Brave face talk so lightly
Hide the truth
'Cause I’m sick of losing soul mates
So where do we begin
I can finally see
You’re as fucked up as me
So how do we win?

Mérula Snyde era naturalmente desagradável, mas ela estava conseguindo se superar. Rowan havia arrastado Isis para longe, quando, depois de uma provocação idiota, Isis se deixou levar e quase duelou com a garota no meio do pátio. Não era a primeira vez, definitivamente não seria a última, mas Poeirestelar de fato nunca se sentira tão sensível e tão facilmente propensa a entrar em brigas quanto naquele instante.

— Você sabe, é isso que ela espera de você. – Rowan ralhou com a amiga. – Faltam três dias para o baile, você poderia ter levado uma advertência séria, Is! Poderia ter sido impedida de ir ao baile! E você faz parte do comitê!

— É, eu sei. – Ela murmurou, constrangida. – Eu sinto muito. Obrigada por ter livrado a minha cara. É só que ando muito agitada com toda a questão com... Bom, você sabe.

— Minha nossa, Is, você fala como se estivéssemos falando de Você-Sabe-Quem. 

— Acho que no momento os dois me assustam na mesma medida. – Confidenciou, desolada. Nas últimas semanas, embora tivesse trabalhado com afinco na organização da festa com Penny e os outros, Isis havia mantido uma distância de segurança da amiga. Como Penny estava muito ocupada e obcecada com os preparativos, felizmente não parecia ter notado.

— Você já enfrentou coisas bem mais estranhas. E além do mais, vocês se conhecem. Mesmo se ela negasse o seu convite, vocês dariam um jeito de fazer a amizade voltar ao normal.

— Não sei, não quero mais arriscar, Rowan. Acho que eu deveria simplesmente convidar outra pessoa.

— Tudo bem. – ela disse, visivelmente contrariada. – Nesse caso, eu posso te ajudar. Menino ou menina?

— Tanto faz. 

— Ótimo, isso realmente facilita a sua vida.

— Você acha? – ela guinchou. – Porque até aqui só me deu dor de cabeça.

— Não seja dramática, Is. – Rowan girou os olhos. – Vamos pensar nas opções...

Elas pensaram. E Isis decidiu, por fim, que faria como Tonks que era legal demais para convidar alguém ou ser convidada. Tonks queria ir sozinha, e embora esse definitivamente não fosse o caso de Poeirestelar, ela sentia como se fosse uma boa saída para o seu dilema. Além do mais, àquela altura, Skye definitivamente já tinha convidado Penny e ela não queria nem começar a pensar sobre isso, embora fosse tudo que pairasse sobre sua cabeça.

No dia seguinte, na última reunião do comitê, Isis chegou, por infortúnio, mais cedo do que os outros, de modo que ficou a sós com Penny. Desde o dia em que a lufana havia lhe pedido ajuda, elas nunca mais tinham passado um momento sequer em companhia apenas uma da outra. O silêncio pesado entre elas fez com que Poeirestelar entendesse que talvez a garota estivesse pensando na mesma coisa que ela.

— Eu sinto a sua falta. – Penny murmurou, abrindo um sorriso triste que doeu em Isis. 

— Penny... – ela se pegou dizendo.

— Cheguei! – Uma Tulipa bem menos belicosa do que o normal anunciou a própria entrada.

— Você parece... Disposta. – Penny riu e o ar melancólico que Isis tinha vislumbrado em seu rosto rapidamente se dissipou.

— E eu estou! – Karasu sorriu. – Eu finalmente tenho um par. A tensão estava me matando. A gente sempre quer correr desses clichês adolescentes, mas é difícil quando se é, de fato, uma adolescente, não acham?

Penny e Isis desviaram o olhar ao mesmo tempo, optando por pontos fixos distintos.

— É. – Poeirestelar disse, sentindo a garganta subitamente seca.

— Penny não diz nada porque com certeza recebeu uma centena de convites desde o primeiro dia. – Tulipa revirou os olhos, provocando a amiga.

Ela havia, de fato, recebido. Um monte, menos o que tinha esperado. Quando ficou claro que ele não chegaria, ela optou pela opção mais atraente.

— Isso não exclui a tensão. – Haywood foi honesta. - Foi difícil escolher, na verdade. – Penny contou e Isis sentiu o estomago afundar.

— Uh, e aí? – Tulipa quis saber, curiosa.

— Eu vou ao baile com Skye Parkin. – Penny disse, como se não fosse nada demais, mas suas bochechas coraram.

