Xeque-Mate escrita por Dani, Sannybaeez, Braguinhah


Capítulo 5
Laís - A traição de um sol


Notas iniciais do capítulo

Desculpa San ♥

A gente te ama heheheheh



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Durante todo o meu trajeto no acampamento, e especialmente como filha de Apolo, eu tenho muito orgulho de dizer que jamais senti algum rancor ou raiva e tive qualquer desavença com algum de meus irmãos ou semideuses com quem convivia todos os dias – ainda mais sendo uma campista permanente – a presença de todos me deixava alegre, e o jeito único de cada um dos meus irmãos me fazia pensar o quão próximos podemos ser, ao mesmo tempo que também somos pessoas diferentes.

Entretanto, enquanto eu vejo Lucas correr desengonçado com seu machado em mãos, em direção aos dois monstros de quem fugimos a pouco tempo, eu repensei seriamente o quão problemático seria atirar uma pedra na cabeça dele.

— Como que alguém tão “bêbado” tá tendo tanta coordenação motora pra fazer tanta merda? — Webs reclamou ao meu lado, escondido atrás das portas do bar — Ele não consegue ficar em pé, mas consegue enxergar perfeitamente os lestrigões a noite?

— San — Fabrício chamou — Você é o mais rápido, consegue chegar no Lucas sem chamar atenção?

San esticou um pouco mais a cabeça para ver a rua, olhou para a direção que os monstros haviam começado a andar lentamente ainda inquietos, enquanto eram seguidos por um garoto cambaleante e seu machado.

Ele chiou.

— Não dá, sinceramente eles devem ser bem idiotas pra não terem percebido o Lucas, acho que o cheiro da Coke diet e do broto de ninfa ajudaram.

Fabrício praguejou em grego antigo.

Enquanto conversávamos e pensávamos em um plano, nosso irmão se aproximava cada vez mais daquilo que com certeza seria sua morte certa. Fabrício e Paulo haviam engajado em mais uma das suas constantes discussões desde que saímos em viagem, San e Webs olhavam inquietos para a rua, apertando suas armas, eles assim como eu, não estavam aguentando só olhar.

Sim, eu estava irritada com a estupidez do Lucas, ele estava a alguns passos de colocar as nossas e a própria vida em risco. Já não bastava o sangue que havia sido derramado no acampamento? Aquilo não podia acontecer de novo, eu não podia deixar aquilo acontecer com mais nenhum irmão ou amigo.

Então eu fiz algo. Algo bem idiota.

— Ei, seus brutamontes sem bunda e roupa! — Gritei a plenos pulmões já fora do bar, pulando entre as portas velhas e desgastadas do lugar.

Os lestrigões olharam para os lados por um momento, se viraram para trás e ignorando completamente o meu irmão bebum, eles me encaravam, seus olhos brilhando em um vermelho forte e sangrento.

— Semideusa idiota.

O lestrigão que reconheci ser Toby pelos cabelos sujos de galhos e folhas falou, abriu um sorriso psicótico, enquanto segurava a barra da camisa que agora usava como calça.

— Vingança? — O outro perguntou.

— Vingança Barry.

E então eles correram. Mesmo com a incomum escolha de roupa de baixo, os monstros eram hábeis e rápidos, passaram por Lucas com tamanha velocidade que o fizeram se desequilibrar e cair no chão — ou ele já estava a ponto de cair de qualquer forma, não da pra saber — grunhindo palavras de irritação e incompreensíveis, e se dirigiram até a mim.

— Laís!

Alguém atrás de mim gritou no exato momento em que me joguei para o lado, bem a tempo de desviar da enorme lâmina que saia do braço da criatura, mas quando pensei que havia me livrado, Barry apareceu como que por teleporte ao meu lado e me atacou, tentei desviar, meu pai virou e eu perdi o equilíbrio, fechei os olhos esperando a dor.

Então ouvir o tilintar de lâminas.

— Laís! — Uma voz conhecida gritou — Levanta!

E quando abri os olhos vi os longos cabelos lisos de San a minha frente. Ele segurava o ataque com suas lâminas, mas aquilo parecia estar sendo demais pra ele.

— Nham nham, semideus fatiado — Barry riu sádico.

Meu coração acelerou. A coragem de alguns momentos atrás, que me fez estar no meio dessa situação, havia se esvaído. Ao olhar para trás, onde recebi o primeiro ataque, vi que o outro monstro estava sendo controlado por Webs, que tentava proteger Fabrício e Paulo que ainda não estavam plenamente recuperados do último combate, mas que faziam o melhor que podiam para atacar o gigante.

— Adoro quando a comida brinca com a gente Barry.

A risada cruel e sádica daqueles monstros ecoou novamente.

— Ei, vocês, deiexem meus irmões — Lucas gritava enquanto corria em direção a batalha.

Os lestrigões o olharam, mas apenas ignoraram.

—  Você tinha que ter gritado?! Sério mesmo Sini? — Paulo falava irritado, segurando o lado do corpo com a mão livre, enquanto com a outra dava rápidas estocadas no inimigo.

— Sério?! Quer fazer isso agora?! — Retruquei também nada contente — Na próxima a gente deixa eles pegarem o Lucas então.

— Olha... — Webs atacava e desviava com certa dificuldade — Não é uma má...

— Já chega! — Fabrício gritou, bem no momento que defendeu mais uma das lâminas do gigante que dividia com Paulo e Webs — Isso não é hora nem lugar.

— Gente... — Uma voz choramingou.

— Temos que nos unir, se quisermos derrotar ou pelo menos sair vivos daqui...

— Gente, por favor...

— Temos que ser irmãos, filhos de apolo, não vamos abandonar ninguém e nem...

— Pelos deuses, eu vou morrer, não é hora de discurso motivacional Fabrício!

San gritava, ainda segurando o gigante, que começava a lentamente esmagar meu melhor amigo. Suor pingava pelo rosto já pálido dele, enquanto seu corpo inteiro tremia. O medo que havia se instaurado no meu coração desapareceu, meu coração bateu mais forte e quando dei por mim já estava chutando com todas as minhas forças o rosto de Toby, ou seria Barry? Tanto faz.

Aqueles gigantes, como já havíamos observado antes, não eram que nem os outros, eles eram maiores, fortes, resistentes e cruéis, então quando meu ataque apenas atordoou o lestrigão por tempo o suficiente para que eu tirasse San de seu espaço de ataque, eu não me surpreendi.

Veja bem, eu não uso armas, não sou a favor, por isso eu transformei o meu corpo em uma arma. Não sou tola ao nível de pensar que tenho chances de continuar viva sendo uma pacifista, tinha que achar uma forma de me proteger quando necessário, e as artes marciais me caíram muito bem, por eu trazer uma imagem de uma garota pequena, fofa e indefesa, meus inimigos quase sempre caiam em um ataque surpresa quando lhes acertava com um soco ou chute mais forte do que esperavam.

Uma pena que aquela situação em questão, se encaixava no “quase sempre”.

O gigante que havia acabado de chutar já havia se recuperado, seu corpo imenso e robusto se projetava sobre nós, seus olhos brilhavam mais intensos que antes. Ele sorriu. Seus lábios estavam cobertos de icor dourado.

— Agora já chega — As veias de seu pescoço e braços saltaram — Já está na hora de vocês... — Seus músculos ficaram maiores, seu sorriso mais feroz, lâminas maiores e mais afiadas saltaram de seus braços, e ele alargou o sorriso — Morrerem!

E então ele avançou novamente. Logo atrás de mim, escutei meus irmãos gritarem, enquanto o outro lestrigão ria, se divertindo com a situação. Nós íamos morrer, esse era o fim, apertei um San quase inconsciente ainda em meus braços, mas dessa vez não fechei os olhos, olhei diretamente nos olhos sanguinários e diabólicos do meu assassino, vi seu braço descer rápido e a lâmina se aproximar cada vez mais de nossos corpos, seu sorriso sangrar mais de excitação, até que então...

... Ele parou em pleno ar.

— O que... — Arfei.

O monstro gemeu e grunhiu a minha frente. E então explodiu em pó.

— Não! Barry! — O monstro choramingou.

— Mas o quê... — Eu comecei, totalmente confusa, mas então vi algo se mexendo embaixo da pilha de pó de monstro a minha frente.

Peguei uma das armas de San que ainda estava fraco em meu colo, e apontei para o movimento. Todos olhavam assustados — Toby estava esperançoso — mas quando um machado bambo surgiu por cima de todo o pó, eu sorri.

— Eu disse... — Lucas se levantava desajeitado e sujo de restos mortais — Pra ninguém meixer com meus irmões — Soluçou, cuspindo mais pó de monstro.

