Little Things escrita por Siaht


Capítulo 9
IX. heart of stone


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!! ;D
Tudo bem com vocês?
Espero que gostem do capítulo! ♥



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IX

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{heart of stone}

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— Posso entrar? — a voz de Astoria soou doce, enquanto ela adentrava, como uma brisa primaveril, o quarto escuro.

— Veio brigar comigo? — Scorpius questionou emburrado, encarando o gesso do teto.

— Por que eu faria isso?

O menino deu de ombros, se afundando nas cobertas. A mãe se sentou na beirada da sua cama, sem esperar qualquer convite. Os cabelos caiam como uma cachoeira negra por suas costas, os olhos azuis estavam cheios de preocupação, um sorriso carinhoso se desenhava em seus lábios vermelhos. A mulher tinha aquela beleza aristocrática e aquela postura clássica de alguém que crescera com poder e dinheiro antigo. Não fosse sua tendência a sorrisos calorosos e palavras gentis, poderia parecer arrogante. Não o era, embora sua presença fosse intimidadora para a maioria das pessoas. Havia uma firmeza estranha em Astoria Malfoy, uma confiança absurda – em si mesma e em seus ideais –, um desprezo quase completo pelas opiniões alheias. Aço corria pelo sangue daquela mulher que jamais se curvava, jamais se submetia, jamais quebrava.

— Como foi o ensaio? — Scorpius arriscou, após alguns minutos do mais completo silêncio. Astoria sempre fora boa em arrancar palavras do filho e do marido. Aquela simples presença calma e segura parecia suficiente para impulsioná-los a falar. O que era uma dádiva, considerando a natureza introspectiva de ambos.

— Foi ótimo. Teremos um conserto no fim do verão.

A mãe era primeira violista na Orquestra Bruxa de Londres. Um fato que Scorpius normalmente apreciava e, apesar de não ter herdado seu talento musical, estava sempre querendo saber mais sobre o trabalho dela ou simplesmente pedindo para ouvi-la tocar. Mas não naquela noite. Naquele momento a chuva, que ainda desaguava sem clemência, era a única canção que fazia sentido.

— Por que você não fala logo o que veio falar...

Astoria arqueou uma sobrancelha, mas se manteve inabalável. Às vezes Scorpius achava que nada seria capaz de perturbar a serenidade da mãe.

— Mas não vim dizer nada.

—Então o que você veio fazer aqui?

— Escutar.

— Escutar o que?

 — O que quer que esteja se passando por essa cabecinha linda. — ela disse, passando seus dedos de violinista pelos cabelos do filho. Scorpius instintivamente se inclinou para mais perto dela. Do toque dela. Como uma criança pequena procurando o colo da mãe, após um pesadelo. A criança que ele ainda era. Astoria apenas o abraçou, o trazendo para mais perto de si. Envolvido naquele abraço, Scorpius finalmente quebrou. Chorou como se o mundo estivesse desabando, porque era o que parecia.

— Está tudo bem, meu menino. Está tudo bem. — a mãe entoava, acariciando suavemente os cabelos dele, enquanto as lágrimas do filho encharcavam seu vestido. Nenhum dos dois seria capaz de dizer por quanto tempo aquilo durou.

— As coisas seriam mais fáceis, se você não tivesse se casado com ele. — Scorpius disse, ainda fungando, quando finalmente se separam.

Astoria riu.

— Ah, Scorpius, me deixe te contar um segredo sobre a vida: as coisas nunca são simples. Nós só temos que encontrar as complicações que valem a pena. E o seu pai definitivamente vale. Ele vem com uma bagagem grande, é verdade, mas eu não seria tão feliz, se ele não estivesse em minha vida. E não teria tido você, o que seria uma tragédia sem precedentes.

— Você é? — o menino questionou — Feliz, quero dizer.

— Sou. — havia convicção nas palavras dela. Tudo o que Astoria Malfoy fazia era com convicção, no fim das contas — Há dias difíceis, é claro, mas eu sou feliz. Muito.

— Mesmo que todo mundo nos odeie?

Ela riu novamente.

— Bom, nem todo mundo nos odeia. Mas sim, apesar desse desprezo um tanto generalizado, eu sou feliz. A opinião das outras pessoas a nosso respeito, Scorpius, é apenas a opinião de outras pessoas e ela não diz nada sobre quem somos ou podemos ser.

— Mas o pai foi um Comensal da Morte.

— Sim, ele foi.

— E isso é uma coisa horrível.

— Sim, isso é algo terrível e as pessoas que ele prejudicou têm todo o direito de nunca perdoa-lo por isso. Mas ele não é mais aquele homem e se arrepende de verdade de tudo o que fez.

— Eu não sei se isso basta.

— Eu também não. Não posso falar por trouxas, nascidos-trouxas ou mestiços, sou uma bruxa de sangue-puro, afinal. Um termo detestável, se quer saber minha opinião. De qualquer forma, é provável que para essas pessoas não exista chance de se esquecer ou perdoar. E tudo bem. A única coisa que o seu pai pode fazer, no entanto, é seguir em frente e não repetir seus erros. Ele não pode apagar o passado. Mas pode ser melhor no presente. É tudo o que todos nós podemos fazer.

Scorpius suspirou.

— Eu sei... — e ele sabia, mas não sabia — Eu só não entendo... Não entendo como ele pode ter feito o que fez... Não entendo.

Astoria se aproximou novamente, estendendo os braços para o menino que apoio a cabeça no ombro dela.

— É uma história complicada e que talvez seja difícil de assimilar, porque o seu pai não foi criado como você. E o seu avô era... difícil. As situações não eram as melhores e ele era muito jovem. Talvez nada disso seja suficiente para um perdão, mas se você quiser entender, vai ter que escutá-lo. Vai ter que ouvir a história inteira. O resto do mundo não precisa ouvi-la e não devemos pedir isso a eles, mas você é filho dele. Você deveria ouvir.

O garoto apenas assentiu, ainda sem ter qualquer certeza se desejava ouvir o que quer que fosse.

— Você não se importa? Não se importa com tudo o que aconteceu? Não se importou quando se casou com ele?

A mãe sorriu melancolicamente.

— É claro que me importo. Mas já te disse, Scorpius, devemos escolher o que vale a pena, apesar dos pesares. Seu pai sempre foi bom para mim. Um bom amigo, um bom companheiro, um bom marido. E ele sempre foi bom para você. Ele salvou minha vida de formas que você é novo demais para entender. Eu o amo e ele me ama. Nós dois amamos você. E eu sei que hoje ele não faria as mesmas escolhas que fez aos 16 anos. Isso é o que importa para mim.

Scorpius sabia que fazia sentido, mas ainda assim...

— E essa casa? Você não se incomoda de viver aqui? Nem meus avós ficaram...

Astoria suspirou.

— Para mim uma casa é só uma casa. Paredes e teto e mobílias. O que importa são as memórias que criamos nela. Não me importaria em me mudar, é verdade, e sugeri isso ao seu pai várias vezes, mas – de qualquer forma – todas as lembranças que tenho dessa casa são positivas. Já seu pai... — outro suspiro — Seu pai gosta de se punir, eu acho. De se prender a memórias antigas e revirar o passado. Acho que ele acredita que deve viver aqui, para não se deixar esquecer. Vocês dois são parecidos nesse aspecto.

Scorpius se afastou dela de repente.

— O que você quer dizer?

A mãe apontou para a pilha de cartas que havia recebido de Rose e Albus, ao longo daquelas semanas, empilhadas na escrivaninha.

— Você podia estar se divertindo com seus amigos, mas escolheu estar nessa casa antiga, remoendo coisas que aconteceram muito antes de você nascer.

O menino corou.

— As pessoas em Hogwarts não estão se importam muito com isso...

— Sim, não elas não estão. E eu sinto muito por isso, Scor. — a mãe disse, afastando alguns cabelos loiros do rosto do garoto — Mas seus amigos não se importam com nada disso, não é mesmo? E nenhuma dessas crianças desagradáveis está aqui agora. As vozes delas estão apenas na sua cabeça. Conheça o passado, Scorpius. Aprenda com ele. Mas não deixe que te defina. Não deixe que a opinião de ninguém te defina. Assim como uma casa é só uma casa, um sobrenome é só um sobrenome. Eu usei o Malfoy, que escolhi acrescentar ao meu nome, para me tornar uma primeira violista e isso também faz parte do legado dessa família, não ouse se esquecer. O que você vai fazer com o seu Malfoy só cabe a você, mas eu sei que será algo lindo.

— Obrigado, mãe. — o menino sorriu.  

— De nada. — ela disse, depositando um beijo na testa dele. — Converse com seu pai, Scor. Quando se sentir pronto, quando sentir que consegue realmente ouvi-lo, mas converse com ele. Por favor.

O garoto assentiu.

— Ele está muito irritado comigo?

 Astoria lhe enviou o mais doce dos sorrisos.

— Ele nunca conseguiria ficar irritado com você.

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Scorpius passou três dias inteiros sem sair do quarto. Pensando. Refletindo sobre tudo o que a mãe havia lhe dito. Sobre todas as dúvidas que ainda tinha. Sobre todos os sentimentos que ainda guerreavam dentro dele. Não tinha certeza de nada. E essa constatação o fez pensar em Rose e em como ela não tinha intenção de ter qualquer certeza no momento. E em como perdão parecia algo tão simples para ela. Ele não era Rose, nunca seria, mas podia ao menos se sentir inspirado pela amiga.

Respirou fundo cinco vezes, antes de reunir coragem suficiente para descer as escadas. O pai estava no escritório, estudando atentamente um relógio antigo – sempre perdido em suas antiguidades. Scorpius bateu na porta levemente, lutando contra a vontade de sair correndo.

— Pai? — chamou, voltando os olhos para os próprios sapatos.

 — Scorpius. — a atenção de Draco se focou imediatamente nele. De forma ansiosa e completa.

— Posso entrar?

— Claro.

Aquilo era novo, estranho e constrangedor. Precisaria reaprender a estar na companhia do pai. Precisaria reaprender quem era seu pai. Os dois se encararam por um minuto inteiro. Draco abriu a boa, mas a fechou. A abriu e a fechou novamente. Na terceira vez disse:

— Eu sinto muito. Você não faz ideia do quanto sinto.

E era verdade, Scorpius de fato não fazia ideia. Não fazia ideia de nada, a não ser do fato de que naquele momento queria abraçar seu pai. Nada estava resolvido. O menino ainda estava magoado, decepcionado e tentando processar tudo aquilo. Ainda sentia vontade de incendiar a casa inteira. Mas sabia agora que não queria que sua relação com seu pai se perdesse para sempre.

— Eu não odeio você.  

Pela primeira vez na vida, Scorpius Malfoy viu seu pai chorar.


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Notas finais do capítulo

Astoria! ♥
O nome do capítulo é Heart Of Stone, porque eu estava ouvindo sem parar essa música de Six: The Musical e pra mim ela tem muito a vibe de como eu imagino a Astoria (tirando a parte de morrer no partos e afins. Não é spoiler, pra quem não sabe, isso é um musical sobre as esposas do VIII e essa é a da Jane Seymour haha).
Enfim, espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís