Over the Sunlight escrita por AnnaP


Capítulo 2
2 Over the Sunlight




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Dia 23/07

Fui dar um passeio pelo hotel enquanto Edward jogava uma partida decente de tênis com Phill. Passando perto do salão de eventos, vi Irina fofocando com as amigas e primas na porta. Ia desviar o caminho, mas o nome de Edward na rodinha chamou minha atenção. Como toda pessoa normal em uma situação dessa, eu me escondi para ouvir a conversa.

Irina estava contando que ia colocar um envelope com presente debaixo de uma cadeira específica, e que uma prima deveria se sentar naquela cadeira. Quando fosse anunciado que debaixo das cadeiras haviam envelopes especiais, ela diria que as pessoas poderiam usar os presentes ou presentear alguém. A prima, acho que aquela era Kate, deveria dar o envelope debaixo da cadeira dela para Irina. E aí acontecia alguma coisa com Edward que não consegui escutar porque elas se afastaram para colocar o plano em execução.

Esperei elas saírem do salão e rastejei, não literalmente, até a mesa que rondaram. Tive que olhar debaixo de todas cadeiras até achar. Voltei correndo para o quarto achando que estava sendo observada por alguém. Chamei mais atenção assim do que se tivesse andado normalmente.

Escondi aquele negócio o dia inteiro. Em alguns momentos me senti culpada. Cheguei a imaginar Irina pegando as câmeras de segurança e espalhando pela Internet fotos minhas de quatro debaixo das cadeiras.

Edward não aguentava mais os sustos que eu tomava toda vez que alguém chegava perto da gente.

Quando, enfim, chegou a hora de jantar, colei o envelope debaixo da cadeira dele. Eu estava exausta, parecia que tinha feito cinco passeios de bicicleta pela ilha.

— Bella, o que você fez? – Edward perguntou desconfiado. – O que eu vou precisar fazer por você?

Finalmente expliquei para ele o que tinha acontecido naquela tarde. Inclusive a parte de não ter tido coragem de ler o que havia no envelope. Eles eram lacrados com cera, eu não fazia ideia de qual bomba poderia estar escrita ali.

— Estou sentado em uma bomba relógio?

— Ou um pudim.

Edward explodiu em uma gargalhada inesperada que fez todos olharem para a gente.

— Você ri de cada coisa idiota, Edward. – Impliquei vendo as pessoas ainda olharem e comentarem sobre nós.

Chegada a hora de procurar os envelopes, Irina pediu para que todos que achassem um se levantassem para ler o prêmio em voz alta.

— Desculpa. – Falei para Edward.

Ele bateu com o envelope de leve na minha cabeça e levantou.

Na vez de falar, Edward assumiu sua persona homem de negócios. A postura mudou, a expressão do rosto e até a voz. Deve ser essa a forma que o diabo adota quando quer negociar a alma de alguém. Eu não negaria nada para ele nesse momento.

— “Parabéns, você foi um dos felizardos contemplados com nosso envelope premiado. O seu prêmio é: um jantar romântico para duas pessoas no restaurante abaixo. Você pode convidar alguém de sua preferência, ou presentear alguém.”

Quer dizer que Irina estava a fim de Edward? Ela teve esse trabalho todo porque queria sair com ele? Por que ela não foi até ele e chamou? Não que eu quisesse que isso acontecesse, mas era o mais normal a se fazer. A não ser que ela quisesse encurralá-lo na frente de todos, sem chance dele dizer ‘não’. Como se uma plateia fosse impedir Edward de fazer o que ele quer.

Edward se manteve impassível durante a leitura, eu me transformei em uma pilha de nervos para saber o que ele faria.

Irina estava com a boca escancarada ouvindo o envelope dela ser lido por outra pessoa. Alguma coisa me dizia que, apesar de tudo, ela estava feliz por ter sido Edward o portador. Talvez o fato dela não ter avançado na gente para tirar satisfação sobre o envelope.

— E então, Edward, o que você vai fazer? – Irina perguntou. – Tem alguém especial com quem você queira dividir o jantar? Alguém que você não teve coragem ou oportunidade de interagir? Aproveita a oportunidade!

— Não. – Edward respondeu simplesmente, e eu ri. Saiu um barulho estranho da minha garganta que fez Edward segurar o próprio riso. – Eu vou passar meu presente para duas pessoas que merecem: Renee e Phill.

Minha mãe pegou o envelope da mão de Edward, se segurando para não dar a volta na mesa e abraçá-lo. Ela me olhou como se pedisse para que eu o abraçasse por ela. Dei dois tapinhas nas costas dele enquanto ainda olhava para ela, perguntando se estava satisfeita.

— O que foi? – Edward perguntou, sem ter visto nossa interação.

— Deixa de ser boba, Bella. Mais tarde quando vocês estiverem sozinhos você vai agradecer a gentileza de um jeito muito melhor que eu sei. – Paralisei no lugar de vergonha.

O comentário deixou até Edward sem graça. Coisa que eu nunca tinha visto.

Eu fiquei pensando no que minha mãe tinha ouvido sair do nosso quarto para falar isso.

Demorou um tempinho para que todos os envelopes fossem abertos e distribuídos. Irina fez a contagem no caderninho e descobriu que faltava um. Novamente as pessoas apalparam debaixo de suas cadeiras procurando os prêmios perdidos. Irina andava de um lado para o outro, irritada porque ninguém achava.

Edward cutucou minha perna com a dele.

— Bella, você foi a única que não se mexeu. Lamento informar, você deve estar sentada no último envelope. – Edward apontou em volta as pessoas se lamentando.

Abaixei-me de má vontade e tirei o dito cujo da cadeira. A risada de Edward chamou a atenção da minha mãe, que gritou comemorando. Claro que fui obrigada a levantar para ler. Era um passeio de iate para duas pessoas. Eu nem havia terminado de ler e minha mãe já estava com o outro envelope estendido para trocarmos os presentes.

— Eu enjoo em alto mar. – Justifiquei para os olhares questionadores, me sentando de volta.

— Quem você vai levar? – Alguém em algum lugar do salão perguntou.

Olhei em volta como se estivesse fingindo escolher alguém, passando por Irina rolando os olhos e James sorrindo.

— O que me diz? – Perguntei para Edward, nervosa por chamá-lo para um encontro na frente de várias pessoas. – Jantar romântico para dois comigo?

— Claro. – O sorriso torto fez uma aparição em público.

Não sei dizer se o gemido que soou no salão foi meu ou de outra admiradora.

Fui salva de mais constrangimento por Irina, que pegou o microfone e encerrou a rodada de presentes.

— Bella, lamento te decepcionar, a data do jantar é dia vinte e oito, um dia depois da nossa volta.

Minha mãe já estava entretida com outras pessoas, ou teria esticado a mão para pegar mais esse envelope.

— Sério? – Li o que estava escrito no papel. Por isso ele havia passado o presente adiante. – Não acredito que vamos perder um jantar grátis nesse restaurante maravilhoso.

— Por que perder? Nós podemos ir amanhã mesmo. É só você pedir. Como está nossa agenda?

Depois que ele e Phill jogaram tênis juntos, começaram a fazer planos tardios para a gente. Edward ficou encarregado de descobrir as atividades disponíveis e fazer a agenda. Eu, Phill e minha mãe só teríamos que concordar e comparecer.

Comecei a ler no celular como seriam nossos próximos dias cheios de atividades.

— Amanhã de manhã nós temos o seu passeio de nove horas por Peal Harbor, History Chanel. – Fiquei cansada só de ler. – Não vai dar tempo de voltarmos para a ilha, trocar de roupa e ir até o restaurante.

— Depois de amanhã?

— Nós vamos para a fazenda fazer tirolesa pela manhã, passeio de helicóptero na parte da tarde. À noite, minha mãe e Phill têm compromisso e nós estamos livres para eu voltar para a minha vida sedentária na frente da televisão com os pés cansados para o alto.

— Entendi o recado, Bella. Desculpa ter concentrado todos os passeios para os últimos dias.

— Está tudo bem, History, a gente vai se divertir nos passeios. Você está finalmente fazendo bom uso do dinheiro que ganhou em troca da sua saúde mental. Só uma coisa me preocupa. – Edward inclinou a cabeça para o lado como um cachorrinho. – Eu espero que seu banco não suspeite das movimentações e bloqueie os pagamentos. Vai ser um mico se chegarmos nos passeios e descobrirmos que nossos pagamentos foram cancelados.

— Muito engraçada, Bella.

— Que bom que eu te divirto. – Apertei a coxa dele. – Minha missão está sendo bem sucedida.

— Muito.

00**00

 

Dia 26/07

Depois de termos feito todas as atividades em grupo possíveis que não incluíam o mar, Edward e Phill resolveram que queriam surfar. Apesar de nenhum dos dois fazer a menor ideia de como ficar em pé em uma prancha, não os desencorajamos e fomos para a praia com os celulares preparados para os tombos.

Eles estavam na areia tendo o pré-treinamento com o instrutor enquanto eu e minha mãe conversávamos debaixo do guarda sol.

— Bella, meu amor, eu não conheço muito do Edward, só o que você e as meninas contam, mas esse aí não se parece com nada do que ouvi. Ele é muito diferente do que eu tinha na minha cabeça. Isso que dá fazer a imagem da pessoa sem conhecer, a gente pinta uma personalidade completamente diferente.

— Não, mãe, o Edward está diferente mesmo. Ele teve alguns problemas na empresa que o levaram a se afastar de lá, então resolveu mudar um pouco as prioridades, repensar a vida. E o que saiu disso é o que você está vendo. – Mostrei-o deitado na prancha e pulando para ficar de pé. – O estresse parece que o sufocava, fazia com que fosse uma pessoa diferente do que realmente é. No fundo ele ainda é o mesmo que implica com tudo, mas sabe dosar muito mais as opiniões agora. Tem mais cuidado antes de falar, e está mais sociável. Não, não está mais sociável, isso não. Mas ele está se permitindo fazer coisas diferentes, e isso é incrível.

Só espero que na vida real as coisas continuem funcionando tão bem quanto aqui, que Edward se permita momentos de diversão e não só de trabalho.

— Você também é responsável por essa mudança?

— Não, mãe, não penso assim. Eu realmente interpretei muita coisa que ele fez diferente. – Contei para ela o exemplo de como ele me tratava no carro após uma bebedeira. – Mas o jeito dele falar sempre deu a impressão de estar bravo, assumi erroneamente que ele se preocupava mais com o carro do que comigo. O que estou tentando dizer é que ele sempre teve isso nele, esse lado bom, por assim dizer. Ele estar se permitindo viver agora é que o fez me enxergar, e não o contrário. Nós não teríamos funcionado em outro momento, teve que ser agora. O mérito é todo dele.

Acabei meu discurso e observei Edward e Phill em uma disputa acirradíssima de par ou ímpar. Não entendi quando os dois comemoraram ao mesmo tempo e começaram a rir.

— Você realmente gosta dele, não gosta? – Minha mãe não conseguia, e nem queria, esconder o sorriso. – Nunca vi você assim por ninguém.

— Porque eu nunca fiquei. Eu não gosto do Edward, mãe, eu o amo. Nunca tive um amor assim, me atingiu mais forte do que eu jamais esperei.

— Se esse menino não estivesse com você, nada disso teria acontecido. O seu amor o fez ser um novo homem sim.

— Mãe, não seja exagerada.

Lembrei-me que Edward havia dito algo parecido quando agradeceu pela minha paciência e por meu apoio.

— Você está corando, acho que não há exagero nenhum aqui.

Edward escolheu esse momento para vir até nós e avisar que ele e Phill finalmente entrariam no mar. Eu não perdi tempo, peguei o celular e me aproximei para filmar os tombos que com certeza viriam.

