Aquela merda tinha o preço de um notebook.

Não era como se dinheiro fosse problema para Darcy ou para a irmã, mas aqueles preços eram obscenos. E ao que tudo indicava era sempre por causa da câmera, algo que para ele não faria a menor diferença. 

Darcy começava a se questionar se era realmente necessário comprar um celular novo ou havia sido apenas um surto passageiro, mas olhando a grande janela que adornava a parede de seu escritório podia se ver levemente refletido, e relembrar o pânico que havia sentido o fazia voltar de forma resignada a frente do computador para retomar as buscas por seu futuro aparelho. 

Faziam 3 dias desde o incidente no aeroporto, e após comunicar sua decisão a irmã pode se arrepender amargamente. Georgiana ao contrário do irmão era obcecada por tecnologia, afinal, fazia parte do trabalho dela como designer viver nesse mundo. E decidida a impedir o irmão de comprar um aparelho que não valesse a pena ele teria que escolher entre os anúncios que ela havia separada. 

Não levem a mau, Darcy não vivia como um homem do século 18, ele sabia muito bem o que queria dizer cada uma daquelas configurações, afinal, ele tinha um ótimo computador em casa para jogos. Mas ele não curtia jogos mobile e tão pouco pretendia usar mais do que Apps de mensagem.

E como se os céus ouvissem suas lamúrias, seu celular vibrou, indicando o recebimento de uma mensagem.

    Gigi: É bom que já tenha tomado uma decisão!!!! 

    Espero que até o final da semana eu não precise mais

    me preocupar em arrumar pacotes que incluem SMS.

— Arg. - Resmungou gemendo em frustração enquanto se despenteava e empurrava levemente a cadeira para trás se balançando “Talvez se eu cair e me machucar Georgie esqueça essa história por um tempo” pensou. 

Mas antes de cometer qualquer besteira teve sua sala invadida por seu melhor amigo ruivo e sem modos o convidando para almoçar. 

— Bingley? - Darcy resmungou enquanto pegava seu blazer.

— Sim. - o mais novo respondeu sorridente.

Darcy fechou os olhos fortemente enquanto arfava, quando os abriu novamente pode ver seu amigo com um riso preso o olhando engraçado, e soltando um suspiro cansado com um pequeno sorriso perguntou:

— Quer escolher qual será meu novo celular? 

Em menos de trinta minutos ambos já haviam almoçado e agora caminhavam pelas movimentadas ruas do centro do Rio, Charles ia mais à frente, animado, como uma criança prestes a ganhar um presente, olhando em êxtase a vitrine das lojas, já Darcy andava com calma, desanimado, com as mãos nos bolsos. Um homem sabe quando perde uma disputa, e agora só lhe restava aceitar que por uma vez na vida Charles e Georgiana decidiriam algo por si. 

Bingley finalmente entrou em uma loja, Darcy ao menos agradeceu por ter ar condicionado. Quando chegou perto do amigo pode ver que ele já examinava um aparelho tirando algumas fotos de si mesmo fazendo careta. Darcy queria revirar os olhos mas se resignou em tirar sarro do amigo. 

— Não é com esse tipo de foto que você vai arrumar uma namorada. 

— A garota que gostar de mim também vai ter que gostar do meu senso de humor. - Bingley respondia enquanto fazia outras caretas para câmera. - Melhor já começar sabendo que tipo de homem eu sou. Toma. - terminou enquanto oferecia o aparelho para o amigo.

— Eu gosto de preto - Darcy dizia enquanto passava o celular de uma mão para a outra - É leve, mas é muito grande. 

— Se não me engano tem uma versão menor, mas ainda vai ser maior do que o seu antigo. - Bingley respondeu sorrindo enquanto levantava uma das sobrancelhas. 

Para Darcy só restou finalmente revirar os olhos e bufar a contragosto. 

— Hahaha - Charles sorria enquanto massageava os ombros de Darcy apenas para irritá-lo mais - Não seja tão ranzinza. 

E com uma carranca pior do que antes empurrou levemente o amigo e colocou o celular novamente sobre o mostruário. 

— Esse é um dos que Georgiana me recomendou? 

— É o melhor! 

— E provavelmente o mais caro… - Darcy murmurou enquanto pegava a carteira e se dirigia ao caixa, vendo que Charles havia ficado parado se virou e perguntou: 

— Não vai vir? 

— Vai mesmo comprar? - Charles perguntou como quem ainda não acreditava, mas claramente animado.

— Sinto que não tenho mais escolha, então sim. 

— Hoje mesmo te encherei o saco via ligação de vídeo! - Charles respondeu sorrindo e indo rapidamente atrás do amigo, ele não poderia perder aquele momento histórico. 

Já passavam das 19 horas e Darcy já se encontrava em casa. Com uma calça de moletom e uma toalha sobre os ombros pode finalmente relaxar depois daquele dia cheio. Sua franja respingava levemente em seu rosto. Jogado na cama casal que ficava no centro de seu quarto observava calmamente aquela caixinha. Até que seria legal conversar com a irmã por vídeo, Georgiana a essa hora provavelmente já estaria no dormitório de seu campus. 

Bem, era melhor abrir logo. 

— Abrir.

— Configurar.

— Adicionar contatos. 

— Telefonar para Idiota Ruivo. 

Bz… Bz… Bz…

Ao terceiro toque uma cara confusa finalmente apareceu na tela, mas bastou alguns segundos para que Charles sorrisse em animação. 

Charles: Darcy!! Trocou de número. 

Darcy: Meu Deus, como você aceita ligações,

ainda mais por vídeo, de desconhecidos?!

—Darcy perguntava incrédulo olhando para a tela.

Charles: Há, detalhe. Aliás, foca aonde eu estou!!

—O ruivo respondeu ignorando por completo a insatisfação do amigo, e invertendo a câmera começou a mostrar a cobertura do prédio onde se encontrava. Era um local aberto, muito bonito, parecia ser o ponto mais alto daquele lado da cidade, estando completamente decorado para o que parecia ser uma festa. 

Darcy: Uau. - Darcy parecia realmente impressionado.

—Enquanto esperava o amigo voltar com a câmera para si

acomodou-se melhor entre os travesseiros. 

Darcy: Onde você está?

Charles: Numa cobertura na zona sul. 

Darcy: É, isso eu meio que percebi.

—Darcy respondeu rindo levemente.

Darcy: Mas o que você está fazendo ai?

Parece ser uma festa, mas pelo visto só tem você.

Errou o dia?

—Perguntou erguendo umas das sobrancelhas para

irritar o amigo.

Charles: Não idiota. 

—Agora foi a vez de Charles revirar os olhos. 

Charles: Um dos meus clientes quer realizar um 

desfile de moda aqui. Parece que vai ser incrível.

Eu vim hoje para ajudá-lo com algumas normas e blá, blá, blá. 

A parte chata hahaha. Falando nisso, tenho que ir lá. 

Bye Bye. 

—Charles encerrou a ligação dando um tchauzinho

enquanto sorria com os olhos fechados. 

Darcy: Tchau bobão.

Então Darcy encerrou a ligação e jogou o novo aparelho em algum local entre os lençóis enquanto procurava o seu antigo, seria bom mantê-lo pelo menos por algum tempo já que tivera que trocar de número.

Enquanto rolava pela agenda e anotava alguns números importantes uma mensagem chegou. 

    Caroline: Darcy, meu irmão comentou que está com um número novo. Pensei que poderia me passar e poderíamos a partir de agora conversar mais agradavelmente. Sei que o antigo você utilizava apenas para Georgiana e para a firma, mas agora com essas facilidades e tal seríamos capazes de nos tornarmos mais íntimos. Não se preocupe com Charles, tenho certeza de que ele pouco se importa de nos envolvermos. 

Espero sua resposta.

    Xoxo.

Darcy olhava para o celular com uma mistura de incredulidade e repulsa. Não que ele odiasse Caroline, ele até nutria um certo carinho pela mulher mas nada mais do que isso. Se conheciam desde que eram crianças, já que Charles sempre foi seu amigo mais próximo, e com o tempo acabou notando que a jovem esperava que algo mais surgisse entre eles, mas para Darcy nunca houve a menor esperança, eles eram simplesmente diferentes, e não teria como algo acontecer. 

Então desde sempre fez questão de frisar com pequenas insinuações que não tinha desejo de se unir dessa forma a mulher, e o que ele havia pensado ser sua principal cartada foi quando a tempos deixou claro que não pretendia se comunicar com a mulher por mensagem, e que por ele, só se veriam por acaso do destino. Mas pelo visto, o novo celular trouxe a tona esse antigo problema. 

Respirou fundo, uma, duas, três, talvez dez vezes. Aquilo era exaustivo, mas ainda sim não pretendia ser rude com a irmã de Charles, por mais que o mesmo já houvesse dado carta branca para ser caso se fizesse necessário. 

Então, decidiu responder pelo novo celular com o novo número, mas não pelo App de mensagens, e sim por SMS, para deixar o mais formal possível, sem brechas para algo íntimo. 

Copiando rapidamente o número da mulher logo tratou de redigir a resposta. 

    Darcy: Srt. Bingley, como pode ver este é meu novo número.

Lhe respondo por SMS pois assim como no último aparelho tenho a pretensão de manter este apenas para aqueles com quem presumo ter conversas recorrentes, fato no qual nunca a envolvi.

Por favor, não tenha “certezas” sobre o nosso relacionamento, para mim a senhorita é apenas a irmã de um bom amigo.

Após este pequeno incidente a noite correu da forma mais normal possível, após conversar com a irmã por vídeo foi persuadido a baixar alguns Apps, entre eles um de entrega de comida. Decidido a estar aberto a novas experiências essa noite comeria yakisoba. 

Enquanto arrumava a mesa para o jantar seu celular vibrou acusando o recebimento de uma nova mensagem, rapidamente correu para atendê-lo pensando ser o entregador, quem diria quão grande seria sua surpresa ao notar a mensagem de uma desconhecida em seu WhatsApp pessoal e que não parecia estar nem um pouco a procura de um advogado, ou seja, pela firma é que não veio, então, quem poderia ser?

    ???: Caro Senhor arrasa corações, não precisa se preocupar, se lhe chamo por WhatsApp é apenas por que não tinha créditos suficiente para respondê-lo, não tenho pretensão alguma de me tornar uma de suas conversas recorrentes. 

Mas após receber tão importante mensagem, e com uma provável história dramática por trás (sinto muito, sou bem curiosa), achei que deveria ser de minha responsabilidade avisar-lhe que errou o número de sua destinatária. E acabei levando a culpa por algo que nunca cometi, me deixou estarrecida. 

E apesar dos nomes parecidos, não tenho nenhum irmão que possa ser seu bom amigo, apenas quatro irmÃs e não sou a sua Srt. Bingley, sou apenas a Srt. Bennet. 

Ps: e sabe, você poderia simplesmente ignorá-la (a tal destinatária) a indiferença é mil vezes pior que a grosseria.

“Merda, merda, merda” a cabeça de Darcy apitava, olhando rapidamente o número notou que era o mesmo ao qual havia enviado uma mensagem mais cedo, imaginando ser Caroline, mas por falta de atenção havia esquecido de adicionar o prefixo, Caroline e Charles eram naturalmente de São Paulo, então usavam o DDD 11, e como não havia posto nada antes do número a mensagem foi automaticamente para o DDD 21, que era o seu, e por esse maldito erro tinha começado a situação que mais odiava, envolver um completo desconhecido em sua vida pessoal.