My little angel escrita por Lou5858


Capítulo 3
Sonhando


Notas iniciais do capítulo

Como esse capítulo teve termos médicos demais, decidi colocar um glossário – que ficará nas notas de fim do capítulo - pro caso de vocês sentirem necessidade de consulta.

Eu vou dar uma sugestão/comando. Ouçam Fix You do Coldplay quando chegarmos no mês de Outubro. Sim, esse capítulo foi separado por meses...

Com vocês, o último capítulo de My Little Angel.



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Semanas passaram desde o ocorrido na noite de Natal. Alice não obteve nenhuma melhora significativa, mas Edward e Bella, em contrapartida, obtiveram um acréscimo visível no nível de amizade. Eles apoiavam-se no outro para passar pelas dificuldades que os obstáculos do dia a dia impunham em ambas vidas.

Eles criaram uma agradável rotina naquele hospital. O primeiro que chegasse lá, traria café e algumas outras guloseimas para comer no quarto 241, preferencialmente quando Alice estivesse dormindo. Então conversariam durantes longos minutos sobre qualquer coisa que não tivesse relação com a doença que nublava os dias de ambos.

Quando começava a anoitecer, Edward levava jantar para suas duas meninas - como ele mesmo gostava de intitulá-las. As pessoas que trabalhavam no hospital já comentavam sobre a aproximação do médico e da mãe da paciente, mas nenhuma certeza era dada quanto ao rótulo da relação dos dois. Nem mesmo eles poderiam dar um rótulo já que não existia nada que pudesse configurar o que acontecia com eles. Não houve uma repetição daquele quase beijo que ocorreu no Natal, mas os olhares, sussurros e toques suaves eram muito mais recorrentes; era quase como se nenhum dos dois conseguisse ficar no mesmo ambiente que o outro sem que suas peles pudessem roçar – nem que fosse apenas por segundos.

Alice também se apegava cada dia mais ao 'Ed' – apesar da Bella protestar contra o apelido, continuava a ser entoado pela menina já que ele mesmo insistia em ser chamado dessa forma por ela. A medicação já foi trocada três vezes, e esta última duraria até a ultima semana de fevereiro. E só aí analisariam o efeito que gerou no tumor, para decidir se dariam continuidade a este tipo de tratamento ou se passariam para outro.

Edward andava de um lado ao outro na sua sala, sendo atentamente observado por Emmett. O papel na mão do oncologista estava amassado na lateral por conta do aperto firme que ele executava ali. Sua mão livre, fechada em punho, mostrava quão frustrado o médico estava.

Emmett, por outro lado, sentava-se com as pernas esticadas e cruzadas no tornozelo, em uma clara demonstração de tranquilidade, mas seus pensamentos não diferenciavam tanto dos que corriam pela cabeça do Doutor Masen. O neurologista sabia que o fato dos remédios não estarem surtindo efeito só geraria uma consequência: a quimioterapia.

Mesmo sabendo que este tratamento tinha um índice enorme de melhoras em quadros como os da Alice, a sensação de impotência não abandonava Edward, que acreditava que se expusesse a pequena à algo tão invasivo ela poderia sofrer pelo resto da vida com consequências do mesmo – desde marcas psicológicas à físicas.

— Pelo menos ela estaria viva para ver as consequências... – Emmett acrescentou a afirmação que até então Edward acreditava ter sido feita apenas em sua mente.

— Eu sei, Emmett. Mas será que se aumentarmos a dose do remédio ele não surtirá efeito?

— Antes ou depois de você ter matado a menina de dois anos? – ele enfatizou a idade da criança e suspirou quando viu Edward fazer uma careta.

— Eu sei... É porque quimioterapia é tão... – então suspirou resignado sabendo que era isso ou cirurgia.

Emmett acenou sua cabeça concordando com os pensamentos do médico.

— Talvez pudéssemos operar e voltar aos remédios. Com um tumor menor, a probabilidade de fazer efeito é muito maior.

— Você não está falando sério, está? – O neurologista perguntou incrédulo.

— Não. – Edward afirmou com um suspiro depois que racionalizou os riscos de uma cirurgia na Alice.

O bipe do Emmett apitou, provavelmente avisando-o que ele tinha alguma emergência aguardando-o. Depois de uma troca de olhares significativa com seu amigo, levantou-se da cadeira e antes de alcançar a porta, ouviu uma voz fraca e cansada murmurar um pedido que ele chamasse Bella até a sala do Edward.

— Bella? – Emmett perguntou atônito, virando-se para encarar seu amigo. Edward meneou a cabeça em concordância e o neurologista gargalhou alto ao ver o rosto do oncologista pediátrico tingir-se de um tom rosado. – Bella? Já estão na fase de apelidos, Ed?

— Vá chamá-la, Emmett. – Edward falou por entre os dentes.

— Sabe? – o amigo perguntou virando a maçaneta da porta. – Se eu fosse você, tomaria cuidado com as imagens que as câmeras do hospital guardaram, Edward. – ele levantou as sobrancelhas, provocando e Edward decidiu que entraria no jogo dele, já que nenhuma imagem comprometedora demais existia. Não aconteceu nada entre Bella e ele além de toques inocentes e olhares significativos.

— Não! Eles tem aquilo filmado? Achei que as câmeras fossem apenas fachada! – Edward exclamou com o objetivo de atiçar a curiosidade do seu amigo.

E deu certo. Os olhos do Emmett arregalaram-se, enquanto ele soltou exclamações de profanidades antes de sair da sala.

Edward sorriu ao saber que essa simples frase faria seu amigo perder horas vendo as fitas do hospital ou ficar pouco mais pobre, pois certamente pagaria para alguma pessoa menos ocupada analisar as imagens.

Emmett encontrou Isabella na cafeteria do hospital. Com um sorriso e os passos apressados deu o recado que Edward pediu, e seguiu seu rumo até a emergência.

Bella voltou ao balcão, onde pediu mais um café, mas este com leite e creme, diferentemente do dela que era puro. Em seguida fez seu caminho até a sala do Edward. Ela não fazia ideia do que lhe esperava do outro lado da porta, na verdade, imaginou que ele só estava sem serviço e queria passar alguns minutos conversando sobre nada em especial, como fizeram diversas vezes nestas últimas semanas.

Uma batida suave se fez ouvida e Bella entrou na sala assim que foi convidada. Edward estava com uma expressão preocupada, mas o sorriso que surgiu em seu rosto quando viu a mulher foi instantâneo. Toda a pressão que ele sentia dissipou-se, enquanto ela fazia seu caminho até a mesa dele.

— Olá. – ela disse pouco tímida ao notar que ele, definitivamente, não estava desocupado já que diversos livros estavam espalhados e abertos em sua mesa e o notebook estava ligado. – Atrapalho?

— Nunca, Bella. Senta... – ele movimentou a cabeça mostrando a cadeira vazia na sua frente.

Ela ofereceu o café antes de sentar-se e ele fez questão de roçar seus dedos aos dela antes de pegar o copo. Em seguida, agradeceu com um enorme sorriso.

— Você está ocupado, não é?

— Um pouco... – ele admitiu.

— Se preferir volto mais tarde. Estou com aquele livro... Posso te trazer. – disse sorrindo.

— Mhm... eu adoraria, mas realmente preciso conversar com você.

— Certo... – ela repousou seu próprio café na mesa e ficou analisando a disposição dos livros na superfície. Foi só quando ela notou a imagem de uma fotografia de um cérebro deformado em uma das páginas, que ela percebeu que, muito provavelmente, ele não tivesse chamado-a para falar nada em especial.

Então seu coração começou a bater mais forte, ao passo que sua garganta subitamente ficou mais seca.

Ele depositou um envelope aberto na frente dela, mas manteve sua mão em cima.

— Este é o exame mais recente da Alice. – ela apenas concordou com a cabeça, urgindo-o a continuar – Esses remédios que ela tomou nas últimas semanas tinham o propósito de começar a combater as células cancerígenas. – falou suavemente e Bella meneou a cabeça, recordando-se dele usando palavras parecidas antes que começasse o tratamento na sua filha.

— Onde você quer chegar, Edward? – a voz dela saiu sussurrada.

— Não houve melhoras significativas.

— Mas houve melhoras? – ela apegava-se a esperança fortemente.

— Não podemos continuar ministrando estes remédios se queremos Alice saudável, Bella.

— Mas... então... o que?

— Vem aqui... – ele pediu suavemente e ela, com as pernas trêmulas, foi até a frente do médico que virou-se em sua cadeira e encarou a mulher que encostou na sua mesa. Sem vontade de lutar contra seu corpo, Edward puxou Isabella para si, posicionando-a de lado em seu colo.

Ela, assim que sentiu o choque do momento passar, enterrou seu rosto na curvatura do ombro dele e segurou o jaleco firme entre seus punhos.

— E agora? – perguntou e em seguida, sentiu um longo beijo na sua testa.

— Lembra quando falei que o que Alice tem é meduloblastoma logo que o resultado da biópsia saiu? – Edward falou com um tom de voz gentil e quase não viu Bella menear sua cabeça em concordância. Seus braços apertaram-na mais contra si e ele sentiu e ouviu um soluço escapar da garganta dela.

— Os remédios não estão fazendo efeito, Bella...

— M-mas e a-agora?

Ele suspirou antes de continuar.

— O tumor é grande demais e está em um local muito delicado para ser retirado por cirurgia.

— O que está tentando dizer?

— Podemos usar radioterapia para diminuir o tumor e só depois disso poderíamos tentar a cirurgia.

— Radioterapia? Não seria quimioterapia?

— Ela passará por quimioterapia, mas só depois que o tumor for retirado, para poder limpar todas as células cancerígenas do organismo dela.

— Uhm... tudo bem.

— Aqui está o termo de compromisso para a radioterapia. Os efeitos colaterais vão ser coceira na área afetada, um pouco de náusea e dores de cabeça e talvez queda de cabelo, mas não serão muitos pela dose fraca que usaremos... Leia com calma e qualquer dúvida você pode me procurar.