Eles não me decepcionaram. Caíram da prancha diversas vezes, tomando caldo atrás de caldo. Edward começou a ficar irritado, querendo desistir de tudo. Fui até ele e mostrei um vídeo em câmera lenta dele saindo da água, a prancha debaixo do braço, bermuda pendurada no quadril, passando a mão pelo cabelo para tirá-lo do rosto. Falei o quanto ele estava sexy e o que aquilo estava fazendo comigo. Se ele não continuasse por ele, que fosse por mim.

Demorou um pouco para finalmente os dois conseguirem ter equilíbrio e pegarem algumas ondinhas.

Eles se empolgaram tanto, que insistiram para que eu e minha mãe fizéssemos as aulas também. Obviamente minha mãe aceitou. Eu preferi me divertir assistindo.

Enquanto Phill a acompanhava, Edward sentou comigo na areia debaixo do guarda sol, alegando estar com dor de cabeça. Levantei os óculos escuro para olhar para ele, achando-o vermelho demais. Puxei o cós da bermuda, vendo a diferença de cor onde estava queimado e não estava.

— Parabéns, Edward, você esqueceu de reaplicar o protetor. E provavelmente está com insolação.

Ele virou os braços, puxou a bermuda e começou a proferir uma série de palavrões.

— Não adianta xingar, bonito. – Apertei o ombro dele, observando a marca dos meus dedos ficarem brancas e sumirem.

Entrei em contato com a recepção do resort e pedi encarecidamente para que arrumassem algumas coisinhas da farmácia e da cozinha.

— A noite vai ser longa. – Resmunguei.

— O que você está aprontando, Bella?

Fiz ele se virar e espalmei a mão nas costas dele. Tirei uma foto e mostrei a marca branca.

Você aprontou dessa vez, Edward. – Entreguei o celular na mão dele para ele ver a foto e fui avisar minha mãe que estávamos indo. – Vamos lá, baby, vamos embora.

— Bella, eu te amo, mas sem essa coisa de baby. E não tem necessidade de ir embora, eu saí do sol.

— Ah, nesse momento, e pelo resto do dia, você é meu baby, sim. – Juntei nossas coisas. – E você vem comigo, sim, ninguém deixa a Baby no canto. Levanta.

— O que?

— Nada. – Peguei uma garrafa de água que ainda estava cheia na mochila e entreguei para ele.

— Está quente. – Ele reclamou.

— Não, só não está gelada. Bebe. Você não tem opção. Você precisa se hidratar. Está sentindo alguma outra coisa além da dor de cabeça?

— Não. – Respondeu de cara feia.

Os pedidos que fiz para a recepção estavam arrumadinhos em cima do móvel da televisão quando voltamos para o quarto. Fiz Edward tirar a roupa e entrar na banheira vazia. Ele entrou, ainda emburrado e reclamando de frio.

— Toma, água de coco e seu remédio para dor de cabeça.

— Acabei de beber água.

— Não interessa, bebe. Você está muito vermelho, Edward. Vai beber agora tudo que não bebeu na praia.

Temperei a água da banheira para não ficar muito gelada, e deixei só um fiozinho descendo. Desse fio molhei-o aos poucos, aumentando gradativamente a água até tirar toda a areia e água salgada do corpo dele.

Quando não tinha mais chance de acontecer um choque de temperaturas entre o corpo dele e a água, fechei o ralo e deixei a banheira enchendo. Aproveitei para tomar um banho, eu também merecia tirar aquela areia toda de mim.

— Pena que eu não posso aproveitar o show direito. – Edward falou da banheira.

— Que show? – Coloquei a cabeça para fora do box. – Edward, você está delirando?

— Você tomando banho, esse show.

Que bom que ele tinha consciência de que não seria muito confortável se nos tocássemos agora. Era de se esperar que depois de tanto tempo de viagem a pessoa estivesse acostumado ao protocolo a ser seguido para ficar no Sol. Mas não. Edward resolveu arrumar encrenca no nosso penúltimo dia.

Ignorei-o e terminei meu banho.

— Você vai entrar aqui comigo?

Talvez não tanta consciência assim.

— Não. – Envolvi uma toalha no corpo e peguei outra para ele se secar.

Tentei fazer como Edward e não acrescentar mais explicações, mas não consegui. Eu precisava abrir a boca.

— Eu vou ficar longe de você pelo resto da tarde. Vou passar alguns cremes na sua pele agora, e você vai ficar bem quietinho na cama se hidratando mais. E nada de restaurante mais tarde, levantar da cama só para ir ao banheiro.

— Bella, você sabe que eu não estou doente, não sabe?

Ergui uma sobrancelha e encostei a mão besuntada de creme no peito dele. O contato do gelado com a pele quente fez com que ele estremecesse.

— Imagina, Edward, que delícia se arrumar para sair. A roupa roçando na sua pele ardida. O ar condicionado te deixando com mais frio.

Edward fez uma careta murmurando que não estava mais com frio. Ou dor de cabeça.

— Que bom. – Dei um selinho nele. Eu ia sentir falta de beijar esse homem a qualquer momento. – Agora vai deitar, na sua cama, e ficar quieto.

Ele queria se fazer de forte, mas não conseguia disfarçar as caretas enquanto andava até o quarto e se jogava na cama.

— É melhor mesmo eu ficar aqui sozinho.

Vesti o short do pijama e pensei em voltar para o quarto assim. Achei que seria crueldade com Edward e vesti o resto, deitando na minha cama para mexer no celular.

— Bella? – Um sussurro veio da outra cama.

— Oi. – Larguei o celular na cama e dei atenção a ele.

— Obrigado.

— De nada. – Alguns segundos de silêncio se passaram com ele ainda olhando para mim. – Você quer que eu vá deitar perto de você, não é? – Perguntei enfim.

— Se não for muito incômodo.

Homens não sabem sentir uma dor que o mundo deles se despedaça.

Tive que colocar uma barreira de travesseiros entre nós para evitar tocá-lo sem querer.

00**00

Dia 27/07

O céu estava pintado de tons de roxo, azul, laranja e amarelo. As palmeiras faziam uma moldura para o espetáculo. Era o nosso último dia no resort. Parece que em algum ritual de despedida nós ficamos acordados a noite inteira. Acompanhamos as horas passarem sentados na varanda, assistimos as cores do céu ficarem cada vez mais bonitas.

O sol ainda estava fraquinho quando descemos para dar um último passeio na praia. Edward sentou para falar ao celular, eu fiquei na beira da água implicando com ele por ter parado, jogando água com o pé.

A postura dele mudou de repente, ficando tensa, o sorriso que tinha no rosto para mim sumiu. Deixei que ele resolvesse os problemas dele e fui me distrair sozinha desenhando figuras aleatórias na areia. Estava concentrada em uma nuvem quando dois braços quentes e suados me envolveram.

— Pronta para ir? Temos que estar no aeroporto em três horas e ainda temos uma lancha para pegar.

Por quanto tempo nós ficamos perdidos aqui? Eu não tinha nem tomado banho, colocado uma roupa decente. Não esperava encontrar vida humana tão cedo, achei que fôssemos ficar só passeando pela praia, nos despedindo de tudo. O relógio dele que eu coloquei como mais um meio de não perder a hora não adiantou de nada.

Eu ia sentir falta de ficar o dia inteiro deitada olhando para o nada, só relaxando, nunca se estressando.

— Não! Eu não quero voltar para o mundo real, Edward! – Virei de frente para ele e o abracei pela cintura. – Por favor, me deixa aqui.

— Vou sentir falta disso tudo também.

— Ao mesmo tempo eu quero tanto voltar para a minha casinha, meu sofá, minha cama...

Edward segurou minha cabeça nas mãos e massageou meu couro cabeludo. Enfiei o rosto no peito dele e fiquei respirando o cheiro dele misturado com os cremes pós sol.

— Eu preciso te fazer uma visita. Minha última passagem por lá não foi muito boa, preciso melhorar minha imagem.

— Olha só você fazendo piadinhas, History Chanel.

— E olha só você enrolando para não voltar para o quarto.

— Acho que finalmente minha bateria acabou. Estou com preguiça de me mexer.

— Não seja por isso. – Edward me pegou no colo com a maior facilidade do mundo.

Prendi as mãos no pescoço dele e deixei que me levasse de volta para o quarto.

— Está ardendo muito? – Alisei o pescoço dele.

— Sim.

— Então me solta, Edward. Deixa de ser doido. Eu vou andando.

— Não.

O teimoso continuou me carregando. Eu poderia me soltar dele, mas ele me pegaria de novo. E eu estava confortável.

— O quão puta você ficaria comigo se te jogasse na água? – Ele perguntou entrando na água.

— Nem um pouco. Mas... Eu vou ter que demorar mais no banho, para tirar a água salgada. E você já não está vestido?

— O que te faz pensar isso?

— Você está de calça jeans na praia, Edward. Se não está pronto, é o que? Voltando aos velhos hábitos?

— Ela estava no chão, só vesti.

— Vestindo roupas do chão. Acho que te estraguei.

— Não. Não estragou. Você apareceu no momento certo para mim.

 – Ele me beijou.

— Eu te amo, Bella.

— Eu sei.

— Então vamos, Han Solo.

— Que orgulho de você pegando a referência. – Aproveitei que já estava pendurada nele e o abracei, recebendo um gemido de dor de volta.

— Convivência.

**

Em consideração a minha mãe, ou achando que eu apareceria mais vezes, alguns familiares foram até o lobby do hotel para se despedir da gente.

Todos sabiam que eu e Edward estávamos juntos, então, não foi surpresa quando ele parou do meu lado com a mão no meu quadril e me puxou para perto.

— Não esperem o casamento para aparecer de novo. – A irmã de Phill, Charlotte, falou depois de me dar dois beijos no rosto.

Alguém ia casar e eu estava sendo excluída da família novamente.

— Não estou sabendo de casamento nenhum, não tenho como saber se nos encontraremos antes ou depois dele.

Ao invés de ficar sem graça por ter falado demais, Charlotte riu.

— Bella, sua boba, o seu casamento!

— Com quem? – Do que raios essa mulher estava falando?

A plateia apenas riu, como se eu estivesse brincando.

— Muito obrigado. – Edward sussurrou no meu cabelo para somente eu ouvir.

— Aproveita que Edward tem dinheiro, Bella. Vocês podem casar aqui. – Peter, marido de Charlotte, insistiu.

Mas de onde saiu que eu e Edward casaríamos?

— É muita gente para eles trazerem, homem. – Charlotte riu para o marido. – Vai sair uma nota preta trazer todo mundo mais a hospedagem. A gente usa as milhas na viagem. Fica mais fácil eles só se preocuparem com a reserva do hotel.

— Vai ser bom viajar sem colocar a mão no bolso. - Alguém falou. Eu estava chocada demais para ver quem foi.

Eu fiquei ouvindo sem reação essas pessoas falarem esses absurdos por não sei quanto tempo. Edward tirou a mão do meu quadril e se moveu como se fosse falar alguma coisa, mas preferiu ficar calado. Ele deve ter visto que eu não tinha aprendido nada com ele e continuaria ouvindo aquilo tudo calada.

— Nós vamos perder nosso voo. – Edward pegou a minha mão.

Ele tomou a iniciativa de se despedir de todo mundo. Todo mundo não, da minha mãe e do Phill. Os outros ele solenemente ignorou.

— Eu falei que no fundo ele era o mesmo. – Eu disse no ouvido da minha quando a abracei.

— Não sem razão. Ele cuida bem de você, isso que importa.

Somente quando estávamos na lancha eu consegui abrir a boca e reclamar.

— Eles estavam fazendo planos para o nosso casamento, Edward! Por que? Se Rose estivesse aqui comigo, ela teria me sacudido para falar. Ou teria xingado todos eles por mim.

Eu quase te sacudi, Bella. Com todo o respeito.

— Como se sacode alguém com todo o respeito?

— Eu não sei. Caso tivesse que fazer, eu descobriria.

— E você queria xinga-los também, não queria?

— Não xingar, mas colocá-los nos lugares deles. Não fiz por consideração a sua mãe e Phill.

