My little angel escrita por Lou5858


Capítulo 2
Dormingo




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O dia acordou nublado e bastante frio. A neve já cobria o chão há pouco mais de uma semana, mas nessa manhã ela parecia ainda maior. O sol, também temeroso com o que o dia reservava, estava escondido atrás das nuvens escuras.

O hospital era silencioso, contrapondo-se com cada casa da região que tinha alguma criança como moradora. Manhãs de Natal costumam ser animadas, com meninas e meninos pulando para as árvores de Natal, tentando buscar os presentes que o Papai Noel deixou para elas na noite anterior, mas no silencioso e desperto ambiente pediátrico hospitalar a situação era oposta. Sorrisos contentes só eram observados nos rostos de médicos e enfermeiros que tentavam trazer um pouco de felicidade aqueles pequenos pacientes da ala da pediatria que eram tão desamparadas.

Isabella suspirou profundamente, enquanto pisava suavemente no chão. A sensação de inquietude que a acometia era grande demais para ela simplesmente esperar. Pela primeira vez em dois anos ela conseguiu acordar mais cedo do que sua filha.

Virando seu rosto na direção da pequena, ela sorriu quando notou um fraco raio de luz no corpinho dela. Era parecido demais com as imagens que criavam quando Deus comunicava-se com humanos. Nuvens abrindo, raios de sol e uma grave voz falando do céu.

Bella não ouviu voz, tampouco viu Deus, mas ela sabia que aquele pequeno gesto significava mais do que ela poderia compreender. Era quase como se os céus estivessem tentando mandar uma mensagem para ela. Não que Isabella fosse religiosa; nunca foi, mas apegar-se ao fato que existe um ser superior olhando pela sua garotinha era o mínimo que ela poderia fazer.

Era pouco mais de seis horas da manhã e ela sabia que o sono profundo da sua filha devia-se ao remédio que Doutor Masen aplicou durante a noite. Ela acreditava que ele não a notou acordada quando entrou no quarto na noite anterior, mas a imagem dele chorando, enquanto medicava Alice só serviu como combustível para que os pedaços remanescentes do seu coração terminassem de quebrar.

Era como se ele soubesse que sua filha não tinha chances. Quais outras desculpas ele poderia oferecer além dessa quando chora ao medicar um paciente?

O barulho suave de uma batida na porta do quarto fez o coração dela dar um sobressalto esquisito, mas mesmo com suas pernas tremendo, fez seu caminho até a maçaneta e girou-a lentamente. Abriu a porta devagar e decepcionou-se ao não encontrar Doutor Masen ali, mas um médico pouco mais baixo do que ele, com cabelos loiros e olhos cor de mel. Ele era extremamente branco e tinha um sorriso paternal no rosto.

'Doutor Cullen' estava bordado no seu jaleco. Isabella olhou dele para sua filha adormecida e então prostou uma expressão de dúvida no rosto.

Depois que ele explicou que era o plantonista que substituiria Doutor Masen durante os turnos do dia e noite e que já estava completamente familiarizado com o caso. Isabella acenou em concordância e convidou-o a entrar no quarto da sua filha, enquanto conseguiu mascarar a decepção de não ver o médico da sua menina hoje. Ela ainda não tinha notado que era Natal, até que quando foi fechar a porta do quarto viu uma enfermeira com um chapéu de Mamãe Noel. Então ela admirou os arredores e arfou quando notou a decoração natalina do ambiente.

— É Natal, não é? – ela sussurrou para ninguém em especial.

— Dia 25. – Doutor Cullen confirmou.

Bella voltou a sentir sua garganta constringir com o fato que esqueceu – por completo – a data que sua filha tanto amava. O presente de Natal já fora comprado há algumas semanas. Era uma boneca que tinha um cheiro de frísias.

Alice disse que tinha o cheiro da sua mãe e durante muitas semanas pediu para Bella comprar aquela boneca. O emprego da mulher, por outro lado, não colaborava quanto à excedente de dinheiro para dar esse luxo a sua menina. Então com as bonificações natalinas e de final de ano ela realmente achou que o momento para fazer a aquisição era oportuno.

— Vai ter uma pequena comemoração na ala pediátrica no final da tarde. – ele afirmou. A cabeça da Bella virou-se na direção da voz, enquanto sua mão fechava delicadamente a porta do quarto.

— Não vi isso em lugar algum. – ela sussurrou em resposta ao passo que aproximava-se da cama da sua filha.

O médico sorriu carinhosamente e encolheu os ombros.

— Está em todos os murais, mas entendo que sua cabeça esteve nublada demais para perceber.

Isabella concordou, sentindo seus olhos arderem e umedecerem.

— Começa às quatro. Vamos ter um Papai Noel e se você tiver algum presente em casa, entregue na ala da enfermaria que repassamos ao bom velhinho.

Ela sorriu meneando sua cabeça.

— E quem não tem?

— Presentes?

— Sim, - ela disse timidamente.

— Nós recebemos doações anuais de brinquedos então nenhuma criança ficará desamparada.

— Oh. Isso é bom.

Ele concordou, enquanto pegava a ficha presa na cama e analisava quase tão silenciosamente quanto a conversa dos dois fora. Depois Isabella observou o loiro bem aparentado verificar o monitor com os sinais vitais da sua filha e então as bolsas de soro e remédio presas ao braço da criança. Ela estava apreensiva demais para sentar, mas muito nervosa para sequer pensar em caminhar.

— Parece que ela passou a noite sem febre, certo? A enfermeira veio aqui?

— Sim. A enfermeira e o Doutor Masen.

— Masen? – e a expressão dele era curiosa.

Isabella meneou timidamente a cabeça.

— Houve algum problema com Alice para ele vir?

— Não. Estávamos dormindo. Ele veio rápido para checar o monitor e repor o remédio.

As sobrancelhas do médico uniram em profunda dúvida, enquanto ele tentava contemplar a informação recém descoberta.

— Entendo... – foi tudo o que ele disse.

Carlisle Cullen passou mais algum tempo examinando a menina até que, eventualmente, ela acordou.

Sua voz rouca chamou pela sua mãe, que antes mesmo de Alice ter finalizado o chamado, já estava ao seu lado.

— Dia... – ela sorriu, enquanto esticava seus braços e pernas, espreguiçando-se.

— Bom dia, princesinha. Dormiu bem?

Alice concordou em meio a um bocejo e logo percebeu o homem ao seu lado. A mudança do seu humor foi visível; se antes estava desinibida ao lado da sua mãe, agora era uma menina completamente tímida e encolhida.

— Esse é o Doutor Cullen, querida. Amigo do Doutor Masen.

— Ed? – ela perguntou com a voz fraca. Isabella olhou para sua filha em dúvida sem entender muito bem o que ela estava falando.

— Isso mesmo. Amigo do Ed. – Carlisle explicou e depois murmurou o nome do Edward para a mulher.

— Cadê ele? – Alice perguntou olhando para o médico.

Diferentemente do que houve com Edward, Alice quase não precisou ser encantada para cair nas graças do Cullen. Era quase como se ele exalasse uma aura de tranquilidade. O choque inicial que a criança teve com ele não durou mais do que alguns segundo.

— Uhm. Com a família dele. – Carlisle explicou.

— Não vai vim?

— Vir. – Bella corrigiu.

— Não. Não vem. – disse num tom sério e depois piscou conspiratoriamente para Isabella, que não conseguiu entender nem por um segundo as intenções do médico.

Ele não se alongou muito tempo ali. Diferentemente do Edward, Carlisle não enxergava o encanto da pequena família que passava por problemas seriíssimos. Ele compreendia que a situação estava complicada, mas isso não justificaria que desse mais atenção à elas do que aos outros pacientes.

E era exatamente por isso que tanto se alarmou ao ver que seu amigo fizera o trabalho das enfermeiras. E ele temia que Edward estivesse se aproximando tanto por lembrar-se da sua própria vida, quando sua mãe Elizabeth foi diagnosticada com um tumor cerebral cancerígeno. Os médicos insistiram em operar, mas como o câncer era metastático, a cirurgia e tratamentos foram praticamente inúteis. Ele se arriscaria dizer que todo o processo médico só acelerou o dia da morte da mãe do amigo.

Carlisle suspirou pesado, enquanto fez seu caminho até a ala da enfermaria. Ele sorriu quando viu sua graciosa esposa sentada na cadeira e falando ao telefone com um tom de voz preocupante. Ela levantou um dedo, acenando que gostaria de um minuto e Carlisle preocupou-se em contar o número de cestas empilhadas existia ali.

— Oi querido. – ela suspirou.

— Tudo bem? – ele perguntou.

— Na verdade não, amor. O Papai Noel cancelou e eu não faço ideia do que fazer.

O médico sorriu amplamente e depois de afirmar que daria uma solução à ela, foi para sua sala fazer seus arranjos.

O dia passou lento e tedioso. Alice, diferente do dia anterior, estava quieta e bastante abatida. Suas dores aumentaram de forma que o remédio prescrito teve que ter sua dose elevada e a febre atingiu níveis tão altos a ponto dela ter que tomar um banho de banheira bastante frio.

Isabella tentava encarar toda a situação com bastante força, mas a presença paterna do Charlie junto dela o dia inteiro a fez sentir mais e mais como uma criança assustada. Ela lembrou-se de um dia onde brincava com sua boneca de pano até que o braço fofinho desta foi arrancado por uma colega de classe. Então ela correu para seu pai com o rosto ensopado de lágrimas implorando, em meio a soluços, que ele as levasse ao hospital para operar sua filha.

Charlie que estava de folga naquele dia usou a mesa da cozinha como maca e decidiu fazer a operação por ele mesmo. Com as hábeis mãos de um policial, costurou o braço de pano sem deixar algodão algum de fora. Bella estava um pouco decepcionada porque a linha azul destoou um pouco do vestido amarelo da boneca, mas seu pai fez questão de elucidar que aquela 'cicatriz' lembraria à boneca o quão forte ela era, pelo resto das suas vidas.

Entretanto, ao olhar para a sua filha adormecida com uma expressão atormentada, ela só queria fechar os olhos e ter uma linha destoante para salvá-la dos males que a acometiam, e nela deixar uma cicatriz que a fortaleceria até o dia que visse seus netos casados e morresse descansando numa delicada cadeira de aconchego, ao lado do seu marido de mais de meio século.

Era cedo demais para Isabella cogitar a hipótese de ver sua filha sem cicatrizes porque estas, apesar de serem feias e normalmente causadas por algo que infringiu dor, costumavam demonstrar vivência. Algo que Bella desejava tão forte para a sua menina, que beirava a insanidade.

— Vai ficar tudo bem, Bells. – Charlie apertou o ombro magro da sua filha com sua mão direita. E, apesar de extremamente preocupadas e aflitas, as palavras dele foram ouvidas da mesma forma do que no dia do incidente com a boneca.

— Me faz um favor, pai? – Bella suplicou, olhando-o com seus olhos marejados.

Ele apenas sorriu, deixando claro que isso era algo que ela nem precisaria pedir.

— No meu quarto tem uma caixa debaixo da cama. Ela parece de sapato; é branca e sem estampas. Você pode embrulhá-la para presente e trazer para o hospital? Eu faria, mas não queria sair de perto dela... – Isabella sussurrou com os olhos baixos.

— Volto em meia hora, - foi tudo o que ele disse antes de depositar um beijo na cabeça dela e sair do hospital.

Bella assentiu sem saber ao certo quanto a que, enquanto arrastava suas pernas até o sofá frio e duro demais que ficava ao leito da sua filha. O tempo parecia não passar.

Os últimos dias foram o pior dos sofrimentos que alguém poderia infringir nela. Ver sua filha tão pequena passando por situações que nem o pior dos adultos merecia, quebrava o resquício do coração que pulsava, com batidas fracas, no peito.

A percepção do futuro não era o pior, aos olhos dela. Diferentemente do que muitos pensavam, era o presente que a aterrorizava. O amanhã poderia ser modificado, mas a ideia de ver no agora e no hoje, sua menina sofrendo com dores até mesmo enquanto dormia só serviam como corda para prender ainda mais a sua garganta que já estava firmemente fechada.

E era exatamente isso que estava acontecendo. Dores e mais dores. Ela não conseguia mais fingir que ficaria tudo bem quando consolava a sua filha. Isabella não mais dizia que tudo daria certo, ela apenas abraçava sua menina e certificava-se de notificar algum médico ou enfermeiro para que sua Alice fosse medicada.

O dia 'perfeito' para que ela contasse a ela o que o futuro a reservava não tinha chegado, mas não que isso a surpreendesse. Era difícil olhar para um dia florido, ensolarado e amanhecendo aos cantos de pássaros e acreditar que era ideal para vocalizar uma notícia dessas. Nenhum dia seria, e ela sabia disso, mas enquanto pudesse protelar a conversa, faria.

Edward estava dormindo em pé, enquanto via seu afilhado correr desgovernadamente pela casa. Ele sempre achou fascinante a capacidade das crianças em preocuparem os adultos que as observavam. Neste momento, por exemplo, ele observava bastante aflito Garrett, o filho do Emmett com Rosalie, pedalar completamente desajeitado a bicicleta com rodinhas embutidas na roda traseira pelos móveis frágeis demais daquela casa.

— Garrett já agradeceu ao dindo? – Rosalie perguntou, retoricamente, ao menino na esperança que ele parasse de usar a bicicleta dentro de casa nem que fosse por alguns minutos para agradecer ao seu padrinho, Edward.

