Web - Namoro escrita por Chibi Lele


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Então, nesse capítulo eu decidi focar um pouco mais em quem é a Lizzie e as reações dela perante tudo que está acontecendo. Espero que gostem, o próximo capítulo sera mais focado na interação deles.



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Do lado oposto da cidade, mais especificamente na Zona Norte, uma jovem comum se encontrava no meio de um galpão, concentrada, olhando para as paredes, como se fosse caso de vida ou morte memorizar cada uma daquelas vigas. 

— Lizzie!! Vamos, já está tarde. - uma outra garota gritava pela amiga. - Voltamos amanhã, e você já tem as fotos. 

— Eu sei Char. - a primeira respondeu, finalmente se virando para amiga e sorrindo. - Mas o 3D nunca se equipara ao 2D, e eu quero pôr a mão na massa o mais rápido possível, não aguento esperar mais um dia. 

Charlotte sorria com a resposta da amiga, mas olhando o seu relógio de pulso logo retornou a sua objeção inicial. 

— Anda, eu tenho que devolver o carro ao meu pai.

— Okay! - Lizzie respondeu enquanto corria para pegar sua bolsa em um canto. - Te encontro no estacionamento.

Enquanto enfiava rapidamente seus pertences na pequena mochila seu celular vibrou anunciando uma mensagem, e ao invés de guardá-lo como fazia de costume o enfiou no bolso da calça, para que no carro pudesse ver do que se tratava.

 

Já no carro Charlotte se mantinha concentrada na direção, por mais que estivessem em um engarrafamento como de costume, e sem nada para fazer Lizzie decidiu se ocupar com o seu celular. E rolando pela página inicial do WhatsApp não encontrou nenhuma nova mensagem, o que a fez juntar as sobrancelhas, jurava ter recebido algo de um número desconhecido, descendo a barra de notificações percebeu que a mensagem estava em sua caixa de SMSs, o que a fez dar uma pequena risada pelo nariz, pelo que sabia, apenas bancos se utilizavam daquele meio, e ela jurava não ter nenhuma dívida.

XXX: Srt. Bingley, como pode ver este é meu novo número.

Lhe respondo por SMS pois assim como no último aparelho tenho a pretensão de manter este apenas para aqueles com quem presumo ter conversas recorrentes, fato no qual nunca a envolvi.

Por favor, não tenha “certezas” sobre o nosso relacionamento, para mim a senhorita é apenas a irmã de um bom amigo.

 

O riso anasalado de pouco antes acabara de se tornar uma risada escandalosa, aquilo era ridículo, Lizzie tinha lágrimas nos olhos de tanto gargalhar enquanto relia aquela mensagem. Charlotte já acostumada aos excessos da amiga, apesar do susto inicial, se manteve plena ao volante, esperando que sua companheira recuperasse a compostura e lhe contasse o que era tão engraçado. 

Aquela mensagem era claramente um fora, que ela mesma não desejaria receber nem em sonhos, era brutal. Mas era engraçado interceptar algo que deveria ser tão intimo, ainda mais por SMS, há - Lizzie arfava - o que não daria para ver a cara daquele Don Juan quando o respondesse. “Ele tem cara de ser pomposo.” - pensava - “Pelo jeito que escreve deve ser um velho esquisitão.” 

Vendo que Lizzie já estava mais calma, Charlotte pode finalmente dar voz a seus pensamentos. 

— O que foi? - começou a menina - Lydia conheceu seu príncipe encantado pela trigésima oitava vez? 

— Não. - Lizzie responde com um pequeno sorriso olhando para o celular. - Eu recebi uma mensagem. 

Após narrar para a amiga o conteúdo que havia recebido por engano recebeu uma careta de dor da mesma. 

— Nossa, eu não queria ser essa Srt. Bingley, acho que eu não queria ser nem você. - respondeu enquanto estacionava. - Parece ser um assunto delicado. 

— É. - Lizzie responde pegando sua bolsa e saindo rapidamente do carro. 

— E com isso senhorita Bennet - Charlotte começou com uma cara de reprovação, enquanto Lizzie se controlava para não rir, estava em êxtase, aquilo era engraçado demais. - Quero dizer, o responda com maior cautela possível. 

— Ai Char, até parece que não me conhece. 

— É por te conhecer que te repreendo. 

— Você não tinha que devolver o carro pro seu pai? - Lizzie falava enquanto corria para o portão de casa - Vai logo! 

— Lizzie, Lizzie….

— Olha, se te consola, saiba que vou tomar um banho bem relaxante, e só depois, de cabeça vazia, vou comunicar ao nosso arrasa corações que ele errou o destinatário. 

Enquanto revirava os olhos e ligava o carro para partir, Charlotte se despediu com uma última frase. 

— Cabeça vazia é oficina do diabo, e de cabeça cheia você já apronta bastante. 

— Tchau. - Lizzie gritava enquanto entrava em casa - Nos vemos amanhã. 

 

Vejam bem, Lizzie trabalhava com arte, e toda produção depende exclusivamente de inspiração, que para ela vinha com o acaso, e aquela mensagem nada mais era do que um prato cheio. Quando estava deslumbrada com algo a vida ganhava mais cor, e mal podia esperar para ver como aquele desconhecido reagiria ao acaso. 

Ela não tomou banho, tão pouco se acalmou, após passar pela porta de entrada, no corredor antes de chegar a sala, se encostou na parede e foi deslizando até chegar ao chão, onde copiou rapidamente o número, ela não tinha créditos, teria que pedir desculpas ao desconhecido por isso, pensou, e começou a redigir sua resposta.

    Lizzie: Caro Senhor arrasa corações, (só escrever aquele começo já a fez rir novamente, tampando a boca para que ninguém ouvisse tentou se controlar, era como uma criança cometendo uma traquinagem. Limpando a lágrima do canto dos olhos continuou mais calma, apenas sorrindo.) 

não precisa se preocupar, se lhe chamo por WhatsApp é apenas por que não tinha créditos suficiente para respondê-lo, não tenho pretensão alguma de me tornar uma de suas conversas recorrentes. (Terminou de escrever a primeira parte com uma das sobrancelhas levantadas, aquilo estava ficando muito bom.) 

Mas após receber tão importante mensagem, e com uma provável história dramática por trás (sinto muito, sou bem curiosa), achei que deveria ser de minha responsabilidade avisar-lhe que errou o número de sua destinatária. E acabei levando a culpa por algo que nunca cometi, me deixou estarrecida. (Há, como era emocionada.)

E apesar dos nomes parecidos, não tenho nenhum irmão que possa ser seu bom amigo, apenas quatro irmÃs e não sou a sua Srt. Bingley, sou apenas a Srt. Bennet. 

(Escrever seu próprio nome a deixava pensativa, por mais interessante que tudo aquilo fosse, ainda estava conversando com um desconhecido, mas o que de pior poderia acontecer, nem mesmo o utilizava em redes sociais, e também, ela tinha o nome da tal Srt. Bingley, dar-lhe o seu era algo justo. 

Ainda sim, faltava algo, ela não poderia encerrar daquela forma. 

Bom, a mensagem não passava de um fora, que ao seu ver não surtiria tanto efeito, era mais fácil ele ignorar a tal senhorita, a vergonha de não ser importante, nem para um fora, talvez seja mais interessante para o que ele deseja. 

Bem, eu já estou me metendo na vida dele mesmo hahaha, não custa dar um conselho.)

Ps: e sabe, você poderia simplesmente ignorá-la (a tal destinatária) a indiferença é mil vezes pior que a grosseria.

Enviar. 

mensagem enviada

mensagem recebida

mensagem visualizada

 

Elizabeth dava pequenos gritinhos misturados com risos, ela precisava mesmo se acalmar. Era hora de tomar seu banho.

Decepção não era o sentimento que esperava daquela interação, ela provavelmente havia passado cerca de meia hora no chuveiro, e quando saiu já esperava uma resposta. Mas pelo visto o Senhor arrasa corações ou era sensível ou havia decidido seguir completamente seu conselho, e ignorar até mesmo a boa samaritana que o havia ajudado.

Já passavam das 22:30, era melhor jantar e descansar. 

Toda sua animação havia ido embora, se arrastou até a cozinha com um bico nos lábios. Charlotte provavelmente já estaria dormindo, Jane trabalharia até tarde hoje, então não poderiam conversar. Não era tão íntima das irmãs mais novas como era com a mais velha. 

É, ela teria que se contentar com a sua própria péssima companhia. 

Mas entre a quinta ou a oitava garfada uma ideia iluminou seus pensamentos, ela não tinha conhecimento algum sobre quem a havia enviada aquela mensagem, não havia nem mesmo foto no perfil, ela somente presumiu que era um homem por se comunicar “romanticamente?” com a tal senhorita, mas vai que fosse mulher. Elizabeth era pintora antes de tudo, e já que que estava ligada no duzentos e vinte gastaria suas energias pintando um retrato baseado apenas na mensagem que havia recebido mais cedo. 

É, até que aquele encontro daria frutos. 

O quadro se chamará, “A pessoa que jamais conheci.”

“Nossa, que poético” - pensou rindo de si mesma. Terminou de comer rapidamente e foi correndo para seu quarto/estúdio. 

 

Dia seguinte.

O celular de Lizzie tocava incessante, ela havia conseguido ignorar as duas primeiras vezes, mas agora estava irritante. Jogada em sua cama começou a tatear o chão a procura do aparelho, para enfim descobrir do que se tratava. Felizmente o alarme não pararia de tocar enquanto o aparelho não fosse destravado, e com um pulo saltou da cama correndo para o banheiro, por pouco não estava atrasada. Havia terminado a pintura de madrugada, provavelmente por isso havia demorado mais na cama do que estava habituada. 

Correndo pelo quarto escolheu um conjunto social básico no guarda-roupa, precisava estar do outro lado da cidade em uma hora, teria que tomar café no caminho. 

Por causa de todo estresse matinal para se arrumar rapidamente, acabou deixando o celular jogado em um canto qualquer, a impedindo de notar o recebimento de uma nova mensagem. 

 

Em trinta minutos estava passando pela porta de casa, ainda era cedo, a luz solar incomodava seus olhos, mas mesmo assim pode ver o carro do pai de sua melhor amiga e sócia cruzando a esquina. Em cima da hora estavam finalmente em frente ao maior prédio do Rio que era referência em eventos, era hora de esquecer o mundo exterior e focar em conseguir um patrocínio para sua casa de shows. 

 

Essa foi a rotina de Lizzie após receber aquela primeira mensagem, que para ela era como a descoberta de um oásis no deserto. Era bem divertida e inesperada toda a situação, principalmente em comparação a sua vida, que considerava extremamente monótona. Mas para Darcy, aquilo só tinha um definição, “dor de cabeça”.

 

Noite anterior - Apartamento de Darcy. 

A carranca que Darcy expressava era no mínimo engraçada, com as sobrancelhas curvadas, os olhos semicerrados e os lábios formando um bico de descontentamento, se recusava a acreditar no que via. Já faziam uns dez minutos que encarava o celular pensativo, qual é, ele não trabalhava em nenhuma ONG, mas tinha certeza de que não era  ruim o suficiente para merecer aquilo. Talvez o pior de tudo fosse o tom de escárnio que transparecia por toda mensagem, ele tinha certeza de que a noite de alguém tinha sido bem animada por troçar dele. Senhor arrasa corações, se sentia envergonhado só de pensar em alguém o chamando por esse nome. Quanto mais imaginava mais uma vermelhidão subia por sua face. Seu interfone tocou, e rangendo os dentes jogou o aparelho com força sobre o sofá. 

 

Durante o jantar seus hashis foram obrigados a sentir toda frustração não extravasada, enquanto olhava com raiva para o celular, como se isso fosse resolver alguma coisa. 

Merda, era por isso que não queria algo novo em sua vida. Se no primeiro dia já havia dado algo errado, imagine nos próximos.

 

Já eram 23 horas e Darcy ainda estava nessa, mas massageando as têmporas e suspirando decidiu que estava fazendo uma tempestade em copo d’água, afinal, mensagens são desviadas todos os dias, aquela só tinha um teor mais íntimo e alguém se divertiu com isso. “Arg” - gemeu. Não estava tudo bem, aquilo era vergonhoso, estava irritado e ponto. 

Colocando o celular na tomada decidiu que era hora de dormir, talvez assim esquecesse o acontecido. 

 

No dia seguinte acordou as 7 horas, como era seu costume, com o rosto inchado de sono e o cabelo levemente bagunçado tentou relevar os acontecimentos da noite anterior, ele tinha sido distraído e alguém lhe deu uma resposta espirituosa. Afim de parar de agir como criança decidiu respondê-la. 

Bloqueou e desbloqueou o celular cerca de três vezes pensando no que poderia escrever. Talvez devesse ser espirituoso também, sorriu enquanto teclava. 

 

    Darcy: Cara Srt. Injustiçada, desculpe-me pelo acontecido, nunca foi de meu interesse petrificá-la frente a mensagem tão grosseira, meu interesse era petrificar outra senhorita, não você! E saiba que não me incomoda de modo algum por me chamar por WhatsApp, talvez apenas um pouco, não quero ser um mentiroso completo, algo que as normas sociais geralmente exigem de nós. 

Mas vamos aos finalmentes, odeio ser o tipo de pessoa que se estende sem necessidade. 

Venho por meio dessa mensagem primeiramente agradecê-la, conselhos são ótimos, e talvez a indiferença seja mais eficiente em meu caso, talvez se a mensagem fosse realmente para a pessoa certa ela acabaria por tomar como estímulo.

E por último desejo pedir-lhe desculpas, mesmo que mensagens sejam desviadas o tempo todo, seja por falta de atenção do idiota que enviou ou por qualquer outro problema (que eu não tenho a menor ideia do que poderia ser, apenas procuro uma forma de me justificar e parecer tão inteligente quanto geralmente sou), acredito ser uma falha que peça retratação, então, se algum dia precisar de algo, talvez eu esteja meio que te devendo… 

Espero que sua manhã seja agradável.

    E meu nome é Will, Senhor arrasa corações é meio vergonhoso. 

 

Com o rosto sobre os travesseiros observava a mensagem já enviada, “Onde eu estou com a cabeça?” se perguntava. Claramente estava dando corda para uma desconhecida, não era de seu feitio se comunicar nem mesmo com os conhecidos, ainda mais dando seu primeiro nome. 

Mas por outro lado, toda aquela situação tinha um charme que não admitiria tão cedo nem para si mesmo. Era raro se comunicar com alguém que não tivesse a menor ideia de quem ele era, em qualquer lugar sua “fama” precedia sua presença, e sinceramente, queria aproveitar aquilo. 


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Notas finais do capítulo

Hehehe, e ai, o que estão achando? No próximo capítulo teremos conversas bem mais diretas entre eles dois.



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