E então deixei meus braços finalmente caírem em alívio, enquanto sentia o corpo de San também relaxar em meu colo. Lucas sorria cheio de dentes, que era a única coisa que dava para se ver claramente já que ele estava coberto de pó, enquanto se aproximava caindo de nós.

Mas antes que meu irmão chegasse perto o suficiente para que eu pudesse segurá-lo, escutamos um grito, que fez com que toda a paz que estava sentindo, fosse para o ralo. Paulo gritava de dor enquanto era segurado e apertado entre as palmas enormes do lestrigão que havia sobrado – droga, esquecemos de um – ele berrava, enquanto seu corpo se contorcia tentando se livrar do aperto.

Webs e Fabrício tentavam desesperadamente soltar nosso irmão, mas aquele monstro que já parecia invencível antes, agora parecia ter adquirido uma força maior ainda, seus olhos brilhavam em um vermelho muito mais intenso do que eu me lembrava, e sua pele parecia lisa e brilhante como se houvessem passado verniz nele, ah e também parecia impenetrável.

As espadas e a lança dos meninos não pareciam surtir efeito, deixavam apenas pequenos arranhões como se atacassem o metal, e enquanto isso Paulo apenas gritava de dor, até que um estalar ecoou, ele gritou mais uma vez e sua cabeça pendeu para o lado, inconsciente.

O monstro riu alto e sádico. As luzes das casas ao nosso redor se acenderam, murmúrios começavam a se formar, homens e mulheres irritados abriam a porta apenas para encararem a cena por um segundo e logo começarem a gritar coisas como “delinquentes brigando”, “alguém chama a polícia” e “derrubaram um poste no meio da noite”, o último parecia o mais indignado. Provavelmente a névoa os estava fazendo pensar que era algum tipo de briga de gangue ou coisa parecida.

— Paulo! — Fabrício gritou, enraivecido e com uma ponta do que pensei ser choro.

— Ele ainda está vivo, deve ter quebrado algumas costelas — Webs falou, se interrompendo para desviar de um ataque — A dor o deixou inconsciente, mas se não tirarmos ele logo dali... — Se interrompeu, provavelmente ele sabia que todos sabíamos muito bem o que aconteceria, não precisava ser filho do deus da medicina pra isso.

— Vocês mataram o Barry — A voz de Toby havia ficado mais encorpada, gutural e raivosa — E agora eu vou matar seu amigo.

— Não! — Gritei desesperada.

San tentava se colocar de pé, mas estava fraco demais, suas pernas falhavam e ele se segurava em mim e Lucas para não cair. Lucas por sua vez parecia ter ficado sóbrio de uma hora para outra, ele estava mais esperto e atento, mas parecia fraco. Webs e Fabrício continuavam a desferir ataques repetidos e intensos contra o imenso monstro, uma vez ou outra pareciam conseguir tirar sua atenção de nosso pobre irmão desacordado em suas mãos, fazendo ele olhar furioso para um dos dois, atacar e logo voltar a apertar Paulo.

Lucas se sentou de San, caminhou rápido até o inimigo e o acertou com seu machado, o que não pareceu fazer nenhum efeito. Eu olhava meus irmãos lutando, tentando não perder mais um de nós, enquanto um nó se formava na minha garganta e San se debatia em meus braços, tentando se soltar de meu aperto, eu sabia que se ele fosse, perderíamos mais do que apenas uma pessoa aquela noite, aquilo me doía, parecia que eu estava escolhendo quem viveria e quem morreria. Eu me sentia impotente, fraca e inútil, meus olhos estavam começando a encher de lágrimas, meu coração estava acelerando novamente, meu corpo inteiro tremia e meus músculos enfraqueciam a cada segundo que se passava. Paulo estava morrendo e eu não conseguia fazer nada, eu vou perder outro amigo, outro irmão. Minha visão borrava com as lágrimas, meu peito estava apertado e latejando de dor.

Até que tudo parou.

Os murmúrios das pessoas ao nosso redor haviam cessado, San parou de tentar escapar e eu já não sentia mais o peso de seu corpo em meus braços, já não escutava mais o barulho do choque entre as armas e a pele dura do monstro, ninguém mais gritava.

Quando olhei ao redor, vi que meus irmãos encaravam o monstro desfeito em uma montanha de poeira, a qual Paulo descansava ainda desacordado no topo, sua pele estava branca. No centro, onde antes estava o gigante, as armas de Fabrício, Webs e Lucas se encontravam, os três tinham uma expressão de puro ódio e raiva em seus rostos, os olhos do nosso conselheiro voltavam a ter um leve brilho carmesim, que também começava a aparecer nos olhos de Webs e Lucas.

E no centro, atrás de todos, San se colocava de pé, empunhando suas duas lâminas com um olhar feroz e sedento.

— Mas co... — Engoli minhas próprias palavras, eu estava ofegante, mal conseguia falar — Como você... Como vocês...

E então todos caíram no chão, menos San. Webs chacoalhou a cabeça, confuso e parecendo desorientado, Fafá olhava ao redor, parecendo aliviado ao constatar que haviam agora dois montes de poeira ao invés de só, e não se demorou a ir de encontro a Paulo para prestar os primeiros socorros, o Lucas por outro lado, bem, era o Lucas.

— Como que eu vim parar aqui? Acho que usei broto de ninfa demais... de novo.

— Nós conseguimos? — Webs perguntava incrédulo.

— Se baseando no tanto de pó de monstro na nossa frente, eu diria que não Webs, a gente ainda ta lutando com eles — Lucas respondeu com um sorriso zombeteiro.

— Cala a boca luscapeta.

— Gente — A voz de Fafá fez com que todos olhássemos — O Paulo vai ficar bem, a cor está voltando — Ele abraçou nosso irmão — Graças aos deuses.

Os brilhos vermelhos e a raiva pareciam ter sumido deles, estávamos fora de perigo, estávamos vivos, graças aos deuses.

— Ei San o que foi? Por que tá com cara de fome?

E só então eu notei, San era o único ainda de pé, o único que ainda mostrava olhos brilhantes e uma aura raivosa. Ele apertou o cabo das espadas, seus braços tremeram, e então em um movimento rápido, fincou suas armas no chão e desmaiou.

Ignorei minhas pernas ainda fracas e corri até ele.

— San! — Eu gritava enquanto chacoalhava com cuidado seus ombros — Por favor, acorda!

Nenhuma resposta.

— Fafá, ambrosia, rápido.

Fabrício jogou uma pequena bolsa para Webs que logo se dirigiu até mim, tirou um pedaço minúsculo da comida dos deuses e colocou na boca de San. Fiz com que ele mastigasse e engolisse, mas ainda assim não havia resposta. Ele estava vivo, isso era evidente, seu coração batia, mas ele não se mexia ou respondia, nem mesmo a ambrosia fez com que retomasse um pouca da consciência, isso não era normal, isso não acontecia.

— Não adianta — Uma voz grossa, alta e em um tom rude ecoou em minhas costas, seguido por uma risada — Não vai acordar.

Me virei rapidamente, em posição de ataque, me colocando a frente de todos, meu corpo ainda estava fraco e cansado, e só agora comecei a sentir a dor do impacto do chute que havia dado naquele lestrigão, minha perna latejava e ardia, a dor começava a subir por meu joelho e coxa, se eu estivesse de pé estaria mancando.

Olhei para uma pequena multidão de pessoas que havia se formado ao nosso redor, a maioria de pijamas e os amigos de Lucas do bar, tentei me concentrar de que ponto aquela voz estava vindo.

— O pequeno filho de apolo é mais forte do que imaginávamos, eu admito, no último segundo resistiu ao seu medo — O que eu identifiquei como sendo uma voz masculina, riu — Mas estava desgastado demais, cansado demais, fraco demais.

E então uma figura alta e esguia sobressaiu do meio dos mortais. Um garoto mais velho, de jeans surrado, camisa preta e jaqueta de couro, com uma bandana cobrindo seus cabelos e de olhos flamejante como se um fogo vivo vivesse dentro deles, tinha uma faca presa no cinto. Logo o reconheci.

— Phobos — Grunhi contra o deus.

Ele sorriu cruel e sádico.

— Seu plano deu errado imbecil, eles mataram os lestrigões — Uma outra voz ainda mais grossa e violenta surgiu.

E um outro garoto apareceu atrás de Phobos. Usando uma armadura grega completa de cor preta, segurando uma lança afiada e suja de sangue, e exibindo feias cicatrizes no rosto.

— Deimos — Reconheci.

O deus do pânico me olhou com seus olhos tenebrosos e ameaçadores.