— Depois ainda perguntam porque eu fico sumida. Porque prefiro ficar com o meu pai.

— Isso quer dizer que essa foi sua primeira e última reunião de família?

— Foi sim. Próxima reunião em família só com a sua quando voltarmos. Mas você vai primeiro.

— Sobre isso, eu liguei para a minha mãe e contei sobre a gente. Contei que a senhorita não quer ir comigo até a casa deles quando voltarmos, ela disse que vai pessoalmente te buscar em casa. Ambos fazem questão da sua presença. Minha mãe disse que te ama como um membro da família, e se você é da família, tem obrigação de comparecer.

— Meu Deus, eu amo a Esme! Quando eu crescer quero ser igual a ela.

— Você vai dormir no meu quarto comigo, Bella?

— Aguarde. – Pisquei para ele.

00**00

30/07

O bar estava lotado. As pessoas gritavam, riam, cantavam, discutiam, beijavam... tinha de tudo!

Edward foi na frente, abrindo caminho até chegar na mesa em que estavam Leah, Jacob e Emmett. Seria a primeira vez que encontraríamos com ele.

Rosalie foi a primeira a nos ver. Ela olhou para as nossas mãos e rolou os olhos.

— O que? – Perguntei.

— Vocês vão ficar jogando isso na minha cara? – Ela fez um círculo no ar na nossa frente.

— Que bom voltar e ver que tudo continua do jeitinho que a gente deixou. – Sorri para ela.

Enquanto eu dava a volta na mesa para conhecer Emmett, Leah levantou e estendeu a mão para Edward.

— Leah, prazer.

Jacob fez o mesmo.

Emmett olhava para a interação sem entender nada.

— Achei que vocês todos se conhecessem. – Comentou.

— Conhecemos, mas não nos vemos faz muito tempo. Ele não deve mais se lembrar da gente.

— A memória do Edward é muito boa, Leah. – Pisquei para ele. – Até demais.

Edward puxou a cadeira para eu me sentar, porém se manteve de pé, perguntando o que eu queria para beber. Jacob e Emmett levantaram para acompanhá-lo até o bar.

— Eu ainda não acredito que agora você tem o meu primo todo só para você.

— Todo meu.

Rosalie me surpreendeu, se esticando por cima da cadeira entre nós para me abraçar.

— Eu estou muito feliz por vocês dois. Finalmente você desencalhou, e finalmente Edward... Não sei. Para mim ele continua a mesma coisa.

— Não mesmo. – Leah apontou para o bar.

Edward estava com a cabeça jogada para trás, rindo de alguma coisa que Emmett diza. Jacob estava dobrado sobre o próprio estômago.

Rosalie soltou uma gargalhada espalhafatosamente alta, continuando a falar no mesmo volume:

— Bella, o que você fez com esse homem na viagem? Você deu uma bela de uma chave de bu-buce-

— Rosalie! – Exclamei.

— Não seja puritana, Bella. – Ela disse mais baixo. – Você deve ter dado para ele até não poder mais.

— Sim! – E foi a minha vez de falar alto demais, fazendo as duas rirem da minha empolgação. – E pretendo continuar dando muito. Mas o bar todo não precisa ficar sabendo.

— Isabella, você está com o meu primo porque ele é um grande gostoso, ou você gosta dele? Quais suas intenções, mocinha? Conta aqui para eu avaliar se você merece entrar para a família.

— Rose... Ele é esperto, divertido... Belíssimo! E tem aqueles olhos que são... E o cabelo... Nossa! E um sorriso... – Suspirei.

— Vai para a porra, ficar citando Aladdin para mim. – Rosalie se esticou para me dar um tapa. Fui mais rápida e desviei da mão dela.

— Bella, deixa de ser idiota e responde o que a Rosalie perguntou.

— O que vocês acham? – Questionei as duas. – Se fosse só uma amizade colorida vocês acham mesmo que Edward estaria aqui? É porque ele é um grande gostoso, sim. E também porque ele é incrível! Ele é o homem mais atencioso que eu já conheci. Nem parece que é homem. Mas é.

— Eu só quero ouvir você admitir que está apaixonada por ele, Bella. – Rosalie rolou os olhos. – Não precisa me deixar com diabetes.

— Você acha que eu não vou falar? Pois eu falo! Eu estou muito apaixonada por ele, Rose. Eu amo Edward. Queria colocá-lo em um potinho e guardá-lo comigo.

— Potinho de exame de fezes. – Rosalie riu da própria piada.

Leah riu junto e deu a contribuição dela.

— Só tirar do potinho para trepar.

— Como você é baixa, Leah. – Rosalie riu e as duas ficaram por um tempo rindo sozinhas. – E ele te ama também. – Não foi uma pergunta, mas respondi mesmo assim.

— Sim. – Suspirei como uma mulher feliz que tinha Edward Cullen como namorado.

— Dá para ver nas fotos, no modo como ele te olha. – Leah falou.

Edward, Jacob e Emmett voltavam do bar ainda rindo.

— Só faltavam se lamber na frente da câmera. Pobres almas que conviveram com vocês, deviam se comer com os olhos o tempo todo. Tinha alguma praia deserta? Rolou sexo no mar?

Eu fiquei vermelha com a pergunta. Não, não havia rolado sexo no mar, mas a minha reação a faria pensar que rolou. Edward, estava de pé atras da cadeira esperando-a terminar de falar. Ele rolou os olhos e me salvou de ter que responder alguma coisa.

— Oi. – Ele sentou ao meu lado esquerdo e me deu um selinho. Rosalie fez barulho de vômito. – Então, Rose, quando você vai tomar vergonha na cara e apresentar Emmett para a nossa família?

Eu dei um cutucão em Edward para calar a boca.

Esperei o climão, que não veio. Rosalie ficou vermelha e Emmett deu uma gargalhada que tremeu a mesa.

— O que eu perdi? – Perguntei enquanto os outros riam.

— Rose está com vergonha de admitir para a família que tem um coração. – Leah entregou.

— Awn, que bonitinha. – Ia inclinar por cima de Emmett para apertar a bochecha dela, mas um olhar assassino me parou.

— Vocês são o máximo! – Emmett comentou empolgado. – Na próxima eu trago Alice e Jasper comigo, eles vão se amarrar!

— Não traga, não contamine mais pessoas, não faça isso. – Jacob falou para ele. – E se você puder, corra. E não olhe para trás.

— Homem, eu quero é mais. – Ele levantou e fez um hi-five com Jacob. – Vou ligar para eles virem para cá agora.

Emmett ligou para Alice, irmã dele, e a chamou para se juntar a nós. Ela deixaria a filha na casa dos avós e logo chegaria. Mas pediu algo em troca para ele.

— Ursinha, nós vamos ter que ficar de babá da Audrey semana que vem, tudo bem, bebê?

A mesa ficou em silêncio.

Eu troquei um olhar com Leah, que estava vermelha de tanto segurar o riso. Ela deu uma engasgada que foi o meu fim, explodimos em uma gargalhada deliciosa de doer a barriga. Jacob e Edward acompanharam. Rosalie nunca esteve com mais vergonha na vida.

— Ok... Bella... – Edward tentava falar entre risos. – Nunca... Ursinha! – Mais risos. – Não...

E mais risos.

— Vão todos tomar no cu. – Rosalie só deu mais motivos para rirmos. – Vou ao banheiro. Vocês têm até eu voltar para parar com essa palhaçada.

Nós demoramos um longo tempo para finalmente sessar com os risos.

— A minha barriga está doendo, eu não consigo respirar. – Apoiei a testa no ombro de Edward. – O que você ia falar? – Perguntei para ele, sem fôlego. – Me distraia ou vou começar a rir tudo de novo.

— Não me deixe ficar longe disso de novo. Por favor.

— Não deixo. – Fiz carinho no rosto dele. Ele pegou minha mão e a beijou. – Você está preso com a gente agora.

— Eu te amo. – Eu disse que o amava também antes dele me beijar.

— Eu vou voltar para o banheiro.

FIM


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