Xeque-Mate escrita por Dani, Sannybaeez, Braguinhah


Capítulo 4
San - Ser humano é amar


Notas iniciais do capítulo

Demorou mais chegou ♥

Fiquem com mais esse capitulo e espero que gostem ♥

Sou uma observação, San é personagem de gênero fluído, então ás vezes vai ser abordado no masculino e outras no feminino, então não precisam estranhar ♥

Iremos tratar isso com o máximo de respeito e responsabilidade aceitando quaisquer críticas e dicas



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Memórias vagas e esquecidas na linha do tempo pareciam rodear a minha cabeça incessantemente.

Absorver tudo aquilo seria um trabalho árduo daqui para frente, pois nem eu mesmo conseguia distinguir a realidade de meus próprios pensamentos, que, naquele momento, se assemelhavam a uma nuvem cinza em meio a uma tempestade devastadora.

Tentava vencer todas as batalhas internas, encontrar alguma luz em meio ao caos, e suplicar ao meu Pai de todas as formas possíveis, mesmo sabendo da pouca proximidade.

Eu era um semideus, as letras se misturavam quando eu tentava decifra-las, como se estivessem com medo de serem lidas; minhas notas beiravam o ridículo graças ao bendito do déficit de atenção que me mantinha viva em um campo de batalha; coisas estranhas aconteciam a praticamente todo momento, mas mesmo assim, eu era apenas um cisco aos olhos dos deuses. Os tão vangloriados e poderosos deuses, que haviam cometido “erros” na terra, e resolveram usar esses “erros” como desculpa para deixar os seus filhos para trás, para serem caçados e mortos todos dias. O Minotauro era uma prova viva disso.

Eu e meus irmãos estávamos crescendo sem um pai para chamarmos de herói. Não entregávamos uma gravata de papel horrivelmente mal colorida, acompanhada por um bombom nos dias dos pais como as outras crianças na escola. Mas de recompensa ganhávamos uma incrível sensação de morte iminente, e um bando de chupa-cabra atrás de um pouquinho de sangue de herói.

Encarando o gramado tingido em um verde vivo, pensamentos nostálgicos e reconfortantes atingiam a minha mente. Aquela sensação se assemelhava a um abraço apertado de um amigo após uma vitória da caça a bandeira, ou um sorriso de alguém especial. Uma cura quase perfeita para a alma.

O acampamento realmente havia passado por grandes dificuldades após o ataque dos monstros pela tarde que já adormecia. E aquilo me corroía por dentro de todas as formas possíveis. O acampamento era minha casa, minha família, e eu faria de tudo para protegê-los, mesmo que isso arriscasse a minha proteção.

Eu me encontrava sentada na varanda da enfermaria, tentando processar tudo o que ocorreu horas atrás, enquanto tentava espantar todos aqueles pensamentos confusos de minha cabeça. Queria sim, esvaziá-la e poupar meu peito de tamanho peso e dor, mas parecia cada vez mais impossível de escapar da dor agoniante que já havia batido a minha porta.

O sol se punha. Seus últimos raios solares insidiavam sobre toda a extensão do acampamento, cumprimentando a noite de maneira singela, calma. Observei o lago brilhar de acordo com a luz fraca do sol, que se esvaía lentamente diante de meus próprios olhos.

Abençoado seja meu pai, por criar coisas que beiravam facilmente a perfeição. E condenados sejam todos os deuses que nos deixaram para morrer.

Não queria derramar lágrimas. Se manter forte em uma jornada como a de um herói era uma das coisas mais importantes a se fazer, e lágrimas muitas das vezes eram simplesmente o primeiro passo para o massacre.

Meus olhos arderam, um nó firme pareceu dar a primeira laçada em minha garganta, e meu corpo cedeu. Mergulhei em meu próprio mar de lágrimas, pois eu sabia muito bem que havíamos perdido pessoas que não estariam ali outra vez no jantar, lançando seus mais prestigiados e saborosos alimentos na grande fogueira para o agrado de nossos pais. Will não puxaria a cantoria diante da fogueira todas as noites, e nem mesmo gargalharíamos de Webs e o fatídico sumiço de sua lança, que sumia com tamanha facilidade graças a Lusca que fazia o favor de sumir com a arma do irmão toda vez. Essas coisas com toda a certeza do mundo não seriam recuperadas tão cedo.