— Uhum... Essas dores de cabeça não vão passar nunca? – Bella perguntou realmente preocupada, mas com um pouco de esperança dentro de si, já que ele tinha traçado o caminho até o fim do tratamento. Ele tinha dado a ela um destino, algo para se apegar.

— Alice tem sorte por ser criança e ainda não possuir o crânio formado, porque Bella, se ela fosse adulta e o crânio não expandisse para acomodar as células cancerígenas ela poderia... – Edward estremeceu ao lembrar-se da sua mãe e de todo o sofrimento que teve que passar por anos.

— O que? – Bella insistiu, percebendo que havia algo que ele escondeu.

Edward trouxe o corpo feminino mais próximo do seu e enterrou seu rosto no pescoço dela.

— Minha mãe... – ele murmurou contra a pele quente.

As mãos da Bella foram para o cabelo quase ruivo e ele gemeu ao sentir as unhas acariciarem seu couro cabeludo. E então sentiu um beijo longo acima da sua sobrancelha. Ele levantou o rosto para encará-la e respirou fundo ao perceber a proximidade deles e, quando se perdeu naquelas dimensões castanhas, decidiu que não queria mais esconder; não poderia mais esconder.

— Minha mãe morreu por conta de um tumor cerebral quando eu tinha onze anos. M-meu pai nunca apareceu. Éramos ela e eu, sempre. – admitiu com a voz fraca.

— Oh. Eu sinto tanto... – ela foi sincera e o abraço apertado confortou um pouco a dor do homem. Por alguns instantes, focar-se na dor de outra pessoa a fez esquecer da sua. Então ela passou alguns minutos acariciando-o até que as lágrimas silenciosas e tímidas parassem de escorrer pelo rosto dele. O coração da mulher estava apertado ao sentir a dor dele; ao perceber o quão injusto é um menino de apenas onze anos perder sua mãe. Especialmente quando ele não teria mais ninguém para cuidar dele.

Algum tempo passou até que ele conseguisse retomar controle.

— Desculpe por isso. – disse e depois de respirar fundo, ajeitou-a no seu colo, afastando um pouco os corpos de modo que ele conseguisse olhá-la por completo. Bella, que ainda tinha suas mãos no cabelo dele, baixou-as para o pescoço onde fez carinhos sutis com o dedão, enquanto sorria compreensiva.

— Estou aqui para o que precisar. Sabe disso, não é? – ela sussurrou. Ele sorriu e encostou suas testas.

— Eu sei. E você sabe que eu também, certo?

— Mhm... – ela murmurou de olhos fechados e ele sentiu seu corpo inteiro estremecer ao notar a expressão dela. Bella estava corada, mordendo os lábios, com a respiração forte e de olhos fechados. E Edward estava quase certo que ela queria um beijo dele tanto quando ele desejava beijá-la.

— Bella... – ele sussurrou quando a ponta dos seus narizes roçou. – Eu vou... eu quero... – balbuciou apertando a cintura dela e trazendo-a mais para si. – Por deus, Bella, preciso disso. – admitiu aproximando mais seus rostos. – Me diz que você também quer. Me diz que eu posso. Qualquer coisa, Bella. Só não me deixa no escuro. – ele implorou e as palavras desesperadas sussurradas contra o rosto dela, faziam seu coração bater cada vez mais forte.

— Para de falar. – ela sussurrou, e em resposta uniu seus lábios ao mesmo tempo que segurava a cabeça dele entre suas mãos.

Edward não demorou a reagir. Tão logo sentiu a maciez e textura dos lábios carnudos contra o seu, espalmou uma mão nas costas dela e a outra no rosto, tentando unir o que já estava unido.

O que prometia ser forte, bruto e necessitado foi carinhoso e extremamente intenso. Mãos se seguravam firme, enquanto lábios acariciavam-se de maneira tentativa. Respirações estavam irregulares, ao passo que batidas frenéticas bombeavam o sangue.

Bella resfolegou quando sentiu seu lábio inferior entre os deles e suspirou vergonhosamente alto quando descobriu a sensação da língua quente em sua boca.

Edward estremeceu quando confirmou suas suspeitas do sabor dela. Isabella não era nada se não extremamente doce, suave e muito, muito quente. Ele não resistiu levar o lábio inferior dela à sua boca, e menos ainda, morder suavemente àquela carne voluptuosa.

O médico recuou sua língua quando sentiu Bella suspirar novamente e sorriu ao notar o mesmo movimento vindo dos lábios dela. A sensação de alívio que o atingiu foi intensa demais. Não existia nada que ele quisesse tanto nestas últimas semanas como sentir os lábios suaves nos seus; saber que ela gostou e o simples sorriso dela, foram suficientes para dizer que ela apreciou o momento tanto quanto ele.

O beijo não durou muito e foi tudo o que eles precisavam naquele momento. Conforto.

Foi o gesto que confirmou as inseguranças de ambos. Eles estariam dispostos a apoiar um ao outro em qualquer momento, em qualquer circunstância.

~Março-Abril-Maio~

Ainda estava escuro quando Edward entrou no quarto 241. Os minutos que antecediam o amanhecer alongavam-se naquela madrugada fria de inverno. Ele sorriu quando notou Alice abraçada à boneca surrada que costumava ser da sua mãe e, de maneira sorrateira, foi até a lateral do leito hospitalar onde checou a ficha e o histórico dos seus sinais vitais nas últimas horas.

O médico estava exausto; as últimas horas do plantão costumavam ser as piores, mas ao visualizar Alice deitada de lado, curvada como uma bola e chupando o seu dedão trouxe uma sensação de calmaria à inquietude que assolava seu dia.

Bella não estava no seu lugar habitual, em lugar do corpo feminino estava o cansado do avô, Charlie Swan. Ela tinha saído na noite anterior para recolher algumas mudas de roupa e tomar um banho, mas prometeu voltar em algumas horas. Edward, por outro lado, reconhecia o cansaço que permeava os dias da mulher e afirmava, com resoluta certeza que ela teria deitado na sua cama e, contrariando suas vontades, dormido lá.

Ele acariciou a testa da criança, enquanto puxava a coberta para cobri-la melhor. Depois de checar que estava tudo normal, saiu do quarto e fechou a porta silenciosamente atrás de si. Enquanto continuava a sua ronda nos quartos daquele andar, não pode deixar de lembrar como as últimas semanas passaram.

Depois do beijo entre Bella e ele, tudo mudou. Os toques não eram mais tentativos ou escondidos e em questão de dois dias, todos - que a eles importavam - sabiam que estavam em um relacionamento amoroso. Não existiam encontros fora do hospital ou grandes gestos, apenas uma união firme entre o casal. Alice não entendia ao certo o que acontecia, mas gostava de ver sua mãe sorrindo todos os dias, especialmente porque 'Ed' agraciava-a dia após dia com um tipo diferente de surpresa. Ele trazia guloseimas que ela não deveria comer, ou então contava histórias e, por diversas vezes, repôs o estoque de cadernos de desenho ou livros de pintura.

Bella regozijava-se com a aproximação da pessoa que ela mais amava no mundo, ao homem que rapidamente estava ocupando um espaço grande em seu coração. Era uma relação verdadeiramente bonita de se observar. Tanto a do casal, como a da criança e o médico, mas especialmente a do trio. Aos olhos dos participantes, eles eram apenas pessoas que se importavam demais uns com os outros, mas às vistas externas, os três, em uma circunstância distinta, formariam uma belíssima família.

Quando Edward voltou à sua sala, analisou todos os seus casos, deixando o da Alice por último. Ele sabia que não deveria privilegiar tanto a criança, mas era impossível afastar-se da menina. E se ele tivesse que ignorar a ética médica por mais algum tempo, que seja.

Fazia mais de dois meses desde o último beijo trocado entre Bella e Edward. E junto disso, nove semanas que o tratamento de radiocirurgia esteriotática tinha iniciado. Edward analisou os resultados dos novos raios-X do cérebro da sua paciente e sorriu ao notar uma diminuição significativa no tumor, ao ponto de transformar possível a retirada deste por cirurgia. Ele sempre soube que a radiocirurgia não eliminaria o tumor da magnitude que o da Alice era, mas ele pode concluir que, dado os seus objetivos, o tratamento foi um sucesso.

Com um sorriso no rosto ele fez seu caminho até a recepção, onde pediu para biparem Doutor McCarty. Pouco tempo depois, o homem enorme fazia seu caminho até o pediatra.

— Fala aí, cara. – Emmett disse dando tapas nas costas do amigo.

Edward sorriu e depois de acenar agradecido à recepcionista, começou a andar até o refeitório.

— A radioterapia foi um sucesso. – afirmou aliviado.

— Muito bom! Muito bom mesmo. Podemos agendar a cirurgia para daqui a uma ou duas semanas.

— Faça isso, Emm. O mais rápido que você puder, ok?

— Claro, cara. Fica tranquilo. Você vai participar, certo?

— Lógico.

A partir desde ponto a conversa tornou-se descontraída, como há muito não acontecia.

— Que horas acaba seu plantão?

— Acabou quando fui falar contigo.

— E está aqui no hospital fazendo o que?

Edward sorriu e Emmett compreendeu as motivações do amigo. Ele queria certificar-se que tudo ficaria encaminhado nesses dois dias que ele ficaria fora do hospital.

— Vá para casa.

O oncologista prontamente atendeu a demanda do seu amigo e quando estava aproximando-se do seu Volvo no estacionamento, sorriu com a visão grotesca à sua frente. Uma caminhonete extremamente barulhenta e muito antiga, tingida por um vermelho desbotado, estacionava ao lado do seu carro. Ele reconheceu a Chevy como o carro da Bella e parou encostado ao capô do seu. Com olhos clínicos observou toda a extensão do corpo feminino quando ela pulou para descer do automóvel e gargalhou alto quando a porta emitiu um ruído enquanto era fechada.

A risada dele a fez olhá-lo e um sorriso foi iminente, mas logo acobertado por uma carranca quando ela notou que ele estava rindo do seu carro.

— Ela tem história e é de família. Pare com isso. – Bella ralhou e teve que fazer forças para evitar o próprio sorriso tomar espaço em seu rosto.

Edward estendeu a mão na direção dela, que prontamente capturou com a sua.

— Bom dia. – Ele sussurrou puxando-a para si.

— Dia... – ela disse com um sorriso tímido, enquanto posicionava entre as pernas dele.

— Dormiu bem? – sua mão espalmada nas costas dela, traziam-na mais para si.

— Uhum... – concordou depositando um beijo no pescoço dele. – Gosto de você com barba... – sussurrou enquanto roçava suas bochechas.

Ele murmurou alguma concordância e começou a depositar beijos lânguidos no maxilar dela até chegar nos lábios. Bella envolveu o pescoço dele com seus braços, aproximando mais ainda seus corpos e Edward aproveitou o momento para aprofundar os beijos sugando, suavemente, o lábio dela entre os seus.

— Edward... – ela murmurou entre os lábios masculinos. Ele ignorou e trouxe-a mais para si. Sua língua acariciou a carne suave e quente, e quando ela suspirou, ele usou-a para penetrar os lábios da mulher.

Bella aproveitou o momento por alguns segundo até lembrar-se de onde estavam. Então em meio a ofegos espalmou suas mãos no peitoral dele e afastou seus corpos.

— Edward! – o tom de voz não era nem de perto tão necessitado como foi há pouco tempo. Era imperativo e irritado.

— Desculpa... – ele disse com um sorriso torto nada apologético.

— Vá dormir. – ordenou, enquanto afastava-se dele.

Edward observou Bella se afastar dele com um sorriso nos lábios.

— Psiu. Volta aqui. – ele disse com um tom brincalhão, enquanto dava passadas largas para alcançá-la. – Preciso falar com você, mulher!

— Diga. – ela estava com um sorriso radiante, completamente diferente da mulher de poucas semanas atrás.

— O raio-x chegou. – ela nem conseguiu ficar preocupada, pois o sorriso nos lábios dele era suficiente para apaziguar qualquer temor.

— Diminuiu?

— Diminuiu. – ele concordou e gargalhou alto quando Bella lançou-se em seus braços. – Emmett vai tentar agendar uma cirurgia para daqui a, no máximo, duas semanas.

— E então acabou? – perguntou esperançosa, sentindo lágrimas inundarem seus olhos.

— Quase. Ela terá que passar pela quimioterapia e então sim, acabou.

Ela aconchegou-se mais nos braços fortes e respirou fundo o cheiro de sabonete na pele dele.

— Obrigada. – sussurrou contra a camisa azul de botões que ele usava.

Ele respondeu com um beijo cálido no topo da cabeça, enquanto seus dedos acariciavam o rosto suave.

Com um beijo longo no peitoral coberto pela blusa, ela afastou-se para voltar à sua filha. O coração preocupado da mãe passou um belo susto ao perceber-se em casa, e não no hospital. Ela esperava conseguir chegar no quarto antes que Alice acordasse e percebesse que Bella não dormiu ali com ela.

Passaram-se mais onze dias e então Bella sentiu a aflição de ver uma filha indo para a mesa de cirurgia. Horas se arrastaram até que a imagem da sua menina vestindo apenas um robe verde e deitada no leito hospitalar, enquanto era empurrada pela maca – apesar das suas súplicas para que Bella ficasse com ela – para longe da sua mãe e em direção a uma sala onde provavelmente estariam fazendo a cirurgia, fosse substituída pela visão do Edward aproximando-se. Ele parecia muito cansado, mas sua fisionomia estava, de certa forma, tranquila.

Bella olhava-o ansiosamente, esperando que ele liberasse apenas um sorriso que a acalmaria, mas ele, sem perceber a aflição dela, apenas continuou a fazer seu caminho até que estivessem frente a frente.

— Me dá alguma coisa... – ela suplicou, começando a sentir-se agoniada porque ele certamente sorriria se as notícias fossem boas.

Ele roçou suas mãos no rosto com violência e sentou-se na mesinha de café que tinha em frente à cadeira que ela sentava.

— Edward? – sua voz saiu fina e extremamente vulnerável.

— Alice está bem, Bella. – e o tom frustrado não foi mal interpretado.

— Qual é o problema disso? – ela não sabia se sentia fúria ou mais agonia.

— Não existe problema no fato dela estar bem, - e ele lançou-lhe um olhar significativo para que ela pudesse entender que ela o interpretou mal, - na verdade isso é muito bom. Mas o problema é que a cirurgia foi pior do que calculávamos. O tumor está muito abaixo, quase encontrando com a coluna e é grande demais. Emmett fez o seu melhor ali. Ele tirou uma boa parte do tumor, mas ainda estamos com uma massa significativa e a quimioterapia, que tinha planejado usar, não vai ser suficiente. Ela terá que voltar à radioterapia enquanto estará na quimio.

— E-ela vai ficar bem?

— Os tratamentos serão muito invasivos. Radioterapia e quimioterapia são fortes demais até para um adulto... – disse em um suspiro – Mas nós temos que tentar. Prometo não dosar muito em cada um para que os dois, combinados, não a faça tão mal.

— Obrigada... – Bella sussurrou ainda completamente aflita, mas sorriu quando sentiu a mão dele segurar a sua.

— Vamos para o quarto esperar Alice? – Edward perguntou, enquanto fazia carinhos circulares nas costas da mão da Bella.

Edward estava acarinhando Bella, enquanto esperavam por Alice. E quando ela chegou, sua mãe ofegou porque ela estava dormindo, mas com uma enorme bandagem em sua cabeça.

— É só o curativo. – Edward sussurrou, trazendo-a de volta para si. O olhar da Bella era apreensivo, enquanto ela observava atentamente os enfermeiro recolocarem-na no leito do quarto e foi só quando eles foram embora que Bella levantou-se do sofá e aproximou-se da sua menina.

Ela estava pálida e extremamente abatida. A cirurgia que durou pouco mais de quatro horas não fizera bem para nenhuma das mulheres presentes naquele quarto. Tanto mãe quanto filha estavam esgotadas. A diferença é que Bella precisava lidar com o mundo, já que não fora anestesiada e colocada para dormir. Mais alguns minutos passaram até que Edward também se levantou do sofá e abraçou-a por trás, repousando seu queixo no ombro dela.

— Vai ficar tudo bem... – ele aumentou o aperto, enquanto depositava um beijo cálido na bochecha. Bella concordou com a cabeça e tocou a mão pequena da sua filha com seus dedos.

— Eu acredito em você.

~Junho~

Bella pausou a leitura do livro infantil e sorriu para a sua filha, pedindo que ela aguardasse um minuto, e foi até a porta do quarto abri-la já que alguém tinha recentemente batido na mesma.

— Mike...? Oi. – ela sorriu genuinamente, enquanto olhava com curiosidade para o filho da sua chefe.

— Tem um minuto? – perguntou, enquanto observava Alice deitava na cama. Ela estava extremamente pálida. Sua pele amarelada, grandes olheiras debaixo dos olhos e muito mais magra do que costumava ser, mas assim que seu olhar encontrou os olhos castanhos da menina, ela lançou-lhe um sorriso. Michael engoliu as lágrimas e devolveu um sorriso em resposta.

— Me deixe só colocá-la para dormir, tudo bem?

— Claro, Bella. Quer que te espere aqui fora?

— Não. Claro que não. Pode entrar.

Ele então entrou. E diferente do que Bella planejava, foi ele que terminou de ler o livro, colocando Alice para dormir. Era o mínimo que ele poderia fazer frente às notícias que estava prestes a dividir.

Poucos minutos depois de Alice ter adormecido, Bella gesticulou para a porta e os dois fizeram um caminho silencioso para o corredor do hospital.

— Posso te pagar um café? – ele perguntou em um tom nada flertante. Michael e Jéssica eram casados desde o ano em que terminaram o colégio e dividiam uma relação tão verdadeira e apaixonada que a pergunta não incomodou, em nenhum sentido, Isabella.

— Claro. – ela sorriu. – Se você me permitir pagar o seu.

Ele rolou os olhos e os dois foram para o refeitório. Ele sabia que não conseguiria retirar Bella do hospital, então quando ela o convidou para experimentar o café de lá, ele engoliu a resignação e sorriu satisfeito.

— Puro, não é? – ele confirmou antes de fazer o pedido. Quando ela concordou, ele instruiu que ela encontrasse uma mesa para que sentassem.

— Chá, Mike? – Bella perguntou, realmente curiosa, quando notou o conteúdo deste líquido na bandeja que ele equilibrava em suas mãos.

— Só não estou no humor para tomar café. – explicou depositando a bandeja e distribuindo os itens na mesa. Café, chá, brioches, cookies e dois muffins.

— Está tentando me deixar gorda? – ela sorriu sincera, puxando o copo com café para si e retirando um cookie da embalagem.

Mike sorriu preocupado, notando as maçãs do rosto bastante proeminentes.

— Só me certificando que você está comendo bem.

Bella fitou as comidas e soltou uma risada.

— Só tem açúcar aqui, Mike! Como eu estaria comendo bem.

— Shiu. – ele gargalhou junto dela e iniciaram uma conversa para atualizá-lo do quadro da Alice.

Já fazia pouco mais de quatro semanas que iniciaram a quimioterapia na pequena e os efeitos não eram agradáveis. Ela ficava cansada com uma frequencia muito maior, as náuseas eram mais recorrentes e ela também estava com diarréia.

Ela dormia mais, mas Bella, por outro lado, velava o leito da sua filha praticamente todo o tempo em que tinha acordada, que, graças a um remédio que ela conseguiu comprar, eram muitas horas por dia.

— Bella, preciso falar algo sério com você.

Bella sorriu, mas sentiu seu coração constringir. Ela já imaginava o assunto que ele tinha a tratar desde que apareceu no quarto da sua filha, mas protelou o pensamento porque queria apegar-se ao último resquício de esperança que pudesse reunir. Então ela sorriu genuinamente, sabendo que não teria como guardar rancor pelas palavras que deixariam os lábios dele. Sentindo-se mais a vontade porque Bella sorriu, Mike deu um gole curto no chá, pigarreou e segurou as mãos dela com as suas.

— Tem mais de duas semanas que você não aparece na loja, Bella. Eu sei que esse é um momento horrível, mas o buraco que você tem deixado gerou alguns prejuízos à receita nos últimos meses. – Bella engoliu as lágrimas antes que elas pudessem fazer alguma aparição e sorriu, motivando-o a continuar. – Nós amamos você como se fosse da família, e é por isso que minha mãe disse que seu lugar vai estar aberto assim que puder voltar, mas agora a sua posição precisa ser preenchida. A economia não está na sua melhor forma, e manter seu trabalho sem que você produza acaba prejudicando muito a loja.

— Eu entendo. – ela concordou e culpou-se imediatamente aos danos gerados para a Sra. Newton. Ela sempre foi tão gentil e carinhosa. Bella nunca teria planejado prejudicar a mulher propositalmente. – Me desculpa.

— Não faça isso. – Mike falou em um tom sério. – Nada que está acontecendo é culpa sua.

Bella olhou para o tampo da mesa e ficou fazendo círculos aleatórios com seus dedos.

— Eu podia ter me esforçado... Isso foi culpa minha, Mike. Não soube planejar meu tempo.

— Para, Bella. Te proíbo voltar a dizer essas palavras.

Ela soltou uma risada triste.

— Eu entendo. Mesmo. – clarificou.

— Minha mãe pediu para dizer que não cancelará o plano de saúde. – sussurrou e Bella soltou um suspiro aliviado. Era com o plano de saúde que Alice estava sendo atendida. Ela não conseguia imaginar levar sua filha, especialmente dado ao seu estado, para um hospital público.

— Sua mãe é um anjo. – Bella sussurrou.

Ele depositou um beijo longo na mão feminina e levantou-se da sua cadeira. Foi até perto dela e beijou calidamente sua cabeça; em seguida depositou um envelope na frente dela e, murmurando uma intimação para ela manter contato, foi embora.

Algum tempo passou até que Bella atrevesse-se a olhar o conteúdo do envelope. Resfolegou imediatamente quando notou um valor equivalente a dois meses de trabalho.

Ela embrulhou todos os conteúdos restantes na mesa e voltou, com eles, para o quarto. Sua filha estava na mesma posição a qual encontrava-se quando Bella saiu do quarto, a diferença neste cenário era a pessoa que ornava o sofá.

— Edward... – ela sussurrou com um sorriso. Ele abriu os braços em resposta e gargalhou baixinho quando Bella se lançou em seu colo. Ele a aconchegou melhor em seu peito, enquanto espalhava beijos pelo rosto corado da mulher.

— Senti tanta saudade... – a voz saiu em um sopro, enquanto ela o abraçava forte.

— Eu também. Muita, muita, muita mesmo!

— Como ela passou esses dias? – perguntou realmente preocupado, apertando mais o corpo da mulher contra o seu. Bella encolheu os ombros, sem saber ao certo o que dizer.

— Igual, eu acho.

— O cabelo dela afinou muito. – ele notou e ela concordou.

— Vai cair?

— Provavelmente.

— Quando vocês vão checar para ver se o tratamento está adiantando?

— Marquei para amanhã a tarde, assim que cheguei no hospital hoje. Tudo bem?

— Claro.

— Onde você estava, por falar nisso? Fiquei aqui mais de meia hora.

— Conversando com um amigo no refeitório...

— A é? Que amigo? – a postura do Edward enrijecera com a admissão.

— Ciúmes, Doutor Masen?

Ele riu baixinho e mordeu – fraco – o pescoço dela, fazendo-a estremecer em seu colo.

— Ele veio me demitir, Edward. Fica tranquilo, eu não me envolveria com alguém que fez isso.

A frase não foi recebida em tom jocoso para ele, como foi para ela.

— Bella!

— Eu mereci, Edward... Não apareci no trabalho por mais de duas semanas, e isso só da última vez.

— Sua filha está doente, droga!

— Eu sei. Ele também. Mas isso não justifica as minhas faltas. Trabalho é trabalho.

— Bella!?

— Eu faria tudo de novo.

Ele a apertou contra si e seu coração começou a bater descompassado no peito quando ele imaginou a possibilidade de poder ser o sustento dela. E da Alice. A ideia de morarem na mesma casa não era tão absurda; na verdade era bastante agradável.

— Bel-

— Ela me deu dois meses de salário. Vou conseguir viver até lá.

A cortada que ela lhe deu não foi intencional, mas a sensação de rejeição perpetuou na mente dele por mais algum tempo.

— Certo... – ele murmurou baixinho e lentamente afrouxou seu aperto nela.

Bella virou seu corpo, de modo que sentasse de lado no seu colo e beijou o pescoço dele. Sorriu ao cheirar sabonete na pele máscula e sentiu seu estômago agir de forma estranha, ao mesmo tempo em que seu coração acelerou no peito.

Suas mãos começaram a tremer e ela começou a ficar realmente preocupada. Edward acariciou as coxas dela bem suavemente, enquanto relatava a sua viagem até Seattle durante o final de semana, para o curso que conseguira a vaga.

Bella sentia seu coração inflar cada vez mais. Era tanto que sua garganta começava a constringir. Algo muito bizarro acontecia com o seu corpo e ao mesmo tempo em que a sensação era assustadora, era muito gratificante.

Ele roçou seu nariz contra o dela, e sorriu quando sentiu o cheiro típico da Bella. Esse final de semana afastado dela trouxe uma clara realização. Ele estava perdidamente apaixonado pela menina que, cedo demais, virou uma mulher. Os quase dez anos de diferença na idade deles não eram, nem de perto, um empecilho.

Bella fazia um sorriso surgir no rosto do Edward sempre que ela tinha um no seu. Fazia seu estomago revirar toda vez que se aproximava dele e seu coração socar a sua caixa torácicas todas as vezes que suas peles tocavam.

Ele suspirou quando depositou um beijo casto nos lábios dela e enterrou seus dedos nos cabelos castanhos, mantendo o rosto perto do seu.

— Não se afasta. – murmurou. Os lábios tão próximos que roçaram com as palavras dele.

— Não pretendo.

— Nunca.

Ela sorriu e acariciou o rosto dele com sua mão. Ela não sabia o que as palavras ou a necessidade dele mantê-la próxima, faziam com seu corpo. Só estava certa que era muito bom.

~Julho~

A boneca era frágil por ser de pano e antiga, mas agora, ao ser constantemente esmagadas pelas mãos da Isabella, mais fios soltos eram observados, vez ou outra um botão caía e os cabelos de lã não mais eram arrumados.

— Mã... – Alice falou. Sua voz estava rouca, fraca e saiu extremamente sussurrada.

— Oi, meu amor. – Bella disse e em um salto estava ao lado da sua cama.

— Dá. – ela estendeu as mãozinhas na direção da boneca. Bella sorriu, enquanto depositava um beijo na bochecha do brinquedo e entregou para sua filha. O gesto simples trouxe um aperto grande no seu coração. A mãe nunca achou que sentiria ciúmes de uma boneca, mas nesse momento ela sentiu. Quando ouviu Alice chamá-la, Isabella acreditou que era porque desejaria algo dela, mas não a boneca.

Ela soltou uma risada sem graça, e sentou-se na lateral do leito.

— Bom dia, minha princesa.

Alice sorriu fraco e murmurou um cumprimento.

— Dormiu bem? – Bella insistiu, mas Alice apenas concordou. Ela estava cansada demais para fazer qualquer coisa além de gestos simples, que não exigissem muito esforço.

— Está enjoadinha?

— Muito. – Alice falou com um beicinho. Era incomodo demais acordar de uma noite mal dormida porque seu estomago revirava-se dentro da sua barriga, exigindo que você expelisse todo o conteúdo que ele não deseja dentro dele. E depois de quase dois meses em um tratamento de quimioterapia, ela já deveria ter se acostumado com a sensação, mas cada vez que a náusea ou as dores de cabeça a invadiam, não existia possibilidade dela se acostumar com aquilo.

Bella esticou os braços para acariciar o rosto da sua filha e sentiu sua garganta constringir ao notar uma febre ali. Deveria ter se acostumado com as condições frágeis da sua menina, mas mesmo depois de tanto tempo, a ideia de ter que ver sua filha murchando à olhos nus, trazia uma sensação de inquietude praticamente insuportável.

Seus dedos magros acariciaram o cabelo fino da sua filha cuidadosamente, e ela chorou ao notar uma grande mexa seguir o caminho dos seus dedos quando ela retirou-os da cabeça da criança. Fazia alguns dias que os cabelos da Alice estavam caindo, e pode ser culpa do psicológico dela, mas imaginar a sua filha sem cabelos, fazia seu coração doer. Não pela estética, porque cabelos crescem, mas porque ela agora virara a marca clássica do paciente que possui câncer. Pele amarela e extremamente magra, olheiras fundas, boca ressecada e sem cabelos.

Bella já tinha conversado sobre isso com Edward – a queda de cabelo. E apesar dele explicar que era normal, dado às doses de remédio aplicadas às veias da criança por conta da quimioterapia, ela ainda estava aterrorizada com o fato dos seus piores pesadelos estarem materializando-se à sua frente.

Bella teve uma curta conversa com Alice explicando que seria interessante que ela cortasse seus cabelos, porque eles iriam, eventualmente cair. Mas Alice estava resoluta em não permitir que tocassem em seus cabelos. Na sua pouca idade, ela já aprendera que meninas tem cabelos longos, e meninos, curtos. Então esse foi seu raciocínio. E mesmo depois de Bella explicar-lhe que não era exatamente assim que acontecia, até exemplos foram dados, Alice estava certa que não cortaria seus cabelos. Sua mãe decidiu, então, que só havia um forma com a qual Alice permitiria que tocassem em seus cabelos; e era exatamente por isso que dois dias depois Bella, Angela e a enfermeira Esme estavam no quarto da criança com vassoura, pá, pentes, tesouras e uma máquina de raspar cabelo.

Alice tinha acordado sem enjôos e, portanto, bem mais disposta. Ela estava sentada em sua cama, enquanto via Esme e Angela trabalharem nas mechas castanhas e bastante longas que emolduram o cabelo da sua mãe. A boneca de pano estava segura no colo da criança, enquanto um olhar curioso não deixava o rosto da Alice. Especialmente dado às lágrimas que esporadicamente escorriam pelos olhos da sua tia Ang, enquanto ela cortava os cabelos da sua mãe.

— Putê vai cotá, mã? – Alice perguntou, enquanto acariciava os fios azuis do cabelo da boneca.

— Porque é bonito. Você também quer cortar?

— Qué ficá ninita igual mamã. – ela concordou.

Bella sorriu para sua menina.

— E a Neninha? – Alice perguntou, levantando a boneca.

Neninha fora o nome escolhido por Isabella quando a boneca em questão ainda era sua. Ela não conseguia falar a palavra 'bonequinha', então o nome que ela conseguia pronunciar, virou o nome da boneca.

— É sua filha. O que você quer?

— Que fique ninita igual mã.

— Tudo bem por vocês, cabeleireiras? – Bella perguntou com um sorriso para a sua melhor amiga e para a enfermeira que também tinha ocupado um importante espaço no seu coração.

— Tudo bem. – Angela disse com uma piscadela para a criança que, agora, tinha um enorme sorriso nos lábios.

E então uma hora passaram com cortes imprecisos e mal feitos em três cabeças, até que a máquina de barbeiro fosse passada para uniformizar a penugens restantes.

Alice estava extasiada e sentindo-se extremamente bonita. Bella, todavia, não conseguia deixar de olhar para a sua filha e sentir seu coração constringir com a imagem dela amarelada, com olheiras e careca.

No início da manhã do dia seguinte, Isabella precisou resolver alguns problemas e não conseguiu retornar ao hospital até pouco antes do almoço. E a visão que ela teve, no segundo que a maçaneta do quarto 241 foi virada por sua mão, ocasionou uma piscada extra dos olhos, para que ela certificasse-se que estava vendo, de fato, uma cena real.

Edward estava sentado sobre uma cadeira no meio do quarto, enquanto Alice estava no dele, segurando o pulso da Esme, que, por sua vez, segurava uma máquina de barbeador. Alice gargalhava de maneira gostosa com cada mecha do cabelo ruivo escuro que era raspada.

Qualquer risada da sua filha ocasionava uma em Isabella, portanto, quando Esme a notou encostada ao batente da porta com um sorriso glorioso estampando seu rosto acompanhado por um olhar questionador, gargalhou.

Edward virou seu rosto para olhar na direção que a enfermeira encarava, mas teve seu rosto segurado por um par pequenino de mãos.

— Não pode mexê!

— Sim senhora.

— Alice. – Bella exclamou quando ela voltou a guiar as mãos da Esme. – O que você pensa que está fazendo, mocinha?

Ao ouvir o som da Bella um sorriso pintou o rosto do médico, enquanto sua cabeça voltava a virar para a direção dela. Desta vez não foi interrompido por mãos pequenas, já que elas estavam ocupadas demais raspando os cabelos dele.

Seus olhos arregalaram-se tanto ao notar a cabeça, também careca, da mulher, que ela sentiu-se desconfortável. Olhando para o chão e segurando a alça da sua bolsa firmemente em sua mão, foi até a sua filha, depositando um beijo longo na cabeça sem cabelos e em seguida tocou seus lábios ao rosto do Edward.

— Bom dia... – sussurrou e sorriu para Esme, que agora estava concentrada em terminar de cortar os cabelos ruivos.

— Mamã! Olha como Ed tá nindo! – Alice exclamou, batendo palminhas, enquanto encarava a cabeça recém raspada.

— Está. – Bella murmurou encarando os olhos verdes. – Lindo. – e a palavra carregava muito mais significado do que o sentido literal.

Ela simplesmente não conseguia acreditar no que via. Edward fizera a exata mesma coisa que ela e Alice fizeram no dia anterior; a diferença é que não existia necessidade alguma para que ele completasse o ato, como houve para Bella.

Quando terminou, Esme fez menção de varrer do quarto, os cabelos, mas Bella já estava com vassoura em mãos. Portanto só agradeceu por ter olhado sua menina enquanto estava fora e avisou que cuidaria da bagunça.

O silêncio estava pesado, tenso e agonizante como nunca antes fora.

Edward encarava a mulher, enquanto ela limpava o quarto e, com seus dedos cirúrgicos, acariciava a cabeça da criança.

Alice já estava adormecida quando Bella terminou de varrer tudo e jogar os cabelos no lixo fora do quarto. Edward tinha acabado de repousar a criança no leito quando sentiu um par de mãos abraçarem-no por trás.

A sensação aquecida que preencheu seu corpo, junto com as rápidas batidas do seu coração, anunciaram de quem era o par de mãos.

Ela falou algo em suas costas e, sendo abafada pela roupa do médico, ele não conseguiu ouvi-la.

— O que? – ele perguntou, virando-se cuidadosamente até que ficasse de frente para ela.

— Meu deus, eu te amo tanto. – ela confidenciou. Sua voz era cheia de agonia, como se a confissão doesse para sair do peito. – Tanto, tanto, tanto... – murmurou repetidamente enquanto abraçava-se a ele. Seu aperto era forte no corpo masculino.

Edward estava estático, sem saber ao certo o que o atingiu, enquanto ouvia e sentia palavras desconexas deixarem os lábios da mulher. Ele tinha uma vaga impressão que ela declarara amor a ele, mas como se seu corpo e mente estivessem dormentes, perdeu completamente a noção do que estava acontecendo.

— Repete. – ele comandou, e a ansiedade em sua voz estava tão clara quanto cristal.

Ela apenas enterrou-se mais no peito dele, enquanto negava com a cabeça. Bella estava desesperada e com muito medo que ele tivesse ouvido o murmúrio que amava-o. Ela sabia que, apesar de estarem juntos há quase seis meses, ele não sentia o mesmo que ela. Amor. Puro e verdadeiro e doía muito imaginar que ele não amava-a.

As mãos masculinas seguraram o rosto, forçando-a olhar para ele. Os olhos verdes aproximaram-se dos castanhos, enquanto ele murmurava contra os lábios dela.

— Repete, Bella. Por favor.

Ela fechou firmemente os olhos. Era como se o espaço do seu peito não mais fosse suficiente para seu coração, que, em contrapartida, veio bater na sua garganta. Se ela soltasse as mãos das costas dele, saberia que elas tremiam freneticamente. E deus, como seu corpo estava gelado por dentro. O frio contido em sua barriga já tinha espalhando-se como praga para todas as extremidades do corpo.

— Repete. – ele mais uma vez implorou. – Por deus, repete.

— Amo você. – ela sussurrou fechando os olhos, não antecipando o momento em que ele a dispensaria ou algo do tipo.

Edward fechou os olhos quando as palavras tocaram seu rosto com singelas carícias. Era uma sensação muito gostosa, saber que a mulher que você amava mais do que sua própria vida, dividia o sentimento contigo.

— Tanto, Bella, tanto que chega a doer. – ele complementou a confissão dela, e imediatamente selou-a com o toque casto dos lábios.

Ele passou minutos murmurando contra os lábios dela o fato que a amava e tentando quantificar o sentimento. Sem sucesso.

~Agosto-Setembro~

— Mã... qué pipi! – Alice falou pela terceira vez.

— Eu sei amor, mas temos que esperar a enfermeira, lembra que mamãe já disse isso? – ela concordou com a cabeça, mas continuou pressionando suas perninhas.

Ao encarar sua filha, Bella teve que segurar as lágrimas dentro de si, porque há dois dias foi noticiado que ela estava com uma falha hepática leve. Nada muito anormal, dado às circunstancias que ela se encontrava. Edward explicou que, por conta do tratamento incisivo da quimioterapia, era possível que isso acontecesse.

— Aqui. – Bella limpou o nariz pequeno da sua menina que mais uma vez estava sangrando. Este era um dos sintomas que acompanhavam o câncer e a coloração mais amarelada da pele.

O problema maior é que Bella precisou fazer uma decisão um tanto quanto importante: diminuir a dosagem do remédio que Alice recebia pela veia para dar um pouco de tempo para o fígado da pequena se recuperar, já que este órgão é o que mais rápido regenera, ou então manter o tratamento na mesma intensidade já que faltava menos de uma semana para a cirurgia que retiraria o pouco que sobrou do tumor na cabeça da sua filha.

E ela optou por continuar o tratamento. O que ela não poderia imaginar é que por Alice ter nascido prematuramente, essa foi a pior escolha possível. Obvio, que dado o fato que o tumor tinha grandes chances de voltar a crescer e, mais uma vez, inviabilizar a cirurgia, não houve muito o que pensar. Ficar nove meses em um hospital acabava com o bom senso de cada um. Especialmente quando esta estadia, definitivamente não era voluntária.

Bella ouviu um choramingar baixinho, e imediatamente olhou para sua filha. Alice estava encolhida na cama, abraçando os joelhos.

— O que foi, princesinha?

— Fiz pipi.

Bella depositou um beijo na testa quente da sua menina e, notando que estava febril, levantou o lençol molhado para afastá-lo do corpo da sua filha. Ofegou, entretanto, ao notar a coloração escura demais que estampava o tecido.

— Você fez xixi ou totô?

— Xixi. - afirmou com a voz fraca.

— Certeza, meu amor?

— Tem mamã!

Pouco tempo depois a enfermeira entrou no quarto e depois de fitar longamente a mancha escura, retirou-se do cômodo dizendo que retornaria em um minuto. E ela retornou, mas junto dela chegou Edward. Seu jaleco estava amassado, a barba de dois ou três dias por fazer e fundas olheiras preenchendo seu rosto. Ele passou as ultimas 41 horas no seu plantão no hospital, por isso o estado tão deplorável do homem.

Bella encarou-o, implorando com seus olhos que ele assegurasse-a que estava tudo bem e que aquilo era, de fato, fezes.

— Sra. Cope? - falou com a enfermeira idosa.

— Sim, Doutor Masen?

— Ordene um exame de sangue, dê preferência a ALT e TIBL. Nível vermelho de acesso.

— Sim senhor. - ela disse e imediatamente retirou-se do quarto.

— O que é isso? - perguntou alarmado, notando um rastro de sangue deixando o ouvido dela.

— Meu deus! - Bella ofegou, temendo aproximar-se demais.

— Ela está tendo hemorragias desde quando, Bella?

— Há uns dois dias. Achei que era um efeito colateral normal da quimioterapia.

— Não assim. - ele murmurou.

Bella custou para perceber a gravidade da situação, e só foi retirada do torpor quando ouviu um choramingar desesperado da sua filha, mas antes mesmo que pudesse alcançá-la, Alice já estava no colo do homem que tanto amava

— Shiu, princesa. Vai ficar tudo bem... - ele sussurrava sem parar contra a cabeça ainda careca da criança.

Isabella puxou seus cabelos curtos com a mão, enquanto considerava uma aproximação. Mas antes mesmo que ela pudesse, dois homens vestidos de verde entraram no quarto e colocaram sua filha em uma maca.

Fora tudo rápido demais. Ela nem conseguiu assimilar a situação. Era como se seu cérebro ainda estivesse tentando compreender o xixi escurecido.

Duas mãos grandes abraçaram-na, trazendo-a para perto do Edward.

— Preciso fazer esse exame, meu amor. Você fica aqui? - ele estava muito preocupado com Alice, mas não conseguia olhar para a mulher que vestia um semblante perdido, e simplesmente sair do quarto.

— Vai. - ela sussurrou e foi só quando sentiu o baque mudo da porta fechando, que conseguiu compreender que algo muito sério estava acontecendo.

Como se estivesse no automático, retirou os lençóis sujos da cama da sua filha e levou-os até a ala da enfermaria.

Quase duas horas passaram-se até que Edward tivesse retornado ao quarto. Sozinho.

— Onde está Alice?

— Unidade de Tratamento Intensivo.

— UTI? - perguntou, necessitando daquela confirmação. Ele apenas concordou com a cabeça, enquanto aproximava-se mais dela. - Por quê?

Edward enlaçou a cintura fina e trouxe-a muito perto de si.

— Ela teve uma insuficiência hepática aguda.

— Uma o que?

— O fígado dela quase parou de funcionar.

E então o inferno tinha finalmente acomodado-se à terra. Minutos passaram com ela chorando copiosamente nos braços do homem, enquanto ele a apertava, passando o que restava de forças em si, para ela.

Lamúrias incoerentes eram murmuradas pela voz feminina, enquanto ele os guiava para sentar no sofá daquele quarto.

Edward deveria ter antecipado esse momento. Por deus, ele sabia que Alice era frágil demais para aguentar mais uma semana de quimioterapia, mas ainda assim deixou Bella fazer a escolha.

— Eu não entendendo como isso aconteceu! Alice é uma menina saudável e tinha absolutamente tudo para conseguir passar por esse tratamento. Por deus, eu simplesmente não consigo entender, amor. Juro que as doses medicinais ministradas eram baseadas na massa corporal dela. Eu tomei muito cuidado para não errar.

E agora era ela quem o consolava, porque, aparentemente, a necessidade de culpar alguém o atingiu de forma avassaladora; e o alvo escolhido em quem ele miraria a culpa, era ele mesmo.

— Ela vai ficar bem, amor. Alice é forte. Ela sobreviveu à sua primeira semana de vida, mesmo nascendo prematura.

— O que? - ele perguntou, resfolegando. - Alice nasceu prematura?

— S-sim... - Bella respondeu completamente insegura. - Trinta e cinco semanas.

— Puta que pariu.

E essa foi a primeira vez que ouviu um xingamento deixar os lábios do médico.

— Como eu deixei isso passar? Meu deus do céu!

Bella recomeçou a chorar, ao notar que ele - a sua base, a pessoa com a qual contava para manter-se sana - tinha acabado de explicitar que tudo poderia estar perdido.

— O que é? - ela perguntou desesperada em meio a soluços. - Por favor, meu amor. Me diz o que é.

— Com trinta e cinco semanas o fígado do feto já está desenvolvido, mas ele só consegue absorver substâncias tão agressivas depois que a gestação está completa.

— Mas ela ficou um tempo no hospital, se recuperando.

— Eu sei, mas a formação nunca vai ser igual.

— Edward... - a voz dela saiu tremida e tão vulnerável, que o fez sentir-se acuado. - E agora?

— Vamos tentar limpar o organismo dela, mas se não conseguirmos teremos que colocá-la na lista de doadores.

— Mas ela não teve uma falha hepática!

— Ainda. - e o gosto da palavra saiu amargo na boca do Edward e ardeu no ouvido da Bella.

— Vai se fuder, Edward! Quem você pensa que é para matar minha filha por antecipação? Ela não teve falha hepática, ela não morreu!

Edward nada pode fazer se não abraçá-la contra si e deixar que o ressentimento que ela sentia fosse suficiente para aplacar a culpa que o assolava. Em pouco tempo, a fúria que possuía a mulher, dissolvera-se em desespero. O mais bruto desespero porque sua filha saiu do quarto apenas para fazer um exame, e não voltou; e ao invés disso, foi colocada em uma unidade de tratamento intensivo com uma grande possibilidade de ter uma falha hepática e assim, como milhares de pessoas todos os anos, ter que ficar na fila de espera de um transplante.

— Me testa! – Bella exclamou com alívio na voz. – Por deus, testa meu fígado.

— Claro, amor... – Edward disse compreensivo, porque ele mesmo já pensava em ter o seu também testado.

— Logo. – ela implorou.

— Eu prometo.

Diferente do que a estadia no quarto, na UTI as visitas eram muito mais restritas e apenas Bella tinha a liberdade de ficar o dia inteiro lá. Nem Edward tinha o passe tão livre, visto que Alice não mais estava internada em sua ala, mas na de outro médico.

Charlie e Angela visitavam a pequena todos os dias desde que fora internada e agora, mesmo que não mais pudessem vê-la tanto como a viam, continuavam indo. Era quase como se todos tivessem necessidade de ver com seus próprios olhos que a menininha ainda estava viva. Ela, na verdade, definhava dia após dia a olhos nu. E por isso vê-la diariamente era melhor, menos traumático já que as mudanças eram demoradas e languidas.

Alice passou mais duas semanas internada na UTI e, diferentemente das melhores expectativas, seu estado só piorava. Quase que para o deleite do demônio, Edward ordenou a diminuição do remédio da quimioterapia para que o organismo conseguisse limpar as toxinas de dentro dele. O processo foi muito mais demorado do que de costume e ele cogitou colocar Alice em bypass para limpar de uma vez por todas esse sangue, visto que o fígado não conseguia dar conta. Nesse meio tempo, o tumor – acostumado a uma dose muito mais alta de remédio – voltou a crescer. E quase como uma maldição, Edward pode perceber que ele cresceu muito mais fortificado do que costumava ser, porque agora ele já tinha defesas contra alguns princípios ativos medicinais.

Doutor Emmett McCathy nunca foi muito paciente, e dada uma situação de vida ou morte, ele sempre optava pela atitude mais arriscada, escolhendo, dessa forma, a vida. E no caso da Alice Swan não foi diferente. Ele tinha uma cirurgia agendada para retirar um tumor cerebral, e era isso que faria. Edward quase teve uma sincope nervosa quando ouviu a proposição do seu amigo, mas depois de quase uma hora ponderando junto dele, optou que essa seria a melhor opção que eles teriam.

O sangue da Alice era filtrado em um ritmo lento demais e, em contraste à essa velocidade, crescia o tumor. Então era válido que eles optassem a cortar o mal pela raiz.

Como o corpo fica em um estado muito crítico durante uma cirurgia, Edward achou que seria plausível usar o bypass enquanto o tumor fosse tirado. Emmett achou que seria demais para um corpo só aguentar e quando falou isso, não só foi ofendido, como colocado em seu lugar.

— Eu sou o médico dela.

— Eu sei, Edward, mas ligar o corpo dela à maquinas para retirar todo o sangue, filtrar e depois recolocar, enquanto mexo no cérebro dela é demais para uma criança de dois anos.

— Três. – Edward corrigiu pois há pouco mais de duas semanas Alice tinha completado três anos de idade.

— Que seja, cara. Não faz diferença. Racionaliza comigo.

— Eu estou racionalizando. – ele contrapôs por entre os dentes.

— Não, Edward. Não está. Você se envolveu demais com ela, cara. Demais. E agora está fazendo escolhas burras. Ela tem tempo, Ed.

— Eu me envolvi sim, Emm. Mas não é por isso que deixei de pensar como o médico que sou.

— Na verdade está deixando.

Edward fechou o punho e respirou fundo – algumas vezes – pelo nariz, tentando acalmar-se. Emmett não só ofendera suas habilidades médicas, como disse que seu envolvimento com Alice era errado.

Porra! Não existia nada mais certo do que amar aquela menina como sua filha. Ele, pelo menos, sentia-se verdadeiramente assim.

— Para de ser cabeça dura e entende, de uma vez por todas, o que estou falando. Você é um médico do caralho, cara. Um dos melhores oncologistas pediátricos da região, mas porra, Edward, fazer o bypass enquanto retiro o tumor não é seguro. E se você quiser continuar com essa ideia, arrume outro cirurgião, porque eu não vou sujar minhas mãos dessa forma.

— Você só está com medo. – Edward provocou e teve que engolir seco com o olhar de resposta que Emmett lançou-lhe. Era frívolo.

— Você pode ter certeza que sim.

E com isso ele saiu da sala.

Edward agendou a cirurgia para o dia seguinte, no hospital de Seattle porque o de Forks não tinha tanta tecnologia. Ele não poderia correr o risco de perder Emmett como o cirurgião, portanto o bypass teria que esperar.

Bella foi na ambulância com Edward e Alice, enquanto Emmett foi de carro. Charlie e Angela seguiram, não muito atrás, na viatura do homem.

O clima não era tranqüilo. Especialmente por se tratar de uma remoção hospitalar que duraria cerca de quatro horas. Era perigoso demais, e Edward tentou conseguir o helicóptero do hospital de Seattle, mas não obteve sucesso.

A cirurgia foi um sucesso e Emmett retirou tanto do tumor que Alice teria que fazer um tratamento simples e leve, só para terminar de matar algumas células cancerígenas presas às paredes cranianas.

Entretanto, o que não era bem vindo, mas chegou, foi a infecção hospitalar que Alice contraiu na mudança de ambiente. Ela, por ter passado quatro meses em quimioterapia, estava com o sistema imunológico muito fraco. A falha hepática que ela contraiu, apenas colaborou para que sua situação se agravasse, já que seu organismo estava focado em combater as toxinas do sangue, e não futuras infecções. E, se não bastasse, durante o bypass que foi ministrado dois dias depois da cirurgia, ela teve duas paradas cardíacas e o seu organismo não se adaptou bem com o sangue recém-filtrado, ocasionando ainda mais trabalho ao fígado extremamente debilitado que, em consequência, falhou por completo.

Edward, no auge do desespero, ordenou que ela fosse mantida no bypass até que um doador chegasse. Ele foi à diretoria do hospital, e com um desespero palpável, implorou que eles recomendassem o transplante para Alice, dessa forma eles avançariam significativamente na lista de espera de órgãos. Alice, por ser criança, já tinha vantagens sobre outras pessoas, mas o fato que estava em tratamento contra o câncer, seu fígado já havia falhado e, para piorar, contraíra uma infecção hospitalar, só piorava a situação dela, colocando-a em uma lista de prioridade menor, já que aos olhos deles, Alice já estava morrendo.

~Outubro~

— Por favor, me chama o Edward. – Bella pediu a seu pai, em meio a soluços contidos. Ela estava segurando a cabeça da Alice que acabara de recomeçar a vomitar. Dessa vez, entretanto, o vomito saiu vermelho e muito parecido com sangue.

Alice estava vomitando a tanto tempo que chegou a ficar com falta de ar. Quando seu estômago descansou, ela desatou a chorar copiosamente. Bella não ficou para trás, pois colocou a bacia com o sangue no criado mudo, apertou a campainha para chamar a enfermeira e deitou no leito com sua filha, enquanto ambas choravam juntas.

Bella tinha certeza que era impossível sofrer mais do que estava, mas toda vez que olhava para sua menina e constatava o quão errada sua afirmativa era, só sentia-se pior, porque a pessoa que sofria mais do que ela, era sua filha.

— O que foi? – Edward perguntou esbaforido.

Bella então chorou ainda mais intensamente e ele, sem pensar que isso poderia gerar uma advertência pela junta hospitalar, subiu na cama e abraçou Bella, por trás, contra si. A sua mão segurando a cintura fina demais da Alice, que estava atrás da sua mãe.

— O que foi, meu amor? Fala comigo.

— Ela vomitou sangue. – Bella explicou depois de seguidas tentativas sem sucesso. – E está com tanta dor, que chega a doer em mim. – complementou em um lamento sôfrego. – Eu não sei mais o que fazer. – e o choro em nenhum momento a deixou.

Edward enterrou seu rosto no pescoço dela, e chegou mais perto das mulheres, porque, e por mais que a admissão disso doesse demais, ele também não fazia ideia do que mais fazer.

— Cada dia fica pior. E como se não fosse passar. – ela continuou a deixar seus sentimentos exteriorizarem-se. – Dói demais.

Quando fechou os olhos para tentar conter as lágrimas, Bella lembrou-se de Tanya falando do alívio de deixar seu filho partir, mas, em contrapartida, como essa partida a destruiria. E era exatamente isso que ela sentia. Alice era tudo o que ela tem na vida, ou melhor, é a sua vida, e perder sua menina significaria perder a simples vontade de viver. Ela não conseguiria se imaginar em um mundo que sua filha não mais vivesse. Por deus, o ciclo natural é ver sua filha ter seu primeiro namoradinho – daqueles que o menino nem sabe que está em um relacionamento – e então os sucessos dela na escola, um namorado de verdade, faculdade, casamento e filhos. Mas com o andar dos fatos, era possível que ela não chegasse nem perto do namoradinho.

Meu deus! Bella sentiu a urgência no momento e ofegou, literalmente sem ar. Seu coração dava batidas descompassadas, enquanto todo o seu corpo tremia em meio a suor frio.

Ela sentia-se morrendo.

Edward abraçou Bella ainda mais forte contra si, sem ideia do que passava pela sua cabeça. Mas nos poucos segundos que se passaram, o corpo que estava entre seus braços começou a tremer violentamente, enquanto um suor cobria-o por inteiro. Ele sentiu, mais do que viu, Alice abraçar mais forte a mão da sua mãe e então murmurou palavras de encorajamento.

— Eu te amo, mamã. – A menina sussurrou e Bella chorou ainda mais forte.

Bella entendeu a declaração como uma despedida, então abraçou sua filha mais ainda contra si e, em meio a lágrimas, ofegos e lamúrias, implorou que Alice não a deixasse.

— Ainda não, meu anjo. Por favor, ainda não. – a voz da mulher era tremida e tão implorativa.

— Aninda não. – Alice concordou, sem saber ao certo o que sua mãe estava pedindo.

Foi só no final daquela semana que Alice teve sua primeira parada cardíaca. Ela estava fazendo uma tomografia computadorizada quando um ataque de tosse a atingiu. Ela cuspia sangue, e a respiração não chegava a seus pulmões. Eventualmente, engasgada, a criança caiu desmaiada.

O mesmo ocorreu três vezes no período de dois dias, a diferença era o lugar o qual se encontrava. Duas vezes foram no quarto, e uma terceira no corredor do hospital, enquanto Bella empurrava a cadeira de rodas que Alice usava.

Na semana seguinte havia uma pequena cirurgia marcada para estancar a hemorragia pulmonar que ela sofria. Aparentemente a inflamação hospitalar não foi devidamente combatida pelos antiinflamatórios e alastrou-se, dessa forma, até os brônquios.

Bella não conseguiu liberar Alice para o centro cirúrgico com facilidade. Ela, desde que acordou, não conseguia ignorar a sensação esquisita que assolava seu corpo. Sua barriga ficava constantemente gelada, seu coração batendo lentamente, enquanto sua garganta fechou-se tanto, que a respiração era dolorosa.

Edward optou por não estar na sala de cirurgia, porque Alice estava em boas mãos, mas Bella, sozinha.

— Confia no Doutor Brown, Bella. Ele sabe o que está fazendo...

Bella apenas confirmou com a cabeça, enquanto seu corpo procurava por abrigo no corpo do Edward.

— Não me deixa. Não sai daqui.

— Nunca... – e a palavra foi sussurrada em um tom tão baixo, que praticamente não foi ouvida.

— Eu te amo. – ela confirmou a declaração dele com uma própria, mostrando que a palavra sussurrada pelo Edward, foi ouvida.

Ele respirou fundo e trouxe-a mais para perto de si. Ouvir tais palavras da mulher que ele já amava mais do que sua própria vida era sempre intenso demais.

As quase três horas que Alice ficou na mesa de cirurgia demoraram praticamente um dia. Entre o casal, que aguardava na sala de espera, palavras quase não foram ditas, respirações eram furtivas e necessidades escondidas, porque a apreensão do momento nublava qualquer outra sensação externa a ponto de lançar os dois em um mesmo limbo.

O momento gelado foi quebrado quando alguém – que aparentava estar com ainda mais frio – entrou na sala de espera carregando uma expressão que Edward era extremamente familiar. Bella olhou o Doutor Brown com apreensão, seca por notícias, enquanto Edward fechou os olhos e respirou fundo. Ele sentia vontade de mandar o médico de volta e fazer o melhor de si, mas optou por fechar os olhos e respirar fundo algumas vezes, caso contrário, as lágrimas que faziam seus olhos arderem, iriam inundá-lo.

When you try your best, but don't succeed

Quando você tenta o seu melhor, mas não tem sucesso

When you get what you want, but not what you need

Quando você consegue o que quer, mas não o que precisa

When you feel so tired, but you can't sleep

Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir

Stuck in reverse

Preso no reverso

Doutor Brown estava com a máscara cirurgia pendente em seu pescoço. Sua roupa azul, completamente amassada. Os olhos vermelhos fitavam tudo, mas não viam nada. As pernas guiavam-no para um caminho doloroso. Os braços pendiam pesados ao lado do corpo. Quando ele terminou de atravessar o corredor branco demais e ficou a poucos metros do casal, retirou a toca cirúrgica com fúria e amassou-a entre os punhos.

Para Bella aquilo era cansaço. Para Edward, derrota.

"hemorragia interna, lugares demais, duas vezes, parada cardíaca"

As palavras que saíram dos lábios dele não eram absorvidas pelos ouvidos da mãe da criança que ele recentemente operou. Tudo o que ela conseguia captar eram emoções que corriam pelo rosto dos dois médicos.

Neutralidade, resignação e fúria. Contra surpresa, apreensão e lágrimas - muitas lágrimas.

O embate de emoções entre o cirurgião e o oncologista pediátrico, faziam Bella sentir-se confusa, mas quando os olhos verdes do homem que amava debulharam-se em lágrimas, ela compreendeu.

And the tears come streaming down your face

E lágrimas escorrem pelo seu rosto

When you lose something you can't replace

Quando você perde algo que não pode substituir

When you love someone but it goes to waste

Quando você ama alguém, mas é desperdiçado

Could it be worse?

Pode ser pior?

Edward estava tão focado em sua própria dor que quando Isabella caiu límpida no chão, ao seu lado, ele não notou a princípio. Doutor Brown imediatamente agachou-se para ajudar a mulher que tinha desmaiado, e ao notar a movimentação, Edward saiu do seu estado de torpor e acordou, com suas próprias mãos a sua mulher.

— Sh... estou aqui. – ele sussurrou, mas o barulho agudo que Bella ouvia ao fundo, a impedia de ouvi-lo. – Fique comigo... Volta. – ele murmurou implorativamente, enquanto acariciava os cabelos castanhos que recomeçavam a crescer. – Não me deixa sozinho. – o pedido era agoniado e acompanhado por mais lágrimas. – Não você. Por favor, você também não.

E era extremamente errado exigir de uma mãe, que acabou de perder um filho, sua presença, mas era quase como se ele não conseguisse distinguir o certo do errado. Tudo o que Edward necessitava era que ela ficasse em ele. Que ela não se afastasse. Porque, por deus, como doía. Seu peito estava dilacerado, a respiração entrava em seu organismo cortando-o em partículas atômicas, enquanto suas lágrimas escorriam por seu rosto como ácido.

— Alice. M-me dá a minha filha. – Bella chorou, sabendo que o pedido era impossível.

Lights will guide you home

Luzes te guiarão para casa

And ignite your bones

E inflamarão seus ossos

And I will try to fix you

E eu tentarei te consertar

Edward levou Isabella até o lugar que Alice estava. Pelo protocolo ele não poderia levá-la à sala de cirurgia, mas ele não estava nada preocupado com o protocolo.

Os passos da Bella eram curtos e falhos. Ela estava fraca, muito fraca. E cansada, mas quando abriu a porta e viu sua menina deitada em um leito com um lençol azul cobrindo seu corpo, poderia jurar que ela só estava dormindo. De longe sua filha parecia uma criança, a sua criança; mas de perto definitivamente um anjo.

— Meu anjinho... – ela sussurrou e quando tocou no rostinho pequeno que percebeu a realidade daquilo tudo. Alice estava tão fria e imóvel. Seu peitinho não subia ou descia com a respiração. Estava parado. Bella teve que colocar um dedo perto do nariz da sua filha, para certificar-se que ela ainda respirava, mas quando nenhum ar tocou sua pele, ela entrou em desespero. Era quase como se seu cérebro tivesse acabado de apagar as memórias recentes onde ela via, mas do que ouvia, que sua filha estava morta.

And high up above or down below

E lá em cima ou bem embaixo

When you are too in love to let it go

Quando você está tão apaixonado para libertar

But if you never try you will never know

Mas se você nunca tentar, jamais saberá

Just what you are worth

Exatamente quando você vale

— Edward! Alice não está respirando. – ela estava completamente desesperada, olhando em todas as direções, quase implorando para os céus fazerem sua filha voltar a respirar.

Ele demorou muito tempo para conseguir acalmar Isabella. E quando ela deu-se por convencida que Alice não mais acordaria, não só desatou-se em um choro mudo, como se fechou completamente para o mundo.

Lights will guide you home

Luzes te guiarão para casa

And ignite your bones

E inflamarão seus ossos

And I will try to fix you

E eu tentarei te consertar

Charlie observou com desespero a sua filha perder-se em si mesma, enquanto ignorava Edward, que acabava também sentindo-se perdido.

Dias passaram até que ele conseguisse resolver a cremação da Alice. Bella não conseguia sequer sair do quarto do hotel, quando mais lidar não só com o fato que sua filha morrera, mas também virara cinzas. Ele lembrava vagamente da Bella mencionar que não gostava de cemitérios e que sempre que tivesse que fazer esse tipo de escolha, optaria por cremação.

Tears stream down your face

Lágrimas escorrem pelo seu rosto

When you lose something you can not replace

Quando você perde algo, que não pode substituir

Tears stream down your face

Lágrimas escorrem pelo seu rosto

And I

E eu

Edward estava deitado de lado na cama ao lado da Bella. Ela estava de olhos abertos, mas completamente desfocados. Seus ossos estavam muito mais proeminentes, assim como as olheiras em seu rosto. Ele preocupava-se com ela mais e mais a cada dia. Era como se ela estivesse definhando na sua frente. Seu coração doía não só com a perda daquela bolinha de energia, mas com a perda gradual da mulher que ele ama.

A mão magra, fria e pequena tocou o rosto abrasivo pela barba e por lá ficou. O coração do médico perdeu uma ou duas batidas pelo contato e, em seguida ele envolveu a cintura fina com seu braço, trazendo-a mais para si.

Eventualmente eles voltaram para Forks. O casal foi para a praia de La Push e, enquanto Bella lançava as cinzas – de maneira morosa – na praia, Edward dedilhava músicas no seu violão. Não foi planejado, ele apenas sentia uma súbita necessidade de fazer música.

Tears streams down your face

Lágrimas escorrem pelo seu rosto

I promise you I will learn for my mistakes

Prometo a você que aprenderei com meus erros

Tears streams down your face

Lágrimas escorrem pelo meu rosto

And I

E eu

Os dois passaram horas sentados naquele penhasco observando cada partícula da menina, que tanto amaram, ser recebida pelo universo. Escondida pelas folhas, levada pelo vento e, em sua maioria, engolida pelas águas.

Mais de uma semana tinha passado desde de o dia mais fatídico da vida da Bella e nenhuma palavra fora emitida por ela. Era quase como se tivesse perdido tanto a motivação para viver que até o ato de falar era dispensável. O que ela não poderia imaginar é que o homem que ficava com ela dia e noite também morria gradativamente a cada dia em que ela se afastava mais e mais.

Foi só quando Bella levantou-se e andou até o limite do penhasco que Edward abandonou o violão e correu para lá.

— O que você pensa que está fazendo? – explodiu, puxando com força o corpo da mulher contra si.

— As cinzas! As quero de volta. Eu não quero que ela vá. – Bella gritou, enquanto chorava. – Ela não pode me abandonar. – e o cansaço dos últimos meses finalmente abateu-se a ela, já que repentinamente suas pernas perderam as forças e seu corpo cedeu contra o dele.

Edward carregou-a com cuidado para longe dali e a depositou em seu colo. Ela ainda não tinha parado de chorar, e embora ela estivesse silenciosa, seu choro era muito mais sofrido.

— Estou com tanta saudade. Como eu vou viver sem ela?

— Eu espero poder te ajudar, amor. Não posso cogitar a hipótese de viver sem você. Não me faça passar também por isso.

— Eu não quero, mas não consigo.

— Você não vai se matar. – a certeza atingiu o corpo da Bella como um choque.

— Não. – ela sussurrou, derrotada. Nunca fora intenção dela se matar, a hipótese de reunir-se com sua filha apenas parecia tentadora.

— Eu não vou viver também sem você. Não faz isso comigo. – ele soluçou. Bella o fitou e notou seu choro seco, mas pesaroso.

— Não vou. – ela prometeu.

— Para onde você está me levando? – ela perguntou, horas depois, quando eles entraram em uma rua desconhecida.

Era extremamente longe da sua casa e na fronteira da cidade. Tinha muitas árvores, mas ainda assim era um lugar claro.

Sua dúvida apenas aumentou quando ela avisou uma belíssima choupana puxada para o tom telha.

— Para casa.

— Sua casa?

— Nossa casa. – ele simplesmente clarificou, demonstrando que não mais pretendia reter o título daquela casa sozinho. Especialmente se isso implicasse a distancia da Bella por um segundo que fosse. Era um risco que ele não estava disposto a correr.

O ofego dela foi suprimido pelo ronco do motor quando o carro começou a subir a ladeira para chegar à casa.

Nossa casa.

Bella assustou-se, principalmente, com a empolgação que sentiu ao ouvir e absorver aquelas palavras. Empolgação esta sentida, pela primeira vez, em muito tempo.

Nossa casa.

Lights will guide you home

Luzes te guiarão para casa

And ignite your bones

E inflamarão seus ossos

And I will try to fix you

E eu tentarei te consertar


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Notas finais do capítulo

Ninguém pediu, mas tô aqui mandando abraços virtuais.
Um epílogo vem aí.

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Glossário:

Meduloblastoma – é o tumor cerebral maligno, que ocorre com mais recorrência em crianças.

Radioterapia – tratamento oncológico (de câncer) que utiliza radiação de íons. Pode ser usado externamente ou interna. No caso da Alice foi uma capsula ionizante que liberaria o conteúdo dela de forma gradativa, colocada dentro do crânio, próximo ao tumor. (Braquiterapia)

Quimioterapia – tratamento oncológico que utiliza-se de componentes químicos para afetar o funcionamento celular (de células). No caso da Alice, o tratamento foi ministrado intravenoso (pela veia) e com o objetivo de destruir a capacidade das células cancerígenas de se multiplicarem.

Insuficiência Hepática – As funções do fígado são comprometidas.

Falha Hepãtica – O fígado para de funcionar.

ALT e TIBL – exames de sangue.

Bypass – é um equipamento que faz um 'desvio' da função de órgãos pontuais que estão danificados, para manter o paciente vivo. No caso da Alice, foi usado para aliviar o fígado, de modo que ele começasse a se reconstruir.

Tomografia computadorizada – é um exame de diagnóstico por imagem, feito por computador.



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