The Eleventh Hour escrita por isa


Capítulo 8
O lago negro


Notas iniciais do capítulo

the river - aurora: https://www.youtube.com/watch?v=P7lE-G1oC34 (e mais um clipezinho, dessa vez com a própria inspiração visual para a Penny e a quedinha eterna da escritora que vos fala)



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I'm a shadow, I am cold
And now I seek for warmth
Stitch your skin on to my skin
And we won't be alone
Don't forget who you are even though you're in need
Like a bird in the night, your emotions deserves to be freed

 

Mesmo depois de ver o vestido lindo que Egwu havia preparado para ela, a enxaqueca latejante de Isis Poeirestelar não lhe deu trégua. Ela achou de verdade que poderia explodir. Penny estava em cada canto de seu pensamento, não importava que curva mental ela fizesse, ali estava a garota de novo.

Isis tentou por muito tempo só encarar o teto de seu dormitório em silêncio, enquanto Rowan e suas outras colegas de dormitório descansavam. Não deu certo. Ela precisava esfriar a cabeça. Ela precisava desesperadamente e foi por isso que, pé ante pé, ela saiu do quarto.

Não era uma coisa inédita. Ela já havia transgredido tantas normas da escola que mal conseguia se importar agora. Caminhou com cuidado, mas decidida, até submergir por completo no lago negro. Na margem em que estava, sabia que era escondida por seixos e plantas altas. Ninguém a veria ali e as criaturas que habitavam o lago simplesmente não ficavam numa porção tão rasa para se importar.

O mergulho lhe fez bem. Ela sentiu como se pudesse raciocinar de novo. Mas a sensação não durou muito, porque algo – uma movimentação suave – fez com que ela se virasse e percebesse que não estava sozinha. De início, Isis não soube divisar muito bem se aquilo era só algum tipo muito visual de alucinação erótica. Mas quando Penny Haywood se despiu calmamente, ela teve certeza que sim.

— Porque você não sai da minha cabeça? – ela gemeu, sentindo o desconforto quase como uma dor física.

Penny não respondeu. Apenas entrou na água.

— Cacete. – ela xingou baixinho pela temperatura.

Isis sentiu a respiração falhar.

— O que você está fazendo aqui?

— Você não é tão discreta quanto imagina. – Penny anunciou, depois do choque inicial com a água. – Eu vim resolver a nossa tensão sexual. – Concluiu de maneira suave.

— Achei ter ouvido você dizer que não havia tensão sexual mais cedo. – Isis sibilou, mordida.

— Você não vai querer entrar nessa agora, vai? – Desafiou. Os lábios de Penny estavam adquirindo uma coloração levemente arroxeada. Sua pele tinha uma tonalização azulada à luz da lua e o cabelo parecia muito mais claro do que de fato era. Embora aquela fosse uma visão que fazia outras partes do corpo de Isis Poeirestelar ficarem tão ou mais latentes que a sua cabeça, também parecia preocupante.

— Não. – Ela respondeu, puxando-a para perto, em parte porque simplesmente não podia suportar mais, e em parte porque seu instinto de proteção gritava para aquecê-la.

— Graças a Morgana. – Haywood murmurou, antes de encostar os lábios nos dela. E assim, de repente, foi como se mil estrelas explodissem dentro de Poeirestelar de uma única vez. E quando a sua língua tocou a de Penny Haywood, pouco depois, todas as suas malditas preocupações foram varridas como se nunca tivessem existido.

Ela passeou as mãos pelo cabelo dela como queria há tempos. Ela passeou as mãos por outras partes do corpo dela também. Em defesa de nossa protagonista, era difícil acreditar que elas estavam ali e ela precisava se certificar. Isis precisava se certificar tocando cada centímetro de pele que Penny permitia. Felizmente isso significava toda a sua extensão.

Quando Isis a encostou gentilmente à margem, ela sabia que aquilo poderia acabar de um jeito estranho. No menor dos casos, em gripe e uma leve hipotermia. No pior, em expulsão. Mas valia a pena, porque agora ela sabia.

— Eu estou apaixonada por você, Haywood. E eu sei que isso pode parecer suspeito quando estou assim, com ambas as mãos nos seus seios no nosso primeiro encontro, mas é verdade.

Penny abriu um sorriso ferino que Poeirestelar não conhecia até então. Ela apreciou o gesto. E também o modo como Penny apertou ainda mais as pernas em torno de sua cintura.

— Isso quer dizer que você quer ir ao baile comigo?

— Sim, quer dizer exatamente isso: que eu não iria com mais ninguém.

— Que bom que isso ficou esclarecido. Só me tomou um monte de noite insone. – Penny contou, mas parecia bem-humorada.

— Você sabe, você não parecia exatamente interessada quando eu cogitei te chamar.

— Eu estava morrendo de medo, Isis. – ela esclareceu. – Morrendo de medo de estar interpretando as coisas de maneira equivocada.

— Bom, eu também estava aterrorizada até os ossos.

— Isso não combina muito com você. – Penny sussurrou, passando a mão pelo seu rosto.

— O que?

— Ter medo. – ela sussurrou.

— Bom, você mais do que ninguém sabe que essas expectativas que engessam na gente não poderiam passar mais longe da realidade.

— Eu sei. Mas é tragicômico como a gente acaba se deixando levar por elas, né?

— Muito. – Isis suspirou. – Eu estou feliz de que você esteja aqui comigo no fim das contas.

— Eu também. – Haywood assumiu. – E talvez seja do seu interesse saber que eu declinei o convite de Parkin depois da nossa reunião.

— É um alivio, mas...

— Mas? – a outra a encorajou.

— Eu não sei, Penny. Me sinto idiota por ter ficado nervosa mais cedo. Eu acho que eu fiquei com ciúmes e eu não me orgulho disso.

— Bom, você não foi a primeira de nós duas. – Penny desviou o olhar. – Além do mais, não foi muito legal da minha parte aceitar um convite que eu não estava interessada.

— Será que tomar decisões ruins são o efeito colateral da adolescência? – Isis perguntou, sentindo-se culpada.

— Nós estamos em um lago gelado durante a madrugada então suspeito que sim.

— Isso me deixa um pouco frustrada. Achar que a vida é uma sucessão de mancada e alguns pequenos acertos no meio.

— Eu acho que os erros possibilitam os acertos. – Penny ponderou. – Eu também acho que é assim que a gente cresce.

— Eu espero que sim. E acho que milagrosamente eu acertei em cheio com você. – Isis disse, mal acreditando na própria sorte. Depois de beijar Penny uma última vez, ela a suspendeu e as duas se valeram de um feitiço auto secante antes de se vestirem. Uma parte tanto de Haywood quanto de Poeirestelar não queria voltar ao castelo. Não queria nada que não fosse ficar ali, em frente ao lago negro, desfrutando da companhia silenciosa e amorosa uma da outra. Muitos anos tinham sido necessários para que elas pudessem entrelaçar os dedos das mãos entre si. Elas não estavam dispostas a perder nenhum dia a mais negando a força da potencia que era estarem vivas, apaixonadas, e desbravando as próprias sombras, as próprias luzes.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho certeza de que não é tão fácil entrar no lago negro como fiz parecer nesse capítulo, mas para efeitos estéticos, o cenário precisava ser esse, haha. Eu queria muito que soasse mesmo como um sonho adolescente deturpado, mas que fosse doce ao mesmo tempo. Espero ter conseguido atingir meu objetivo!