Over the Sunlight escrita por AnnaP


Capítulo 1
Over the Sunlight


Notas iniciais do capítulo

A história era para se passar na Austrália no Natal, virou férias de verão no Havaí. Mesma coisa.

Baseada na música 'Cool' da Dua Lipa (essa música vicia, cuidado!) que estava no combo 1 da minha amiga secreta, e em qualquer outra música que tocava que falava sobre verão e Havaí.

Vão ler e amar. Até!



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Over The Sunlight – Capítulo único

 

Era uma sexta-feira quente no meio de junho em Seattle. Reuni meus três amigos em um bar para eles darem suas ácidas opiniões em uma questão que estava me rondando desde a segunda-feira.

— Preciso da ajuda de vocês. – Avisei.

— Não. – Rosalie, sempre simpática, falou.

— Eu finalmente terminei minha pesquisa e consegui minhas férias. – Ignorei-a. – O problema é que elas serão agora em julho.

— E para que você precisa de ajuda nisso? – Rose perguntou.

— Nisso em si, nada. – Comecei, ganhando um rolar de olhos de Rosalie. – Mas a minha mãe me convidou para a reunião de família no Havaí. Eu estava tão feliz por ter um tempinho para mim depois de tanto tempo, que acabei dizendo sim. Não sei o que deu em mim. Vou ter que passar alguns dias das minhas férias lá.

Há pelo menos vinte anos a família da minha mãe e a do meu padrasto se reúnem para passar o verão juntas. Quando eu era criança, não tinha opção a não ser ir junto. Na adolescência, aprendi a usar meu pai como meu salvador. Eu ia para Forks, o completo oposto dos lugares paradisíacos que eles escolhiam. Eu aproveitava a época para trabalhar e juntar um dinheirinho.

— Continuo não vendo o problema. – Rosalie insistiu.

— Por que deram as férias tão em cima da hora? Eles têm alguém para colocar no seu lugar? Quando você voltar vai estar cheia de trabalho acumulado. De novo. – Leah demonstrou sua preocupação.

— Porque sim. – Dei de ombros. Eu só aceitei, não pedi muitas explicações. – E a indústria farmacêutica alimentícia sobrevive sem mim por alguns dias, Leah. O meu problema aqui é: quem nós conhecemos que seja solteiro e esteja disposto a ir comigo nessa viagem, com quase tudo pago?

Eu não sabia de onde tinha vindo essa ideia. Eu não tinha parado para formular muito dela, nem entendê-la. Desde que desligara o telefone com a minha mãe, só conseguia pensar nisso. Joguei no ar para eles me ajudarem. Ou me desencorajarem.

— Eu posso fingir que sou solteiro e ir para te fazer companhia. – Jacob se ofereceu. – Sem problemas.

— Obrigada, Jake, mas minha família te conhece.

— Eu sou solteira! – Foi a vez de Rosalie se oferecer.

— Eles também te conhecem, Rose.

— Tenho muitas dúvidas. – Leah sempre tinha muitas perguntas para fazer. – Por que você quer levar alguém? Por que tem que ser solteiro? E a mais importante de todas: por que não disse ‘não’? São tantos anos fugindo da convenção das bruxas, perdeu o jeito?

Comecei a responder pela pergunta que era mais fácil.

— Vamos lá. – Sentei melhor na cadeira para começar a tentar me explicar. – Acho que eu queria ir. Meu subconsciente se agarrou às palavras ‘resort de luxo’ e plantou a imagem do paraíso.  Quem sou eu para negar uma vida de luxo em um resort por algum tempo? – Mostrei o site do lugar para eles.

— Resort de luxo? Você é uma vaca mesmo por não levar a gente. – Rosalie reclamou passando as fotos no celular.

— Queria que a minha família fizesse isso também. – Jacob comentou.

Enquanto eles dissecavam o site do resort, segui nas respostas às perguntas de Leah.

— Eu quero levar alguém porque não é só a minha família, tem a do Phill também, e eu não tenho muito contato com nenhum deles. Depois de todos esses anos afastada, tem bastante gente que eu não conheço. – Fiz uma pausa para saber se eles estavam ouvindo. Estavam. – Queria levar alguém de casa para me fazer companhia. E tem que ser solteiro por motivos óbvios de eu não querer namorada alheia no meu pé. Convenhamos, nós vamos usar pouquíssima roupa lá. E vamos dividir um quarto.

— Para de enrolar, eu te conheço muito bem, Isabella Swan. – Rosalie apontou um dedo para mim. – Você poderia muito bem mimar suas amigas aqui e nos levar. Você quer um cara para fingir que é seu namorado.

— Sim. – Admiti derrotada.

Essa era a ideia patética que eu tentava esconder de mim mesma. Eu sabia que seria alvo de todos os comentários possíveis, muitos deles sobre minha solteirice. Acho que, novamente ele, meu subconsciente colocou a sementinha para eu arrumar alguém para esfregar na cara de todos.

— Eu falo para vocês dois que os livros e a televisão estão comendo o cérebro dela aos poucos, que precisamos fazer uma intervenção. Ninguém acredita em mim. – Rosalie falou convencida, mexendo nos longos cabelos louros. – Vai como a prima solteirona mesmo, Bella. Se assume.

— Faz amizade lá, para variar. – Leah rolou os olhos. – É a sua família.

— Muito tarde para fazer amizade. Eles se ressentem por eu nunca ter me aproximado. Por eu ter preferido o meu pai. – Cada família com seu problema. – Mesmo se eu for com uma de vocês duas, eles vão me olhar com pena por ter levado uma amiga. E se eu não vou ouvir calada quando derem palpites na minha vida, imagino vocês duas encrenqueiras me defendendo. – Eu não conseguia nem imaginar o jeito nada meigo de Rosalie e Leah de lidar com a vida no meio de uma família de fofoqueiras. – E tem mais, se vocês que são meus amigos, mais família do que eles, reclamam das minhas escolhas de diversão, imagina eles?

— Treinou o discurso em casa? – Jacob brincou.

— Ela tem razão, nossa bichinha vai sofrer bullying. – Leah se convenceu com meu discurso, que não fora ensaiado. Eu queria ter pensado nisso antes. – Vamos ajudar a Bella. Como?

Os três começaram a debater quem poderiam intimar para me acompanhar.

— Eu pensei em alguém. – Rosalie arregalou os olhos e olhou séria para os três. – Ou vai dar muito certo, ou a Bella vai ser presa e nunca mais a veremos.

— Quem? – Perguntei quase animada diante do exagero dela.

— Meu primo. – Todos olharam para ela esperando que esclarecesse. – Edward, seus idiotas.

— O Cullen?

— Não, Mãos de Tesoura. – Bufou sem paciência. – Óbvio que é ele.

Edward Cullen é primo de Rosalie e nosso amigo. Nosso amigo antissocial que trabalha mais do que vive, mas ainda assim nosso amigo. Assim como Rose, o senso de humor dele é um pouco estranho. Enquanto Rosalie é grossa, mas daria a vida por qualquer um de nós, Edward fala o mínimo possível, é sempre muito direto e sincero quando fala, e prefere o trabalho à nossa companhia.

Quase nunca o vemos, é uma vez por mês depois de muito convencimento, e às vezes nem isso. É impossível conseguir falar com ele até por mensagem ou telefone. Se for uma emergência, ligue para qualquer pessoa, menos para ele.

E se estou falando sobre Edward Cullen, é preciso ressaltar que ele é homem mais lindo que existe nesse mundo. A beleza desse homem precisa ser enaltecida. Eu perco o rumo toda vez que meus olhos o encontram. Quando fico muito tempo sem vê-lo, acho que da próxima vez o encanto vai se perder e ele será uma pessoa normal. Nunca acontece. Pelo contrário, parece que cada vez o homem fica mais bonito, e eu mais embasbacada.

Nós tentamos ficar juntos uma vez, alguns meses depois de nos conhecermos. Estava tudo maravilhoso, as mãos enormes dele fazendo um trabalho incrível em mim, mas a bolsa de valores de algum lugar o deixou muito preocupado e as coisas não funcionaram direito. Ele foi embora do meu apartamento e eu tive que aproveitar a memória do que quase aconteceu para aliviar a tensão. Nunca mais tivemos clima para nada. Depois disso, ele foi ficando mais cheio de trabalho e aparecia cada vez menos.

O nome dele chegou a passar pela minha cabeça, claro, mas eu empurrei para o fim da lista. Apesar de ambos termos em comum o amor por nossos empregos, Edward vivia para o dele vinte e quatro horas por dia, enquanto eu sabia parar para respirar e ter uma vida. Eram vidas completamente diferentes.

— Como você acha que Edward vai me ajudar? – Questionei Rosalie sobre a ideia idiota dela. – Você acha que ele vai se afastar do trabalho por mim?

— É a única opção que você tem se quiser seguir com esse plano maluco. Nada o impede de trabalhar de lá. Vai deixar a mulherada louca com aquele jeito mandão. – Rosalie deu um gole na cerveja enquanto Leah concordava com ela. – Sem contar que essa viagem pode ser ótima para ele, sabe-se lá há quantos anos Edward não tira férias ou folga. Não é como se ele tivesse outros amigos para ajudá-lo a encontrar um caminho na vida. E se tem, são todos viciados naquela empresa como ele.

— Olha, ela tem um ponto. – Jacob falou. – Vocês podem acabar se matando porque ele vai trabalhar a viagem toda? Pode ser. Mas pode ser também que o calor derreta os neurônios dele, e então ele não terá forças para existir como empresário fodarástico. Talvez vire humano de novo.

— Olha, pode ser que isso dê certo. – Comecei a concordar com eles.

Jacob e Rosalie tinham um ponto. Vai ver Edward só precisava de um empurrãozinho para fazer algo bom por alguém. Para sair da toca e interagir mais.

— Para de concordar com isso, Bella, não faz sentido nenhum. – Leah tentou jogar água na minha fogueira.

— Fez sim, Leah. Bom, na minha cabeça fez. Eu sei que ele pode acabar não ajudando em nada, só trabalhar e me deixar sozinha. Mas...

— Você vai falar com ele? – Rosalie perguntou, muito feliz com a ideia de que nós dois serviríamos de entretenimento para ela.

— Não sei. Com certeza ele vai rir da minha cara e me chamar de idiota. Imatura. Ou qualquer coisa que ele prefira para dizer que eu posso simplesmente dizer não para a minha mãe e fazer outra coisa da minha vida.

— Não tem como duvidar de que é parente da Rosalie. – Leah comentou o óbvio.

— Bella, se você não tem medo de mim, não precisa ter medo dele. – Medo de Rosalie eu realmente não tinha, mas não havia ninguém que não ficasse intimidado por ela. Instinto de auto preservação. – O que você acha que ele vai fazer com você?

— Me humilhar? Zombar dos meus sentimentos? Ele é sempre muito sincero.

— Isso tudo eu faço. E eu ainda posso te agredir fisicamente, ele não.

— Desde quando você pode me agredir fisicamente, Rosalie Hale? – Ela fingiu que ia me socar. – Ok, ok, entendi. – Encolhi-me e me afastei.

Olhei em volta para ver se alguém no bar tinha visto a quase agressão, mastodos seguiam com suas vidas.

— Edward não é mau. – Jacob, assim como Rosalie, estava engajado em ser time Edward hoje. – Ele só vive no mundo dele. É ocupado demais. Nas raras vezes que sai com a gente ele até consegue se divertir.

Não muito para querer repetir a dose sem que tenhamos que insistir.

— Jacob, por que você está defendendo tanto o Edward? – Leah perguntou, ela era a única que não via sentido na escolha dele para essa viagem.

— Sei lá. É a única opção que a Bella tem.

— Nossa, Jacob, obrigada. Achei que vocês quisessem me ajudar, não me fazer de tema para debate de vocês.

Rosalie pegou uma batata frita e jogou em mim para chamar minha atenção.

— Se quiser eu vou junto conversar para apoio moral. Eu posso bater nele também.

— Não sei ainda se eu vou. Em todo caso, não quero plateia para a minha humilhação, obrigada. Vou tentar pensar em mais alguém.

Eu não conseguiria pensar em ninguém. Não tinha ninguém. E agora que o nome de Edward estava oficialmente na lista, meu cérebro criou várias imagens de nós dois nas areias do Havaí pegando sol.

— Bella, eles têm razão. - Leah estava com as sobrancelhas franzidas, pensando em alguma coisa. A mesa ficou em silêncio esperando. Pensa no que a Rose falou, levar o Cullen vai fazer muito mais vista com a sua família. Imagina só ele chegando com aquela pinta de investidor da bolsa de valores, dirigindo toda a atenção só para você. Sua família não vai nem lembrar da sua existência.

— Quando eu conseguir arrastá-lo para fora do quarto. – Ergui uma sobrancelha para ela. Agora até Leah era time Edward. – Que merda, por que eu não conheço ninguém? E nem vocês? Reclamam que eu não saio de casa, mas vocês saem e não tem tantos amigos assim também. Agora eu preciso de amigos e olha só, ninguém tem.

— Eu só preciso de vocês e os caras da Reserva mesmo. – Jacob falou. – Eles seriam uma ótima opção, se sua mãe não os conhecesse.

— Urgh!

Rosalie chamou um garçom e pediu algumas bebidas. Mais bebidas. Se antes não estávamos raciocinando muito bem para resolver o meu dilema, as coisas só ficariam piores.

— Precisamos de algum álcool para encorajar a Bella a chamar o Edward. Ela se meteu nessa, vamos afundá-la de vez.

— Eu vou passar tanta vergonha na frente dele, Rose.

— Não vai não, eu sei que você vai xingá-lo e ir embora antes que ele tenha a chance. Ah, Bella, uma coisa muito importante que talvez você não lembre: Edward não bebe. Saúde! – Brindou.

Não bebe e odeia bêbados. Nas poucas vezes em que saímos, ele foi o motorista. Era horrível ficar do lado dele ouvindo-o perguntar de cinco em cinco minutos se eu ia vomitar em seu precioso carro.

Quando, se, eu conseguisse conversar com ele, provavelmente viraria piada. Ele diria que a ideia é fruto da minha mente bêbada e não me ajudaria.

Como eu previ, foi impossível falar alguma coisa que prestasse depois de mais álcool. O nível da conversa desceu um pouquinho.

— Bella, sabe o que você pode fazer? – Leah perguntou, pedindo silêncio com as mãos como se fosse soltar a solução de todos os meus problemas. – Um mantra para a viagem: o que acontece no Havaí, fica no Havaí. – Até Rosalie fez cara feia para essa. – Não, gente, prestem atenção. O que eu quero dizer com isso é: vocês dois podem se matar, se pegar, fazer o que quiserem lá. Depois volta cada um para sua casa. Quer dizer, você volta para a sua casa e Edward volta a trabalhar e some da nossa vida. Ninguém precisa comentar sobre o assunto novamente. Nem precisam contar para a gente. Vocês podem fazer uma coisa de amor de verão, com tempo de validade.

Depois que ela explicou, minha mente bêbada viu que não era uma má ideia. Pensei rapidamente nos prós e contras.

Eu estava pensando em ter alguma coisa com Edward durante a viagem sem nem saber se queria que ele fosse.

Sem nem saber se ele toparia ter alguma coisa comigo.

A humilhação me aguardava.

Um ponto a favor é que não seria a primeira vez que nós ficaríamos juntos e seguiríamos a vida como se nada tivesse acontecido. Funcionou da primeira vez, nada impede que funcione novamente.

Só de pensar nos beijos de Edward um calor tomou conta do meu corpo.

Abri a boca para tomar um gole da cerveja gelada na garrafa, mas acabei fazendo um discurso de bêbada.

— É estranho ter um crush nele. – Comecei, largando a garrafa na mesa. – Porque ao mesmo tempo que Edward é meu amigo, ele não é. Quero dizer, ele nunca está perto. É como se eu tivesse um crush no primo da minha amiga. Que eu nunca vejo, mas sei que existe. Eu amo o Edward como meu amigo, faria de tudo por ele, mesmo assim eu tenho um crush nele. Tenho uma cobiça naquele homem que não é coisa de amigos. Não mesmo. Não são pensamentos de amigos. Ele me faz perder o controle, eu fico pegando fogo por causa dele. Faz sentido?

Os três me olhavam como se eu tivesse acabado de ler uma das minhas fórmulas químicas. Não sei se eu queria que eles respondessem, não sei nem se esperava alguma coisa deles, mas não esperava as caras confusas que fizeram.

— Eu não lembro quando foi a última vez que Edward nos apresentou uma namorada. – Foi o que Jacob escolheu falar depois do meu desabafo.

— Ele deve pagar prostitutas para irem até o escritório dele chupá-lo debaixo da mesa. – Foi a contribuição de Rosalie.

Se ele realmente fazia isso, eu podia me oferecer para fazer por elas. O tanto que ele ficaria agradecido pelo dinheiro poupado e pelas chupadas.

Era hora de parar com a bebida.

Girei a cabeça para saber se não havia soltado o pensamento em voz alta. Nenhum dano causado a minha moral.

— Olha o quanto de atraso o cara tem para tirar. – Leah acrescentou, olhando de cara feia para Rosalie pelo comentário sobre as prostitutas.

— Bella também tem muito atraso para tirar. Cheia de teias de aranha. – Conte sempre com Rosalie para fazer os comentários mais desagradáveis sobre você em voz alta. – Se realmente acontecer alguma coisa entre você e Edward, não me conta. Ele é família, seria nojento.

— Para mim você não tem opção, tem que contar! – Leah se animou. – Ele tem cara de que fode muito bem.

Jacob arregalou os olhos para ela, sabendo que deveria ficar calado.

— Eu sei. – Rose tomou um gole da própria cerveja. – Mas eu não quero saber desses detalhes. Imagina esses dois com ódio um do outro fodendo, que delícia? Eu nunca mais ia tirar a imagem da minha mente.

Quando a conversa tomou esse rumo? Quando perdemos o controle do que estávamos falando? Não era para eu estar imaginando tantas vezes como era ter as mãos de Edward passeando pelo meu corpo. Muito menos em público.

— Rosalie, cala a boca! – Implorei choramingando.

Essa conversa ia me levar a uma longa e fértil madrugada.

Ou um banho gelado.

— Ela vai querer ligar chorando para contar. Vai ser uma experiência transcendente para a nossa Bella. Liga para a Leah, não me traumatize.

— Aguardo sua ligação, Bella.

00**00

Não tinha para onde eu fugir. No domingo pela manhã tomei coragem e enviei uma mensagem para Edward perguntando se ele estaria em casa. Depois de receber um simples “Por que?”, falei que precisava conversar com ele. Ele pediu que eu falasse ali mesmo. Tive que insistir, e até mentir que o assunto era urgente, para que ele concordasse que eu fosse até lá.

Isso não estava começando bem.

Contei para Rosalie que a humilhação estava começando mais cedo do que eu imaginava, a filha da puta enviou um áudio de quase um minuto rindo da minha cara.

Achei que depois da bebedeira ela fosse dizer que a ideia não era boa, que eu deveria me empoderar e ir sozinha para a viagem. Só me iludi.

Cheguei na porta da casa de Edward depois do almoço, por volta das duas horas da tarde. Ele estava de calça jeans preta e camisa social branca com as mangas enrolada até os cotovelos. Dentro da própria casa, em pleno domingo.

Era uma visão maravilhosa, por um momento esqueci o que estava fazendo lá.

Ele abriu um sorriso mínimo quando me viu tirar o sapato na porta, mania minha, não dele. O sorriso me deu vontade de despejar tudo de uma vez e implorar para ele ir comigo.

— O que de tão importante você precisa conversar comigo que não podia ser pelo telefone, Bella? – Edward perguntou depois que nós fomos para a cozinha.

Eu estava sentada em dos banquinhos da ilha enquanto ele terminava o próprio almoço no fogão, me deliciando com o cheirinho que saía das panelas. Ofereci ajuda, para distrair a mente enquanto conversávamos, ele recusou.

— Prefiro esperar você terminar, não quero falar com as suas costas.

Ele não rebateu, continuou a mexer no que tinha no fogo.

Para uma pessoa tão metódica no trabalho e na aparência, a cozinha dele estava uma completa bagunça. Aquilo me irritou e acabei me levantando para arrumar. Joguei algumas embalagens fora, lavei talhares, pratos e copos, e guardei o que não seria mais usado na geladeira e armários. Se ele demorasse mais um pouco, eu passava um pano no chão e lavava as panelas.

— Vamos lá para fora. – Apontou para as portas duplas que davam para o quintal atrás da casa.

O lugar era aconchegante, uma varandinha com uma mesa de quatro cadeiras de madeira escura, alguns sofás super acolchoados e uma lareira no meio para os dias mais frios. Nunca tínhamos usado aquele lugar antes, apenas conhecíamos a existência dele.

Edward colocou um pouco de comida no garfo e fez uma pausa antes de colocar na boca.

— Fale.

Eu enrolei, dando um gole no suco de laranja que ele havia me servido.

— Não sei como começar a te falar isso. E não me diga para começar pelo começo. – Acrescentei a última parte sabendo que ele diria exatamente isso. – É o seguinte. Eu vou tirar férias no mês que vem, em julho. Foi de última hora, então eu não tinha nada planejado porque não sabia que teria que tirar agora. Foi inesperado. Enfim. – Sacudi a cabeça para ter foco depois de ficar repetindo a mesma coisa. – Eu não queria ficar no mesmo lugar de todo dia, então acabei concordando com a minha mãe que iria com ela para o Havaí em um encontro de família no verão. – Edward ergueu uma sobrancelha. Naquele gesto eu sentia todo o julgamento dele. Fechei os olhos por alguns segundos para ter coragem de falar a parte dois. E para bloquear o efeito daquele gesto no meu corpo. – Eu queria, quero, alguém para ir comigo. Rose, Jake e Leah não podem. Sobrou você.

Edward agora ergueu as duas sobrancelhas. Teria sido melhor se eu tivesse conversado com as costas dele enquanto cozinhava.

— Eu? Quando eu virei uma opção? O que fez você achar que eu aceitaria?

Fiquei olhando para ele, mordendo os lábios enquanto pensava em como responder.

— Bella, não enrola, fala de uma vez. – Pediu sem paciência.

— Edward, você trabalha demais. Quando foi a última vez que teve uma folga? – Ele abriu os braços como se dissesse “olhe em volta, não estou trabalhando agora”. O que eu achei estranho, não era como se ele realmente usasse os fins de semana para descansar. E pensando agora, ele respondeu minhas mensagens muito rápido. – Mas o seu computador está ligado em algum lugar dessa casa. – Ele negou com a cabeça. – Seu celular está tremendo no bolso, cheio de mensagens, telefonemas e e-mails que precisam ser respondidos? – Ele negou de novo. Eu parei de perguntar e arregalei os olhos. Devia fazer mais ou menos uma hora que eu estava ali e Edward não havia mexido no celular uma única vez. – O seu celular ao menos está no seu bolso?

Ele se mexeu desconfortavelmente. O que estava acontecendo? Fiquei esperando uma explicação que não veio.

— Edward Cullen, não me faça jogar o seu nome no Google para descobrir que perdeu todo o seu dinheiro e esse é o seu último dia nessa vida de luxo. – Abri os braços como ele fez.

— Não. – Foi a simples resposta que tive. Alguma coisa no meu rosto entregou que eu ia insistir até que ele explicasse o que estava acontecendo. – A vida não é um filme, ou livro. – Edward respirou fundo. – É imprevisível.

Fiquei em silêncio, torcendo para que ele completasse o raciocínio e me contasse alguma coisa sem eu precisar realmente insistir. Estava quase pegando um copo para jogar nele quando resolveu abrir a boca.

— Na segunda-feira passada, um dos meus sócios, Peter, morreu na minha frente. Ficou agonizando no chão sem ar por alguns minutos enquanto eu tentava ajudar de alguma forma e ligar para uma ambulância. – Ambos respiramos fundo quando ele fez uma pausa. – Eu gritei por ajuda, mas as pessoas do escritório só olhavam assustadas de seus lugares enquanto continuavam a trabalhar. Prioridades. Quando os paramédicos enfim chegaram, era tarde demais.

O Edward abalado na minha frente nada tinha a ver com aquele poderoso que eu conhecia. Eu ainda processava tudo enquanto ele continuava a falar. Edward contou que teve um daqueles insights de que a vida passa muito rápido, viu que estava se acabando de trabalhar e não estava aproveitando nada. Ele se demitiu.

Edward Cullen estava desempregado. Era uma realidade estranha da qual eu nunca achei que fosse fazer parte.

— Edward... Você conversou com alguém sobre isso?

— Não. Você é a primeira a saber. – Eu queria tocar a mão dele, mostrar apoio, mas não tive coragem. Tive medo dele se fechar.

— E como você está? Quer dizer, bem você não está se chegou ao ponto de pedir demissão. Você quer conversar mais? Desabafar mais?

— Obrigado, mas não. Eu realmente não estou bem, mas também não estou mal. – Ele colocou uma garfada na boca e mastigou antes de voltar a falar. – Eu não parei de trabalhar do dia para a noite, não teria como. Continuo indo até a empresa duas vezes por semana, e fazendo o resto de home office. Por mais que eu queira, não tenho como deixá-los sem dois sócios de repente. Sem contar que ainda preciso encontrar alguém que compre a minha parte.

— Quando encontrar, você vai fazer o que com a sua vida?

— Nada.

Eu fiquei assustada com a resposta dele. Vim aqui fazer uma proposta maluca para Edward, nunca achei que fosse encontrá-lo perdido na vida.

— O que? Como assim?

— Nada, tudo. – Ele respirou fundo. – Não sei por onde começar a fazer alguma coisa. Não sei nem se eu sei fazer outra coisa além de trabalhar.

Edward continuou a comer enquanto eu o olhava de boca aberta. Chocada demais para fazer qualquer comentário que fosse.

— A viagem. Fale mais sobre ela. - Ele mudou de assunto.

Eu pisquei, e ele estava recuperado de tudo o que falou, com uma sobrancelha erguida esperando que eu começasse a falar.

— Phill pagou como presente para mim e um acompanhante, ele sabe que eu nunca iria sozinha. – Ergui as sobrancelhas, perguntando se estava realmente tudo bem voltar a falar sobre a viagem, anulando tudo o que ele havia acabado de falar. Edward acenou com a cabeça e pediu que eu continuasse. – O pacote é completíssimo, não precisaremos mexer na carteira para praticamente nada. A família da minha mãe vai estar lá com a família do Phill, vou ficar deslocada. Não sou a melhor das pessoas para fazer amizades. Mesmo que a pessoa me fazendo companhia seja você, eu prefiro.

Eu não precisava falar para Edward sobre a parte de que todos achariam que ele era meu namorado. Agora que eu estava de frente para ele, tinha certeza de que nunca conseguiria pedir para que ele fingisse estar comigo.

— Que bom que você trabalha em um laboratório transformando comida em pílulas, se fosse depender da comunicação para ganhar dinheiro estaria passando fome.

— Exatamente!

— Estou falando sobre seus argumentos para me convencer a ser seu acompanhante, Bella, e não sobre sua inabilidade em fazer amizades.

— Está vendo, é disso que estou falando. Eu sei que em algum momento da viagem vamos tentar jogar um objeto na cabeça do outro, mesmo assim ainda acho que essa ideia pode dar certo. Essa viagem pode ser muito boa para a gente.

— Você quer que eu te acompanhe em uma viagem para o Havaí por um mês?

— Não vai ser um mês, são dez dias. – Interrompi. – Nós chegaremos dia dezessete de julho, e ficaremos até o dia vinte e sete. Minha mãe vai continuar por mais um tempo, mas eu tenho um limite. Eu quero ter um tempo para mim depois. Pensa com carinho, Edward. Por favor. Antes achei que você fosse passar a viagem toda trabalhando, agora você tem tempo para me fazer companhia de verdade. Vai ser bom para você também. Colocar a cabeça no lugar, decidir o que fazer da vida, relaxar. Qualquer coisa, a gente faz um “o que acontece no Havaí, fica no Havaí” e finge que essa viagem nunca aconteceu. Por favor!

Eu estava tentando convencê-lo com a ideia maluca da Leah. Estava usando o que tinha. Edward ficou me olhando, a cabeça inclinada como se tentasse descobrir como a viagem seria apenas olhando nos meus olhos. Sustentei o olhar dele, tentando não ficar deslumbrada e acabar corando igual uma boba.

— Tudo bem. Eu vou com você. – Ele finalmente anunciou, desviando primeiro os olhos.

— Sério? Sério mesmo? Você não está brincando comigo? Está?

— Estou falando sério, Bella. – Eu soltei um grito que quase deixou os dois surdos. – Não faz eu me arrepender disso, Bella.

— Desculpa!

Meu celular vibrou em cima da mesa com uma mensagem de Rosalie. Li em voz alta para ele.

Se Edward disser não, me avisa que eu soco a cara dele! — Terminei de ler. – Se eu não conhecesse a família de vocês, ia pensar que foram criados por bárbaros. – Tomei coragem e toquei a mão dele do outro lado da mesa. – Obrigada, Edward. Eu vou fazer essa viagem valer a pena para você também. Confia em mim.

00**00

Dia 17/07

Ele já estava se arrependendo.

A secretaria de Edward, ele ainda tinha uma, velhos hábitos demoram a morrer, entrou em contato com Phill e trocou todas as nossas passagens para primeira classe. Além de estarmos literalmente nas nuvens por conta do avião, os espaços que ocupávamos eram tão confortáveis que era quase como se estivéssemos envoltos naquelas nuvens lá dentro.

O problema era que nem isso evitou que a turbulência que enfrentamos sacudisse menos o avião. Eu descobri que Edward tinha medo de avião. Ou pelo menos estava com medo naquele dia. O rosto dele estava verde, ele não sabia se ficava com os olhos abertos ou fechados. A qualquer momento os dentes dele iam se quebrar de tanta força que fazia com a mandíbula. Eu também estava com medo, mas ficar olhando para Edward estranhamente me distraiu e acalmou.

Quando estávamos quase chegando em Honolulu, ele pediu licença para ir ao banheiro do avião. Voltou para o lugar como se nada tivesse acontecido.

No aeroporto, andou com suas roupas sociais como se fosse para uma reunião importantíssima, ou um desfile, enquanto eu parecia que tinha sido vomitada por uma vaca. E olha que eu estava com uma calça de moletom de cintura alta, um croped, e uma camisa quadriculada por cima, nenhuma delas era para ter amassado tão facilmente.

Edward parou ao meu lado para esperar as malas, um modelo posando para uma revista enquanto mexia no celular.

— Eu te odeio, Edward.

— Por que essa agressividade toda? – Ele guardou o aparelho no bolso.

— Ninguém diz que você acabou de sair de um avião que passou por uma turbulência daquela.

— O banheiro do avião está lá para ser usado. – Deu de ombros como se fosse simples. – Você podia ter ido.

— Eu fui.

Edward me olhou de cima abaixo bem devagar e pigarreou como se dissesse “não parece”.

Depois que pegamos nossas malas, passamos pela tradicional recepção de boas-vindas havaiana. Fomos recebidos por colares feitos de flores nativas locais e muita música. A menina que colocou o colar no pescoço de Edward tremeu um pouquinho e ficou com o rosto vermelho. Eu quis pegar na mão dela e dizer que entendia perfeitamente o que estava acontecendo.

Edward ficou desconfortável com o cordão no pescoço. Esperei chegarmos no carro e estiquei a mão para ele, recebendo o cordão em seguida. Perguntei porque ele simplesmente não recusou quando a menina encantada colocou.

— É falta de educação recusar o cordão, chamado de ‘lei’, ou retirar na frente da pessoa que deu.

— Entendi, History Channel.

Coloquei o colar dele na cabeça e fiquei a maior parte do caminho até o porto tirando fotos. Ele não quis aparecer em nenhuma.

Pegamos uma lancha até a ilha do resort, mais duas horas que serviram para me amarrotar mais. E me deixar enjoada. Eu odiava estar em alto mar.

Chegamos ao hotel exaustos de tanto sacudir no ar e em terra. Eu tentei não rir de Edward completamente fora da sua área de conforto naquele lugar tão iluminado e feliz.

— Totó, não estamos mais no Kansas. – Apertei o ombro dele, saindo com a mão molhada de suor.

Nem cinco minutos depois ele andava pelo lobby como se fosse o dono do lugar.

Tudo o que eu queria depois de tanto sacolejar era tirar um cochilo, o que me foi negado. Nós chegamos na hora do almoço, as famílias estavam todas reunidas aguardando a nossa presença.

Eu pedi para minha mãe que uma condição para vir fosse participar o mínimo possível das reuniões de família. Nós passaríamos um tempo juntas e eu veria a família como ela queria, mas o mínimo possível. Consegui fazer esse acordo, mas da primeira reunião eu não conseguiria fugir.

Tivemos tempo apenas para subir até os quartos para nos refrescar e voltar para baixo. Eu ficaria no mesmo quarto que Edward, pensando no clichê duas pessoas, um quarto uma cama. Os pensamentos impróprios que vieram à minha mente foram interrompidos no momento que abrimos a porta. Cada um teria sua própria cama de casal, uma do lado da outra.

Mas ainda dividiríamos o mesmo quarto. Isso seria interessante.

**

O almoço não foi de todo ruim. Fomos os últimos a chegar no resort, o que fez com que minha mãe e Phill tivessem que parar para cumprimentar bastante gente. A família estava felicíssima com a nossa presença, mas logo eu e Edward ficamos esquecidos enquanto todo mundo queria ouvir as histórias de Phill viajando para jogar beisebol.

Em uma mesa próxima da nossa, alguns jovens que aparentavam ter a minha idade se divertiam conversando. Eu não me lembrava se eles eram da minha família, ou da família de Phill. Aquilo me deixou com um pouquinho de esperança de que talvez eu fosse sim fazer algumas amizades por aqui.

— Você os conhece? – Edward perguntou vendo que eu estava olhando para lá.

— Não. Das outras vezes que nossas famílias se reuniram eu não me lembro de tanta gente da minha idade. – Minha mãe era casada com Phill há vinte anos, por isso as famílias se mesclaram tanto. – Para a minha infelicidade, daquelas ali eu lembro. As poderosas. – Apontei para um grupo com algumas mulheres da minha idade mais para a esquerda. Eram as primas ricas, lindas, bem casadas, o orgulho da família.

— Quem são as poderosas?

— Você acabou de completar o diálogo de Meninas Malvadas, ou eu estou maluca?

— O que acha? – Edward perguntou com a sobrancelha erguida.

Não sei por que eu ainda pergunto. Mas ele não conhecer não me impediu de brincar com ele.

— Elas são a realeza. Se esse lugar fosse a US Weekly, elas estariam na capa.

— Bella, me ouve com atenção. – Edward largou os talheres e se virou para mim falando sério. – Para que essa viagem tenha o mínimo de paz, você precisa falar a mesma língua que eu. Não vou entender merda nenhuma do que for relacionado ao seu mundo de entretenimento.

— Sempre tão simpático. – Suspirei como se estivesse emocionada. – Você entendeu a essência do que eu falei?

— Lógico. – Ele bebeu um gole do suco de uva.

— Então meu idioma funcionou. Você é inteligente, Edward, tenho certeza que vai conseguir acompanhar a minha língua.

Ele abriu um sorriso torto que eu nunca o vira abrir. Eu não sabia nem como reagir àquele sorriso. Gaguejei qualquer coisa para ele voltar a comer e parar de pensar besteira.

Eu estava quase acabando a minha sobremesa quando uma das minhas primas, Irina, pegou um microfone e foi até o centro do restaurante. Os jovens da mesa ao lado seguraram o riso e fizeram piadas maldosas quando a viram começar a se enfezar ao pedir silêncio.

— Bom, começaremos hoje nossa contagem regressiva para nossa grande festa de encerramento. – Irina começou depois de todos finalmente se calarem. – Como sabem, esse ano resolvi adicionar uma distribuição de mimos para vocês. – O lugar se encheu de palmas e gritos em comemoração. – Nós teremos envelopes com vários itens especiais. Eles aparecerão para vocês de formas inesperadas.

Ela explicou mais algumas coisas, que eu não ouvi porque estava prestando atenção em Edward mexendo no celular ao meu lado. Ele estava respondendo e-mails de trabalho.

— Edward? – Nada. – Edward? Edward? Edward, Edward, Edward. – Ainda nada. – Edward Cullen! – Chamei um pouco mais alto, dando um empurrão na perna dele.

— O que foi, Bella? – Guardou o celular.

— Você está trabalhando?

— Estava tentando. Eu falei que precisaria resolver algumas coisas ainda.

Edward havia avisado na empresa que não estaria disponível durante a viagem, mas isso não significava que as pessoas entendiam. Tão acostumados com a presença dele em volta, toda hora enviavam mensagem ou ligavam perguntando alguma coisa. Enquanto não aparecia alguém bom o suficiente para ocupar o lugar dele, Edward se dispôs a ajudar a bagunça que tudo virou depois de perder um importante sócio e estar prestes a perder o outro.

— Eu sei, Edward. Mas não precisa ser no meio do almoço.

— E-

Ele foi interrompido por minha mãe eufórica, falando um monte de coisas sem sentido.

— Procurem nas cadeiras! Andem!

— O que, mãe?

— O envelope com presente. Andem!

Olhamos em volta e todos estavam fazendo isso. Abaixei para procurar também, minha cabeça ficando praticamente no colo de Edward. Procurei na minha cadeira e na dele, uma vez que ele nem se mexeu.

— Não, sem envelopes. – Falei para os dois.

Edward estava igual a uma estátua olhando para frente. Eu queria perguntar o quanto de vergonha alheia ele estava sentindo, mas minha mãe me chamou sacudindo um cartão presente de plástico na minha cara.

Quando olhei de volta, Edward estava com a cara no celular. Deixei-o quieto para resolver os problemas dele enquanto terminava minha sobremesa.

Depois do almoço as pessoas começaram a dispersar para suas atividades previamente agendadas. Irina e as outras vieram até nós quando nos levantamos.

— Que bom que vocês chegaram! Agora sim a festa está completa! – Irina, muito feliz, se virou para Edward. – Você é novo por aqui, que adição interessante ao nosso grupo! Sou Irina, prazer em hamae-lo! – Estendeu a mão para ele.

Edward apertou a mão dela de volta sem dizer o próprio nome ou que era um prazer hamae-la. Minha porção adolescente amou aquilo. Irina olhou para ele por alguns segundos esperando uma apresentação que não veio. Ao invés disso, ele tocou meu cotovelo e deu um leve aperto.

— Se vocês nos dão licença, nossas malas não vão se desfazer sozinhas. – Edward se despediu enquanto Irina ainda não acreditava que tinha sido ignorada.

Eu o acompanhei segurando o riso. A mão dele passou do meu cotovelo para as minhas costas.

— Muito bem, Flipper! – Brinquei com Edward dentro do elevador.

— O que isso quer dizer? – Ele cruzou os braços do outro lado do elevador.

— Gostei da forma como você tratou a Irina. Não que tenha sido muito diferente de como você trata os outros seres humanos.

Não era verdade. Edward era antissocial, não sem educação. Mas quando queria, sabia ser grosso como ninguém. Herança da família Bárbara.

— Por que vocês não se gostam? – Ele perguntou abrindo a porta do quarto para entrarmos.

— Ela é uma versão do mal da sua prima. Uma versão fútil. Lembra do Royce, ex da Rose? É a versão feminina dele. Ela vive em mundo de competição que só ela participa.

— Só ela, Bella? Você tem certeza? – Ele estreitou os olhos. – O que eu estou fazendo aqui?

— Tudo bem. Talvez eu participe um pouco também. – Juntei o dedão e o indicador.

Usamos o restante do dia para desfazer as malas e dar uma volta pelo hotel para conhecer aonde passaríamos os próximos dias. Ainda jantamos com minha mãe e Phill antes do cansaço nos vencer.

— Eu preciso de um banho e cama. – Arrastei-me de volta para dentro do quarto depois da janta.

— Como você vai dormir? – Olhei para Edward sem entender de onde vinha aquela pergunta. – Uma vez você disse que não conseguia dormir de pijama, só de shortinho. Sem calcinha.

Eu morri de vergonha por ouvir que ele sabia disso. Eu nem lembrava que algum dia contei isso e ele estava presente. Provavelmente estava bêbada. Eu sentia a quentura do meu rosto e imaginei o quão vermelha estava.

— Meu Deus, Edward! – Comecei a andar sem rumo pelo quarto tentando pegar minhas roupas. – Por que você lembra disso? Eu trouxe pijamas completos. E calcinhas. Um monte delas. – Por que eu não calava a boca? – Você não ia tomar banho? – Apontei para o banheiro de costas para ele.

— Pode tomar primeiro. – Eu conseguia ouvir o riso preso na voz de Edward.

— Você não quer ir?

— Não, Bella. Vou deixar você tomar primeiro.

— Obrigada. – Fugi para o banheiro.

Depois que deitei na cama de banho tomado, e pijama vestido, desmaiei.

00**00

Dia 18/07

Era o dia seguinte à nossa chegada e Edward quase não saiu do quarto. Ele alegou que precisava resolver problemas e ficou com o notebook armado trabalhando. Respirei fundo para não brigar com ele.

Nesse dia eu esqueci minha roupa do lado de fora do banheiro e precisei andar pelo quarto só de toalha. Não olhei para Edward para saber se a atenção dele ainda estava na tela do computador.

Aproveitei para passar aquele dia que ele estava ausente com a minha mãe e outros familiares.

E já estava arrependida pela segunda parte. Eles não poupariam os julgamentos se eu aparecesse sozinha, não pouparam quando apareci com Edward. Alguns não acreditaram que ele era apenas um amigo me acompanhando. Não sei o que achavam que ele fosse, ninguém teve coragem de dizer na minha cara.

Diferente do que Rosalie e Leah acharam, ninguém ficou impressionado por ele trabalhar demais. Ficaram me olhando com pena por ter sido trocada pelo trabalho. E como não tive coragem de mentir e dizer que ele era meu namorado, eles sabiam que não tinha nem um prêmio de consolação quando eu chegasse no quarto mais tarde.

Quando eu achei que isso ia dar certo? Por que eu não fiquei em casa?

00**00

Dia 19/07

Acordei desnorteada depois de ficar até tarde tomando vinho com minha mãe e Phill. Não sabia aonde estava, que horas eram, ou porque Edward ainda estava sentado na cama ao lado mexendo no computador.

— Que horas são? – Um monstro falou por mim.

— Meio dia. – Edward riu do grunhido que o monstro soltou. – Tem um copo térmico com café em cima da sua mesinha. E uma garrafa de água, caso necessário.

— Eu te amo, meu primogênito é seu, Edward. Muito obrigada! – Avancei no café e na água, como se minha vida dependesse daquilo.

— De nada. – Riu.

Notei que não havia remédio para dor de cabeça e o questionei.

— Eu achei que você não tomasse remédio, só os fizesse. – Disse confuso. – Por isso não trouxe um.

— Sim. – Sussurrei, impressionada por ele se lembrar disso. Os outros me ofereciam alternativas de remédios, achando que o meu problema era com as marcas. – Obrigada. – Eu não sabia nem pelo que estava agradecendo.

— Por nada.

Terminei de tomar meu café e fui até o banheiro fazer coisas que ninguém poderia fazer por mim. Quando voltei, Edward estava fechando a tela do notebook.

— Assistindo pornô? – Sentei na cama de frente para ele.

— Não.

— Como está aí?

— Não quero mais ver esse computador na minha frente. Dei ordem para ninguém me ligar. Sob hipótese nenhuma. Eu não estava te fazendo companhia como deveria, Bella, me desculpa.

— Amei ouvir isso, Edward. Eu quero que essa viagem seja boa para você também. Não quero que seja uma obrigação, que você ache que está aqui para me fazer companhia e não pode fazer o que quiser. Quero que você se divirta, que se livre dessa responsabilidade que eu sei que está sentindo com a empresa agora. Eu não quero que você acabe como Peter, por favor. Você precisa respirar um pouco, relaxar.

— Eu não vou acabar como Peter. Não quero isso para mim.

— Que bom que você pensa assim. Ninguém quer isso para você. – Peguei o notebook e joguei para o lado na cama. – Então, você é todo meu agora? – Sorri para ele, me aproximando. – Vai me acompanhar no que eu fizer?

— Todo seu. – Ele se aproximou também e, por tudo que é sagrado, que homem lindo!

Eu não sei o que me impediu de chegar mais para frente e beijá-lo. Cheguei a olhar para a boca dele e lamber os lábios.

— Qual sua ideia de diversão para essa tarde, Bella?

Era a minha deixa para beijá-lo e jogá-lo na cama.

Ou para hama-lo para uma pedalada de três horas pela ilha depois do almoço.

Como covarde que sou, escolhi a opção da atividade física pesada que nos faria ficar bem longe um do outro.

Edward levantou da cama e trocou a roupa que estava por uma mais apropriada.

— Acho que nós estamos prontos para o verão. – Olhei-o de cima abaixo quando saiu do banheiro, surpresa por ele não estar de roupa social. – Nunca vi suas canelas! – Exclamei olhando para as pernas dele saindo da bermuda cargo preta.

— Sim... Você viu. – Falou devagar esperando que eu lembrasse por mim e ele não precisasse falar quando foi.

— Vi?

Fiquei olhando para os pelinhos loirinhos da perna dele esperando que a memória viesse. Eles eram muito bonitinhos. Então me lembrei da noite que nós quase fomos para a cama juntos, desses mesmos pelinhos roçando na minha perna enquanto nos pegávamos nos meus lençóis.

— Exatamente. – Edward falou como se lesse a minha mente.

— Sua memória é muito estranha. – Desviei os olhos, me lembrando da história do pijama sem calcinha. E dos remédios.

— Eu sei. – Ele disse como se odiasse esse fato. – Pronta para descer para almoçar primeiro? – Perguntou recuperado.

— Sim!

— Vamos lá, então. – Ele colocou um boné e me deu outro.

Primeiro a bermuda, agora o boné. Alguém fez compras antes da viagem.

**

Depois de encher a barriga no almoço, tivemos que esperar para fazer nosso passeio. Eram quase três da tarde quando finalmente saímos.

O caminho que seguimos passava por um deque com espreguiçadeiras para relaxar olhando uma paisagem de tirar o fôlego. Para a esquerda havia montanhas e todo tipo de vegetação, para frente e a direita havia o mar. Próximo dali havia uma escada para quem quisesse chegar à deserta praia de areia quase branca e águas transparentes.

— Porra! – Edward exclamou admirado descendo da bicicleta.

Segui atrás dele.

— Pode voltar para o quarto, vou passar o resto da viagem aqui. – Falei.

— Se você achou essa vista bonita, imagina fazer a trilha que tem ali e chegar lá em cima. – Edward apontou para o morro à esquerda.

Eu nunca havia feito trilha ou nada parecido, olhei para o tanto de árvores e subidas preocupada com o desafio. Eu via nitidamente todos os tropeções e tombos que estariam no meu caminho.

— Não acho uma boa ideia. Não. Não mesmo.

— Eu não vou deixar você cair, Bella. – Edward falou atrás mim. Bem próximo do meu ouvido. Se eu girasse agora, ficaria novamente muito perto de beijá-lo.

Porque o universo deve me amar, ou odiar, Edward foi até uma das espreguiçadeiras e se deitou.

— Cansado?

— Não. – Ele enrugou o nariz. – Apreciando o momento.

E eu o apreciei. Eu estava acompanhada do homem mais bonito do mundo. Edward conseguia ser bonito entortando o rosto, pelo amor de Deus! Rosto esse que estava suado, vermelho, parcialmente coberto pelo boné e me olhando. Se antes eu estava quente por causa do calor, agora parecia estar entrando em combustão espontânea.

— Não estou pronta para abandonar isso aqui ainda. – Fugi da linha de visão dele e fui me sentar.

Depois de muito tempo em silêncio, no qual eu fiquei embasbacada admirando a paisagem, Edward me chamou.

— Vem até aqui e senta de frente para mim na ponta da espreguiçadeira.

— Por quê? – Perguntei estranhando o pedido, fazendo-o rolar os olhos.

— Para eu tirar uma foto sua com a paisagem que você tanto amou ao fundo.

— Você é um gênio, Edward!

Pulei para lá no mesmo instante. Sentei-me de pernas cruzadas na frente dele, as mãos nos tornozelos.

— Está bom aqui?

— Perfeito. Agora me empresta o celular e volte para a mesma posição. – Pediu pegando o aparelho. – Desencurva essa coluna, Bella.

Desencurva. – Ri.

— Fica quieta, você saiu falando. Não... – Ele olhou a foto novamente. – Saiu boa. Mas nada a ver com a expressão que eu queria. Agora olha para um lado qualquer, levanta o queixo um pouco e fecha os olhos.

Fiz tudo o que ele mandou, me perguntando se ele tinha a fotografia como hobbie e eu não sabia. Alguma coisa no meu rosto deve ter indicado que eu ia falar, Edward foi mais rápido e me mandou calar a boca do jeito simpático de sempre. Acabei rindo para o nada.

— Essa ficou perfeita! Agora fica séria.

Não consegui ficar séria depois de saber que era para ficar séria. Edward reclamou, mas tirou mais algumas fotos até ficar satisfeito.

Entre tira boné, coloca boné, arruma cabelo, vira para lá e para cá, achei que ele tivesse tirado apenas cinco ou sete fotos e apagado várias, mas tinha pelo menos umas vinte imagens na galeria. Passei por todas admirada com o quanto ficaram boas.

— Edward, você fez algum curso de fotografia que nunca contou? – Perguntei em choque. – Essas fotos ficaram lindas! Eu teria cortado alguma parte da paisagem. Ou a minha própria cabeça. Não, eu teria tirado foto só do morro e da praia mesmo.

— Não, nenhum curso. A paisagem e a modelo fizeram todo o trabalho, eu só apartei o botão.

— Obrigada. – Sorri pelo elogio. – Mas como uma pessoa que não consegue tirar fotos de si, não acredito em você.

— Talvez eu tenha tirado fotografias o suficiente de Rosalie para aprender uma coisa ou outra. O que não anula o fato de você ser fotogênica, Bella.

— Acho que o calor está afetando o seu raciocínio. E o meu também, porque estou começando a concordar com você. – Parei na foto que ri quando ele me mandou calar a boca, era a minha preferida. – Vamos voltar? Agora que eu lembrei do calor estou morrendo de sede. Da próxima vez temos que lembrar de trazer muito mais água.

Antes de subirmos nas bicicletas para voltar, eu o fiz tirar algumas fotos em que nós dois aparecíamos juntos. Diferente de quando estávamos no carro, não deixei que ele tivesse opção de negar. Demorou para ele se render. Depois deu a ideia de enviarmos para Rosalie como prova de que não nos matamos.

Matar Edward era a última coisa que passava pela minha cabeça nesse momento.

O relógio marcava cinco da tarde aonde estávamos, em Seattle seriam sete da noite, Rosalie com certeza estaria acordada para ver a foto.

Enviei a mensagem e apoiei os cotovelos no parapeito para esperar a resposta. Edward fez o mesmo do meu lado, tirando o boné e tentando arrumar o cabelo que apontava para todos os lados. O gesto destacou um músculo no braço dele que eu não conhecia. Eu sabia que ele malhava, claro, mas tirando a noite que quase ficamos juntos, Edward sempre usava muita roupa e nunca vi o resultado da malhação. Dei uma checada no corpo dele, mas achei absurdo da minha parte fazer aquilo e voltei o foco para a resposta de Rosalie.

Eu era patética.

Dois minutos depois a resposta chegou, na forma de um emoji do bonequinho amarelo com os olhos em formato de coração.

— Ela não fez nenhum comentário. – Estranhei depois de um tempo olhando para o aplicativo.

— Com certeza o que está fazendo é muito mais interessante do que nos responder. – Edward comentou.

— Você sabe bem disso, não é?

Eu me arrependi do comentário assim que ele saiu da minha boca. Eu não queria implicar com Edward nem estragar o clima bom em que estávamos. Por sorte ele não se irritou.

— Eu sei. – Ele deixou a cabeça cair para frente. – E sinto muito por isso. A Rosalie já comeu o meu rabo no telefone. Não pense que essa viagem vai pagar todos os meus pecados, ela prometeu que me aguarda com coisa pior.

— Ei, a viagem não está sendo ruim. – Empurrei o ombro dele. – Para mim. Você até agora passou a maior parte do tempo trabalhando.

— Para mim também não está sendo ruim. Está sendo bastante interessante. – Riu de alguma piada que só ele sabia.

— O que você aprontou? – Apoiei o quadril de lado para olhar melhor pare ele.

— Nada.

— Deixa de ser mentiroso.

— É sério, eu não aprontei nada, Bella. É que está realmente sendo bom estar aqui com você. Só isso. A experiência está sendo melhor do que achei que seria.

— Está sendo bastante interessante. – Repeti o que ele falou.

— Está. – Riu novamente.

Fiquei olhando para ele por um longo tempo. No início para pressioná-lo a me contar a piada, depois eu me perdi admirando os olhos dele, de um verde claro por causa do sol.

— Bella?

Quando Edward disse meu nome percebi que estava de boca aberta, quase babando.

— Que seja. Vamos voltar.

— Vamos antes que escureça e a gente não enxergue o caminho de volta.

Entregamos as bicicletas alugadas e voltamos para o hotel pela área da piscina. Um rapaz muito bonito, James, nos parou no meio do caminho nos convidando para um luau que aconteceria em uma das praias da ilha hoje. A ideia foi interessante por uns vinte segundos, até James ignorar completamente a presença de Edward ao meu lado e me secar descaradamente enquanto falava.

Os acompanhantes de James esperando por ele estavam todos com garrafas de bebidas alcoólicas na mão. Falavam alto e riam uns dos outros, bêbados mesmo antes da festa começar. Alguma coisa naquele grupo me incomodou.

Edward estava com um olhar de desprezo que eu me acostumara a ver no rosto dele mais vezes do que gostaria. Eu queria muito saber o que se passava na cabeça dele naquele momento.

Despedi-me de James dizendo que pensaria sobre o convite e corri para tomar banho, eu me sentia suja depois de falar com ele.

Mais uma vez esqueci a roupa do lado de fora e precisei desfilar pelo quarto de toalha. Edward colocou a cabeça para fora do armário no qual separava a roupa, viu como eu estava, e olhou para frente de novo.

Quando saí do banheiro pela segunda vez, vestida, Edward estava de pé do lado de fora da varanda assistindo o finzinho do pôr do sol. Eram quase oito horas da noite e só agora o sol ia embora.

— O banheiro está liberado. – Toquei as costas dele.

Edward se virou, os olhos movendo para o meu corpo por um milésimo de segundos.

— Um dia você vai esquecer e sair do banheiro só de shortinho. – Profetizou, rindo para si mesmo enquanto andava até o banheiro.

— Esquece isso! – Gritei quando ele fechou a porta atrás de si ainda rindo.

Quer dizer que toda vez que saio do banheiro Edward fica pensando em mim seminua andando pelo quarto? Talvez eu esqueça propositalmente alguma peça roupa da próxima vez que for tomar banho. O que será que aconteceria?

Fiquei pensando nisso até pouco antes de Edward sair do banho. Quando ele desligou o chuveiro, corri para a cama e liguei a televisão para fingir que não estava parada no mesmo lugar.

Edward apareceu com a toalha amarrada na cintura, alegando que esqueceu o pijama em cima da cama. Olhou para a porta da varanda ainda aberta, para o banheiro e para mim, perguntando se eu me importava dele ficar sem camisa. Eu ainda não o tinha visto quase sem roupa. Diferente de mim, ele se lembrava de levar a roupa toda para dentro do banheiro e se trocava lá. Até agora. Era difícil controlar os olhos para eles se manterem no rosto de Edward enquanto eu o respondia que não me importava, nem um pouco, dele ficar sem camisa.

— Se você for do tipo que não gosta de usar cueca por baixo do pijama, fica à vontade, também. Ou se prefere usar cueca e nada mais, não tem problema. Só use alguma coisa. – Pedi.

— Caso você também queira ficar mais confortável para dormir, Bella, não se reprima por minha causa.

— Boa tentativa.

Edward guardou o que tinha na mão, optando por vestir uma boxer preta por baixo da toalha. Eu já estava olhando para ele, então, não tive como desviar os olhos rápido o bastante. Inclusive quando ele colocou a mão para se ajeitar dentro da boxer. Agora nem que eu quisesse ia conseguir olhar para outro lugar.

Essa era o primeiro dia que interagíamos para valer e eu não estava conseguindo segurar minha atração por ele. Até o final dessa viagem eu ia gastar muito tempo no banho.

Nós pedimos serviço de quarto enquanto eu ficava com o comando do controle remoto. Coloquei no meu seriado do coração, Friends, que eu não precisaria prestar atenção enquanto comia e conversava.

Não quero ficar solteiro. Quero voltar a ser casado.— Repeti com Ross. – E eu só quero um milhão de dólares!— Repeti agora com Chandler.

Só eu sabia o tanto de vezes tinha feito a mesma coisa que ele, esperando alguém aparecer com esse dinheiro todo para mim.

Distraída com a comida, demorei para me dar conta que eu não havia falado aquilo sozinha. Olhei para a cama ao lado com os olhos arregalados e um sanduíche no meio do caminho para a boca.

— Você estava repetindo o que eles estavam falando? – Perguntei para Edward chocada.

— Infelizmente você não foi a única a decorar esse episódio.

— Mas eu vejo sempre. Você nem gosta de seriados.

Eu estava conhecendo mais de Edward nesses poucos dias do que em mais de cinco anos que nos conhecíamos. Ele estava usando bermuda, boné, flertando comigo e repetindo falas de seriados. Qual seria a próxima surpresa?

— Como você decorou isso, Edward? – Insisti. – Quando isso aconteceu?

— Você assiste outra coisa? Sempre que me sento do seu lado para ver televisão você coloca em Friends, sempre esse episódio. Impossível não decorar.

— Sim, coloco nesse porque é o primeiro. Eu não quero que você comece a ver um seriado pelo meio, por isso sempre coloco nele. – Respondi o óbvio. – Eu coloco na esperança de um dia você parar para assistir. Mas você nunca presta atenção o suficiente, nem para reclamar de sempre ver a mesma coisa.

Ele riu enquanto mastigava um hambúrguer, quase se engasgando. Não sei o que era tão engraçado.

— Bella, você sempre fica entretida demais no episódio para ver que eu estou assistindo junto.

— Você realmente assiste? – Eu ainda não estava convencida. Mesmo ele tendo repetido as falas bem do meu lado. – Mas você não larga o celular. E por que não reclamou de sempre ver o mesmo episódio? Eu colocava outro. Com todo prazer.

— Porque é bonitinho ver você repetindo os diálogos. E rindo das mesmas coisas.

— Ah. – Fiquei sem graça e sem fala, dando uma mordida no sanduíche para disfarçar. – Você é maluco, Edward.

— Se é o que você acha.

— Acho.

Entreguei o controle na mão de Edward para ele conhecer a maravilha dos serviços de streaming. Era um caso raro de uma pessoa que não tinha conta e não usava a de ninguém.

— Tem filme para porra para escolher nisso. – Ele comentou.

— E seriados. – Acrescentei.

— Não.

Edward parou em um seriado com a temática Viking, sem saber que era um seriado. Quando o primeiro episódio terminou e ele percebeu que teria que assistir os outros se quisesse saber o fim da história, devolveu o controle irritado, perguntando qual era o problema das pessoas para serem objetivas em duas horas.

Depois que limpamos os resquícios da janta (eu tinha esquecido que Edward usava somente uma boxer e tomei um susto quando ele levantou da cama para levar as coisas para o corredor), decidimos assistir ‘O Poderoso Chefão’. Um travesseiro voou na minha direção quando, novamente, repeti alguns diálogos do filme.

— Algumas pessoas trabalham. – Apontei para ele. – Outras gravam diálogos de filmes e seriados. Aceite. – Joguei o travesseiro de volta, acertando-o sem querer no rosto. – Desculpa!

— Não achei que você realmente fosse tentar me matar, Bella.

— Durma com um olho aberto.

— Existe algum filme, ou seriado, que você não fique sussurrando as falas com os personagens?

— Um monte. Você não acha mais bonitinho? – Fiz bico. – Mudou de ideia tão rápido.

Ele inclinou a cabeça e ficou pensando.

— Acho que não era a parte de repetir os diálogos em si, e sim você rindo com as piadas. Você sabia que passa o episódio todo olhando para a televisão sorrindo?

Claro que eu não sabia. E nunca imaginei que ele saberia.

— Pela sua cara, não sabia. – Comentou convencido.

— Você consegue mexer no celular, olhar para mim e para a televisão ao mesmo tempo?

— É um dom. – Ele piscou um olho. – Vamos assistir o que agora, Bella? Aproveita que eu estou disposto a tirar o atraso. – Eu ia sugerir um filme, mas fui impedida. – Nada que você fique de eco. Prefiro focar no que estou assistindo dessa vez. E não em você.

— Francamente, meu querido, eu não dou a mínima. – Citei, de forma dramática, ‘E o Vento Levou’.

Dois travesseiros voaram em mim dessa vez.

— Obrigada, eu amo uma cama cheia de travesseiros.

Nós assistimos mais dois filmes, prometi que ficaria em silêncio, antes que eu sucumbisse ao cansaço e apagasse. Só então Edward pegou os travesseiros de volta.

00**00

20/12

O sol esquentando o meu rosto me despertou às onze horas da manhã. Levantei da cama empolgada para começar o dia. Eu não fazia ideia de como era a dinâmica das atividades do hotel, o papel que explicava estava jogado em algum lugar do quarto. Ligando para a recepção descobri que o café era servido até às dez.

Ótimo.

Edward não estava em lugar nenhum do quarto, o celular dele estava em cima da mesa de cabeceira. Decidi não esperar por ele para começar o dia, vesti meu biquíni preto, coloquei meus óculos escuros, enchi a bolsa de bugigangas que poderia usar para me distrair, e fui para a piscina ignorar qualquer atividade “em família” que estivesse marcada para aquele horário.

A área da piscina estava vazia, eu era a única alma viva, o que me levou a crer que alguma atividade em família realmente acontecia em algum lugar. Deitei-me em uma espreguiçadeira com meus fones e deixei o tempo passar.

O toque do meu celular quebrou a calmaria.

— A que devo a honra de receber uma ligação de Edward Cullen? Não sei quando foi a última vez que nos falamos ao telefone.

Falar pessoalmente não basta?— Eu podia dizer que não, que ouvir a voz dele pelo telefone bem no meu ouvido era sempre um prazer.

Edward era o tipo de pessoa que tinha a voz bonita. Uma voz de veludo que te envolvia e te abraçava. Mesmo pelo telefone, era um tom marcante, direto no seu ouvido.

— Bastaria, se nos falássemos o suficiente.

Eu vou consertar isso. Aliás, estou consertando. Se você não fugir de mim fica muito melhor. Aonde você está? Como conseguiu fugir da cama sem ter tomado café?

— Algum desalmado deixou a cortina aberta e o sol me despertou. – Edward riu e pediu desculpas. – Deu vontade de vir até a piscina. Vista uma roupa de banho e me encontre aqui.

Não achei que ele fosse aparecer. Muito menos em roupa de banho. Estava deitada de olhos fechados quando alguém fez sombra no meu rosto. Edward estava de pé me olhando. Óculos escuro na cara, camisa branca jogada sobre o ombro esquerdo, bermuda preta pendurada no quadril.

Se fosse outro homem parado ali, eu provavelmente teria zunido alguma coisa na cabeça dele. Como era Edward, segurando um copo térmico de café para mim, eu me senti envaidecida.

— Apreciando a vista? – Perguntei, tirando ousadia não sei de onde.

— Com certeza. – Ele abriu um sorriso torto, sem um pingo de vergonha por ter sido pego no flagra. – Posso sentar? – Apontou para a espreguiçadeira na minha esquerda.

Levantei os óculos escuros e desencostei da cadeira para olhá-lo de cima abaixo.

— Se eu disser que não, quais são as chances de você ficar de pé exatamente aonde está?

— Altíssimas. – Ele cruzou os braços e percorreu meu corpo com os olhos.

— Interessante. – Prendi os óculos no cabelo e encostei novamente. Nem três segundos se passaram antes que eu falasse novamente. – Senta de uma vez, Edward.

Ele pediu desculpas novamente por ter me acordado enquanto estendia o copo de café da outra cadeira. Como ficar brava?

— Edward, você rodou o hotel hoje, sabe o que está acontecendo para não ter ninguém aqui?

— Foram fazer um passeio guiado pela ilha. Eu fui para a academia e acabei preso em uma conversa com uns primos seus que ficaram para trás. Eles queriam conselhos de investimentos.

Quem em sã consciência quer conversar sobre trabalho em um lugar desse? Eu esperava que Edward não tivesse combinado de conversar com essas pessoas de novo.

— Você não quer ir nesse passeio, Bella? Conhecer a ilha com quem sabe do que está falando? – Ele perguntou a sério.

— Não mesmo. Vou fingir que só existimos nós dois aqui por um tempinho. – Sorri para ele.

Foi o tempo de eu terminar o meu café para Edward levantar.

— Acho que vou dar um mergulho na piscina. Vem comigo?

— Claro.

Edward pulou primeiro, como se fosse um nadador profissional. Eu fiquei na borda esperando-o emergir. Quando o fez, ficou me olhando sem entender o que eu ainda fazia ali. Pisquei para ele e pulei de qualquer jeito na piscina, sem ninguém para me julgar. Só Edward. Meu cabelo era a própria Samara quando emergi. Afundei e ajeitei tudo para trás, abrindo os olhos para encontrar Edward me olhando de uma forma meio estranha. Ele olhou para a minha boca e deu um passo para frente.

— O que acontece aqui, permanece aqui, certo? – Ele perguntou.

— O que acontece aqui, permanece aqui. – Repeti sem saber aonde Edward queria chegar com aquilo.

— Posso te beijar? – Ele perguntou.

Piscinas não são os melhores lugares para joelhos fraquejarem. Mas Edward foi mais rápido, assim que eu respondi um sonoro “Claro!”, ele envolveu minha cintura com um braço, colocou uma mão na minha nuca e me sustentou de pé. Acho que cheguei a agradecê-lo antes dos lábios dele encontrarem os meus.

Beijamo-nos até que precisamos respirar.

E então surge outra coisa que não combina com piscina: beijos de tirar o fôlego. Estar nos braços dele enquanto estávamos os dois praticamente sem roupa, sem ninguém em volta, me excitou mais do que pensei ser possível. Não tive nem coragem de mover minhas mãos muito além do pescoço e ombros dele. Eu queria muito que alguém aparecesse para nos mandar sair dali, porque eu não conseguia por livre e espontânea vontade encontrar forças para fazer qualquer outra coisa.

Foi Edward que teve alguma clareza nos pensamentos e se afastou primeiro.

— Não me solta. – Falei contra o pescoço dele. – Estou sem forças para ficar de pé por mim mesma. – Ele riu, mas não me soltou.

A piscina não dava pé para mim aonde estávamos, seria complicado me manter sem afundar afetada do jeito que eu estava.

Desencostei o rosto do pescoço de Edward e o olhei, uma mão em volta do pescoço dele para me segurar, a outra fazendo carinho na orelha dele.

— Oi. – Ele me cumprimentou e abriu um sorriso convencido. Eu sorri de volta.

Olhei novamente para a boca dele, dei um beijo rápido e fugi para longe, para perto da borda. Era mais seguro assim. Meu corpo estava fraco, as pernas bambas, parecia que eu só ficaria normal de novo se voltasse a beijá-lo.

Aproveitamos o espaço particular até minha barriga começar a reclamar por comida. Almoçamos no restaurante da piscina e depois voltamos para o mesmo posto de antes nas espreguiçadeiras. Dessa vez dividimos o espaço com outras pessoas.

— Como é bom ficar sem fazer nada. – Espreguicei-me na cadeira, com Edward observando cada movimento que eu fazia. – Como está sendo sua inédita experiência de não fazer nada, Edward?

— Cada vez melhor. – Eu tive certeza de que ele estava falando sobre a gente.

Depois de tudo o que acontecera entre nós dois hoje até aqui, era de se esperar que eu fosse lidar numa boa com o comentário. Mas não, eu corei igual a uma boba e tentei mudar o assunto. Falando sobre trabalho.

— Vai voltar a trabalhar quando voltarmos ou vai viver com o dinheiro que tem?

— Vou voltar a trabalhar, eu não sei ficar sem fazer nada. Mas não parei para pensar nisso ainda, estou revendo minhas prioridades. Vou investir em algumas coisas que deixei passar, antes que seja tarde.

— Como o que?

— Eu ia passar um tempo com os meus pais. Mas tive que desistir.

— Você ia mesmo passar um tempo com eles? A Esme ia amar! Agora estou me sentindo culpada por ter te chamado para vir comigo. Edward, ela deve estar me odiando.

— Ela nem sabia ainda disso ainda. E mesmo se soubesse, é impossível minha mãe odiar alguém, Bella. Não precisa se sentir culpada. Aliás, essa também é outra coisa que preciso investir: passar mais tempo com você, Rosalie, Leah e o imprestável do Jacob.

— Você precisa investir em você também. Nós queremos o seu melhor, sempre, mas você precisa querer também. Saber o que quer fazer, reservar horários para descansar, se divertir. Criar uma rotina. Cuidar de si.

— Eu vou fazer isso tudo. Agora, - Ele colocou os óculos escuros. – eu só quero relaxar.

Tirei uma foto e enviei no grupo, perguntando se alguém sabia quem era aquele que estava se passando por Edward. Enviei para Esme também, como um pedido de desculpas por ter manipulado o tempo livre do filho dela. Ela colocou várias carinhas rindo e disse que ficou feliz por ele estar se divertindo.

Eu fiquei feliz também, por alguém além de mim estar vendo o quão diferente ele parecia estar. Não era coisa da minha cabeça.

Eram sete horas da noite quando decidimos que estávamos relaxados o suficiente e podíamos voltar para o quarto. Entrei primeiro e fui direto para o banheiro tomar banho. Edward foi em seguida. Esperei-o sair para conversarmos sobre o que tinha acontecido na piscina. Nós havíamos trocado alguns beijos durante o dia, nenhum tão intenso, íntimo, como o primeiro porque percebemos que eles nos levariam para caminhos que não poderiam ser explorados em público.

Mas nada impedia que fossem explorados agora.

Edward se sentou na cama dele e me puxou para o colo. Essa conversa estava começando muito bem, mas eu ainda queria deixar tudo em pratos limpos.

— Edward, você quer mesmo o... ‘o que acontece aqui...’?

— Você mudou de ideia? – Ele ficou tenso sob mim.

— Não. – Segurei a mão dele. – Eu só quero confirmar. Nós fizemos isso uma vez, quer dizer, quase fizemos, e cá estamos. Acho que conseguimos fazer de novo. Sem pressão. Sem expectativa.

— Acha? Bella, se você tem alguma dúvida a gente não precisa fazer nada.

— Não! – Sacudi a cabeça para ele ter certeza do que eu queria dizer. – Eu não tenho dúvida. Sendo sincera, eu preciso disso. De você. Faz tempo que ninguém tem tanto apelo comigo como você. Você mexe com a minha cabeça, Edward. Eu realmente fiquei bastante frustrada por nada ter acontecido naquela noite. E nem depois.

— Aquele dia foi complicado. Desculpa por aquilo. Se serve de consolo, também fiquei na pior depois.

— É passado. Nós temos a chance de tentar de novo agora. Se não for bom, a gente finge que nada aconteceu. Ou tenta de novo. – Alisei o peito dele, sentindo o coração dele acelerar ao meu toque.

— Se não for bom? – Edward se aproximou, segurou meu rosto entre as duas mãos e sussurrou no meu ouvido. – Eu amo o jeito que você se move, o jeito que você me toca faz eu perder os meus sentidos. Bella, é questão de honra ser o melhor. Eu vou te mostrar o paraíso, não tem nada melhor.

Ele foi o melhor. E mostrou o paraíso. A noite toda.

Por três vezes a única palavra que eu conseguia falar coerentemente era ‘Edward’. O restante foi um monte de gemidos. Edward não era do tipo que falava, ele gemia. Os gemidos dele sozinhos fizeram coisas incríveis com o meu corpo. Foi delicioso, e eu não queria mais nada nessa vida.

00**00

21/07

Eu era acostumada a dormir sozinha, ter outra pessoa, um homem, na cama comigo era estranho. Quando Edward acordou às seis da manhã para ir para a academia, eu acordei junto e não consegui voltar a dormir.

— Por que você malha tão cedo? – Perguntei vendo-o andar nu até o banheiro. Era o novo normal dele ao se locomover pelo quarto.

— Costume.

Edward foi para a academia, eu me sentei na varanda aproveitando a brisa da praia para ler um livro.

Esperei Edward voltar para, pela primeira vez, tomar o café da manhã do hotel. Parecia que eu nunca tinha comido na vida.

Trocamos de roupa e fomos fazer nada em uma das praias paradisíacas do resort. Eu estava sentada na areia depois de uma caminhada quando Edward apareceu voltando do banheiro. Ele se sentou do meu lado e me estendeu um envelope.

— O que é isso? – Perguntei antes de abrir.

— Um dia no spa do hotel para você fazer o que quiser.

Eu tinha esquecido completamente da distribuição de ‘mimos’ nos envelopes.

— De onde surgiu?

— Estava preso atrás da porta do banheiro masculino.

— Que nojo, Edward. – Joguei o envelope em cima dele, que jogou de volta. – Acho que Irina não pensou muito bem na localização dos envelopes. Por que está me dando isso? O presente é seu.

— Não faço questão.

— Eu faço, você merece relaxar com uma massagem. – Abri o site do spa do resort e vi a lista de serviços que eles ofereciam.

— Você ainda acha que eu estou estressado, Bella?

— Não. – Bloqueei o celular para dar atenção para ele. – Desde que desligou aquele computador você quase parece outra pessoa. Na verdade, desde que você concordou em vir. Aliás, que fez você concordar, já que, como disse, eu sou péssima no convencimento?

— Além de tirar um tempo para ir até meus pais, eu não tinha nada melhor para fazer. E se estou tentando ser melhor, tenho que começar por algum lugar.

— Nada melhor para fazer. Claro. Achei que fosse por causa dos meus belos olhos castanhos. – Pisquei repetidas vezes.

— Bella, não inventa. – Edward fez um som estranho, algo como um grunhido. – Eu não quero você nua do meu lado para me deixar com uma ereção na frente de um estranho.

— Você não é nenhum adolescente que não consegue se segurar, Edward.

— Eu não quero nenhum desconhecido me tocando.

— Agora sim entendi. Então esquece. Se quiser, posso aprender uma coisa ou outra lá e depois eu coloco minhas mãos em você.

— Fica à vontade. A isso eu não me oponho. Só não dê um jeito no meu músculo e me deixe torto.

Mais a tarde fomos passear pela ilha fora do resort. Visitamos o museu, almoçamos em um restaurante turístico chique com preços que nunca imaginei serem para comida, tomamos sorvete quando ficou calor demais, e nos beijamos quando deu vontade. É um perigo ter esse homem disponível para ser beijado do meu lado. Um toque dos lábios dele nos meus e eu ficava em chamas. E saber que eu provocava a mesma coisa nele era de uma satisfação imensa.

Voltamos tarde para o resort, cansados e doidos para tomar banho e dormir. Ao nos aproximarmos do gramado na lateral do terreno, fomos surpreendidos por uma pista de patinação. Cheia de luizinhas penduradas, música tocando, crianças rindo.

Eu não entendi o motivo daquela estrutura toda, mas estava empolgada igual as crianças.

— Eu preciso patinar nisso! – Exclamei, de repente sem cansaço nenhum.

— Boa sorte.

— Ah não, Edward, você vai patinar comigo. – Segurei um braço dele.

— Quem te iludiu?

— Por favor! – Implorei, esticando o ‘o’ como uma criança manhosa.

Fiquei de frente para ele e tentei fazer a cara de pidão do Gato de Botas. Obviamente Edward não entendeu a referência para rir um pouco.

— Eu vou ficar do lado de fora te dando apoio moral. – Ele levantou a mão. – Vai Bella. – Falou desanimado.

— Não é uma competição. Nós vamos apenas patinar em volta da pista.

— Quando fica divertido?

Você— Apontei um dedo na cara dele. – estava ficando divertido.

— Não vejo graça em ficar rodando em uma pista.

— Se você vier comigo vai ter. – Espalmei as mãos no peito dele. – Eu juro!

— Não.

Algumas batalhas a gente tem que aceitar que foram perdidas. Fui patinar sozinha.

Eu me diverti fazendo piruetas, dançando e fingindo que estava caindo para ver a cara de desespero de Edward do lado de fora.

— Bella, para com isso. Você vai acabar caindo de verdade e se machucando.

— Entra aqui e me segura.

— Não.

Eu estava dando uma volta completa na pista, passando pelo lado mais longe de Edward quando James surgiu na minha frente. Consegui desviar antes de tropeçar no pé dele, mas quase dei de cara na barra de segurança lateral.

— Ei, olha o caminho, docinho. – James veio atrás de mim. – Precisa de ajuda com alguma coisa? Sou um ótimo professor, posso te dar umas aulas particulares. Do que você quiser. – Ele tentou fazer uma cara sexy.

Como eu achei esse homem bonito?

Vai a merda.

Eu queria ter dito isso. Mas o que eu disse foi:

— Não.

Aprendi com Edward que ser monossilábica também tinha seu apelo.

Por falar nele, olhei para onde estava e encontrei o lugar vazio. Encontrei-o na porta da pista de cara fechada. Patinei até lá.

— Você ia entrar aqui? – Perguntei feliz demais.

— Não. – Ele esticou a mão para me ajudar a sair. – Eu sabia que você não ia aguentar ficar mais tempo aí dentro. Hora de nos recolhermos pelo dia?

— Eu não sei. Você vai querer um pouco de diversão quando chegarmos no quarto?

— Isso foi uma cantada?

— Talvez. – Mordi o lábio inferior.

— Para o bem dessa viagem, - Edward tirou meu lábio do dente. – vou fingir que não ouvi isso.

Finalmente tomamos banho para tirar a poeira grudada do dia. Eu só queria me aconchegar na cama e dormir, mas Edward preparou um banho relaxante na banheira, começou a fazer massagem nos meus pés, nas minhas costas... Uma coisa levou a outra, acabamos em mais uma conversa de travesseiro na madrugada depois de nos enroscarmos nos lençóis. Edward era o meu travesseiro, eu estava deitada no peito dele enquanto ele fazia carinho no meu cabelo.

— Irina acertou em cheio na pista de patinação para distrair as crianças. Meio exagerado e fora do contexto, mas muito bem arquitetado, elas amaram! – Falei sonolenta. – Será que ainda vai estar lá amanhã? Queria patinar mais.

— Se você não tivesse perdido todos os papéis com a programação nós saberíamos.

Eu consegui perder o papel que estava no quarto e o que Edward havia tido coragem de pedir para Irina. Por qual razão nenhum dos dois pensou em tirar foto estava além de mim.

— A pista vai estar lá quando acordamos. Ou não. Se ela estiver vazia, você vai comigo?

— Não.

Essa guerra eu não ia ganhar de jeito nenhum.

Estava quase dormindo quando Edward voltou a falar.

— Você devia passar mais tempo com a sua família.

— Hm.

— Eu estou falando sério, Bella. Todo dia eu cruzo com suas tias e elas perguntam de você. Você me diz para passar mais tempo com a minha família, mas não faz a mesma coisa.

Levantei a cabeça para olhar para ele.

— Você sabe que minha intenção aqui nunca foi ver minha família, e sim tentar passar mais tempo com a minha mãe e descansar, me divertir. – Edward concordou com a cabeça. – Quando falei para Esme que te convidei para vir comigo, ela só me pediu para ter certeza de que você ia se divertir. Minhas tias quando te viram praticamente perguntaram quanto eu estava te pagando.

— Você não fez escola com a minha família bárbara e respondeu, respondeu?

— Não, elas só jogaram os comentários maldosos, não tiveram realmente coragem de falar o que pensavam na minha cara. Mas eu tinha uma resposta pronta para soltar.

Foi Jacob que colocou a mão na minha cabeça e falou que eu não pertencia ao lado negro da força.

— No primeiro dia elas me fizeram muitas perguntas. – Edward grunhiu, provavelmente se lembrando de algo que aconteceu. – Quando viram que fui o mais evasivo possível, desistiram. Vivemos em harmonia agora, com elas fazendo comentários aleatórios e perguntando como você está.

— Querem a minha presença para responder o que você não respondeu.

— Talvez sim, talvez não. Elas são um pouco como você, não se importam com meus comentários e minha falta de conhecimento, ou como você diz, referências.

— Ah, mas eu me importo com tudo isso. De vez em quando ainda quero bater com a sua cabeça na parede. Só que elas devem estar acostumadas com os maridos rabugentos. Assim como eu me acostumei a você. – Edward me deu um beliscão no braço. – Eu estou brincando, é o seu charme. Aliás, aonde vocês se encontram? Era para você estar com os maridos delas, não com elas. – Outro beliscão.

— Quando estou voltando da academia, elas estão indo para aula de alguma coisa que envolva criar um colar havaiano. E uma saia. Os espaços ficam no mesmo corredor.

Edward não tinha tempo para nos encaixar na agenda dele, mas da academia nunca abria mão. Era um jeito dele extravasar o estresse, dizia.

— Minha mãe me chamou para fazermos essa aula juntas. Quando ela também tinha uma cópia da programação.

— Você deveria ir. Estamos passando bastante tempo juntos, e você prometeu a ela que separaria um tempo para vocês.

— Está enjoando de mim, Edward Cullen? – Passei as unhas pelo tórax dele, fazendo-o estremecer. – Talvez eu vá. Só para te ver todo suado saindo da academia.

— Você poderia apenas acordar cedo e vir comigo.

— Nah. – Beijei o peito dele enquanto me ajeitava para parear nossos corpos, chutando para longe os lençóis que atrapalhavam o caminho. – O exercício que fazemos aqui é mais do que o suficiente. E eu não me importo com séries e repetições.

— Novamente? Você não estava cansada?

— A minha bateria está sempre cheia para nós dois.

Edward nos virou na cama. Os lábios dele escovaram o meu rosto, meu pescoço. Ele beijou um ponto atrás da minha orelha que arrepiava o meu corpo todo.

— Eu vou levar um tempinho para me recuperar, mas nós podemos aproveitar essa sua vontade toda. Eu sei ser criativo.

00**00

 

Dia 22/07

Eu acabei entrando na tal aula de “artesanato”. Não entendi o motivo delas ficarem naquela salinha com ar condicionado com tanta praia para visitar, tanta coisa ao ar livre para fazer. Talvez fosse alguma tradição das reuniões que eu não sabia.

Contei no grupo com meus amigos que eu era a única pessoa na aula com menos de quarenta anos. Para isso Rosalie achou tempo de rir da minha cara.

Muitas lições haviam passado e eu estava atrasada, as tias e minha mãe se revezaram para me ensinar as coisas. Elas foram uns amores comigo, super pacientes. Não perguntaram ou fizeram comentários sobre Edward em momento algum. Deixaram para fazer tudo quando ele apareceu na porta da salinha mais tarde. Então, foi ladeira abaixo. Vendo-as interagir com ele entendi o que estava acontecendo, elas estavam puxando assunto porque eram assanhadas. Quando Edward apareceu todo suado, os músculos praticamente saltando depois do esforço na academia, ele havia trocado o horário naquele dia, não teve uma que não suspirou.

Edward não tinha percebido e ficou desconcertado quando contei para ele. Minha mãe ainda estava com a gente e confirmou, acrescentando que muitas delas não entendiam porque eu estava perdendo meu tempo sendo amiga dele quando ele tinha aquilo tudo para oferecer.

Ah, se elas soubessem.

**

Meus pés estavam posicionados paralelamente no chão, um do ladinho do outro como Edward havia instruído. Abaixei o tronco, girei a raquete como se soubesse o que estava fazendo e aguardei.

— Aí vai! – Edward gritou.

A bola veio voando na minha direção. Muito rápido. Pulei para o lado e ela zuniu no meu ouvido. Outro ponto para o meu adversário.

Estávamos jogando tênis depois de, mais uma vez, fazermos nada na piscina. Ambos sabíamos que eu não ia ter coordenação motora para correr e acertar a bolinha, fomos pela diversão. Por duas vezes consegui sim acertar a bola, ela nem passou da rede, mas eu comemorei como se tivesse ganho Roland Garros.

Quando tentamos usar a máquina que cospe bolas para que Edward me ajudasse a rebatê-las, eu me escondi atrás dele com medo de ser acertada na cara.

Meu prêmio do dia foi conseguir fazer Edward quase se mijar nas calças de tanto rir. Eu não conseguia me lembrar se alguma vez o vira se divertir dessa forma, se o ouvira rir tão alto, até perder o fôlego e ter dor na barriga. Enquanto ele ia ao banheiro para evitar o acidente com o xixi, liguei para Rosalie.

Estou ocupada.

— Também te amo, Rose.

O que foi? Edward está te infernizando?

— Se você tirasse a cabeça do cu e participasse mais do grupo saberia que não. O que está acontecendo com você? Está pior do que ele para responder as mensagens.

Eu... Ai, Bella, eu não quero falar sobre isso.

Se Rosalie estava evitando falar é porque o assunto era sério. Ela estava sumida do grupo, muito monossilábica nas poucas vezes que comentava nas minhas fotos. Sentei no chão da quadra e me apoiei no poste da rede.

— Você me deixou preocupada agora e não tem opção a não ser contar. Comece ou faço Leah ir até sua casa e te obrigar a abrir a boca.

Vamos conversar sobre a sua viagem enquanto me acostumo com a ideia de te contar, ok? Qual está sendo sua tática para não se aborrecer com Edward?

Fiz uma pausa para pensar rapidamente no que falar e não entregar demais. Ela deixou bem claro que não queria saber os detalhes que eu poderia soltar sem querer.

Acho que o problema dele é você estar por perto. – Impliquei, sendo xingada do outro lado da linha. – Falando sério, Rosalie, sair daquele emprego fez muito bem para ele. Aquela pressão toda, o estresse, fritavam a mente dele. Quando voltarmos você vai ver com seus próprios olhos.

Minha tia falou que recebeu uma foto dele na praia esses dias, perguntando se estava muito frio em Seattle. Ela não sabia se ficava mais chocada com o conteúdo ou com a mensagem em si. Imagino que a companhia dele não está sendo de todo ruim.

— Edward é super atencioso, Rose, está sendo a melhor companhia de viagem que eu já tive. – Ela ficou curiosa, tentando tirar mais informações de mim, mas a cortei. – E isso é tudo o que você vai saber. Comece agora a contar sua vida antes que eu esqueça, não enrola.

Obviamente ela enrolou mais um pouco perguntando sobre Edward antes de finalmente abrir a boca.

Eu conheci um cara. – Foi o que ela simplesmente falou.

— O que ele fez?

Tudo. – Ela fez uma pausa. Antes que eu pudesse gritar para se explicar melhor, ela voltou a falar. –  Bella, eu acho que estou apaixonada.

— Entendi tudo. – Ela estava com medo. – Se apaixonar não é um bicho de sete cabeças. Se você se cansar dele, você agradece e chama o próximo. Uma amiga muito sábia me ensinou isso. E uma cantora também.

Eu não consigo pensar assim com ele. Eu não sei explicar porque é diferente. Tudo é diferente.

— Uau! Rosalie Lillian Hale, que honra ser a primeira a saber que você finalmente se apaixonou por alguém. Como é bom estar viva para apreciar esse momento. Você tem um coração batendo, ele não está congelado como imaginávamos.

Vai a merda.

— Não, obrigada. Você está mesmo ocupada? Ou só queria evitar a conversa?

Estou esperando Emmett ligar. Mas ele que espere, agora que eu puxei o band-aid, prepara o ouvido.

— Temos um nome. Pode mandar.

E ela mandou. Enquanto Edward demorava uma eternidade no banheiro, Rosalie me contou como estava sendo a história de amor dela. Emmett estava na fila do cinema com a sobrinha quando a pequena derramou sorvete na roupa. Enquanto as mães na fila não quiseram guardar o lugar deles, Rosalie, que estava passando na hora, se ofereceu. Desde então, não se separaram.

Quando Edward finalmente voltou, eu estava deitada no chão da quadra ouvindo o restante da história. Ele apareceu em cima de mim sem fôlego, suado, os olhos arregalados e proferindo diversos palavrões. Um segurança do resort estava ao lado dele falando no fone bluetooth.

— Porra, Bella. – Edward arfou.

Ele apoiou as mãos nos joelhos recuperando o fôlego.

O que foi aí? — Rosalie perguntou do outro lado ao mesmo tempo que Edward voltava a falar sem parar.

— Você está bem? Está com dor em algum lugar? Sua pressão caiu? Por que você está deitada nessa merda desse chão? Eu estou te gritando e você não responde! Achei que tivesse desmaiado. Ou morrido. Pelo amor de Deus, Bella, levanta dessa merda desse chão. – Ele falou tudo tão rápido que nem consegui responder.

