Cactos & Girassóis escrita por Sali


Capítulo 13
Doze


Notas iniciais do capítulo

Ei, gente! ♥
Peço desculpas pelo sumiço e pela maratona consecutiva de capítulos, mas espero que estejam curtindo!
Até logo e aceito feedback! Hehe ♥



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Domingo | 24 de Julho

E então, antes que Helena pudesse pensar com calma na ideia, a primeira metade de suas férias passou.

Bom, ela tinha que ser justa: não era uma situação assim tão ruim, uma vez que havia sido uma semana incrível. Mas era meio difícil ignorar o frio desagradável no estômago quando ela se lembrava de que apenas mais alguns dias a separavam do novo semestre na escola ─ e, como se não fosse suficiente, dos últimos meses antes do famigerado Enem.

Pelo menos, naquele domingo, ela ainda podia respirar com calma. Sobretudo com o sol claro e frio da manhã e o vento suave que arrepiava de uma forma agradável a nuca em seu caminho para a padaria, enquanto ─ ela esperava ─ a cafeteira trabalhava, silenciosa, na cozinha.

Dessa vez, porém, o café não era uma cortesia de Daniel para ela antes de sair para o trabalho. Era mais ou menos o contrário: o dia 24 de julho marcava o aniversário de morte de Allana, a mãe de Helena ─ e, ainda que, para a garota, essa data não fosse muito além de um dia de grande respeito e uma certa melancolia, para o pai nunca era fácil. E como não podia ultrapassar as paredes que ele erguia naqueles momentos, em uma reclusão um tanto angustiante, ela se sentia útil pelo menos oferecendo-lhe o que podia: um bom café da manhã, o almoço na hora certa, uma casa bem-arrumada e um silêncio confortável.

Com um breve suspiro, Lena voltou sua atenção para o celular, que trazia no bolso do moletom. Era meio óbvio que, às sete e pouco da manhã, num sábado de férias, não haveriam notificações, mas isso não a impedia de esperar uma, em específico. 

Sem perceber, um sorriso brotou, pequeno, em seus lábios. Desde quinta-feira, várias memórias lhe surgiam do nada, sem muita ordem específica ou motivo aparente. Ela ainda se lembrava bem do cheiro de lavanda da casa de Marina, do perfume dela, da forma como sua saia voava com o vento. Mas, para além disso, havia outros momentos que sua cabeça parecia querer guardar: por exemplo, quando a colega de sala havia lhe sugerido tirarem uma foto, juntas, num dos espelhos do shopping, e passara o braço ao redor da sua cintura. Helena não se assustara, mas também não deixou de perceber como seu pulso acelerou.

Além disso, havia, claro, o momento em que elas perceberam que o horário impresso nos ingressos era quinze para as sete ─ e não sete e quinze, como haviam entendido inicialmente. Logo que realizou isso, Marina se assustou, conferiu o relógio e, num impulso, segurou a mão de Helena, puxando-a com certa pressa para o cinema. Elas correram até a fila, rindo, meio ofegantes, mas só realmente se soltaram quando chegou a hora de apresentar os bilhetes. Até então, Lena nunca tinha percebido como a mão de Marina era delicada ao toque, com as palmas macias, e surpreendente morna, apesar do frio e do ar-condicionado.

─ ─ ─

acordada desde cedo?
tá tudo bem por aí?

Helena sorriu automaticamente ao ler as mensagens. Estava deitada na cama, encarando o nada e pensando no que faria de almoço, enquanto aproveitava o tipo de ócio despreocupado e sem culpa que só se pode ter no período de férias. 

Ela gostou da sensação que se instalou em seu estômago quando o celular vibrou e, finalmente, o nome escrito na tela era o de Marina.

tá sim
acordei pra fazer café pro meu pai
hoje é o dia do aniversário de morte da minha mãe, ele sempre fica meio mal :/
e por aí?

Lena, após enviar a mensagem, deixou o celular sobre o abdome e continuou encarando o teto, agora com um sorriso leve nos lábios. Subitamente, começou a pensar em sua mãe, na pessoa que falavam que ela era: doce, bem-humorada, carinhosa, completamente apaixonada por ela e Daniel, sensível a ponto de se emocionar com comerciais bonitos da TV, mas bastante brava quando se irritava com algo. Por algum motivo, Helena achava que ela gostaria de Mari, se tivessem a oportunidade de se conhecer. Algo na leveza da garota lhe fazia pensar na forma como Daniel falava da esposa.

eu sinto muito, de verdade :( se tiver algo que eu possa fazer… 

A primeira mensagem de Marina espalhou vibrações por todo o torso de Helena, mas era culpa do celular, dessa vez. No entanto, ela não conseguiu resistir a abrir um sorriso leve, que se alargou quando a segunda mensagem veio:

Por aqui tá tudo bem…
hoje é dia de banho ♥

Junto das mensagens, uma imagem de Caramelo completamente molhado, com um olhar meio desapontado de quem aceitou o fatal destino do banho, e, ao seu lado, Marina, com os cabelos presos para o alto, braços e pernas molhados e uma roupa simples, de ficar em casa. Lena deu uma risada pelo nariz.

que foto maravilhosa, ele é maravilhoso
saudades já ♥

Só depois de tocar em “enviar” é que ela percebeu a ambiguidade do que havia escrito. E, por mais que seu pulso voltasse a acelerar, ela acabou escolhendo não apagar a mensagem.

─ ─ ─

Para o alívio de Helena, Daniel gostou de seu strogonoff, apesar de ter sido simples, e o humor dele pareceu ficar mais leve. O suficiente para que, após arrumar a cozinha, os dois se juntassem no sofá da sala, para assistir a um filme que Lena sabia que ele queria ver havia algum tempo.

Assim, quando seu celular vibrou, com uma mensagem nova, ela estava quase cochilando ─ e não estranhou muito o fato de que Marina perguntava se ela e o pai planejavam ficar em casa pelo resto da tarde. Ela apenas respondeu com uma foto engraçadinha, que enquadrava, de maneira meio torta, suas pernas junto às de Daniel sobre um banquinho de apoio e parte da tela da TV. Dessa vez, Marina enviou sua típica risada de várias letras e, depois, não houve mais mensagem alguma.

Helena se distraiu com o filme; se sentia mais leve vendo o pai rir em algumas cenas. Até que, de súbito, já na cena final, o som do interfone cortou o momento particularmente silencioso.

Daniel lançou um olhar confuso para a filha, que encolheu os ombros, igualmente em dúvida.

Ela saltou do sofá.

 ─ Pode deixar, eu atendo.

E então, após uma breve conversa com o porteiro e os minutos que o elevador costumava levar até o andar de Helena, ela se viu diante de Marina, com seu sorriso pequeno, um casaco de moletom com as mangas puxadas, uma sacola de papel num dos braços e uma bandeja coberta com um paninho.

─ Ei, Lena. Desculpa não ter avisado antes e… obrigada por ter me emprestado os cadernos.

Helena também abriu um sorriso ─ era sua primeira reação ao ter Marina diante de si ─, mas, momentaneamente, se perguntou se a garota já não havia lhe devolvido todos os seus cadernos antes do início das férias. No entanto, ao olhar de novo para ela, a viu piscar. E, enfim, deu espaço para que ela entrasse.

─ Pai, é a Marina. ─ Lena fechou a porta e conduziu a amiga para a sala de estar. ─ Ela veio… devolver uns cadernos?

Mari confirmou com a cabeça e cumprimentou Daniel assim que o viu.

─ Sim. E… eu fiz umas tortas hoje, mas a receita rendeu muito e lá em casa ninguém gosta muito de doce, então… aproveitei pra trazer. É de maçã.

Helena abriu um sorriso, ao mesmo tempo em que viu o rosto de Daniel se iluminar, enquanto ele se levantava do sofá.

─ É minha torta preferida. Obrigada, Marina. Senta aí, fica à vontade… não tem café, mas a gente faz, rapidinho…

E, em instantes, estavam os três ao redor da mesa de jantar, que contava não somente com a torta, mas também com café, chá, pratinhos de sobremesa e uns pãezinhos recheado que Helena havia comprado pela manhã. E ela sentia seu coração morno ao se ver entre Marina e o pai, e, sobretudo, ao assisti-lo sorrindo enquanto contava casos e histórias sobre ela.

─ Ela tinha treze anos. Era meu aniversário, no dia, mas a gente só ia comemorar no fim de semana. Aí eu cheguei em casa do trabalho, normal, e a casa tava toda cheirando bem. Comida gostosa, sabe? Ela me ajudou com a minha pasta e as provas, normal, e, de repente, tirou do forno uma lasanha completa. Massa e tudo.

Helena riu e sentiu-se corar. Daniel adorava contar aquela história e sempre ficava com a mesma expressão orgulhosa ao lembrar-se daquele dia.

─ A Lena me prometeu essa lasanha, inclusive… Tô aguardando até hoje ─ Marina sorriu, sugestiva.

─ E sabe que faz tempo que a gente não faz? O que você acha, filha? Quarta eu não trabalho, vocês ainda vão estar de férias…  

Mari abriu um sorriso, empolgada, e também voltou seu olhar para Helena, um ar meio suplicante. Ela abriu um sorriso de lado.

─ Pode ser. Mas sem criar expectativas demais, ok? É só uma lasanha ─ ela olhou para Marina, que fez um gesto de promessa com as mãos, e Daniel deu uma risada baixa.

A bem da verdade, àquela altura, Lena faria qualquer coisa para demonstrar sua gratidão a Mari pela tarde.


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