O menino definitivamente fingiu não escutar sua mãe, e bastou quatro largas passadas do pai para que a bicicleta fosse parada e o garoto retirado dali.

— Valeu, dindo. – o menino de sete anos disse com um sorriso largo no rosto.

— Não me agradeça. Foi o Papei Noel, lembra?

— Yeah! Eu devo ter sido um garoto muito bom esse ano! – ele comentou com ninguém em especial, fazendo a casa toda explodir em risadas.

Edward era convidado para almoçar na casa do seu melhor amigo todos os Natais há mais de dez anos. Era uma tradição já que ele nunca teve família. Sua mãe morreu quando ele ainda era um moleque e ele nunca chegou a conhecer o pai. Depois que completou a maioridade jurídica decidiu parar de viver em lares adotivo e abrigos e focar sua atenção em estudar para salvar vítimas do câncer, que acometeu sua doce mãe.

Ele entrou um ano atrasado na universidad porque optou focar seus esforços apenas nos estudos. E foi com muita garra que conseguiu entrar para a faculdade preparatória para medicina e - alguns anos depois - foi aceito para estudar Oncologia. Foi no final da sua primeira residência que ele percebeu como sua vida seria incompleta trabalhando apenas com o câncer e, notando que a presença das crianças na sua vida era algo indispensável, optou por passar mais alguns anos estudando para poder se especializar em oncologia pediátrica.

O barulho do toque do celular tirou Edward das suas lembranças. Ele desculpou-se às pessoas presentes na sala da casa do seu amigo e depois de pedir licença foi atender a ligação.

— Edward.

— Oi, Edward. É o Carlisle.

— Tudo bem? – e o tom preocupado não foi mal interpretado aos que ouviram.

— Tudo, tudo... Preciso de um favor seu.

— Claro.

E os dois passaram cerca de dez minutos discutindo ao telefone, enquanto Emmett olhava atento aos gestos exagerados que Edward fazia no outro lado da casa. Pouco tempo depois notou o seu amigo finalizar a ligação e, apressadamente, fazer seu caminho a ele.

— Vou ter que voltar ao hospital, Emm. – Edward explicou.

— Está tudo bem?

— Sim, sim. Só um favor que Carlisle me pediu. – disse rolando os olhos.

— Certo. Precisa da minha ajuda?

— Na verdade sim. Ainda tem aquela roupa de Papai Noel? – perguntou com a voz baixa para evitar que outras pessoas ouvissem.

— Tenho. – Emmett exclamou com uma gargalhada alta.

Depois de pegar o figurino e despedir-se de todos, fez seu caminho até o carro e dirigiu ao som de um rock progressivo até chegar ao hospital.

Ele poderia estar completamente frustrado por estar voltando ao seu trabalho em pleno Natal; especialmente quando era sua folga, mas ele estava empolgado demais para o seu desempenho para sequer preocupar-se com isso.

Já passava das quatro horas da tarde quando ele estacionou seu carro.

— Jéssica... – cumprimentou a recepcionista assim que passou pelas portas de vidro da entrada do hospital.

— Edward...? – seu cumprimento foi como uma pergunta.

— Carlisle. – ele respondeu a pergunta silenciosa e levantou as sobrancelhas. Ela riu em compreensão e indicou a localização do homem.

O médico que deveria estar de folga caminhou até a sala do seu amigo e entrou depois de bater duas vezes na porta.

— Onde está o Papai Noel? – Carlisle perguntou assim que viu quem era o visitante.

— Na bolsa. – Edward levantou a sacola onde a roupa estava guardada, enquanto acenava com a cabeça para a mulher de cabelos caramelos, vestida de enfermeira e sentada na mesa. – Esme. – cumprimentou e recebeu um sorriso caloroso em resposta.

— Deixe-me ver! – ela disse batendo palmas e saltando da mesa.

Edward gargalhou enquanto entregava a fantasia para ela. Depois de uma análise minuciosa, Esme pediu alguns minutos para ajustá-la e o pediatra aproveitou essa folga para fazer uma ronda.

Ele deixou Alice como última paciente a ser visitada, mas eventualmente chegou ao quatro 241.

Estava silencioso demais e quando bateu na porta, sem resposta, decidiu abrir um pouco para conseguir olhar seu interior.

Alice estava deitada na cama, de costas pra ele e bastante encolhida, enquanto Isabella dormia sentada no sofá cama, com sua postura virada – protetoramente – na direção dela.

Edward entrou de maneira sorrateira e fechou a porta atrás de si, em um baque mudo. Foi até a cabeceira da cama e pegou a prancheta com os detalhes da menina e depois de dar uma rápida olhada notou que não houve melhoras no quadro dela, tampouco pioras significativas, somente uma febre que persistiu pelo dia.

Ele ajustou o soro, puxou a coberta para cima do corpo dela com o objetivo de cobri-la melhor e quando estava saindo do quarto ouviu uma voz suave chamar seu título de Doutor.

O médico em questão suspirou quando reconheceu aquela voz e virou-se para olhá-la.

Bella sorriu fraquinho e murmurou um 'Feliz Natal' sem nenhum tom de felicidade em sua voz. Ele acenou a cabeça, mostrando que não só aceitava os desejos de felicidade, como compreendia o porquê da falta de felicidade que ela passava.

Ambos encararam-se por um longo tempo até que ela decidiu levantar-se e ir a sua direção.

Segundos depois já estavam frente a frente e sem nenhuma ideia do que falar. O ar ficou mais denso e ambos corações dispararam pouco mais forte nos peitos.

Bella queria dizer que tinha visto-o no quarto na noite anterior, Edward queria dizer o quanto sentia por tudo o que as fizera passar e que tudo daria certo. As palavras enchiam as mentes deles com frases, mas suas bocas pareciam coladas a ponto de nenhuma palavra poder ser proferida.

Ela começou a sentir seu rosto corar em um vermelho rubro, enquanto ele a fitava de uma maneira intensa demais.

Os dois abriram e fecharam a boca seguidas vezes. Pelos mesmos motivos: deixar o outro falar.

Então Bella soltou uma risada tremida e nervosa e Edward sorriu condescendente.

— A-achei que estava de folga... – ela sussurrou mexendo na barra da sua camisa preta e olhando para o chão.

— Eu estava. – ele afirmou no mesmo tom de voz.

Muitas coisas passaram pela cabeça dela naquele momento. Desde o fato que emergências poderiam ter acontecido à visita ter sido planejada por ele. Ela então sorriu envergonhada e Edward a olhou sem conseguir compreender ao certo o que passou pela cabeça dela - e este fato isolado o enlouquecia.

— O que? – ele perguntou o que sua mente gritava para saber. Ela o encarou sem saber ao certo o que tinha perguntado. – O que você está pensando?