— Uau! – Pela entonação de Tulipa, Isis só podia imaginar que ela havia aprovado a decisão. – Ela é a garota mais legal da Corvinal, o orgulho da nossa casa, não é, Isis?

— É, ela é ótima. – Isis murmurou, sentindo-se tensa. Se Tonks ou Barnaby não chegassem logo, era possível que suas pernas adquirissem vida própria e ela saísse correndo.

— A propósito, ela me disse que foi você quem sugeriu que ela me chamasse. – Penny disse, falando diretamente com Isis agora. Sua expressão era indecifrável. Isis não aguentou mais do que cinco segundos mantendo o olhar antes de encarar as familiares botas pretas de cadarço amarelo que ela usava.

— É, bom, eu posso ter dito algo nesse sentido. Você nunca conseguiu parar de falar nela, de qualquer modo. – Sua pulsação rugia agora. Isis levantou o olhar de novo e não se deixou intimidar pelo modo como a amiga estreitou os olhos. Ela estava com raiva.

— Puxa, Denis acha que o clima ficou meio tenso de repente. – Tulipa refletiu, falando pelo seu sapo de estimação. – Talvez eu devesse apenas aproveitar e contar que eu vou ao baile com Mérula Snyde.

— O que? – Isis guinchou, sem conseguir conter a careta.

— É bom, eu imaginei mesmo que você fosse fazer essa cara de sofrimento, Is. Eu sinto muito. Mas as coisas entre nós estavam mal resolvidas há anos, mais precisamente desde que eu a traí decidindo me tornar sua amiga e parceira de crimes. – Tulipa encolheu os ombros. – Eu ainda estou do seu lado, você sabe, mas acho que está na hora de dar uma nova chance à Mérula. Ela teve péssimos pais. Além disso, eu realmente não aguento mais a tensão sexual.

— Tensão sexual? – Tonks riu, adentrando a sala. – Entre quem? Isis e Penny?

— Isis e Penny? – Barnaby repetiu, logo atrás.

— Não! – As duas gritaram ao mesmo tempo, ambas muito próximas de um colapso nervoso.

— Entre Penny e Skye e Tulipa e minha arqui-inimiga. – Isis disse apertando o maxilar e sentindo a enxaqueca chegar com força.

— Arqui-inimiga? Em que ano nós estamos? – Tonks brincou, mas parou assim que deu uma olhada em Poeirestelar.

— Caramba...! – Barnaby se deu conta lentamente. – Eu sou o único heterossexual aqui?

— Eu receio que sim, querido. – Tonks disse gentilmente, como se tivesse falando com uma criança.

— Legal. – ele encolheu os ombros, sem conseguir pensar em qualquer outro comentário.

— Legal. – Isis repetiu, encarando o relógio de pulso. – Será que nós podemos começar a reunião agora? Eu preciso pegar uma coisa com Egwu daqui a pouco.

— Você vai ao baile com Egwu? – Barnaby perguntou.

— Não, Lee, você é idiota? – ela explodiu sem querer, com a única pessoa que não havia lhe dado um misero motivo para isso. – Egwu está no sexto ano! Eu não vou com ninguém! Eu não preciso de ninguém!

— Essa é a minha garota. – Tonks aprovou, antes de reconsiderar. – Mas você realmente não deveria ter pegado pesado com ele, Isis, isso foi rude.

— Me desculpe. – ela respirou fundo, fechando os olhos por um instante. – Me desculpe, Lee... – todo o seu corpo parecia prestes a tremer. – Eu que sou a idiota. – ela disse, num tom bem mais baixo. – Me desculpe, Tulipa, você tem o direito de sair com quem quiser. Não vai afetar nossa amizade. Me desculpe, Penny, por... Por... – e ela apertou os lábios quando eles ficaram perigosamente vacilantes.

Pareceu que aqueles segundos que ela apenas olhou para Penny Haywood sem dizer nada duraram anos inteiros. E pareceu também, por um instante, que elas estavam sozinhas novamente. Não havia nada mais a ser dito que não estivesse claro naquele silêncio. Não havia modo de disfarçar o seu coração pulsante, nem o modo como ela estava terrivelmente apaixonada por Haywood. Isis se sentia drenada. E muda.

Quando ficou claro que ela nunca terminaria a frase, Barnaby quebrou o silêncio:

— Tudo bem, mas vocês têm certeza que a tensão sexual não é entre Isis e Penny? – as duas garotas se encararam por um segundo a mais, antes de Penny olhar para Barnaby.

— Não. – Ela disse delicadamente, encerrando o assunto. – Vamos começar a reunião agora.