— Não meu irmão, só foram dois monstros, medimos suas forças, agora sabemos do que eles têm total pavor e medo — Phobos riu novamente, dando um passo a frente, o que me fez recuar e levantar os punhos.

Eles riram com desdém.

— O que pretende fazer maldita filha de apolo? Jogar glitter em mim? — Deimos falou com sua voz grave.

— O que vocês querem? Não deviam estar importunando seus irmãos ou um bando de jovens na floresta não?

— Nós queremos coisa maior filha de apolo, por que causar uma tempestadezinha em um copo de água quando temos o mundo inteiro?

— Do que vocês estão falando? — Fabrício falou ao meu lado, sem nem mesmo eu percebê-lo chegar, ele havia colocado Paulo ao lado de San, e estavam sob os cuidados de Webs e Lucas.

Novamente os irmãos do terror riram.

— Hoje, no acampamento — Phobos começou não tendo qualquer tristeza na voz — Tivemos uma grande tragédia não é mesmo? — Sorriu

— Vocês souberam o que aconteceu? — Fabrício falou.

— Claro, tantas preciosas vidas perdidas — Deimos disse, parecendo entediado com o próprio discurso.

— Quem poderia ter feito isso? Ah, é mesmo — Phobos riu mais uma vez, e cruzou os braços dirigindo um olhar psicótico para nós — Fomos nós.

— O quê?! — Fabrício gritou a plenos pulmões, sendo imediatamente segurado por Lusca — Por quê?!

— Bem... — Phobos olhou para o irmão — Por que fizemos isso mesmo Deimos?

— Diversão.

— É mesmo, foi bem divertido.

Fabrício se debatia nos braços de nosso irmão, tentando avançar contra os deuses, ignorando perigo que poderia correr, enquanto eu apenas estava horrorizada demais para fazer algo.

— Tinha crianças no meio dos mortos, crianças!

Os irmãos riam do desespero e angústia de Fafá.

— Mas calma, vocês nem escutaram a melhor parte — Phobos se aproximou, se ajoelhando perto o suficiente de nós, como se para contar um segredo, sua presença me fazia me sentir mal e com medo, eu me sentia como uma criança novamente, procurando me esconder do bicho-papão embaixo das cobertas, o problema era que ele estava bem na minha frente — Vocês sabem que não dá pra entrar no acampamento sem ser convidado, mas sabia que da pra controlar alguém de dentro? Incrível, não é? Agora adivinhem quem deixou os monstros entrarem — Ele sorria para mim, mudando o olhar imediatamente para um San desacordado — A traição de um solzinho.

Phobos e Deimos sorriram mais uma vez, e com um estalar de dedos, ambos sumiram, e a multidão de curiosos acordou.

Eu não sabia descrever a sensação que havia começado a se alastrar pelo meu corpo, mas eu estava começando a ficar anestesiada. O chão sumiu sob meus pés e eu esqueci como se respirava.

Aquilo não podia ser verdade, não. As pessoas falavam ao nosso redor, mas não escutava nada, Fabrício, Webs e Lucas me olhavam igualmente sem palavras. O bater do meu coração havia se tornado pesado e barulhento.

San havia deixado os monstros entrarem? Todos haviam morrido e se ferido por causa...dele? Não, ele foi controlado. Mas se como Phobos disse que ele escapou de seu controle agora enquanto lutávamos contra os gigantes, por que ele não lutou para salvar o acampamento?

Várias hipóteses e pensamentos martelavam na minha cabeça, enquanto encarava o corpo desarcado dele, sua pele alva e expressão inocente agora estava sujas para mim. Sujas de sangue.

Eu não relutei nem mesmo quando um grupo de viaturas se reuniu ao nosso redor, não reagimos quando fomos algemados e arrastado até os carros da polícia, não falei uma palavra enquanto um homem fardado gritava comigo.

E só retomei algum fio de consciência quando ao meu lado, Lucas segurava um telefone no viva voz, e uma voz familiar soou pelo aparelho.

— Eu preciso de você, eu fui preso.

— De novo — Uma voz feminina e irritada falou.

— Dessa vez não foi culpa minha, eu estou com o Webs, o Fabrício, o Paulo, a Laís e o... — Lucas fraquejou — O San, precisamos de você Bela.

Houve apenas silêncio por um tempo, então um suspiro cansado e por fim falou.

— Eu estou indo.


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