Ela corou violentamente enquanto negava a sua cabeça, recusando-se a falar. Ele sorriu e apenas esperou.

— O motivo de você ter vindo para o hospital no seu dia de folga que calhou de ser no Natal.

— Oh. E que conclusão chegou? – sussurrou.

Ela voltou a negar e Edward enxergou tanta inocência no seu movimento que só foi capaz de sorrir, fitando-a por completo. As mãos femininas continuavam enrolando a barra da camisa larga demais nos dedos, enquanto os pés faziam movimentos circulares, bamboleando seu corpo.

— Carlisle me ligou e pediu para eu ser o Papai Noel. – explicou sussurrando a última parte ainda mais baixo.

Bella não conseguiu ouvir e, inconscientemente, inclinou seu corpo na direção dele.

Edward inspirou profundamente quando sentia o cheiro forte de morangos vir dela.

— Morango? – ela perguntou sem entender ao certo se foi isso que ele falou.

— Não. – xingou-se mentalmente por ter perdido o 'filtro' na hora de falar e deixou escapar o cheiro que ela exalava. – Papai Noel. – disse novamente baixo, como se quisesse que ela se aproximasse mais. Isabella o fez.

— Oi? – perguntou tímida.

Edward inclinou-se na direção dela e com a suavidade de um cirurgião colocou uma mexa do cabelo dela atrás da orelha e lá sussurrou que Carlisle tinha pedido que ele fantasiasse-se de Papai Noel.

Bella estremeceu com o som baixo da voz dele tocando seu ouvido e a mão dele acariciando o seu cabelo. Edward não tinha percebido esse segundo ato, mas ela definitivamente não deixou passar despercebido.

Para demonstrar que compreendeu, meneou positivamente sua cabeça e regozijou-se da proximidade dos seus corpos. Nenhum deles se mexeu. Na verdade os únicos movimentos daquele quarto eram de peitos subindo e descendo por conta das respirações fortes, a mão masculina notando – pela primeira vez – a suavidade daqueles cabelos castanhos e a respiração fraca da criança adormecida no outro lado do quarto.

— Edward... – Isabella suspirou, quebrando a magia que os envolvia e voltando a sentir a intensidade do momento.

Ele não falou nada; apenas se aproximou mais dela e notando os movimentos dos seus dedos, certificou-se de aproximá-los à nuca dela e acariciar delicadamente.

Bella deixou um murmúrio de satisfação, enquanto deixava sua cabeça pender no peitoral do homem que rapidamente tornou-se alguém importante demais na vida dela. Edward passou a massagear a nuca mais firmemente e sua mão livre coçou para tocar a cintura dela. E foi isso que fez.

Ela arfou quando sentiu a mão grande e firme dele tocar a sua cintura e puxar-se mais para si.

— Me fala o que é isso. – ele implorou sussurrando no ouvido dela.

— N-não sei. – gaguejou e ofegou quando sentiu um beijo longo demais na sua cabeça.

— Me diz que eu não estou maluco.

— Não está.

— E que você também sente isso. – referiu-se à enormidade do momento e das sensações que o acometia.

— Eu sinto. – ela balbuciou as palavras que ele, por dias, desejou ouvir.

As mãos dela enrolaram-se na camisa dele e as dele mantiveram a posição. E assim ficaram sem nada falar ou fazer.

Ela estava extasiada pelos toques firmes dele na sua nuca e ele entorpecia-se com o cheiro adocicado dela.

Era demais. A intensidade era palpável e ela sentiu as tensões de todos os dias transfigurarem-se num soluço seco. Ele então, afastou-a do seu corpo achando que o choro dava-se pelas suas ações, mas Bella não permitiu que um espaço fosse criado entre os corpos deles, trazendo-o mais para si. Edward circulou a cintura fina com uma mão e segurou a cabeça dela no seu peito, fazendo em gestos, o que não conseguia produzir com palavras.

Novamente o barulho do celular do Edward retirou-o de algum transe. Ele não ia atender, mas Bella afastou seu corpo do dele e dirigiu-se até a cama da sua filha.

O que diabos aconteceu? Era a pergunta que martelava em sua mente, enquanto ela acariciava os cabelos finos da sua menina.

— Preciso ir. – Edward explicou.

Bella moveu a cabeça em concordância e sorriu porque a expressão dele era de insegurança e ela definitivamente não desejava que ele duvidasse do que acabara de acontecer entre os dois.

Mais alguns minutos passaram até que o dia começou a virar noite. Esme, uma enfermeira que já tinha começado a ganhar espaço no coração da Isabella e Alice, entrou no quarto para avisar que o Papai Noel estava prestes a chegar.

Uma sonolenta Alice começou a falar rápido demais, enquanto pulava na cama pedindo para sua mãe permitir sua ida.

As mulheres gargalharam alto da empolgação da criança e pouco tempo depois já a tinham vestida e sem tubos na veia.

— E ele vai da plesente pla eu?

— Presente pra mim, meu amor. – Bella corrigiu. – E você acha que se comportou bem esse ano?

Alice confirmou enfaticamente com a cabeça.

— Aplendi a isvive o nome! - afirmou.

— Sim. Aprendeu mesmo a escrever seu nome. – Bella concordou, mas logo gargalhou ao lembrar do rabisco que sua filha insistia em dizer que era seu nome.

— E desenei mamã!

— Varias vezes. – A mãe concordou e quando foi pegar Alice no colo teve sua filha correndo dela.

— Ela parece bem hoje. – Esme notou.

— Sim. – Bella disse contente. – Passou a maior parte do dia dormindo, mas nos momentos acordada quase não reclamou de dor.

— O sono é por culpa dos analgésicos.

— Eu sei... – sorriu notando a preocupação da enfermeira.

Esme terminou de arrumar a bagunça de cabos e agulhas e depois seguiu mãe e filha – que estavam de mãos dadas – para o refeitório onde o Papai Noel era esperado.

Bella sorriu quando viu Alice sentar-se ao lado de um grupo de crianças que pareciam ser pouco mais velhas e começar a brincar. A pequenina era carismática demais para seu próprio bem.

Esme, de longe, viu com olhos maternais como Isabella olhava para a sua filha. Longe de seus olhares estava a preocupação, mas presente o orgulho. Era quase como se ver sua filha interagindo com outras crianças fosse combustível para que a mulher pudesse respirar aliviada.

Isabella observava atentamente cada passo da sua filha até que uma mão tocou seu ombro. Então ela desviou sua atenção para a mulher que prostrou-se ao seu lado. Era bem mais alta que ela e tinha pernas longas. Sua pele era clara, os olhos extremamente azuis e os cabelos loiros possuíam um tom avermelhado. Seus lábios finos mantinham um sorriso genuíno e Bella se viu incapaz de manter o dela no lugar.

