Cactos & Girassóis escrita por Sali


Capítulo 14
Treze


Notas iniciais do capítulo

Ei, gente! ♥
Tudo bem por aí?
Como tá a quarentena/isolamento/distanciamento social? Por aqui tô escrevendo, vendo vários filmes e aprendendo a bordar heheh
Estão gostando da história? Têm alguma crítica? Aceito feedback! ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788610/chapter/14

Quarta-feira | 27 de Julho

Quando se olhou no espelho, Helena ficou feliz por ter tido a ideia de, antes de qualquer coisa, prender os cabelos num coque. Afinal, podia ter aprendido a fazer lasanha ─ massa e tudo ─, mas isso não significava que fazia com a organização de uma chef de cozinha. Agora, de qualquer forma, já era tarde para tomar qualquer outra atitude: a campainha estava tocando, e Daniel havia saído para comprar o parmesão que faltava.

Por isso, Lena atendeu Marina com farinha até os cotovelos e, inclusive, um pouco no lado esquerdo do rosto.

─ Cheguei no meio de alguma coisa?

Helena deu uma risada, mas não corou; apenas espanou a farinha da bochecha com a mão e se viu aliviada por fazer isso antes que Mari a cumprimentasse com um abraço carinhoso ─ porque, nos momentos seguintes, ela não teria controle suficiente sobre suas próprias ações para reaver aquele restinho de dignidade.

─ Na verdade só falta montar… pode ficar à vontade ─ ela, enfim, fechou a porta e riu pelo nariz, enquanto acompanhava Marina até a cozinha.

Ao chegar lá, a convidada escalou um dos bancos altos da balcão da cozinha e respirou fundo; o ambiente todo cheirava a molho branco e bolonhesa, orégano e alecrim, e Helena já havia voltado para seu lugar, no fogão, para terminar de cozinhar as tiras de massa. 

─ Contei pro Jordan que você faz muay thai… ─ Marina riu, enquanto brincava com um saleiro na bancada.

Lena ergueu as sobrancelhas e olhou para ela, curiosa.

─ Ele achou incrível. Disse que você realmente tem cara de que quebraria a cara de alguém se te enchessem o saco. E que tá orgulhoso de eu estar saindo com alguém assim. ─ E então, no instante em que disse a última frase, Marina pareceu perceber o que havia falado e sentiu seu rosto esquentar. ─ Dando rolê… enfim.

Helena riu pelo nariz e se virou para a bancada, apenas para pegar o sal.

─ Fico feliz que isso seja uma qualidade pra ele… porque pra ser sincera eu também gosto da ideia de poder quebrar as coisas às vezes.

Mari deixou escapar um baixo suspiro de alívio e logo já estava dando risada, assim como Helena. As massas, enfim, estavam todas cozidas ─ e, enquanto levava uma panela quente para a mesa de jantar, Lena ergueu os olhos para a amiga.

─ Quer me ajudar a montar?

Marina sorriu outra vez e pulou do banquinho.

As camadas de molhos, massa, queijo e presunto se interpunham calmamente, e Mari ─ que, discretamente, mantinha seu foco bem menos na travessa do que na expressão concentrada de Helena ─ tinha um sutil sorriso nos lábios.

Ela se sobressaltou um pouco quando a anfitriã ergueu os olhos.

─ Eu esqueci de te agradecer, domingo… pela torta ─ Lena torceu um pequeno sorriso de lado, enquanto separava as últimas fatias de massa, que começavam a grudar um pouco, apesar do azeite.

Marina encolheu os ombros.

─ Não precisa preocupar. Foi divertido fazer. Mas eu ganhei de você… fiquei com farinha até no cabelo.

Helena deu uma risada pelo nariz, enquanto, novamente concentrada, colocava as últimas fatias de presunto e queijo na travessa. Quando terminou, ergueu novamente o olhar.

─ Não, é sério, eu preciso mesmo agradecer. Foi uma das únicas vezes que eu vi ele tão tranquilo nesse dia. E… torta de maçã? Como você adivinhou?