Por alguns segundos, senti um toque singelo em minhas costas que permaneciam arqueadas, acompanhado por passos cuidadosos em minha direção. Mantinha-me com os joelhos juntos e devidamente colados ao meu corpo, o rosto sendo pressionado por minhas duas mãos e os ombros tensos.

A madeira escura foi pressionada ao receber o peso do corpo da campista que se sentara bem ao meu lado, me encarara com os olhos tristonhos e apenas tombou a cabeça sobre um de meus ombros.

As madeixas ruivas de Laís atingiram o meu campo de visão de maneira imediata. Ela não disse nada, apenas envolveu um de seus braços em minhas costas, se acomodando ali mesmo enquanto encarava a ruína implantada no acampamento, e o gradual aparecimento das estrela no mais alto dos céus.

— Do que tinha gosto? – Sua voz doce ecoou no recinto diante daquele silencio deprimente após segundos. – O néctar.

— Fini.  – Respondi, simplesmente.

— Aquelas com formatos de dentadura? Vi você passar mal um dia por comer um saco inteiro dessas balas. – Ela disse em um tom minimamente divertido.

Parei e refleti sobre o dia que vomitei aquela coisa, deixando escapar um sorrisinho de lado.

— E a senhorita nem pra me ajudar nesses momentos, não é?

— Eu te avisei um milhão de vezes, garota! Você que pague com um prejuízo. – Ela levantou a cabeça de meu ombro rapidamente, encarando-me com um semblante brincalhão.

— O pior de tudo, é que minha própria irmã não sabe o meu tipo de fini preferida. – Fingi indignação, cruzando os braços feito uma criança emburrada de oito anos. – Que absurdo.

Laís fez uma cara pensativa.

— Regaliz Tubes. – Respondi.

— Aquelas vermelhas? – Indagou docilmente.

— Não necessariamente. Sou uma mulher de fases com gostos variados para cada dia.

Laís soltou uma gargalhada contagiante. Aquilo de certa forma me animou por alguns segundos, como se não houvesse uma pilha de defuntos a serem resguardados em suas respectivas lápides.

Desviei-me instantaneamente de meus próprios pensamentos ao ouvir passos em nossa direção. Olhei para trás com pouca empolgação, avistando Fafá se aproximando cabisbaixo, um tanto aflito com uma inquietude incomum.

Paulo permanecia um pouco atrás do recém conselheiro do chalé. Sua expressão era quase indecifrável, fria como uma noite estrelada de inverno.

— Eu fiz uma visita ao oráculo. – Fafá disse em um tom de voz beirando a formalidade, enquanto esfregava suas mãos uma com as outras diante daquela inquietude sem fim.

Naquele mesmo momento, jurava que podia sentir meu coração bater mais fortemente contra o meu peito.

— Quíron disse que era o certo a se fazer diante da situação. Monstros não quebram a barreira tão facilmente, e o mundo não costuma virar um pandemônio tão de repente mente. – Fafá prosseguiu com sua fala.

— O que ela disse? – Laís perguntou.

— Uma profecia. – Paulo respondeu ainda permanecendo indecifrável. Apoiando-se na parede da construção, enquanto cruzava os braços. – Teremos que sair do acampamento.

Engoli em seco.

Fafá respirou profundamente. Era visível o seu incômodo e aflição com a situação em que se encontrava inserido. Aquele dia havia nos quebrado de tantas formas, que minhas palavras não seriam dignas de tal sentimento. 

 

“Em um mundo de caos, o olimpo estremecerá.

Cinco crianças deverão se levantar.

Dois irmãos comandaram o medo em meio a luz mais brilhante, permitindo com que a escuridão prevalecesse, para então, aos pés de seu pai, ceifar a vida de um dos seus.”