— Tanya. – a mulher se apresentou.

— Bella.

— Alice é sua filha?

Isabella franziu a sobrancelha com o fato que a mulher não só sabia quem era Alice como que era filha dela.

— Sim. Como você a conhece? – perguntou de uma maneira sutil, tentando não parecer ofensiva.

— Acho que todos conhecem Alice... – respondeu em meio a risadas.

— É? Por quê?

Tanya sorriu carinhosamente, enquanto fitava a menina.

— Sua filha é uma bolinha de energia, Bella. E um raio de sol nesse hospital.

— Uhm?

— Ela foi quase todos os dias visitar o meu filho, e pelo o que descobri, visita outras crianças do andar também.

— É? – perguntou incerta.

— Sim, sim! As visitas costumam ser rápidas porque, segundo ela, a mamãe não pode saber que ela saiu da cama.

— Mas... – Tanya apertou, compreensivamente, o ombro da Bella, enquanto voltava sua atenção para Alice.

— Por favor, não faça muito caso disso... – e a voz dela agora parecia estar embargada. – Ela tem iluminado muito a vida do meu filho. Ultimamente as visitas dela têm sido os únicos momentos em que vejo um sorriso aparecer no rostinho cansado dele.

— Seu filho...

— Câncer metastático. – falou suavemente e Bella arfou.

— Sinto muito.

Tanya sorriu e deixou seu olhar vagar para seu menino de 9 anos que estava sentado na cadeira de rodas no outro lado do cômodo, junto de outras crianças. Bella observou com cuidado o menino careca, com a pele amarelada e clara demais. Sua expressão era cansada e de dor, mas o brilho no olhar dele – que era possível ver a distancia – e o grande sorriso em seus lábios mostravam como seu humor contradizia o cansaço do seu corpo.

Um suspiro alto vindo dela retirou Bella dos seus pensamentos.

— É tão confuso. As vezes eu só queria que ele fosse liberto desse sofrimento todo, sabe?

— Como? – Bella sussurrou.

Tanya encolheu os ombros, negando-se a falar a palavra, mas o olhar agoniado que trocou com Isabella foi suficiente para fazer a mãe solteira entender que a loira preferia que seu filho não mais respirasse.

— Dói demais pensar isso, mas dói muito mais saber que cada respiração dele ocasiona um tipo de sofrimento diferente. E eu sei que ele só continua vivo por mim. Eu queria não desejar tanto ele pra sempre comigo, gostaria que ele entendesse que só quero o melhor para ele, mas por Deus! Sou egoísta demais a ponto de deixar transparecer o quão perdida estaria sem ele.

Bella sentiu sua garganta constringir com o depoimento da desconhecida porque ela sentia exatamente o mesmo. A morena sentiu seus olhos encherem-se de lágrimas, enquanto encarava a sua menina. Ela também estava muito pálida, os cabelos sem vida e carregando uma expressão cansada, mas tão feliz que junto das lágrimas, Isabella soltou uma gargalhada aliviada.

— Os médicos disseram que ele teria apenas alguns dias, - Bella ofegou, mas Tanya sorriu, - isso foi há mais de um mês.

— Oh... – Bella sentiu seus próprios lábios moverem-se em um sorriso. – A-acha que tem chances?

Tanya fitou os olhos amendoados da Isabella até que esta tivesse compreendido a mensagem daquela.

Não.

Então os olhos da morena encheram-se de lágrimas de compreensão e piedade, enquanto Tanya apertava suas mãos, ainda fitando a outra mulher.

O torpor que ambas as mães encontraram-se foi quebrado com um som agudo de um sino e uma risada grossa e característica do Papai Noel.

Todas as crianças começaram a conversar, a correr, a gargalhar alto e algumas até a chorar. Bella perdeu-se um tempo olhando sua filha até que notou a pequena correr em sua direção. Bella agachou-se antes que o corpo miúdo chocasse ao seu e franziu as sobrancelhas quando notou o olhar assustado no rosto dela.

— O que foi, amor? – Alice escalou o colo da sua mãe e depois que Bella tinha acomodado-a em seus braços voltou a fazer a mesma pergunta.

— Papaiéu! – sussurrou na típica maneira escandalosa de uma criança.

— Isso mesmo, Licinha! Papai Noel chegou.

— Não quelo!

— Por quê?

— Medo!

— Medo do Papai Noel? – ela concordou, - Por que, querida?

Alice apenas encolheu os ombros sem dar uma resposta conclusiva.

— Não quer ganhar presentes, Alice? – Tanya interrompeu e Bella sorriu agradecida.

— Quelo.

— Tem que falar com ele. Só Papai Noel pode dar os presentes, - a mulher explicou e Alice abraçou sua mãe mais forte. – Ele é um bom velhinho, Alice. Nunca faria mal a nenhuma criança. Na verdade, ele nem pode.

— Não? – Alice perguntou incerta.

— Não. – Bella murmurou contra os cabelos da menina antes de depositar um beijo. – Se quiser mamãe vai com você até lá.

— Ganha plesente?

— Não... – ela riu, - adultos não ganham presentes do Papai Noel.

— Putê?

— Porque ele só presenteia crianças que se comportaram muito bem durante o ano, - enfatizou apertando a ponta do nariz pequeno entre seus dedos.

— Oh. Eu copotalam?

— Sim, - a mãe disse em meio a gargalhadas, - Você se comportou muito bem.

Alice murmurou uma compreensão, enquanto Bella acenava para Tanya que estava indo ao encontro do seu filho. A menina ainda ficou temerosa por vários minutos; apertando o pescoço da sua mãe com cada passo na direção do Papai Noel, o que fazia Bella recuar. Eventualmente o desejo por ganhar presentes foi maior, ao passo que disse a sua mãe que estava pronta.

A enorme fila de crianças para encontrar o Papai Noel já tinha praticamente acabado, enquanto crianças espalhavam-se pelo salão vendo os presentes que ganharam. Então quando Bella estava na fila, sentiu um calor percorrer sua espinha e sua garganta subitamente secar.

Agora que sua filha estava empolgada em ver o Papai Noel, Bella estava apavorada.

Alice segurou mais forte o pescoço da sua mãe com seus braços finos e cansados demais, enquanto suas pernas magras apertavam a cintura da Isabella. A pequena não sabia ao certo se sentia excitação ou muito medo.

Alice nunca tinha visto um Papai Noel pessoalmente. No ano anterior Isabella não conseguiu folga suficientemente boa no seu trabalho para que pudesse programar um Natal que a filha lembraria. Ao invés disso, ela cozinhou algumas coisas simples para Charlie e ela, enquanto deu papa de neném para sua filha junto de uma fruta amassada e a colocou para dormir pouco depois das sete horas da noite. No dia seguinte quando a criança ficou relativamente mais consciente recebeu os presentes que o suposto Papai Noel teria deixado na árvore e assim sucedeu-se mais um ano.

