Little Things escrita por Siaht


Capítulo 15
XV. every rose has its thorn


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!! ;D
Tudo bem com vocês?
Acabou que dividir o capítulo em dois foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.
Espero que gostem! ♥



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XV

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{every rose has its thorn}

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No verão que antecedeu o quinto ano, Rose Weasley descobriu que era gorda. Bom, não exatamente. Ela já sabia disso, é claro. Não era possível crescer como criança “grande” sem se dar conta do fato. As pessoas jamais lhe permitiriam isso. Crianças podiam ser cruéis e aquele adjetivo estivera atrelado a ela, de uma forma negativa, desde que a menina conseguia se lembrar.

Sua mãe não era mais fácil. Hermione Granger-Weasley não era a bruxa mais preocupada com aparência do mundo, na verdade, detestava aquela obrigação de beleza que impunham sobre as mulheres, as reduzindo a isso. Então, para a mulher aquele não era o ponto. O peso da filha era uma questão de saúde.

Saúde, saúde, saúde. Rose perdera a conta de quantas vezes ouvira aquela conversa. Todo mundo parecia preocupado com a saúde dela. Mas não com a de Roxanne que ingeria quantidades absurdas de açúcar todos os dias e “só não engordava de ruindade”. Ou com a de Albus que treinava tão intensamente que a prima achava que acabaria se matando. Ou com o apreço de Teddy por ameixas dirigíveis*. Ou com os cigarros de Dominique fumava, apenas para parecer descolada. Não, saúde só parecia uma questão quando o peso de Rose estava em pauta.

Então, ela crescera com dietas e médicos e mais dietas. Nada que parecesse surtir algum efeito. Ainda assim, a garota sempre imaginara que aquilo seria algo passageiro. Que, assim como nos livros, desabrocharia na adolescência, perdendo sua gordura infantil e tudo seria deixado para trás. Não era gorda, apenas estava gorda. O último verão, no entanto, provara que estava errada. Bom, é claro que ser gorda não era sua identidade, não era o que a definia como ser humano – embora algumas pessoas parecessem acreditar que sim –, mas era algo que estava se tornando uma parte cada vez maior de sua vida. Uma parte que a garota não podia ignorar. Então, sim, Rose Weasley era gorda e aquilo importava.

Importava, porque cada vez que colocava comida na boca sentia que a encaravam como se estivesse cometendo um crime. Não importava se estivesse comendo algo saudável ou não. As pessoas iriam encarar e julgar da mesma forma, como se comer fosse algo pecaminoso e que ela simplesmente não deveria fazer.

Importava, porque as compras de verão haviam sido um verdadeiro pesadelo. Agora que ela não era mais uma criança, e não estava ficando menor, encontrar roupas se tornara uma missão quase impossível. As marcas pareciam não fabricar roupas do seu tamanho, fosse no mundo bruxo ou no mundo trouxa.

E quando a menina finalmente encontrava algo em que cabia, a peça era sempre pavorosa. As roupas eram feias ou pretas ou feias E pretas. Rose detestava roupas pretas. Por que ela deveria sair por aí vestida como um morcego infeliz? A mãe tentara ajudar, dizendo que roupas prestas era legais: discretas, básicas, emagreciam. A ruiva poderia ter gritado com ela no meio da loja. Não queria ser discreta ou básica. Gostava de ser colorida e alegre. Gostava de chamar atenção.  Qual o problema disso? Quanto à parte de parecer mais magra e isso ser algo positivo... aquela simplesmente doía.

A cada roupa que experimentava e não lhe cabia, contudo, a adolescente se sentia mais humilhada, mais errada, com mais vontade de chorar. Rose sempre odiara chorar. As expressões das vendedoras também eram odiosas. Algumas sentiam pena, outras pareciam se entreter com sua desgraça, como se a menina devesse ser punida de alguma forma por não ser magra. Naquele verão, Rose Weasley odiou o mundo pela primeira vez.

Além disso, tudo aquilo importava, porque, naquelas férias malditas, a maioria dos seus amigos resolvera abraçar o amor. Priyanka Goldstein havia conseguido seu primeiro namorado. Hayley Jordan beijara pela primeira vez. Lucian Finch-Fletchley havia tido inúmeros “casos de verão”. E Frank Longbottom II e Elena Macmillan haviam feito uma aposta para saber quem conseguira beijar mais garotos.

Albus Potter já havia beijado algumas meninas, embora não falasse muito sobre o assunto. No time dos BV restavam apenas ela e Scorpius Malfoy. A diferença era que Scorpius não parecia muito interessado em beijos, enquanto Rose estava morrendo de desespero. Ela queria beijar alguém. Não importava quem. Queria saber como era. Queria romance ou apenas pegação. O último, inclusive, parecia melhor. O problema era que ninguém parecia disposto a amá-la ou a simplesmente lhe dar uns amassos. Ninguém parecia inclinado a deseja-la. Em todas as festas, ela acabava sozinha, largada em um canto, enquanto todo mundo tinha línguas enfiadas em sua boca. Aquilo não era justo! Ao fim de agosto, ela entendeu que garotos não gostavam de garotas gordas. Naquele verão, Rose Weasley se odiou pela primeira vez.

Se tudo isso não fosse ruim o suficiente, sua mãe fora eleita Ministra da Magia. O que deveria ser uma coisa boa. E era. Mas também não era. Rose estava orgulhosa de Hermione e realmente a admirava por ter chegado tão longe. Apesar de terem suas diferenças, na maior parte do tempo conseguiam ter uma boa relação. Conseguiam se sentar juntas e tomar chá, enquanto falavam sobre livros. Passear pela Londres trouxa. Se desafiar em jogos de raciocínio e enigmas.

Se tornar Ministra, contudo, apenas havia feito Hermione ficar mais ocupada, tornando todas aquelas atividades ainda mais raras. E mesmo quando estava em casa, a mãe costumava passar mais tempo com Hugo. Rose entendia que o irmão precisava mais dos pais do que ela, especialmente quando estava tendo uma experiência tão ruim em Hogwarts. Mas ainda sentia falta da mãe. Sentia falta de ter a atenção total dela. E, mesmo que não quisesse admitir, sentia raiva por não ter essa atenção. Por que absolutamente tudo parecia mais importante para Hermione do que ela?

O fato das diferenças das duas estarem se tornando cada vez mais acentuadas, não ajudava. Parecia que todas as vezes que as duas tinham a chance de passar algum tempo juntas, uma briga eclodia. Estando prestes a começar o quinto ano, Hermione achava que estava na hora da filha crescer. De abandonar todas aquelas bobagens de signos, tarôs e astrologia. Todas as bugigangas coloridas e excêntricas também podiam ser deixadas para trás. Estava na hora. A filha devia focar em seus N.O.M’s, pensar em seu futuro. “Futuro” estava ao lado de “saúde” na lista das palavras que Rose mais odiava.

E quando Lucy e Fred II receberam seus distintivos de monitores e nenhum foi entregue na casa dos Granger-Weasley, a garota achara que a casa iria cair sobre sua cabeça. Ou que ela fosse derrubar a casa na cabeça da mãe, já que não iria ouvir desaforos calada e não aceitaria levar uma bronca por não ter conseguido algo que, para começo de conversa, nunca quis. Rose não queria ser monitora e não queria pensar no futuro, Rose queria beijar na boca! Queria a mini-saia rosa que vira na vitrine de uma loja e nunca iria lhe servir. Queria poder comer sem que isso se transformasse em um evento. Se não fosse Ron, naquela noite, ela e Hermione poderiam ter se matado.

E como aquele verão inteiro havia resolvido se tornar um filme de terror, seus melhores amigos também a haviam abandonado. Bom, não exatamente, embora fosse o que parecesse. Scorpius estava viajando com os pais para a Itália. Conhecendo pontos turísticos e tendo acesso à arte, história e cultura, enquanto ela estava presa com a Sinistra da Magia. Às vezes, Rose queria que Astoria Malfoy fosse sua mãe. Ou que, pelo menos, Hermione pudesse ser mais compreensiva, empática e lhe oferecer sorrisos e biscoitos feitos em casa como Astoria sempre fazia.  

Scorpius lhe escrevia toda semana, o que o ajudava a manter o status de bom amigo, mas não era suficiente. Rose sentia falta dele, de sua presença doce e introspectiva, dos pequenos desastres que ele causava todos os dias, dos dramas que justificavam tão bem seu ascendente em câncer. Sentia falta de conversar com ele. Sentia falta de como ele a fazia rir.

Albus, de qualquer forma, fora pior. Ele não estava viajando para lugar nenhum, apenas resolvera grudar em Dominique. O que era ridículo. Dominique era três anos mais velha do que eles e nunca tivera problemas em dizer que não tinha paciência para os “pirralhos”. Era claro que para Albus ela sempre abrira exceção, provavelmente por ele ser o outro único sonserino da família.

Ainda assim, continuava sendo ridículo. A prima era mais velha, havia acabado de se formar e estava prestes a começar seu treinamento na Academia de Aurores. Naquele verão, também levara uma garota para casa, pela primeira vez, e a apresentara a todos como sua namorada. Rose ainda não entendia o que alguém como Mai Saito – uma lufana, amante de vestidos floridos e cupcakes decorados, entusiasta de musicais e líder do coral de Hogwarts – teria visto em Dominique, a encrenqueira que tinha opiniões altas sobre tudo, nunca calava a boca, usava maquiagem escura em excesso e se vestia de preto da cabeça aos pés.

Em outro momento, Rose teria ficado encantada e visto aquilo como um exemplo da lógica incompreensível do amor. Agora ela só ficava irritada ao constatar que até mesmo alguém tão desagradável como Dominique havia encontrado o amor, e ela não. É claro que Dominique era linda, deslumbrante de uma forma que chegava a ser injusta, e aquilo talvez ajudasse. O amor, no fim das contas, havia sido feito para pessoas bonitas... e magras. Talvez a amizade também houvesse sido feita para essas pessoas, já que Al desbandara para o lado de Domi e a prima simplesmente aceitara.

Então, sim, Rose Weasley estava tendo um verão terrível. Odiando o mundo, sua mãe, seus amigos, Dominique e a si mesma. Era estranho para ela odiar tantas coisas ao mesmo tempo. E, se fosse honesta, odiar era algo que ela odiava. Sendo assim, na tarde do último dia de verão, quando todos haviam resolvido se reunir n’A Toca, ela procurara um canto isolado, para que pudesse ficar sozinha. Levara seus óculos amarelos, esperando que eles ajudassem com seu humor, e suas cartas de tarô, porque precisava de respostas.

Quando a voz de Scorpius chamou seu nome, ela sentiu o coração falhar. Levantou a cabeça no mesmo instante, o encontrando ali: com os cabelos loiros bem penteados, a pele bronzeada e as roupas impecáveis. O sorriso tímido e o olhar hesitante. Algo se aqueceu dentro dela e a menina sorriu pela primeira vez em meses. Naquele momento, Scorpius Malfoy era a única pessoa que Rose Weasley não odiava.


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Notas finais do capítulo

*ameixas dirigíveis têm certo potencial alucinógeno;
Um capítulo inteiro sobre a Rose, porque era necessário. Sendo honesta, nem sei o que dizer, além de que escrever isso partiu muito meu coração.
Espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís