Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 44
Meses




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POV KATNISS

4 Meses de gestação

O sino soa num tom médio, olhares são virados pra porta.

Os dedos de Willow escapam do meu aperto, seus pés correm até seus braços estarem tentando empurrar a porta do balcão.

—Papai! Papai!

Seu chamado logo é atendido por Delly, a mulher solta a trava e da passagem a pequena.
Mas, com um bom senso que não preciso vangloriar, ela segura Willow.

—Seu pai não deixa você correr lá dentro. Lembra que é perigoso?

—Quente?

—Sim, os fornos são quentes e perigosos.

Deixando meu ciúme na sola do tapete sob a porta, caminho arrumando Rye em minha cintura.
O carrinho não foi opção hoje, caminhei dando curtas paradas até chegarmos.

—Papai.

—Vamos ver o padeiro, garotão.- meu pequeno loiro bate os pés, querendo imitar a irmã.

Forço a porta de tela com o pé, tomando cuidando em não bater com a bolsa em nenhum tabuleiro cheio de doces.

Ouço o gostoso som das gargalhadas da pequena, Peeta deve estar jogando-a pra cima e fazendo cócegas.

Nunca imaginei que ser uma família seria tão bom. Ver as crianças evoluírem, ter um marido que me ama e um novo filho no ventre.

—Podem pegar um biscoito salgado, papai vai fazer o jantar quando chegar em casa.

—A mamãe deu suco pra gente.

Sorrio, inclinando o corpo até sentar num banco colado a janela.
O enjôo pega pesado, me fazendo achar um lugar que tenha um acesso rápido até o banheiro.

—Como estamos agora?

—Enjoada.

—Algum desejo especial?

—Não. Acho que serão nos próximos meses, por enquanto é apenas cansaço e estômago revirado.

Um simples beijo na testa, o gesto mais genuíno e dócil.
Mostra todo o cuidado, carinho e amor.

—Estamos bem.

Seu dedo remexe a aliança presa em meu dedo inchado, ja prevejo o quão difícil será andar daqui a alguns meses.

—Não está machucando?

—Não. No banho quente talvez consiga tirá-la um pouco.

Sua mão acaricia minha barriga, ainda estamos acanhados com a novidade e aos poucos desbravamos juntos.

—Como está o movimento?

—Grande. Recebi uma encomenda de casamento.

—Uau. O padeiro está cada vez mais requisitado.- puxo a barra de seu avental imundo, querendo provar seus lábios.
—Todos amam seu trabalho.

—É realmente como um sonho.- ele senta no batente da janela, atento as crianças enclinadas na pequena mesa que Peeta colocou, bem longe dos fornos, pra elas.

—Você comprou giz de cera pra eles?

—Claro. É melhor mantê-los ali do que correndo perto das máquinas e fornos.

Volto a beijar seu lábios, tentando limpar sua blusa cheia de açucar refinado.

—Certas formigas vão atacar você.- reviro o ambiente, estamos isolados sem a atenção de ninguém.

Beijo seu pescoço, bem no ponto que já está meio vermelho, resultado de ontem a noite.

—Você está mudada.- sua mão desce por meu braço.
—Eu gosto disso.- rio, arrumando a alça do vestido. Meus seios cresceram o suficiente para incomodar, mas Peeta adorou.

—Nossas crianças.- rapidamente tenho sua mão aberta em meu ventre avantajado.

—Quando é o casamento?

—Tenho três dias.

—Certo.- mordo o lábios, esperando que seja um bom momento pra falar o que eu realmente queria desde o princípio.
—Vou passear pela floresta.

De início ele concorda, talvez distraído ela risada de Willow, não percebe meu aviso.

—Espera. Onde?

—Na floresta.

—Não mesmo.

Recuo, evitando estar em seu aconchego.

—Estou te avisando, não pedindo permissão.

—Você esta grávida, Katniss.- seu olhar é cortante, está me avisando.

—Não adianta ficar irritado e desviar o olhar.- ganho sua surpresa, mas Peeta ainda não cede.
—Eu preciso ir.

—Então quando eu sair, nós podemos ir.

—No pôr do Sol? Quer andar na floresta de noite?

—Não estou falando hoje. Talvez no final de semana.

—Vou hoje, Peeta.- engrosso a voz, tomando ciência da cena que estamos proporcionando.

—Delly, cuide deles por um minuto.

Ele agarra minha mão, rumamos pra sua sala fechada.
Sento, odiando o fato de minhas panturrilhas estarem latejando.

Meu corpo ja devia ter acostumado, é a terceira gestação.

—Vamos esclarecer alguns pontos aqui.

—Então que fique claro. Eu vou a floresta, você gostando ou não.

A ira sobe com o sangue, me transformando numa Katniss perigosa e inegociável.

—Não é assim que funciona.
Você prometeu dividir uma vida comigo.- seu dedo passa no aro dourado.
—E você gostando ou não tem que me ouvir, afinal esse bebê também é meu.

—Não é esse o ponto.

—É sim.
De repente você quer ir sozinha pra lá, e está toda irritada com o fato de eu me preocupar.

Não deixo de concordar.

—Querida, não sei ao certo como seu corpo está passando, é novo pra mim também!- movo o quadril, incomodada por estar ficando mais maleável. E aquela raiva toda?

—Quero ir.
Eu preciso.

—E eu preciso estar com você. -seu dedo pega a ponta da trança que uso.
—Se algum urso, veado, lobo ou cachorro selvagem, te atacar?
Não pode correr, está sob cuidados.

—Sei disso.
Mas...- evito dizer, mas não há outra maneira.
—Hoje era aniversário do meu pai.

Como uma faísca, caio num choro forte.
Meu queixo treme na minha falha tentativa de segurar os soluços, desisto quando meu marido chega.

Seu abraço ajuda, os calmos beijos distribuídos em meu rosto tornam a dor menos pulsante.

—Nós vamos a floresta.

Concordo, puxando-o para deixar claro que não o permito sair agora.

Esta cedo demais para me soltar, quero apenas suspirar seu cheiro e apreciar o doce cheiro de maracujá que desperta meu desejo.

—Vamos?
Não quero voltar ao anoitecer.

Beijo sua boca antes de lavar o rosto e o acompanhar.

                             

—Poderia morar aqui, é perfeito. Você não gosta?

—Sabe que sim.
Há tantas cores, flores, pássaros e paisagens, que encheria nossa casa de telas.

—Faça isso, eu adoraria.- soa meigo e ele gosta.

—Já tenho minha próxima tela na mente, mas irá demorar alguns meses.

—Por quê?

—Pintarei você nos últimos meses de gravidez.

Não gosto de ser o centro das atenções, mas esse caso é diferente. E posso afirmar que vou pendurar no quarto do bebê.

As lágrimas voltam, abomino pois me deixam sensível demais.

—Céus, estou tão boba!

—Você está grávida. Effie me disse que isso ia acontecer.

—O que mais ela falou?

—Que precisarei ter paciência, e se eu fugir para a padaria como fiz quando você estava grávida da Willow, ela irá arrancar meus cabelos.- rio, mas imagino o que devo ter feito para Peeta tomar essa decisão.

—O que será que eu fiz?

—É um mistério, mas não há nada que você faça agora, que me fará fugir.

—Nem se eu ameaçar te acertar com uma flecha?

—Diabos, por que faria isso?

—Experimenta negar de fazer pães de queijo pra mim.- pisco voltando a rodar o caule de uma pequena flor amarela nos dedos.

—Jamais faria isso.- recebo um beijo no cabelo, Willow vira entre minhas pernas entre abertas e mostra seu novo desenho.

—O que é isso, pequena?- ele pergunta, contente da filha compartilhar a mesma paixão.
Provavelmente Rye puxará gosto pela culinária.

—Aquela borboleta.

Seu dedo nos mostra o animal pousado no tronco, uma onda de lembranças me disnorteia.

Prim amava desenhar os animais que eu lhe contava que havia visto na floresta.
Meu pai nunca pode levá-la, era pequena demais, fora que minha mãe nunca concordaria.

—Ele amava isso daqui.

Aperto a dobra de sua blusa, Peeta entende que o momento se tornou pesado.
E, em sua infinita bondade, faz algo que me deixa chorosa.

Seus dedos pegam dois gravetos, com um pedaço de trepadeira, ele as une. Forma uma cruz.

Sua mão pega a minha e juntos fincamos o singelo símbolo na terra úmida. Deixo a flor amarela, dedicando a Primrose.

—Obrigada.

—Sei como se sente.
É sufocante.- concordo, não querendo imaginar o tamanho de sua dor. Peeta perdeu todos.

—Eu amo você.

—Também te amo, caçadora.

                           

 5 Meses de gestação 

—Eu ainda não sei.

—Você não foi a consulta?- respiro fundo inúmeras vezes.

Quando você acordou do avesso, tudo no dia aparece pra te testar.

—Fui, Effie.
Mas o bebê está virado, não deu pra ver o sexo.

—Aposto que será menina. Tenho algumas ideias de nomes, espero que...

—Sua cara está desesperadora.— Peeta sussurra ao me abraçar pelas costas.

—Olá, Peeta.
Haymitch disse que precisa te encontrar, vamos encomendar o bolo de aniversário de Elisabeth.

Céus. Esqueci completamente.
Que madrinha ruim sou.

—Ainda não sei que o que dar de aniversário a ela.

—Oh, não se preocupe.
Agora é hora de focar no...

—Eu insisto!- desconverso, temendo que ela fale sobre minha gravidez por mais duas horas.

Não nego que estou gostando, um pouco assustada com a rapidez que meu ventre cresce, mas é uma fase boa.

Effie me passa uma lista de coisas que minha afilhada gosta, aos poucos vou ficando um tanto desanimada e chocada.

Ela sabe praticamente tudo sobre a filha.
E eu?
Sei muito sobre meus filhos?

Não.

Por pior que seja admitir, não me acho uma boa mãe nesse ponto.
Em meio a essa assustadora conclusão, assim que Effie vai embora, desabafo com Peeta.

Quando as crianças estão na cama, alimentadas, limpas e felizes, começo a conversa.

—Você me acha uma boa mãe?

—Obviam...

—Não digo por cuidar, alimentar, essas coisas. E sim, saber sobre eles.

—O que quer dizer?- seu quadril vai pra trás, sentando menos inclinado, tomando meu olhar no seu.

—Enquanto falava com Effie, percebi o quanto ela conhece Elisabeth. E eu... Não sei se conheço Willow e Rye tão profundamente.

—Querida, nós acabamos de conhece-los.
Viramos pais do dia pra noite, é impossível você lembrar qual foi a primeira palavras deles ou qual dente nasceu primeiro.

Concordo, me sentindo pior por ter perdido tudo isso.

—Mas olhe só, faremos um teste.

Concordo, arrumando a coberta em nossas pernas, tomando um gole de chá antes de suas perguntas.

—Qual o suco preferido de Wi agora?

—Morango.

—E de Rye?

—Laranja.

Peeta sorri, satisfeito por eu responder logo de cara.

—Willow é alérgica ao que?

—Corante azul e beterraba.

—E Rye?

—Leite de cabra.

—E ainda dia que não é uma boa mãe!- rio, sorvendo seus lábios ao gosto de camomila.

—Aposto que mês que vem saberemos o sexo do bebê.

Peeta pegou a mania de alisar todos os cantos da minha barriga. Quando seus olhos estão fechados, aposto que imagina como será o bebê e nossa vida daqui a diante.

—Espero que sim.
Vamos saber qual o presente que estamos recebendo.

—Obrigada, morena. Por me dar mais essa felicidade.

Sorrio grande, repousando tranquila em seu colo.

—Só estou retribuindo, Peeta.
Você me deu tudo.

 


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