Em fotos e vídeos o 'Bom Velhinho' era bastante conhecido à menina, mas pessoalmente ele parecia tão maior e intimidador, mas os olhos verdes dele eram tão amigáveis que ela definitivamente não sabia o que sentir.

As palavras acalentadoras da sua mãe ao pé do ouvido da garotinha foram a coragem que ela tanto procurou para oferecer seus braços ao Papai Noel – que tinha deixado claro que só ganharia os presentes quando sentasse-se junto dele e contasse como foi o ano -, em um pedido mudo de colo.

Bella corou quando notou o sorriso genuíno tomar conta do rosto do Edward, enquanto ele retirava Alice do seu aperto. Ela pôs-se ao lado da cadeira do Papai Noel, fitando os cabelos negros e não mais tão brilhantes da sua filha. As palavras divididas entre os dois eram sussurradas. Vez ou outra Bella ouvia sua filha soltar uma risada infantil e feminina ou Edward gargalhar alto, imitando com perfeição o tom grave do seu personagem.

— Mamã... – Alice chamou sua mãe, enquanto quicava no colo do Papai Noel em expectativa ao o que estava prestes a acontecer.

— Oi filha? – Bella inclinou sua cabeça na direção da menina, mas notou o tom rubro tomando conta do médico que estava fantasiado, enquanto sua filha tinha um enorme sorriso prostrado no seu rosto.

— Vem aqui! – A impaciência estava presente na voz fina e Bella gargalhou enquanto fazia seu caminho para colocar-se a frente do 'trono' em que Alice e Edward estavam sentados. Assim que Bella ficou na frente da sua filha, a mão pequena tomou a sua e puxou-a mais para perto. Bella ofegou quando seu joelho tocou o dele e também corou.

— Estou aqui, querida. – Ela disse dando um passo pequeno para trás a fim de afastar os corpos adultos.

— Não mã! Aqui! – Alice apontou para a perna direita do Papai Noel que estava vazia, já que a menina sentava na esquerda.

— Como?

— Papaiéu disse que mã ganha plesente!

— Ele disse? – Bella soltou uma risada nervosa enquanto mexia embaraçosamente na barra da sua camisa.

— Não disse? – Alice virou-se para Edward, mas continuou meneando positivamente sua cabeça.

— Claro. – ele disse depois de pigarrear.

— Senta e diz que... – ela pausou por uns instantes tentando recordar-se da palavra – cuputô dileitinho.

A essa altura todos os adultos estavam rindo e comentando da cena desconfortável. Bella olhou para os arredores, tentando achar alguma rota de fuga e quando seus olhos cruzaram-se com os azuis da Tanya, ela sorriu aliviada. Esta, por outro lado, apenas gargalhou alto e motivou Bella a sentar no colo do Papai Noel. Rapidamente algumas pessoas juntaram-se a ela.

— Não precisa, se não quiser.

— Mã! Plesente. Pufavô... – e os olhos tristonhos da sua filha foi todo encorajamento que ela precisava para sentar-se nas coxas dele.

A princípio ela acomodou-se na ponta, praticamente no joelho, mas quando Alice foi para o colo da sua mãe e a mão do Edward roçou no meio das costas dela, Bella sentiu-se pouco mais confortável na posição e permitiu-se sentar poucos centímetros mais próximos da barriga enorme.

Quando a voz baixa dele ecoou no seu ouvido, Bella esqueceu-se da situação que se encontrava e apenas respondeu as suas perguntas.

Edward tentou abafar o barulho das batidas rápidas e erráticas do seu coração quando sentiu Bella sentar-se no seu colo. A princípio, quando Alice disse que sua mãe falou que não ganharia presente do Papai Noel - e que ela estava realmente chateada por isso -, parecia realmente certo sugerir que Isabella conversasse com ele e que se tivesse se comportado durante o ano ganharia, assim como todas as crianças, um presente. Todavia, depois que sentiu a carne macia tocar a sua ele arrependeu-se. Porque não só era necessário abafar o barulho exagerado do seu coração, mas como a vontade de afundar-se naqueles cabelos cheirosos demais ou do tremor que passava pelo seu corpo todas as vezes que a mulher remexia-se em seu colo ou ainda no frio da barriga insistente.

Quando Bella falava, sentia um comichão nas suas costas que percorria toda a sua coluna. Sinal que a mão dele estava perto demais de encostar-se em seu corpo. Quando Edward falava, Isabella fazia questão de olhá-lo nos olhos. Era quase como se ela estivesse tentando compreender o verdadeiro teor das palavras murmuradas por aqueles lábios voluptuosos. Era iminente que ambos rostos corassem com a troca de olhares ou sorrisos travessos lançados por baixo da cascata de cabelos castanhos ou da barba falsa.

O momento passou rápido demais porque Alice logo pediu o seu presente e o da sua mãe. Bella, sabendo que não teria presente para ela, inventou uma desculpa qualquer, saiu do colo dele e esperou sua pequena a uma distância segura.

Os olhares tímidos de duas pessoas que acabaram de dividir um momento intimo e intenso demais se encontravam e brincavam uns com os outros, quase que testando essa nova área.

Assim que Alice declarou cansaço e quis voltar para sua cama, Bella atreveu-se a procurar Edward, mas logo se lembrou que o Papai Noel tinha saído há pouco mais de vinte minutos.

Quando chegaram no quarto 241 ambas surpreenderam-se ao ver Edward parado ao lado do leito hospitalar, lendo a ficha da criança. O sorriso que tomou o rosto dele quando viu suas duas meninas entrarem foi suficientemente grande para fazer Alice despertar e lançar-se no colo dele.

— Você pledeu Papaiéu! – ela exclamou quando estava acomodada nos braços dele.

— Perdi? Ele esteve aqui, foi? – Perguntou gargalhando baixinho.

— Uhum. E me deu um montão de plesentes. – Bella levantou as sacolas e sorriu tímida ao fitar a figura esguia que estava trajando uma calça jeans surrada e uma camiseta preta.

— Que bom. – afirmou e depositou um beijo no topo da cabeça dela quando sentiu o rostinho pequeno afundar-se no seu pescoço.

Edward sentiu seu coração inchar com o contato, mas manteve sua expressão neutra.

— Alice você queria dormir, amor. Deixe Doutor Masen fazer o trabalho dele, sim? – Bella suavemente comandou e notou, com alarme, sua filha dar um beijo estalado na bochecha dele e então aconchegar-se na cama quando ele a depositou ali.

— Será que posso falar com você por um minuto? – Ele perguntou quando notou Alice começando a entrar na inconsciência.

— Claro. – Bella sussurrou e encaminhou-se até o canto mais afastado do quarto. – Me desculpe por... tudo. – Murmurou com a cabeça baixa e sentindo seu rosto esquentar.

— Olha para mim. – ele pediu, sentindo seus dedos coçarem para tocar o queixo dela e trazer seu olho para cima. Com um pouco de hesitação, Bella levantou seu rosto e olhou para ele.

— Estou de folga. – Edward dividiu aquela informação, tentando mostrar para Isabella que sua visita não foi de um médico a um paciente. Ela ofegou quando compreendeu o que suas palavras disseram.

— Então... o que? Por quê?

— Por vocês. – ele disse simplesmente como se isso fosse auto-explicativo, mas sentiu seu rosto esquentar ao perceber que teria que elaborar a frase ao notar que Bella não entendeu. – Eu... não sei o que é, só uma... uma necessidade de ver vocês duas o tempo inteiro... não posso explicar, só é assim. – a voz dele era tão baixa que Bella podia jurar ter compreendido mal.

— Pela Alice? – ela perguntou incerta. – Eu sei o quão apaixonante ela pode ser, mas não se deixe enganar. – Bella comentou em meio a risadas nervosas.

— E por você. – E quando disse a última palavra, tocou o queixo suave com seu dedo e aproximou seus rostos. – Vocês. – sussurrou encarando as orbes castanhas.

Ambos corações batiam rápido e Edward perguntou-se se poderiam algum dia bater em sincronia. Bella tentou manter-se tranquila com a situação, mas quando sentiu o dedo que tocava seu queixo, percorrer seu maxilar e – agora como mão – segurar a lateral do seu rosto, ela nada pode fazer exceto suspirar alto e fechar os olhos.

Edward olhou a cena com admiração. Era entrega. Pura e genuína confiança que ela depositava nele. Pela sua filha e por ela mesma. Então ele sorriu e cansado de lutar contra seus instintos aproximou seus rostos de forma que sua respiração ofegante batesse contra o rosto corado dela.

Bella levou sua mão para a dele e fez suaves carícias de encorajamento. Porque ela sabia exatamente o que ele estava sentindo já que também se sentia dessa forma.

A outra mão dele segurou o outro lado do rosto dela, enquanto seus lábios tocavam a testa em um beijo casto, mas tão cheio de emoções que ela sentiu-se incapaz de negar os anseios do seu corpo de aproximar-se mais do dele.

Os polegares masculinos acariciavam o maxilar dela. Desde a orelha aos cantos dos lábios. Seus dedos estavam enterrados nos cabelos dela, enquanto as palmas das mãos ficavam espalmadas no pescoço. Ela era tão delicada que ele temia fazer um gesto brusco e machucá-la.

Bella sentiu seu rosto ser lentamente levantado e se achava que seu coração não poderia bater mais rápido, o movimento suave foi suficiente para comprovar o contrário. Edward fechou os olhos quando sentiu a respiração quente dela tocar seus lábios e o desejo de beijá-la tornou-se tão forte que ele sentia na língua a antecipação pelo momento.

Ambas barrigas experimentavam uma sensação de frio aquecido, corações disparados, extremidades trêmulas e uma pequena sensação de tontura.

Ela passou seus braços pelos dele e também tocou seu rosto. A barba por fazer era bruta e espetava sua mão, mas a sensação de tocar uma pele tão masculina era relativamente bem vinda.

Em muito tempo Isabella deixou-se sentir as emoções de estar com um homem; as sensações novas demais e tão intensas a faziam temer o momento, mas antecipá-lo em igual escala. Sua garganta constringia-se com a proximidade dos lábios dele e seu peito inflava com o cheiro masculino e amadeirado que conseguia sentir. Lentamente ela levou uma de suas mãos até o cabelo dele e suspirou ao sentir a suavidade - que ela estava certa que existiria - acariciar seus dedos. E com o polegar da mão que ainda estava apoiada no rosto dele, levou seu dedão até o lábio inferior onde acariciou tão suavemente que Edward duvidaria da existência daquele toque se seus olhos não estivessem abertos.

Ele suspirou vergonhosamente alto quando sentiu, ao mesmo tempo, os dedos dela apertarem mais seus cabelos e o calor do corpo pequeno aquecer mais o seu, demonstrando uma maior proximidade dos seus corpos. Edward então fechou os olhos e inclinou seu rosto para baixo, enquanto dobrava suavemente seus joelhos.

— Edward... – ela murmurou contra os lábios dele sem que emitisse voz e o coração do médico acelerou quando percebeu que essa foi a primeira vez a qual ela dirigiu-se a ele pelo seu nome, e não pela profissão.

Ele espalmou suas mãos no rosto fino dela e o trouxe para si. O roçar de lábios foi tão íntimo que ela instintivamente recuou.

— Eu... me... desculpa. – ele murmurou com uma feição clara de rejeição.

E o momento claramente fora quebrado.

Bella cogitou dizer que não havia motivos para que ele se desculpasse, mas um gemido baixo do outro lado do quarto foi suficiente para tirar a mãe solteira do torpor causado pelos olhos verdes e cheiro amadeirado, e lembrá-la que tinha uma filha doente com dores e necessitando do apoio da mãe.

Em um instante, Bella prostrou-se ao lado da sua menina e acariciou a cabeça pequena que guardava tantos fantasmas. Edward não tardou a posicionar-se do outro lado da cama, mas diferente da mulher que olhava para a criança, ele primeiro fitou o monitor que mostrava os sinais vitais, depois os remédios e, por último focou sua atenção em Alice, que estava curvada em posição fetal e chorando baixinho, enquanto tinha suas costas acariciadas por sua mãe.

— Mamã... faz palá... – Alice choramingou esfregando a palma da sua mão na sua cabeça.

Bella foi incapaz de emitir qualquer som diferente de um choro agoniado, desesperado, desolado e completamente desesperançado.

Poucos segundos passaram-se até que ela estivesse deitada na cama com seus braços envolvendo sua menina, tentando transferir as dores da sua filha para ela. Alice não merecia passar por aquele tipo de coisa; ela nunca foi nada se não uma filha maravilhosa. E Bella não conseguia cogitar a possibilidade de um futuro próximo sem a sua filha quentinha em seus braços, ou a possibilidade de nunca ver sua menina pegando o diploma da faculdade ou ainda, perder a experiência do baile de formatura, ou o dia que aprenderia a ler.

Edward observou atônito a expressão agoniada da Isabella passar para desesperada. Ele não fazia ideia do que fazer, por deus, nunca passou por uma situação tão conflitante. Ao mesmo tempo ele queria deitar-se do outro lado da cama e confortar mãe e filha, sabia que além de ser extremamente errado, deveria fazer seu papel de médico, mesmo que estivesse na sua folga.

Os minutos seguintes foram passados ao som de choros de agonia e dor pelas mulheres, enquanto ele prendia os fios do monitor, recolocava o soro na veia da pequena e em seguida aumentava a dose do analgésico. E então só o tempo poderia dar o conforto que os três tanto buscavam.

Horas passaram até que Alice – antes adormecida – espreguiçasse-se contra o corpo da sua mãe que ainda dormia. O movimento repentino chamou a atenção do médico, que mesmo sabendo que não deveria passar a noite naquele quarto de hospital, passou.

Ela sorriu preguiçosa quando notou a figura masculina sentada no sofá do quarto e fez menção de sentar-se, mas antes mesmo que pudesse ele já estava de pé e indo na direção dela.

— Bom dia, pequena. – cumprimentou acariciando os dedos pequenos.

— Dia. – respondeu em meio a bocejos.

— Sua cabeça ainda dói? – ele perguntou, checando rapidamente o monitor ao lado da cama.

— Um pouquinho só – ela respondeu em um sussurro alto.

— Shiu... – ele disse colocando um dedo na frente dos seus lábios. – Não queremos acordar sua mãe.

— Putê?

— Porque ela dormiu pouco... – ele explicou.

— Mas já é amanhã. – ela apontou para a claridade da janela.

— Sim, mas só mais um pouquinho, ok?

— Tá bom... – ela concordou resignada.

Mais alguns minutos passaram com os dois inseridos em uma conversa sobre o encontro dela e do Papai Noel até que Bella estivesse acordando.

— Codô, mamã? – Alice perguntou com um tom de voz esperançoso.

Bella murmurou incoerências até que seus olhos abrissem. Ela sorriu quando viu o rosto da sua filha próximo demais do dela. Lentamente envolveu o corpo da Alice com seus braços e a trouxe para si, abraçando-a.

— Bom dia, meu amor. – murmurou e depositou um beijo longo na cabeça da criança. E então seus olhos encontraram-se com os do Edward e questionou-se se ainda estaria sonhando, mas ao perceber os arredores hospitalares percebeu que jamais sonharia com sua menina internada. – Bom dia. – dirigiu a ele com um sorriso. Edward assentiu com a cabeça e depois que os dois engajaram-se em uma conversa sobre nada, tiveram sua atenção desviada por Alice reclamando de fome.

O médico saiu do quarto depois de dizer que iria buscar o café da manhã para as duas.

O momento solitário constringiu o coração da Isabella e ela sabia então que era a hora de contar a verdade à Alice.

— Bebê... – Bella sussurrou, enquanto acariciava os bracinhos da menina.

Alice olhou para ela e sorriu contente.

— Mamãe precisa conversar com você um pouquinho. Tudo bem?

Alice ficou apreensiva, achando que talvez tivesse feito algo errado.

— Sobre sua cabecinha e o que a faz doer... – A mãe continuou, sentindo seus olhos arderem. Alice meneou a cabeça concordando e Bella engoliu em seco ao perceber a proximidade iminente do momento.

Depois de soltar um suspiro pesado e abraçar mais o corpo dela contra si, Bella sentiu a mãozinha pequena tocar seu rosto e a coragem que estava buscando, subitamente apareceu.

— Você tem uma coisa chamada câncer – e nada saiu de seus lábios com um gosto tão amargo quanto esta palavra. – Isso quer dizer que aqui dentro, - ela tocou seu indicador na têmpora da criança – existe uma... é... uma massa de células que está de fazendo mal.

— Mã?

—Oi querida.

— O que é massa de clélua?

— Célula, amor. É do que seu corpinho é feito; o problema é que elas nasceram no lugar errado, entendeu?

— Não podia na cabeça?

— Não como nasceram.

— E agora? – a menina perguntou em um tom conspiratório.

— Agora que temos que tentar tirar. Ou por remédios, - e Bella apontou com o queixo para a bolsa de remédios que ficava ao lado da de soro – ou com um tratamento chamado Quimioterapia ou com cirurgia.

— Vai doer? – Era tudo o que a menina precisava saber, já que não entendeu praticamente nada que sua mãe falou.

— Eu vou estar contigo o tempo inteiro. – Bella afirmou, esquivando-se da pergunta que tinha uma resposta clara: Doeria demais, mas muito mais nela do que na Alice.

Alice murmurou uma compreensão e encaixou-se mais no peito da sua mãe, buscando pelo conforto que Bella estava mais do que pronta para oferecer. As duas ficaram emboladas nesta posição até que Edward voltou para o quarto empurrando um carrinho com comidas.

Para Alice tinha gelatina, frutas e leite. Para Bella um enorme copo de café puro, com muffins, rosquinhas doces e salgadas. Ela sorriu assim que viu o conteúdo da sacola de papel e deu uma enorme mordida no muffin, recebendo de bom grado o açúcar no seu organismo já que há dias ela não comia algo tão 'não saudável' como isso.

Edward sorriu quando viu as duas comerem e sentou-se novamente no sofá.

Pouco tempo depois Alice já estava adormecida e Bella aproveitou o momento para sentar-se com Edward.

— Eu contei... – ela sussurrou quando se acomodou ao lado dele, que rapidamente puxou-a para perto de si ao passar o braço pelos ombros dela. Bella sorriu timidamente gostando e aprovando o gesto.

— E então? – ele perguntou e depositou um beijo longo na têmpora dela.

— Não acho que ela entendeu muito bem o que está acontecendo, mas ela sabe tudo o que mais importa. Ela sabe que eu vou ficar ao lado dela em todos os momentos.

Bella sentiu o dedo quente do homem tocar o seu queixo e lentamente teve seu rosto virado na direção dele. Só quando ela sentiu o coração começar a bombear seu sangue mais rápido no peito e o olhar dele alcançar o seu, que notou os lábios do Edward abrindo-se para falar.

— Eu também.

E o tom verdadeiro não foi mal interpretado por nenhum dos dois.


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Notas finais do capítulo

Isso mesmo! *suspira*

Alice está piorando, Edward e Bella se aproximando e nesse capítulo pudemos ler um pouquinho mais sobre as personalidades do resto do elenco. E fora que deu pra compreender um pouco mais das motivações do Edward tanto para virar oncologista pediátrico, como para a aproximação dele com Bella e Alice.

A boneca da Bella que Charlie foi pegar não foi esquecida e vai ter uma presença forte no próximo capítulo, que devo lembrar, será o último.

Para quem não sabe, My Little Angel faz parte de um projeto de fanfics, onde – na minha categoria: Twilight – outras meninas concorrem.

Link:www . orkut . com . br/Main#Community?cmm=95987773

(retirem os espaços entre pontos e letras, ok?)

Então é isso... vou ficar por aqui.

Me digam o que acharam, queridos.

E não se esqueçam que ainda estou aqui disposta a abraçar qualquer um que desejar. ;)

Lou.



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