Os soldados da base das F.E. de Hong Kong não demoraram muito para chegar na estalagem. Apesar da dificuldade do helicóptero pousar, por causa da vegetação local a habilidade do piloto fez com que a equipe se tornasse mais ágil. Já chegaram com os caixões improvisados para colocar os corpos.

Quando o último corpo foi recolhido, um dos soldados foi até Tatsuo que estava ao lado de Xiu, esta estava como em estado catatônico, olhava apenas para uma direção. Em voz baixa ele perguntou:

— Soubemos que o esposo dela morreu aqui também, mas não achamos o corpo.

— Nós o enterramos aqui próximo. – Tatsuo umedeceu os lábios – é melhor não falarmos disso perto dela.

— Desculpe a minha tolice. Não tive intenção...

— Tudo bem, soldado. Mas quanto a ela? O que farão?

— Vamos leva-la para a base, lá ela passará por um apoio médico e psicológico.

— Cuidem bem dela, por favor.

O tom com que Tatsuo falou a última frase foi de compaixão. Ela sabia o que era essa dor e não desejava que Xiu ficasse com sequelas.

Antes de o soldado leva-la, Tatsuo olhou para Xiu e disse:

— Eles vão cuidar de você. Vai ficar tudo bem.

Xiu não conseguiu falar uma palavra e prorrompeu num choro. Tatsuo a abraçou e ficou assim por alguns momentos. Depois Xiu foi acompanhada por um dos soldados até o helicóptero e dali partiu.

(...)

O sol já estava despontando no horizonte, os viajantes continuavam caminhando desde as quatro e meia da manhã calados. Tatsuo estava andando a frente do grupo, pois sentia a necessidade de caminhar sozinha para ordenar melhor os seus pensamentos. Todo episódio há algumas horas a fez relembrar algo que ela queria pelo menos aliviar a dor da lembrança. O choro de Xiu e sua feição não saiam de sua mente e diversas vezes se sentia uma comoção, mas logo engolia o choro e secava as lágrimas teimosas que insistiam em cair.

Kenshi andava calado, mas estava preocupado com Tatsuo, pois ela não lhe dirigiu a palavra desde que saíram da estalagem. Sem hesitar ele acompanhou os passos de Tatsuo e conseguiu alcança-la.

— Tatsuo – ele a chamou tocando-a no braço.

Ela logo recuou assustada e olhou em sua direção.

— Me desculpe, eu... – falou Kenshi em voz baixa.

Tatsuo fechou os olhos, fez um sinal negativo com a cabeça e sem desacelerar os passos disse:

— Tudo bem.

Mesmo assim Kenshi acompanhando os passos dela disse:

— Acho que você precisa conversar.

— Está tudo bem – ela disse.

Mas Kenshi não desistiu e a puxou pelo braço novamente fazendo-a parar. Os outros que estavam logo atrás estranharam aquele gesto de Kenshi, mas ele disse:

— Podem continuar o caminho.

— Está tudo bem? – perguntou Cassie curiosa.

— Sim, Cassie – respondeu Kenshi com um sorriso – acompanhe Takeda que eu já vou junto com Tatsuo.

Eles anuíram com a cabeça e seguiram adiante.

Tatsuo cruzou os braços e perguntou:

— O que você quer comigo? Precisamos chegar o mais rápido possível no Dragão Vermelho...

— Tatsuo! – Kenshi a segurou pelos braços – Eu sei que não está tudo bem com você.

Katana engoliu seco e não sabia o que dizer diante da afirmação que Kenshi acabara de fazer. Sabia que não estava bem, mas queria se mostrar forte, o que era inútil visto que ele era um telepata. Ela mordeu os lábios e sentiu que as lagrimas queriam descer. Não as impediu e deixou que saíssem. Baixou a cabeça e chorou. Kenshi a acolheu em seus braços e deixou que ela deitasse a cabeça em seu peito.

Baixar a guarda foi a melhor coisa que Tatsuo fez, pois sentiu uma paz invadindo o seu coração ao sentir os braços de Kenshi envoltos em seu corpo. Ela queria eternizar aquele momento.

Kenshi se distanciou um pouco de Katana, ficou frente a ela e perguntou:

— Agora você melhorou, certo?

— Não tem como eu esconder isso de você, não é? – ela respondeu com um sorriso tímido.

De repente como de impulso Kenshi deu um selinho em Katana fazendo-a se assustar.

— Kenshi!

— O que? Desculpa, eu não resisti.

— E se Cassie e Takeda estiverem por perto?

— Eles já devem estar longe – disse depois de uma gargalhada.

Katana respirou fundo e disse:

— Vamos logo, precisamos acabar com esses caras que mataram a Suchin.

Kenshi sorriu e disse:

— Sim! Vamos.