 

Um calafrio se estendeu pelo meu corpo como uma corrente elétrica mortífera. Minhas pernas e braços estremeceram diante de cada palavra de Fafá. Todos nós sabíamos que heróis nunca foram os preferidos do destino. Uma missão era como afiar uma faca, e apontá-la para si mesmo.

Morte iminente. Talvez seria o termo mais correto.

 

[...]

 

Havíamos arrumado nossas coisas cerca de uma hora antes de darmos adeus ao acampamento. Agora, apenas observávamos as ninfas descontentes com todas as coisas que haviam ocorrido mais cedo. A batalha danificou boa parte da área verde do acampamento, mas vendo pelo lado positivo, não teríamos de lidar com as reclamações delas em relação aos estragos. Certamente, não estávamos com cabeça para isso.  

Todos nós éramos campistas integrais. Passávamos o ano todo no acampamento, e apenas no verão reencontrávamos outros dos nossos irmãos e os demais campistas de outros chalés.

Não havia muito a se fazer quando tratava-se de um semideus. Éramos erros aos olhos de nossos pais. Éramos burros demais para uma seleção escolar, e inteligentes e fortes demais para combater uma fúria. Até que era uma contraste engraçado. Intelectualmente inferiores para uma prova, mas intelectualmente superiores para nos mantermos vivos.

Chegando à saída, carregando uma modesta mochila com suprimentos roupas e um pequeno kit de primeiros socorros, olhei para os rostos cansados e visivelmente preocupados dos outros.

Fabrício estava sério como eu nunca havia visto, o antebraço esquerdo ainda enfaixado escondendo o que restava dos ferimentos curados pelo néctar e a ambrosia, e uma calça jeans longa e a teimosia intrínseca nele escondiam a ferida profunda da flecha, ele ainda mancava de leve, mas se recusava a usar qualquer tipo de muleta.

Paulo ao seu lado não estava muito melhor, a cara fechada, sério e com o cenho franzido enquanto olhava para a floresta que se estendia a sua frente, parecia estar pronto para matar a primeira coisa que aparecesse na sua frente, seus ferimentos estavam escondidos por debaixo da longa camisa laranja do acampamento, sendo a única coisa amostra uma pequena cicatriz em sua bochecha, consequente do combate com a empousai.

Enquanto que por última, estava Laís, ela com certeza era a que escondia melhor, seus lábios retesados olhando para a saída já me diziam tudo, ela não estava tão machucada, irritada ou seria como os outros, ela estava com medo. E eu a conhecia bem o suficiente para saber que sim, havia medo pelo o que nós iriamos encontrar, mas grande parte dele era por não saber quem dos nossos outros amigos e irmãos estariam vivos quando os encontrássemos, se os encontrássemos.

— Vamos — Fabrício falou sem olhar para trás.

E com uma última olhada para a casa que deixava para trás, os segui pelo desconhecido.

[...]

 

Uma coisa engraçada sobre profecias, é que elas normalmente não dão muitas informações ou não são muito exatas, quanto ao que fazer, sobre quem deve fazer e até mesmo para onde ir. O que nos leva a nossa situação atual.

A profecia passada falou apenas de irmãos, morte e uma jornada, o que nosso querido pai esqueceu de incluir na sua sacerdotisa, foi uma bússola. Não sabíamos que direção seguir, o que procurar ou para onde ir, e por isso Fabrício decidiu.

— Vamos para Sayville, não é tão longe daqui, algumas horas de viagem apenas, com sorte vamos conseguir achar algum rastro durante o caminho de por onde os monstros podem ter ido.

Todos concordamos, Fafá era o líder da missão afinal.

Durante todo o caminho, enquanto atravessávamos uma floresta espessa e em seguida uma estrada quase vazia, tirando raros carros ou caminhões amarrotados de toras de madeira, eu não pude evitar pensar.

Havia um traidor entre nós?

