Casa dos Evans 

18:00 de sexta-feira

16 de junho de 2018

— LILY, DESCE LOGO! — Marlene gritou do andar de baixo. 

— A CASA NEM É SUA PARA DE GRITAR! — Ela respondeu. 

Era a noite do baile de formatura. A formatura já havia sido dois dias antes, com todo o choro, discursos de oradores que Remus e Alice fizeram, e um grande jantar de pizza na casa de Marlene mais tarde, depois de terem saído com as respectivas famílias e tirado fotos o suficiente para um álbum digno.

 Lily estava usando um vestido verde água que combinava com seus olhos e com duas tranças pequenas que prendiam atrás e o resto do cabelo solto. Seus últimos dias desde que pediu a James sua companhia para ir ao baile, foi, em sua maior parte, com o mesmo. Assim como havia prometido a si, o que fez tudo ser mais gratificante e ela ter o sentimento que tudo valeu a pena.

Ela não estaria ali se não houvesse colocado ela em primeiro lugar, antes de tudo.

A carta que chegou um dia antes confirmou isso à ela, junto do choro de felicidade de cada membro de sua família - nada havia sido divulgado aos amigos por agora, ela queria fazer isso quando fosse o momento certo.

Quando ela desceu as escadas viu todos os seus amigos juntos na sala, arrumados, e se lembrou como a não muito tempo atrás estavam da mesma forma se preparando para o primeiro baile na sétima série, o qual Marlene organizou tudo - não que não tivesse organizado o desse e de todos os outros anos também.

Alice usava um conjunto de top e saia vermelha e dizia que já estava pronta para Neville dar o ar das graças nesta noite mágica - ele já estava atrasado do prazo que a médica havia dado - e Frank usava um terno preto e estava elegante e, como era de costume, tentava acalmar a namorada falando que ele viria no tempo dele - o que fazia com que Alice o olhasse de uma maneira que Lily temia que ele morresse durante a noite; Marlene e Dorcas combinavam os sapatos e usavam um contraste de preto básico e muito brilho - o que dizia muito sobre o casal; Peter estava com Mary e usava uma gravata borboleta com estampa de pizza, enquanto ela usava um brinco de pizza; Remus ajeitava a gravata de Sirius que constantemente a desarrumava, como sempre fazia em situações como essa, e o mesmo beijava o nariz do namorado para irritá-lo mais ainda e Remus fingia estar irritado, mas Lily sabia que ele adorava isso; e tinha James, que a olhava com os olhos brilhando e usava uma gravata que combinava com o vestido dela.

O garoto foi até a escada e estendeu a mão à ela:

— Você sempre me surpreende, Evans.

— E me sinto muito bem fazendo isso. — Ela deu um sorriso. 

—Todos vocês, vamos, juntos, rápido. — O pai de Remus, Lyal, falou alto para se posicionarem para a clássica foto que iria para a parede que Lily tinha em casa com a foto de todos juntos ao longo dos anos. A primeira era ela e Alice no primeiro dia do jardim de infância, e assim a turma foi crescendo conforme iam conhecendo mais pessoas.

— EU SOU DO LADO DO JAMES, EVANS! — Sirius empurrou a menina.

— SIRIUS? — Marlene gritou — VOCÊ É UMA CRIANÇA?

— É O MEU LUGAR!

— NÃO TEM LUGAR, GAROTO! — Remus interferiu. 

— VOCÊ DIZ ISSO PORQUE ME QUER DO SEU LADO!

— SIRIUS EU TO PRESTES A TER UM BEBÊ SE ARRUMA LOGO OU EU VOU TE DAR UMA SURRA! — Alice gritou, o que fez todos ficarem quietos. Haviam aprendido a não provocar a Alice grávida depois de muitos puxões de orelhas e brigas que poderiam ser evitadas, principalmente no último mês. Entre elas, uma bicuda que, não sabem como, ela conseguiu dar em James por ele discordar dela sobre um dado científico, após isso, quando achamos que ela continuaria brigando, ela começou a chorar e tivemos de abraçá-la, enquanto James ainda estava apertando a barriga com dor.

Após a foto - ou fotos - os amigos se dividiram nos carros e foram até a escola. Imaginavam que Marlene faria um ótimo trabalho, mas realmente se surpreenderam quando encontraram desde o lado de fora, homenagens aos alunos que estavam se formando. Não entendiam quando a amiga falava que todo o estresse e nervoso compensaria no final, mas vendo tudo aquilo, conseguiam entender, e agradeceram pelo ótimo trabalho.

O salão estava enfeitado com cores claras e suaves, e, por incrível que pareça, o tema com flores não foi tão brega quanto Lily achava que seria quando a amiga lhe contou sobre. A ideia de Marlene era passar um ‘’Novo caminho, iluminado e florido, que todos iremos ter em algum momento em nosso futuro.’’, e por mais clichê que pudesse parecer, Lily se emocionou ao ver tudo aquilo na escola em que passara anos de sua vida. 

Dançaram pela noite, beberam e riram muito. Choraram também, com discursos de professores presentes, alguns alunos e entre eles mesmos, pois sabiam que essa seria uma separação com a qual não estavam habituados.

Todas as experiências que vivenciaram pelos corredores, em suas próprias casas. As primeiras coisas que sempre resultavam em uma comemoração, ou as reuniões de estudo que nunca eram para estudo, e as festas dos pijamas para verem filmes, que sempre, pelo menos 4 deles, acabavam dormindo no meio. As brigas, choros e risadas que compartilharam, tudo aquilo em um passado que, até então, não haviam percebido que era realmente um passado.

Agora, mesmo que continuassem amigos, estariam trilhando caminhos diferentes e um tanto quanto longe, e isso era assustador de se pensar. A ordem do que conheciam estava mudada e não sabiam bem como se sentiam perante a isso, pois evitaram refletir sobre, mas agora estava tudo a frente deles.

Decididos a não se deixarem levar por uma tristeza que os deixariam na cama - frase essa dita por Remus que olhou Lily fixamente -, foram rumo à festa de Edgar Bones que teria assim que o baile acabasse.

Mas, antes de irem, Lily perguntou se ela poderia ir sozinha com James e se Sirius e Remus conseguiam arrumar uma carona, e eles concordaram - não sem antes Sirius e Peter fazerem sons de beijos e cantarem ‘’Lily e James sentados em uma árvore…’’, mas isso era algo comum no dia a dia deles.

— Onde vamos? — James perguntou quando ela pediu a chave do carro.

— Eu te guio, Potter.

— Não sei se quero isso… você reprovou três vezes na prova de direção.

— Só me dá a droga das chaves!

Lily dirigiu por cerca de 20 minutos até chegar no jardim da biblioteca, pegou uma toalha da bolsa que levara, e esticou no chão.

— Senta aqui. — Ela sentou e bateu a mão ao seu lado. 

— Certo… — James obedeceu e ela encostou a cabeça em seu ombro. 

— Sou muito feliz contigo, James. 

— Eu também, Lil.

—Mas, tenho uma coisa para te contar.

— Ah não…

— Eu não havia contado para ninguém além dos meus pais, Petúnia e minha psicóloga, mas…

— Você não tá grávida, certo? — James olhou desconfiado. 

— NÃO! 

— Só para confirmar, continua..

— Sem noção… — Lily revirou os olhos e retomou ao pensamento — Como eu ia dizendo... eu fui aceita em uma faculdade que queria muito e só percebi que queria quando decidi ser essa nova pessoa mais pro início do ano. A única questão é que ela seria um pouco longe. 

— Longe quanto? — Ele perguntou arqueando uma sobrancelha.

— Longe como a Itália.

— Uh..

— Recebi a carta ontem confirmando, por isso não havia contado antes… não queria me precipitar. Minhas notas foram boas para eles, e agora estou matriculada no curso de História da faculdade de Roma, La Sapienza. — Ela tentou fazer um sotaque italiano.

— Você sabe falar italiano? 

— Eu aprendo. 

— Certo… — James parecia imerso em pensamentos, o que preocupou Lily.

— Vai dizer algo mais? 

— PARABÉNS! — Ele se jogou em cima de Lily e deu beijos por seu  rosto, o que a fez rir. Quando a soltou voltou a falar — Você realmente me surpreende.

— Não está… bravo? — Ela disse relutante.

— Por que?

— É outro país. 

— LIly Evans, você acha que vou me abalar por isso? Sabe quanto tempo sonho com você, com nós? Seja como for Lily, nosso caminho está traçado junto e não há como negar isso. Não vai ser o nosso futuro promissor que me deixará inseguro. — Ele pegou fôlego e passou o dedão na bochecha dela — É claro que é assustador, Lil, mas não é o que vai me abalar, logo porque torço tanto por ti.

— Obrigado, James. E além disso, temos até setembro…

— Sim, e depois de setembro? 

— Também temos. 

— Então, sem problemas. Daremos um jeito. — Ele esticou a mão para ela como quando fecharam o acordo em janeiro, e ela riu.

— Daremos um jeito.

Ficaram um tempo em silêncio apreciando o tempo e o céu aberto que avisava a entrada do verão. Sentiram a brisa balançar seus cabelos e aliviar qualquer pensamento ruim que viesse a surgir em suas cabeças, apenas aproveitando o agora e imaginando o futuro como algo bom e cheio de possibilidades e, que fosse como fosse, estariam juntos, longe ou perto. 

— E pensar que tudo isso começou por um surto meu. — Lily disse dando risada. 

— Você fala como se não surtasse mais, né?

— E não surto. 

— Segunda-feira você tava chorando porque acabou o pudim e você não comeu. — James a olhou. 

— Foi um sentimento sério, ok? — Ela mostrou a língua para ele — Não vamos para a festa? 

— Podemos comer alguma coisa antes?

— É por isso que estamos juntos. — E com um beijo demorado, os dois se levantaram e foram em direção ao carro. 

Passaram em um drive thru e comeram o lanche - e sorvete - no carro estacionado próximo ao local da festa. Quando terminaram foram para a festa onde logo encontraram Remus e Sirius em cima de um mesa com as camisas desabotoadas cantando Dancing Queen, com Marlene e Dorcas se beijando no jardim e Alice avisando - Lily esperava que ela não estivesse bêbada - que Neville ainda não viera. 

Lily não sabia quando diria para eles, mas seria logo. Pensar em deixar sua família nunca havia passado pela sua cabeça - e era bom pois talvez tivesse desistido no meio do caminho. E também não gostava de pensar em todo o choro que isso traria.

Mas enquanto isso queria aproveitar cada cantinho e momento que pudesse ter com eles, e assim fez, até o seu momento de partida.