— Rosalie, eu te ligo depois. – Não deixei que ela falasse e desliguei.

Sentei novamente contra o poste, assegurando que estava bem para Edward dispensar o segurança.

— Fico sempre emocionada com o jeitinho meigo que vocês usam para falar comigo. – Falei agora sozinha com Edward. – Senta aqui comigo. – Puxei-o pela mão. – Eu estou bem, não precisa isso tudo. – Beijei a mão dele.

E só depois eu me lembrei que ele havia acabado de sair do banheiro. Cheirei a mão dele, cheirinho de hortelã.

— Desculpa, - Falou mais calmo. – foi como se eu tivesse vendo o que aconteceu com Peter tudo de novo.

Merda. Agora eu entendia o motivo do desespero. Não era um exagero.

— Se acalma, Edward. Eu estou bem, está tudo bem. – Fiz movimentos circulares nas costas dele para acalmá-lo. – Respira.

Ficamos sentados no chão da quadra enquanto ele se acalmava.

— Rose estava me contando sobre um carinha que ela conheceu. Emmett. – Comecei a falar esperando que isso o distraísse. – Ela me contou coisas que eles andam fazendo que vão me traumatizar para sempre.

— Por que você está me contando isso, Bella? – Ele fez careta.

Deu certo.

— Porque não tem mais ninguém aqui para quem eu possa contar.

— Sua mãe?

— Um pouco longe. Deixa eu dividir isso com você, Edward. – Sacudi a mão dele. – Eu fiquei tão feliz pela minha amiga. Pela primeira vez ela está deixando alguém gostar dela e está retribuindo. Fica feliz por ela também.

— Se esse cara ainda existir quando a gente voltar, se ele realmente merecer a minha prima, eu fico. – Era raro Edward demonstrar carinho por Rosalie. Os dois se amavam, claro, mas eram duas pedras de gelo que não derretiam para se misturar.

— Ele vai existir. Esse vai. E você vai estar com a gente para conhecê-lo.

Edward me beijou. Eu derretia toda vez que ele me beijava ou fazia algum carinho sem motivo nenhum, sem que o objetivo daquilo fosse sexo.

— É. Eu vou. Mas só consigo pensar no monte de problema para resolver quando voltar para casa. – E assim ele estava de volta ao normal. – Eu estava no telefone com Alistair, meu outro sócio, meus advogados ainda não venderam a minha parte da empresa. O grupo interessado queria demitir muita gente e sobrecarregar quem ficasse, não confirmei a venda.

— Que merda.

— Uma grande merda. – Edward se levantou. – Chega de falar de trabalho. Vamos continuar o jogo? Eu pensei que poderíamos tentar basquete, mas acredito que você vai se machucar ainda mais correndo pela quadra. – Mostrei o dedo do meio para ele. Eles nem tinham quadra de basquete aqui. – Prefere ir para a praia esperar o pôr do sol?

— Praia! – Estiquei os braços para ele me ajudar a levantar. – Encerro aqui minha carreira no tênis. Amanhã eu vou estar toda doída e roxa das boladas e raquetadas. Último dia para usar biquíni em público, melhor aproveitar. Vamos para a praia do deque? Se ficar tarde para voltar a gente acampa na areia.

— Ou usa as luzes do caminho como guia. – Edward ergueu uma sobrancelha, estragando minha ideia.

— Ou isso.

**

Eu tinha uma mochila com roupas, toalhas e uma manta de enfeite da cama que peguei emprestada, Edward tinha outra com meu leitor digital, um tablet, fios, power bank, comida e água. Depois de passar sede no primeiro passeio de bicicleta, resolvemos nos precaver. Poderíamos realmente acampar na praia se quiséssemos. E se fosse permitido.

Estávamos dividindo uma das espreguiçadeiras enquanto assistíamos ao pôr do sol. As minhas costas contra o peito de Edward. Eu estava quase dormindo com o som das ondas e o ritmo do peito dele subindo e descendo.

— Não sei quando foi a última vez que tirei férias no verão. Muito menos a última vez que fiquei deitado sem nada para fazer além de admirar a natureza e a companhia de outra pessoa. – Ele comentou.

— Eu também não me lembro. Não trabalho tanto quanto você, mas é difícil achar tempo para simplesmente fazer nada assim. A minha mente sempre desvia para alguma coisa que eu esteja fazendo no laboratório.

— Ora, ora, parece que não sou o único que anda se negligenciando.

— Nem se compara. Eu tenho dias de folgas, eu tenho meus amigos. – Estreitei os olhos para ele por cima do ombro. – Só preciso usar mais meus dias de folgas para vê-los, e parar de postergar minhas férias.

— Não vejo diferença. – Ele implicou.

— Tem muita. Quando voltarmos, vamos marcar uma viagem, um final de semana qualquer, e te carregar. Quero ver qual desculpa vai dar.

— Nenhuma. Só não escolham um lugar muito longe.

Esqueci o espetáculo do pôr do sol na minha frente e virei para sentar no colo dele encarando-o.

— Edward, você tem medo de avião?

— Não. – Dessa vez eu não ia aceitar esse tipo de resposta. Continuei olhando para ele, sem babar dessa vez. – Turbulência. – Disse por fim.

É um medo justo. Fiquei feliz ele ter me contado. Foi idiota, mas eu fiz uma pequena dancinha da vitória.

— Eu seguro a sua mão na nossa próxima viagem. – Segurei o rosto dele para beija-lo.

Edward pegou minhas mãos e ficou brincando com elas. Passou um tempinho até que ele falasse de novo.

— Obrigado.

Não entendi pelo que ele agradecia. Não pressionei por uma resposta dessa vez, esperei para saber se ele ia desenvolver sozinho. Não tive sorte, tive que puxar o significado daquele ‘obrigado’.

— Pelo que? Por segurar sua mão no avião? De nada.

— Não. – Soltou o riso pelo nariz. – Isso não vai fazer diferença nenhuma no meu medo. – Depois de ver meus olhos arregalados para a resposta dele para o meu gesto, ele acrescentou rapidamente: – De qualquer forma, obrigado por oferecer. Essa é a razão do meu agradecimento. A sua paciência. Você ter me convidado para vir, apesar de tudo.

Eu não imaginei que trazer Edward para essa viagem fosse fazer tanto por ele. Muito menos que ele fosse reconhecer isso. É lógico que depois de descobri sobre a “demissão” dele, essa foi uma prioridade, mas não achei que realmente fosse funcionar. As palavras me fugiram e eu só consegui responder de forma boba.

— Não é de graça, Edward. – Rolei os olhos dramaticamente. – Sua família paga para eu ser sua amiga e amiga da Rosalie. Está no contrato.

— Isso explica muita coisa. – Ele rolou os olhos.

Edward começou a beijar o meu ombro, subindo até o pescoço e voltando, descansando a testa no meu ombro.

— Edward, você sabe que é mentira, não sabe? – Fiz carinho no cabelo da nuca dele. – Ninguém precisa me pagar para ser amiga de vocês.

— Sei?

— Sabe. – Não tinha como ele não saber. Ou tinha alguma chance de Edward não saber que eu era amiga deles por livre e espontânea vontade? Fiquei apavorada com a possibilidade. – Você sabe, não sabe? Edwar-

— Eu sei, Bella. Calma. – Ele levantou a cabeça rindo. – Eu estou brincando com você. Eu sei que não sou tão mau assim. – Piscou.

E também não sabe brincar.

— Convencido. Quem inflou teu ego?

— Você estava me comparando a um Deus ontem à noite. – Ele voltou a beijar o meu pescoço, minha orelha... A mão que estava na minha cintura estava agora embaixo da minha camisa, espalhando fogo aonde tocava.

Ele devia parar de fazer isso, ou eu ia começar a não responder por mim.

— Nem todo Deus é bom, Edward Cullen.

Mas ele era. O melhor qualquer coisa que quisesse ser.

— Não. Na mitologia- - Eu sabia que ele viria com um comentário desse.

Segurei os lábios dele com dois dedos para que parasse de falar.

— Não, não comece, History Chanel. – Ele tirou meus dedos e me beijou.

Ficamos assim por um tempo, eu me segurando para não montar nele de roupa mesmo.

— Falando sério agora, Edward. – Segurei o rosto dele para afastá-lo de mim. – Eu te-

Eu travei. Eu travei e engasguei. Peguei a garrafinha de água e tomei alguns goles para me recuperar. Olhei para o rosto de Edward, esperando que eu concluísse, mas não consegui falar.

Depois de dizer diversas vezes para ele que o amava, eu me assustei com a carga de sentimento que vinha embutida na frase dessa vez. Eu estava apaixonada por ele. Uma frase, e um portão de sentimentos foi aberto dentro de mim.

Não fazia nem uma semana direito que estávamos envolvidos e eu amava Edward de uma forma completamente diferente de como quando chegamos. De uma hora para outra, eu o amava mais do que a um amigo. Simples assim.

— Você...? – Edward falou e me tirou do transe.

— O que?

— Você ia me dizer alguma coisa.

— Esqueci. Eu... – Eu poderia dizer a verdade. Ou poderia esperar um momento melhor. Quando eu tivesse certeza de que ele ia entender. Eu poderia esperar chegarmos em casa, ver como nossa dinâmica funcionaria depois do trato que fizemos para a viagem.

Ele ainda esperava que eu dissesse alguma coisa.

— Eu esqueci mesmo. – Falei sem graça.

— Certo. – Edward falou, desconfiado. – Já que você esqueceu o que ia falar, posso te perguntar uma coisa? – Fiz um gesto para que ele fosse em frente. – Você tem alguma objeção em relação a namorar?

Fui surpreendida pela pergunta e me perdi no raciocínio. Eu ouvi certo? Era o meu cérebro pregando peças em mim?

— Oi? Quem? Você? – Eu estava mortificada e pronta para pedir desculpa por ter entendido errado.

— Sim. – Ele respondeu simplesmente.

E eu não conseguia parar de sorrir para respondê-lo. Não que fosse adiantar alguma coisa tentar respondê-lo, meus pensamentos estavam embaralhados e eu não conseguia pensar em nada para falar.

— Eu... Sim. Não! Não. O-o que... – Fechei os olhos e respirei fundo para voltar a ficar séria e ordenar meus pensamentos. – Qual foi sua pergunta?

Edward riu da minha cara e me puxou para beija-lo.

— Perguntei se você tem alguma objeção em relação a namorar. Em ser minha namorada.

O que estava acontecendo? Eu ainda estava achando que estava entendendo tudo errado. Quando nós entramos nesse assunto e tudo começou a dar tão certo?

Eu queria gritar ‘sim!’, mas Edward tinha mais a falar.

—  Quando eu te vi no chão da quadra e achei que tivesse morrido, um flashback passou pela minha cabeça. Eu me vi trabalhando enquanto vocês se divertiam, vi como funcionamos bem juntos no seu apartamento, vi Peter morrendo, te vi na minha casa me pedindo para aproveitar a vida, te vi aqui me obrigando a assistir desenhos de madrugada. Eu não estou confundindo os sentimentos, eu estou extremamente grato a você por estar me apoiando, por estar ao meu lado, por ser minha amiga, mas o que estou sentindo por você agora... Você é tudo o que eu não sabia que queria e precisava na vida, Bella. Eu te amo.

A minha boca estava aberta em choque depois de tudo que ouvi. Edward sentia a mesma coisa por mim. Edward Cullen amava alguém, e esse alguém era eu. Não tinha nada de errado no que eu estava ouvindo, era aquilo mesmo. Ele correspondia aos meus sentimentos. E de uma forma tão repentina quando eu.

— Você também me ama. Eu amo você também. – Segurei o queixo dele e o puxei para me beijar enquanto ele dizia “eu sei”. – E sim, eu quero ser sua namorada, Edward. Mil vezes sim.

— Eu sei. – Ele repetiu, pegando a minha mão e beijando. – Você não foi muito sútil nos seus engasgos. Deu para perceber o que ia falar, e o medo nos seus olhos.

— Não, eu não fui sútil. – Corei. – Não foi medo, eu fiquei surpresa. Eu sempre te amei como amiga, e sempre tive uma atração física gigante por você, mas não esperava me apaixonar. Imaginei vários cenários para essa viagem, nenhum deles tinha esse desenrolar dos fatos.

Esse incrível e maravilhoso desenrolar dos fatos. Com uma semana de viagem, achei que eu e Edward estaríamos brigando pela temperatura do ar condicionado do quarto, que ele estaria reclamando do volume da televisão, que eu estaria arrastando-o pelo hotel e contando o dia para voltar para casa. Não imaginei que nos conectaríamos tão bem.

— Você vai precisar ter paciência comigo, Bella. Muito mais paciência do que, agradeço mais uma vez, você tem. Eu não sei como funciona essa coisa de namorar. Mal sei ser amigo de alguém.

Eu não conhecia o Edward que estava diante de mim agora. As prioridades dele realmente mudaram. Eu não sabia se o fator responsável por tirá-lo da concha era a viagem, a demissão ou o interesse dele por mim, o que eu sabia é que estava maravilhada por fazer parte desse momento.

— Edward, você está sendo simplesmente maravilhoso. Até meus telefonemas está atendendo, olha que incrível! Siga por esse caminho. O resto vamos aprendendo juntos. – Ele abriu um sorriso lindo e se aproximou para me beijar. Eu o parei antes que chegasse. – Ah, e basta você não enfiar o seu pau em outra pessoa e estamos bem. Ou seus dedos. E a língua. Você entendeu o conceito. E outra coisa, não se feche para mim.

— Acabou? Não seja absurda, Bella. – Ele colocou uma mão pelo meu cabelo e massageou a minha nuca. Eu fiz igual a um bichinho procurando carinho e inclinei a cabeça para trás. – Você é a única. Em um longo tempo, por um longo tempo. Eu não vou me fechar, eu prometo.

— Viu, você aprende rápido. – Eu me derreti por ele mais uma vez.

Deixei Edward finalmente se aproximar e me beijar. Como sempre acontecia quando nos beijávamos, eu estava queimando por ele. Mas esse beijo não durou muito, eu estava na mesma posição fazia muito tempo, minhas pernas começaram a doer e a ficarem dormentes. Edward deitou o encosto da espreguiçadeira e nos fez um travesseiro com a manta.

— Confortável agora? – Ele deitou de frente para mim.

— Sim. Então, Edward, vou aproveitar que estamos nesse assunto e matar quem está me matando. Eu nunca te vi namorando. Foi falta de atenção minha? Ou você escondeu a mulher muito bem? – Edward riu, dizendo que eu era ciumenta. – Eu não sou esse tipo de namorada, não é nada disso. – Cutuquei a barriga dele. – É só uma curiosidade antiga mesmo. Estou perguntando para trazer paz de espírito para a minha curiosidade.

— Vocês nunca conheceram ninguém. Eu tive alguns casos, nunca um namoro sério. Você é a primeira. – Ele abriu o sorriso torto que nunca deixava de me deslumbrar.

— Então nunca conheceu ninguém que quisesse de verdade?

— Não. Só você. – Meu Deus, que esse encanto não se perca no dia a dia. – Nunca fiquei perto de nenhuma mulher por tempo suficiente para conhecê-la e me interessar por ela. Eu sempre dei mais atenção para a faculdade, depois para o trabalho, nunca soube viver de outra forma. Eu estava falando sério quando pedi paciência comigo, a única coisa que sei fazer é trabalhar.

— Então eu cheguei na hora certa, não vou precisar competir com nada. Você é só meu. – Beijei-o. Eu amava beijar esse homem. – Eu vou ter toda a paciência do mundo com você, Edward. Você é esforçado, muito esforçado, na verdade, acho que não teremos problemas.

Quando voltássemos para casa, Edward não seria apenas o amigo que eu vejo de vez em quando, ele seria o meu namorado. Tudo seria completamente diferente. Se o que estamos vivenciando aqui for algum indicativo do que vem pela frente, eu serei imensamente feliz.

— Seria estranho se eu dissesse que mal posso esperar para voltar para casa? – Edward perguntou. – Eu tenho você, tenho todo esse tempo livre para, pela primeira vez na vida, fazer o que quiser. Eu quero começar a... viver.

— Você tem tudo isso aqui também, Edward. – Acariciei o rosto dele. – E você está vivendo. Viveria mais se tivesse concordado em patinar comigo. – Brinquei.

— Não. – Algumas coisas nunca mudam.

— Tudo bem, eu posso viver com isso. O que é uma coisinha no meio de tantas outras que podemos fazer?

— Não sei do que você está falando ainda, Bella, mas conte comigo. – A mão dele subiu pela minha coxa e apertou a minha bunda.

Edward não sabe, mas eu sei bem a que ele está se referindo.

— Sabe que vamos acabar sentados no sofá assistindo televisão, não sabe?

— Bella, se você estiver comigo, vai ser o suficiente.

Ia ser tão simples assim com esse homem?

— Você vai jogar coisas em mim sempre que eu falar junto com os programas?

— Dependendo da distância... – Edward me deu um beijo que fez os dedos dos pés enrolarem. – eu mudo a tática.

— Vou ser obrigada a decorar os filmes de ponta a ponta.

— Não vai ser necessário. – Ele me beijou de novo.

**

Saí do banho envolta na toalha e me joguei de barriga para cima na cama. Só quando Edward acabou o banho dele e passou por mim para ir para o outro lado foi que percebi que estava na cama errada. Ele sentou na cama que seria a minha, a nossa agora, e colocou o celular para carregar no meu carregador.

— Você sabe que não é certo deixar o carregador ligado na tomada sem o aparelho, não sabe?

— Sim, senhor. E se você olhar para o seu celular, vai ver que ele não está sendo carregado porque eu tirei o fio da tomada. Só fiquei com preguiça de pegar do chão.

Eu estava olhando para o teto, então não vi, mas ouvi, quando ele fez um som estranho confirmando o que falei.

— Qual seu nível de preguiça? – Ele perguntou depois de um tempo, vindo deitar do meu lado.

— Estou só de toalha na sua cama, adivinha. – Virei de lado para ficar de frente para ele.

Edward colocou a mão no meu quadril e me puxou para ele.

— Pensei em sairmos para comemorar.

— Não está tarde para isso, Edward? Ainda tem algum lugar aberto?

— O bar do hotel funciona madrugada a dentro. O que acha?

— Eu já volto.

Voltei do banheiro vestindo uma saia lápis mid justa preta de cintura alta, combinando com um top da mesma cor com decote em V na frente e atrás. O cabelo deixei solto.

Edward trocou de roupa no quarto mesmo, camisa social e calça pretas. As mangas da camisa estavam enroladas até o cotovelo e ele estava de relógio. Algo naquele conjunto, e no jeito que ele me olhava, me deixou louca.

— Sua prima que me convenceu a trazer para alguma ocasião especial. – Dei uma rodadinha na frente de Edward para provocá-lo também. Não que ele soubesse que estava me provocando. – Ela disse que eu a agradeceria com uma foto da roupa no chão. Eu não entendi o que ela quis dizer com isso.

— Não mesmo? – Edward perguntou com as sobrancelhas enrugadas e um pequeno sorriso. No que eu insisti, ele veio até mim e encaixou as mãos gigantes no meu quadril. – Você ficou deslumbrante nessa roupa, Bella. – Ele mirou no meu decote. – O que acha que vai acontecer com ela quando voltarmos mais tarde? Onde você acha que ela vai parar?

No chão.

— Ah. Era isso que ela estava falando.

Rosalie coloca uma roupa dessa na minha mala e vem dizer que não quer saber de detalhes sobre o que está acontecendo entre mim e Edward? Pois ela que aguarde a foto mais tarde.

— Apenas acho que ela não esperava que o responsável pela ocasião especial fosse eu. – Edward mudou as mãos para a minha bunda e me puxou para ele.

Eu estava perdendo os meus sentidos. Respirei fundo para abaixar o fogo.

Ele tirou meu cabelo do ouvido e sussurrou:

— Só dizer e a gente não precisa sair desse quarto.

— Não faz isso, Deus... – Gemi. – Vamos de uma vez ou você vai me jogar na cama e não vamos conseguir sair desse quarto.

Eu vou te jogar na cama?

— Cala a boca.

**

Eu estava sentada olhando para Edward enquanto ele estava olhando para os meus seios. De novo. Ele não conseguia desviar os olhos de jeito nenhum. Ofereci até para trocar de roupa, mas ele ficou ofendidíssimo em me dar trabalho e disse que iria se comportar. Não conseguiu.

— Você está tentando olhar até enjoar?

Ele fechou os olhos e esfregou o rosto.

— Desculpa, Bella. Seus seios estão... – Ele apontou vagamente com a mão. - ...explodindo de gostosos e eu não sei lidar com a visão. Estou te deixando desconfortável, desculpa. Eu deveria ter deixado você trocar de roupa.

Desconfortável? Não mesmo!

— Não, eu não estou desconfortável, Edward, mas você podia conversar comigo ao mesmo tempo que olha para eles. Eu estou assistindo você enquanto os assiste. E não é nem como se você nunca os tivesse visto. Ou – Abaixei o tom de voz. – tocado neles.

— Bella... – Edward fechou os olhos e sacudiu a cabeça.

— Desculpa colocar essas imagens na sua cabeça.

— Eu achava que você passeava pelo quarto de toalha de propósito. – Ele abriu um sorriso envergonhado.

— Para te seduzir?

— Sim.

— O que? Não! – Soltei uma gargalhada. – Se fosse para fazer alguma coisa de propósito, eu teria saído do banheiro de shortinho. E eu quase fiz isso. Com certeza ainda vou fazer.

— Pelo amor de Deus, Bella. – Edward gemeu como se estivesse em agonia.

— Desculpa, desculpa. Tudo bem, mudando de assunto... Me conta algo sobre você que ninguém saiba.

Funcionou. Edward me olhou por alguns segundos, provavelmente se decidindo se dizia seu ‘não’ característico.

— Tipo o que? – Disse por fim.

— Algo que você acha que eu gostaria de saber. Pode ser algo que você acha que vai me fazer sair correndo do restaurante, eu aguento.

Edward meneou a cabeça enquanto ria. O esforço que ele faz para não negar meus pedidos loucos é admirável.

— Eu ainda tenho o mesmo carro de quando estava na faculdade.

— Eu sei. – Rolei os olhos. – Está na casa dos seus pais. Frequento mais aquele lugar do que você. Durmo mais na sua cama do que você.

— Sério? Eu sabia que tinha sentido um cheiro familiar quando estive lá no dia de Ação de Graças. Só não consegui descobrir do que era.

Ele chegou de surpresa e não deu tempo de Esme trocar a roupa de cama. Eu sabia essa também.

— Tente outra vez, essa foi péssima.

Eu ia falar algo para incentiva-lo, mas nem foi preciso. A caixa de Pandora foi aberta com força.

— Eu quero ter filhos um dia. Casar e tudo isso.

O garfo que estava indo para a minha boca fez o caminho de volta até o prato. Nunca em um milhão de anos eu achei que ele fosse escolher falar isso.

Se teve uma coisa que essa viagem me ensinou, foi a admirar a sinceridade dele. Mas isso não significava que ela não me surpreenderia.

— Não faço ideia se você quer ter filhos... mas...

— Edward... Eu estou dividida entre achar que você realmente não sabe como lidar com essa coisa de namoro, e te chamar de gênio por ter escolhido me contar isso.

— O que não te afastar de mim. – Ele sorriu amarelo.

— Nenhum dos dois, Edward. Sim, eu quero isso tudo um dia. Se for com você, perfeito. Se me lembro bem, eu te prometi meu primogênito no início dessa viagem. Não foi? – Claro que ele tinha a memória melhor que a minha e confirmou, repetindo a cena toda. – Mas... muito cedo. – Ele ia abrir a boca mais não deixei que falasse. – Não peça desculpas. Ou vou achar que não quis dizer isso.

— Eu ia concordar que é cedo. E dizer que não vou a lugar nenhum.

— Não faz mais que sua obrigação.

— Claro. – Riu. – Sua vez. E não tenha medo de me fazer correr daqui.

Depois do que ele confessou? Impossível!

— Fácil: já fiquei irritada com você e tentei vomitar de propósito no seu carro.

— O que? – Ele arregalou os belos olhos verdes. – Por que?

— Porque sempre sobra para mim eu ir no banco da frente. E aí você fica a viagem toda no meu ouvido querendo saber se estou me sentindo bem, se vou vomitar, se quer que pare o carro, se quer que abra a janela... Você odeia que a gente beba e fica descontando sempre em mim.

Era incrível a capacidade que eu tinha de fazer Edward rir falando besteira. Eu só não sabia qual tinha sido a besteira dessa vez.

— Uau, Bella. Guardou essa mágoa por quanto tempo? – Continuou rindo. – Mais alguma coisa? Não quer aproveitar?

— Acho que é só essa. – Fiz careta para ele.

— Bella, o problema não é vômito no carro. É só mandar lavar. Ou queimar o carro. – Deu de ombros. – Minha preocupação é você. Essas perguntas são para saber se você está passando mal. Se o balanço do carro está te deixando enjoada.

— Você não fala a mesma coisa para os outros.

— Jacob e Leah cuidam um do outro. Rosalie desceria do carro com ele em movimento se eu ousasse perguntar alguma coisa.

— Hmm.

Meu Deus, eu entendi tudo errado. Ele só estava preocupado comigo. Eu queria me esconder debaixo da mesa de vergonha.

— Por isso você pediu refrigerante? – Apontou para o meu copo.

— Sim. – Edward chamou o garçom e insistiu para que eu pedisse meu vinho. – Obrigada por esclarecer as coisas. E pela bebida.

— Mais alguma coisa que você queira perguntar? Sei que não sou muito normal, mas estou achando que vocês talvez tenham uma visão meio distorcida de mim.

Eu também estava pensando a mesma coisa, mas agora não era o melhor lugar para conversar com ele sobre isso.

— Acho que não. O resto sei que é sua herança Bárbara mesmo. Qualquer coisa eu pergunto.

— Então estamos entendidos que você pode ficar à vontade para beber, e vomitar, se for muito necessário, quando estiver comigo? Mas seria melhor me avisar antes, tudo bem?

— Sim, senhor. Apesar da história, não costumo colocar tudo para fora quando bebo. Por isso não consegui carimbar o seu carro. O modo como eu coloco tudo para fora é falando demais. Contando coisas que não são para contar. – Lembrei da história do shortinho de dormir. – Edward, foi assim que você descobriu como eu durmo? Eu estava bêbada?

— Não. – Edward riu, se lembrando do dia. – Você estava sóbria, conversando com a minha mãe na cozinha dela no meu aniversário dois anos atrás. Eu entrei na cozinha para pegar o sorvete no freezer e ouvi a conversa de vocês. Eu fiquei com a imagem na cabeça pelo resto da noite.

Da noite? Pelo jeito ele havia pensado naquilo todos os dias desses dois anos.

Foi a minha vez de rir dele. Eu lembrava daquele aniversário, foi o único que eu compareci.

— Você podia ter ido me visitar no quarto de hóspedes naquela noite. – Provoquei-o.

— Você podia ter dormido na minha cama, como sempre faz.

— Eu quis muito.

— Nós podemos ir para a casa dos meus pais depois daqui. O que você acha, Bella?

— Você está pensando em dormir comigo no seu quarto, não está?

— Não. Sim. Estou.

— Vou pensar no seu caso. – Pensar se eu teria coragem de fazer alguma coisa com Edward sabendo que Esme e Carlisle estariam alguns metros de distância da gente. – Acho que você precisa passar um tempo só seu com eles. Eu sei que eles não vão se importar se eu for junto, Edward, mas acho que eles merecem um tempo sozinhos com você. Esme vai amar te mimar. Rose talvez até apareça na reunião Bárbara para cuspir na mesa na hora da janta.

Esme e Carlisle, e os pais de Rosalie, eram o completo oposto de bárbaros, o título só pertencia aos dois mesmo.

— Por falar em Rosalie, estou para te perguntar uma coisa, Bella. A ideia do ‘o que acontece no Havaí, fica no Havaí’ partiu dela?

— Não, da Leah. Eu estava em dúvidas se te chamava ou não para vir, ela achou que dessa forma eu teria menos medo do que poderia acontecer aqui. Seria mais fácil para ignorar a sua existência depois.

— Eu esperaria algo assim vindo da minha prima, não dela.

— Bebida, lembra? E a Rosalie não quer saber da gente. Antes dela me contar que estava distraída com Emmett, pensei que ela estivesse evitando o grupo para não ver fotos nossas juntas.

— Por que ela não queria ver as fotos?

Abaixei a voz para falar. Edward ia colocar o copo de refrigerante na boca, eu disse para ele esperar.

— Ela acha que a gente fode muito gostoso. Tem medo de ficar com a imagem na cabeça, porque você é primo dela.

Mesmo sem ter bebido nada ele se engasgou quando foi rir.

Depois de algumas tossidas, cheio de lágrimas nos olhos, ele programou um alarme no celular para enviar para Rosalie a foto da minha roupa no chão.

— Agora mais do que nunca ela merece isso.

— Ela vai querer te matar, Edward.

— O estrago já estará feito.

**

Edward estava dormindo quando o celular despertou, a memória dele não tinha funcionado dessa vez e ele tinha esquecido do próprio plano para implicar com a prima. Ele levantou da cama, tropeçando nas próprias roupas, e tirou a foto para Rosalie.

— Espírito de porco.

— Ela vai sobreviver.

00**Continua**00

 


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Notas finais do capítulo

Primeiro ano que participo do POSO, que emoção!

Espero que tenham curtido minha historinha. Obrigada minha (não)índia Janize por sempre (rir) corrigir as minhas baboseiras, e a Renny por ter tirado um tempinho para dar uma lida.

Belly, fiz um clichê básico baseado em todo um movimento de te estalkear no Twitter. Espero que você tenha gostado da história.

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