Dessa vez, porém, Marina encolheu os ombros e decidiu deixar um pouco a modéstia de lado.

─ Você comentou uma vez. Sobre quando ele comprou umas três tortas do McDonald’s. Sei lá, eu guardei isso na memória, de algum jeito… aí ontem eu tava pensando no que fazer, e aí… 

Lena parou, com a colher ainda na mão esquerda, e a direita meio suja de azeite e molho branco, e olhou para Marina. Não fosse a bagunça e a mesa larga entre elas, lhe daria um abraço naquele exato momento.

E então as duas ouviram o som da porta de entrada se abrindo.

─ Ah, ei, meninas! Desculpem a demora… espero que eu tenha chegado a tempo.

A colega de sala de Helena secou as mãos num pano de prato e foi cumprimentar Daniel.

─ ─ ─

Marina soltou um suspiro.

─ Eu tô tão feliz…

As duas estavam sentadas na cama, com as costas na parede com janela e as pernas esticadas, pendurando-se para fora. O celular de Mari, entre as duas, ecoava uma batida tranquila, mas animada, e seu olhar vagava pelas paredes, pela organização e pelos espaços do quarto de Helena ─ enquanto esta apenas mantinha, distraída, seus olhos nas meias azul-claro da colega de sala, sobretudo em contraste com seus próprios pés, descobertos. Independente disso, as duas balançavam-nos no mesmo ritmo.

─ Que exagero. Foi só uma lasanha.

Marina deu uma risada.

─ A melhor lasanha que eu já comi. Sem comparação.

Helena revirou os olhos, mas havia a sombra de um sorriso em seus lábios.

Naquela tarde de segunda-feira, o auge do inverno já parecia ter passado ─ com a duração de poucas semanas, como era típico ─, e, na janela, o sol batia morno, trazendo um calor ainda meio inédito no mês. Marina, inclusive, já havia amarrado o cardigã na cintura, e Lena abrira mão do moletom e usava, com seu par de jeans azuis com grandes rasgos nos joelhos, uma camiseta branca lisa, confortável.

─ Essas músicas sempre me fazem viajar… 

Helena deu uma risada baixa pelo nariz. O R&B ensolarado e jovem preenchia os espaços entre elas e, quando Marina devolveu seu celular para a cama, depois de aumentar um pouquinho o volume, Lena notou a proximidade entre elas, suficiente para que seus braços se tocassem ─ sem barreira colocada por blusas de frio ─ e a intensidade com que ela queria que aquele toque, meio elétrico, se prolongasse. 

─ Viajar?

A voz de Helena flutuou sobre a música, mas sua atenção ainda estava naquele contato. Ela observava seu próprio braço pálido, salpicado de sardas e sinais, com um ou outro hematoma, e depois o de Marina, liso, um pouco mais claro na parte de dentro, com a pele que só de olhar parecia macia ao toque, com a mão pequena, de dedos longos ornados por anéis finos. Subitamente, imaginava correr os dedos por aquele braço, apenas para ver se ele se arrepiaria ao toque.

─ É... ─ Mari abriu um sorrisinho e começou a desenhar linhas imaginárias no ar, subitamente quebrando o contato e fazendo Helena se perguntar se havia pensado tão alto a ponto de afastá-la. 

No instante seguinte, porém, Lena sentiu o peso suave da cabeça de Marina em seu ombro. E, quando ela começou a falar, o sorriso era perceptível em sua voz.

─ Quando eu ouço as músicas dele, às vezes fico me imaginando assim, fazendo essas merdas idiotas que os jovens fazem… 

Lena riu pelo nariz, fazendo um esforço para não se mexer de forma que incomodasse Marina.

─ Seria divertido ─ ela balançou a cabeça, em concordância. E, de súbito, Mari pousou o braço sobre o seu, disciplicentemente, e segurou sua mão.

De todas as reações possíveis, Helena escolheu sorrir. Entrelaçou os dedos nos de Marina e, quando a próxima música começou, ela se perguntava de qual das duas era o pulso acelerado que sentia contra sua pele.

As horas se esticaram assim naquela tarde.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cactos & Girassóis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.