Inconcebível para mim. Pelo menos isso até pouco tempo atrás, um ataque devastador, dezenas sequestrados e outros dezenas mortos, fazem a perspectiva mudar um pouco. Essa não seria a primeira vez que há um traidor entre os semideuses. Não seria novidade alguém se aliar aos monstros, infelizmente.

Pensar naquilo apertava meu coração, eu não conseguia evitar me perder nos meus pensamentos, lembrar dos corpos do campo de batalha, conseguia até mesmo sentir um calor suave do sangue ainda nas minhas mãos, por mais que as tenha lavado.

Mas então o farfalhar de folhas ao meu lado chamou minha atenção. Instantaneamente me posicionei em ataque, apenas repousando a mão em minhas armas. Os outros me olharam.

— O que foi? — Laís perguntou logo na minha frente, olhando para o mesmo ponto que eu.

— Tem alguém nos seguindo — Falei quase em sussurro.

Fabrício e Paulo se armaram.

— Acho que ataque surpresa não adianta mais, ele também sabe que já percebemos.

Paulo falava se aproximando a passos curtos das árvores que escondiam nosso inimigo, a guarda alta, arma em punho. Até que parou a poucos metros.

Um silêncio se instaurou, permanecemos os 4 fixados no que quer que estivesse ali. E então o som oco de algo batendo no chão saiu da escuridão, as folhas farfalharam novamente, uma silhueta humana se aproximava, e quando se revelou por completo, baixamos nossas armas e Laís deu um longo suspiro de alívio.

— O que você está fazendo aqui?

Webster, ou simplesmente Webs sorria amarelo a nossa frente, em seus cabelos pediam pequenos galhos e folhas e seu óculos estava troncho sob seu nariz. Ele parecia ter nos seguido o tempo inteiro, a uma distância segura, mas por um caminho não tão agradável.

— Eu vim ajudar — Respondeu simplesmente, pegando a lança que havia largado no chão, transformando-a em um grafite com um simples apertar em um lugar que apenas ele sabia.

— Não solicitei que vinhesse ­— Fabrício falou ríspido.

Webs se encolheu.

— Mas a profecia fala sobre 5 semideuses, vocês são 4.

Olhei surpresa para ele.

— Como você sabe disse?

Ele se calou, percebendo imediatamente o que não devia ter dito. Paulo virou o rosto, voltando a andar, claramente impaciente com a situação, nosso conselheiro o olhou, não consegui ver a intensidade com que encarava Paulo, mas aquilo com certeza renderia uma briga mais tarde.

Fabrício olhou mais uma vez para Webs, suspirou jogando os ombros para trás, guardou a arma se rendendo.

— Tá, depois falamos sobre isso, vamos voltar a andar logo, 5 semideuses juntos chamam atenção demais.

E tomou seu caminho. Eu e Laís ainda ficamos para trás, mantendo também o garoto conosco, a passos um pouco mais lentos, mas sem perder os outros de vista, questionamos e indagamos nosso meio irmão por boa parte do caminho, e ele apenas repetia que também queria ajudar.

— Não poderia ficar no acampamento sabendo que os outros podem estar em perigo.

— Mas você nunca agiu de forma impulsiva — Questionei.

Ele não me olhou, fechando a cara, e apenas respondeu.

— Também nunca enterrei tantos irmãos em um só dia.

 

[...]

 

Após uma longa caminhada, chegamos finalmente a Sayville, uma cerca branca de design vitoriano carregava uma placa grande, escura e com um charmoso desenho da cidade, que nos dava boas vindas a cidade mais amigável da américa.

Grandes e belas árvores cresciam logo na entrada, sendo seguidas por arbustos tão verdes e lustrosos em contato com a luz da lua que poderia jurar que haviam sido plantados por filhos de deméter. Adentrando a cidade, um clima agradável e de paz imediatamente tomou conta de mim — diferente do que havia sentido o caminho inteiro ­— as ruas iluminadas por postes bem espaçados davam serenidade ao ambiente, a calmaria do movimento era aconchegante e todos se cumprimentavam amigavelmente.

Um cheiro de Capuccino recém preparado tomava o ar e fazia o meu estômago pedir por comida. E provavelmente não fui a única.

— Vamos parar um pouco — Fabrício falou se pondo em nosso centro — Vamos descansar por hoje, dar uma olhada na cidade, não da pra continuar andando sem ter noção para onde vamos.

— Você acha? — Paulo murmurou, mas Fafá parece ter ouvido bem, lançando um olhar inquieto, mas permanecendo calado.

— San, você vai com o Paulo e o Webs procurar um lugar onde possámos nos hospedar e comer algo, sem extravagância ou chamar qualquer tipo de atenção, Laís você vem comigo, vamos procurar rastros.

— É mesmo uma boa ideia nos separarmos? — Comentei, relutante.

O garoto me olhou, seus olhos em fúria, o que era muito estranho, sim Fabrício poderia ser um pouco irritadiço às vezes, mas aquilo estava incomum.

— Todos aparentemente sabem, mais do que eu, o que é melhor pra essa missão — Ele bufou, e não tenho certeza, mas por um momento vi seus olhos reluzirem em vermelho — Não esqueçam que eu sou o conselheiro do chalé.

— Substituto — Paulo grunhiu, com a mesma fúria que nosso irmão.

— Gente eu acho que vocês deviam se acalmar — Webs se aproximava cauteloso, alternando seu olhar entre os dois garotos.

Mas antes eu chegasse perto, em um movimento rápido e furioso, Fabrício apontou uma de suas lâminas para o peito dele.

— Opa opa, vamos nos acalmar, estamos todos cansados, com fome e preocupados, mas isso não é motivo para...

Laís começou, mas não conseguiu terminar, pois no momento seguinte já estava no chão, com a lâmina de Paulo apontada para seu rosto.

E foi aí que eu perdi o controle.

Puxei minha arma, me aproximei rápido pelo flanco aberto de Paulo e quando ia desarmá-lo, ele instintivamente se abaixou, saltando para trás, rolando para longe. Fabrício desviou sua atenção para a movimentação que acontecia ao seu lado, dando tempo suficiente para Webs, também tentar tirar a arma de seu alcance, resultando no recuo instintivo de nosso conselheiro.

— O que vocês estão fazendo?! — Gritei sem nem mesmo perceber a alteração da minha voz.

Eles não responderam. Suas posturas haviam mudado completamente, e até mesmo a aura e energia ao redor dos garotos era hostil, eles pareciam animais, agarravam suas armas com tanta força que os nós estavam brancos, seus olhos estavam furiosos e inquietos, e o brilho havia voltado com mais força e intensidade.

Aquela distância e naquela iluminação, eles pareciam animais prontos para abater suas presas.

Até que uma voz muito mais intimidadora ecoou pela rua agora vazia da pequena cidade, os olhos vermelhos tremeluziram, sumindo.

— Olha o que temos aqui Barry.

Um homem corpulento, de pelo menos uns 2 metros de altura e cabelos desgrenhados com pedaços de galhos sorria débil para nós enquanto tomava uma xícara de algo que pelo cheiro, com certeza não era café.

— Nosso dia de sorte Toby.

O outro homem tão grande quanto, respondeu, esparramado na pequena cadeira do estabelecimento, olhando intensamente para nós.

— Com certeza seremos recompensados Barry ­— Riu sádico.

Eles se levantaram. Ignorei Fabrício e Paulo, e me coloquei contra aqueles homens, ajudando minha irmã a se levantar, Webs liberou sua lança.

— Quem são vocês? – Perguntei, já completamente sem paciência com essas coisas acontecendo tudo de uma vez.

Toby riu, quase tão sádico e idiota como o amigo.

— Isso não importa, vocês não vão viver o suficiente para se preocupar com isso.

Suas vozes engrossaram, veias verdes começaram a saltar de seus braços e a roupa foi lentamente se rasgando em seus braços e panturrilhas, as peles ficaram doentiamente cinza e presas cresceram roçando em seus lábios. Seus olhos brilhavam em um vermelho parecido com o de meus irmãos, mais muito mais intenso, raivoso e sangrento.

