosse a mais difícil. Aperto sua mão fria e ele aperta de volta com força.

— Ela engravidou de mim, é claro – ele diz, dando uma risada forçada – Que péssima noticia saber que tem um filho, sem ter um galeão no bolso sequer. Papai resolveu trabalhar no teatro as noites, já que não poderia andar de dia. Mamãe ficou em casa e abriu uma loja de artefatos bruxos. Ela vendia qualquer tipo de mercadoria, até mesmo de arte das trevas. Não havia filtro, pois ela precisava sobreviver. Então eu nasci em uma noite muito fria. Era a pior noite que eles haviam passado. Estava nevando e os dois não tinham a quem recorrer, nem uma parteira. Meu pai me ajudou a nascer e estou aqui agora, bem bonito e saudável – Dou risada da sua piada. Mesmo nas piores situações, ele gosta de fazer brincadeiras.

— Mas isso não explica o motivo de você estar sem abrigo – eu digo, curiosa.

— Calma essa cabeça de fogo – ele pede. Reviro os olhos pelo novo apelido – Enfim, papai e mamãe ficaram contentes. O novo integrante da família Lennox nasceu e alegria deles era completa. Cresci em meio a arte e a dramaturgia, pois meu pai fez questão de me ensinar tudo que podia. Eu troquei a noite pelo dia desde pequeno, o que deixava minha mãe irritada. Ela dizia que não pareciam as noites em claros por causa de nós dois. Apesar disso, mamãe nos amava mais que tudo. E eu era o colírio para os olhos de meu pai. Era tudo que ele sempre sonhou. Estávamos muito felizes, mas a alegria dura pouco.

Espero-o terminar, mas ele fica calado. Estamos envolvidos em seu silêncio e David faz algo que não imaginaria. Ele aponta a varinha para sua têmpora e sai um filete prata. São suas memórias preciosas.

— Você por acaso não tem uma penseira? – ele pergunta.

— Não, mas tenho um frasquinho para guardar ela – procuro em minha bolsa e o encontro.

Ele a coloca dentro do frasco e devolve para mim.

— Isso é um segredo meu, compartilhado de boa vontade – ele diz, com olhos penetrantes – Espero que faça bom uso dele.

Encaro-o, surpresa.

— Confia tanto em mim?

— Resolvi tentar – ele diz, sorrindo – Espero que você não saia por ai espelhando meus segredinhos.

Eu dou risada.

— Você nunca fala a sério? – pergunto.

Ele pisca, maliciosamente.

— Quase nunca, querida – ele se levanta e limpa sua calça – Vou embora, agora. Vejo você em breve.

Fico triste por ele ter que ir, mas compreendo sua situação.

— E quando nos veremos de novo? – eu pergunto.

— Não sei, vamos ver o que o destino nos reserva – ele responde, com um sorriso maroto.

Ele está se virando para entrar na floresta de novo, mas eu puxo sua mão. David me encara, esperando que eu diga algo. Apenas o abraço com força, quase o desequilibrando. Ele afaga meus cabelos, beijo minha testa.

— Você é minha irmã, sabia disso? – ele sussurra – Eu queria ter tido uma. Você vai ocupar o lugar dela agora.

Fico comovida e sinto algo quente escorrer minhas bochechas. Ele passa seu polegar, limpando minhas lágrimas. Beija mais uma vez minha testa e se afasta. Quando ele está mais longe, lembro de algo.

— Espera David, e a capa?

Ele se vira, com um sorriso malicioso.

— Diga a Alvo que peguei emprestado, por um tempo – ele responde. Ele acena para mim – Au revoir, Rose. Espero vê-la de novo.

A primeira vez que nos encontramos ele não queria me ver mais. Dessa vez, era diferente. Éramos irmãos por laços de amor.

 


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