— Lestrigões, ótimo, era só o que faltava — Grunhi — Pra cidade mais amigável, isso aqui ta sendo um pesadelo.

E então eles atacaram, e eu prendi a respiração. Por algum motivo pareciam muito mais rápidos do que qualquer outro que já enfrentei, não os vi chegando, muito menos o quão afiados eram as lâminas que cresceram de um segundo pro outro em seus braços, se não fosse por Fabrício e Paulo, que se colocaram em nossa frente, impedindo o ataque, seriamos fatiados em pedaços.

— Mas... Como... — Webs balbuciava.

— Como fizeram isso? — Laís perguntou, e pude incredulidade em sua voz.

— Qual dos 4? — Falei tão surpresa quanto.

— Temos que... que correr — Fafá falava baixo e com certa dificuldade, ainda segurando a imensa lâmina que brotava do braço do monstro, estando a apenas centímetros do seu rosto.

— O que?

— Eles são... diferentes... não podemos lutar.

Olhei para o rosto completamente sádico daquelas criaturas, sim, eles eram diferentes, eram muito mais sedentos e poderosos, não dava pra lutar com eles, não aqui no meio de tanta gente pelo menos.

Olhei para os lados, procurando um caminho, alguma forma de despistar eles. Fafá gemeu de dor quando a lâmina do inimigo começou a ficar insuportavelmente pesada. Meu coração acelerou, Laís e Webs correram para dar algum tipo de apoio, atacar os lestrigões, mas não faziam qualquer machucado naquelas criaturas.

Então eu vi.

Corri para o meio, entre os dois gigantes, desembainhei minhas lâminas e sai do outro lado já guardando-as.

Os monstros riram.

— Semideuses são tão idiotas Barry, eles pensam mesmo que podem nos ferir.

— Sim Toby, eles ainda não entenderam que...

Mas antes que o monstrengo continuasse, ele retesou os braços para a parte inferior do corpo, livrando Paulo que pendeu e foi agarrado por Laís, tendo o mesmo gesto se repetindo com o seu amigo do lado.

E soltaram apenas um “ôou” quando suas calças foram habilidosamente cortadas, e se aproveitando da distração, saímos correndo por um beco mais escuro que os outros, a iluminação era mais fraca, nos escondendo bem. Corríamos ajudando Fafá e Paulo a manterem o passo, enquanto que ao longe ainda dava pra escutar os gritos enfurecidos de nossos mais novos amigos. Virávamos em vielas, ruas, invadíamos quintais de casas, mas a impressão era estar andando em um eterno círculo, a cidade era desconhecida para nós, não dava pra voltar por onde viemos pois simplesmente não sabíamos onde estávamos.

Enquanto isso, os gritos não pareciam mais se distanciar, ameaças de mortes veladas e ameaças que eles iriam puxar nossas calças e nos humilhar também, faziam eu me arrepiar.

Até que vimos um lugar que parecia ser nossa única esperança, um bar pequeno, barulhento e que fedia tanto que havia os alcançado a metros de distância, ele não iria chamar atenção e o cheiro pungente de álcool e carne estragada iria ser o suficiente para mascarara 5 semideuses.

Corremos pela escuridão, entrando desesperadamente pelas portas quebradas e podres do lugar.

— Pelos deuses, eu vou vomitar.

Se por fora o lugar já não parecia muito agradável, por dentro ele era muito pior. Bêbados estavam espalhados por todos os lados, dormindo sob as mesas, tentando acertar dardos na parede do canto, acertando verdadeiramente apenas o chão, do outro lado um grupo se reunião ao redor do piano que era rudemente e violentamente tocado, enquanto acompanhavam cantando com habilidades inexistentes.

O cheiro forte de absinto se fazia presente, se misturando de forma nada agradável com o vômito e restos de comida que tentavam ser inutilmente limpos pelo que parecia ser o único outro funcionário do lugar.

Entretanto, a maior movimentação com certeza era envolta do centro do balcão, homens e mulheres bêbados gritavam palavras de encorajamento enquanto soluçavam e riam histéricos.

— Eles estão ali — Paulo falou, olhando por uma brecha da porta do lugar.

Seguindo seu olhar, vimos que os lestrigões estavam parados a poucos metros de onde estávamos, eles olhavam para todos os lados, provavelmente deu certo e perderam nosso cheiro. Eles estavam furiosos, enquanto usavam o que havia restado de suas camisas como calças.

Adentramos ainda mais o bar, indo para perto da aglomeração no balcão para nós esconder, mas então uma voz familiar ecoou quando nos aproximamos o suficiente.

Quando olhei para meus irmãos, o Webs em particular chamou minha atenção, sua pele ficou pálida e ele pareceu enjoado.

O grupo de bêbados gritou mais uma vez se afastando, dando tapinhas nas costas uns dos outros, sobrando apenas um colado ao balcão, ao qual estávamos parados bem ao lado.

Um homem de longos cabelos escuros e barba e bigodes sujos de espuma e farelos de algo, virou devagar o rosto para eles, o homem se levantou, cambaleando da cadeira e deu um sorriso trópego para eles.

—Irmãos!!

Webs se arrepiou, antes de dizer.

— Lusca.

— Webs, meu consagrado! — Lusca cambaleou indo em direção ao garoto, que se distanciava cada vez mais do nosso irmão.

Lusca não pareceu ter notado, mas parou de ir de encontro ao garoto, mudando seu foco para Laís.

— Sininho.

— Lusca! — Ela falou animada, recebendo um abraço caloroso e com uma breve soneca no ombro por parte do bêbado.

— Caramba, como é legaummm ver vocês — Falou embolando as palavras.

— Bom te ver também, conseguiu se livrar da maldição do Sr.D né? — Sini perguntava me olhando de canto, com um sorriso contido.

Lusca mudou a expressão, ele parecia irritado.

— Não mesmo, aquele maldito, unde jaseviu — Soluçou — Não poder beber álcool, tudo que eu toco vira ángua.

— Mas como... — Comecei, olhando-o de cima a baixo em seu estado de completa anestesia.

— Broto de ninfa e MUITA diet coke — Ele ria como se lembrasse de algo — Faz maravilhas, mas ei — Ele voltou a ficar sério, mudando novamente de um momento para o outro, Lusca olhava para os lados, se segurando para não cair — Cadê o Fabrício, não veio?

Eu me obriguei a conter a risada. Fafá estava bem na frente do Lusca, o fuzilando com o olhar.

— Lusca... —Fabrício soltou.

— Fafá! — Ele riu — Eu nem te vi ai, você diminuiu?

Todos controlávamos a vontade de rir da implicação natural entre os dois, até mesmo Paulo tinha um sorriso divertido no rosto.

— Mas tudo bem, sério, o que vocês istão fazendo aqui? — Levantou um copo com um líquido escuro com pedaços de algo verde ­— Querem um pouco?

— Não quero morrer obrigada — Falei sem pudor — Estamos fugindo de alguns monstros em uma missão, mas o que você está fazendo aqui?

— Monstros? — Foi a única parte que ele ouviu — Eu vou ajudar vocês cuns monsros, deixa só eu pegar aqui...

Ele tateava embaixo do balcão procurando algo, quase caindo de cabeça do outro lado se não fosse por Laís está o segurando levemente pela camisa. Lusca jogava coisas como esfregões, pás e vassouras, e até mesmo uma garrafa vazia de uísque que quase o fez chorar por uns segundos, até que um sorriso se formou em seu rosto.

Ele empunhava um machado brilhante, claramente havia sido lustrado recentemente.

— Vamos lá.

Ele cambaleou até a porta dando pulinhos e nós chamando para a batalha, bateu no peito e então saiu corajosamente pela porta.

— Em quanto tempo vocês acham que ele nota? — Paulo indagou.

— Não sei, ele parecia tão empolgado — Falei.

No chão, logo ao lado do balcão, ele havia esquecido sua arma.


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