Dramione | Seis anos depois escrita por MStilinski


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

oioi gente :)
tinha perdido a senha dessa conta e quando voltei me deparei com comentários que realmente me animara, muito obrigada por isso!!
então vou aproveitar a quarentena pra dar continuação a essa história.

espero que gostem desse capítulo!



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Ela sentia algo estranho no peito.

Uma sensação incomum e sentiu por todo o dia.

Durante o café da manhã, sozinha em casa, com uma caneca de café e observando o movimento da rua pela janela da cozinha, foi quando sentiu pela primeira vez. A sensação continuou durante o trabalho e os casos normalmente entediantes,  permaneceu durante o almoço com Gina e mesmo com todos os assuntos entre elas – desde a nova namorada de Rony, uma australiana, passando por política e problemas do Ministério, até os dentinhos de James – a sensação em seu peito cresceu e permaneceu forte.

Quando tomou banho em casa, à noite, e durante o jantar, pensou que fosse morrer. Talvez estivesse prestes a ter um ataque cardíaco. Mas não era nada disso, só soube definir a sensação quando entrou na lareira para ir para a casa de Draco: ela estava ansiosa. E não se sentia assim fazia muito tempo.

Deu um pequeno sorriso, usou a rede de flu e apareceu na gigantesca sala de estar de Draco Malfoy. Ele estava sentado no sofá bege comprido, bem de frente para a lareira, com uma calça de moletom e uma camisa simples, ambos cinzas – Hermione aprendeu que o guarda roupa dele raramente variava entre preto, cinza e verde – e segurava um copo de whisky na mão.

Levantou os olhos para ela e parecia entediado.

— Estou cansado de esperar. – ele disse.

 - Espero que não tenha bebido esse tempo todo. – ela respondeu, limpando os resquícios de pó de flu do seu suéter lilás – Não vou cuidar de ninguém bêbado.

Draco deu uma risada fraca e ficou de pé.

— Acredite, whisky não me deixa bêbado mais. – respondeu e aquilo soou muito misterioso para Hermione, mas ela não disse nada. – Vamos.

Draco passou pela porta que levava ao hall de entrada, com Hermione atrás, entraram no corredor que levava ao escritório, mas, dessa vez, ele abriu uma porta a sua direita. A porta dava para uma escada que levou ao porão – relativamente pequeno para uma casa daquele tamanho.

Era um grande retângulo com diversas cristaleiras ao fundo com vidros de poções vazios, poções prontas, caldeirões e outros instrumentos. Havia um grande gaveteiro ao fundo, provavelmente repleto de centenas de ingredientes diferentes e, ao centro de tudo isso, uma mesa de madeira comprida, com um caldeirão a postos.

Hermione pendurou seu casaco em um cabideiro simples que havia ao pé da escada e olhou ao redor mais uma vez. Foi até uma cadeira que estava ao lado da mesa e se sentou.

Draco foi até a mesa, ligou o fogo com um aceno da varinha e pegou uma jarra com água, colocando cerca de metade do líquido dentro do caldeirão.

— Me sinto um pouco perdida. – ela admitiu e Draco a encarou – Não sei nada sobre a Marca Negra e não tive exatamente tempo para descobrir nada hoje.

— Você não acharia. A Marca é, obviamente, magia negra. – ele respondeu – Sabe que os livros de magia negra são altamente difíceis de encontrar e ainda mais difíceis de serem liberados para qualquer um. Ainda mais você.

— Como assim “ainda mais eu”? – ela se sentiu ofendida.

Draco suspirou.

— Você é Hermione Granger. O mundo inteiro sabe o quanto é inteligente. É amiga do Menino Que Sobreviveu e ajudou a salvar o mundo. É uma bruxa altamente poderosa. Seria perigoso.

Hermione maneou a cabeça, envergonhada com os elogios, mas aceitando que ele tinha razão.

— Então como vamos saber algo? – perguntou.

— Por sorte, Voldemort gostava muito de ler. – ele disse e apontou para uma pilha de livros que estavam em cima de uma cadeira, em um canto mais afastado do cômodo. – Encontrei esses livros na Mansão Malfoy e eles não estavam arquivados como pertencentes da biblioteca de lá.

— Você tinha uma biblioteca em casa? – por mais estúpido que fosse, foi a única coisa que ela achou intrigante.

— Sim. Enfim, esses livros não eram de lá, então imaginei que foram levados pelo Lorde, mas comecei a imaginar o porquê. Afinal, ele estava tentando dominar o mundo e matar o Potter, não tinha exatamente tempo para ler. Foi então que eu lembrei.

— Lembrou do que? – ela sabia que Draco gostava de uma pausa dramática.

— Logo depois que vocês destruíram o medalhão de Salazar Slytherin, o Lorde sentiu e entendeu que o plano de vocês eram as horcruxes. Foi quando ele convocou uma reunião de emergência e os melhores Comensais saíram para enfeitiçar e recrutar mais e mais pessoas, aumentando o seu exército e logo depois espalhou esses novos comensais por toda a Inglaterra, principalmente em pontos próximos dos locais das horcruxes, mas sem levantar suspeitas. Mas, para evitar qualquer avanço do Potter, ele precisava melhorar a comunicação e, naquele ponto, nem mesmo as corujas apareciam perto de Voldemort. – Draco deu uma risada fraca, somente ele vendo graça naquilo – Enfim, a Marca sempre foi uma comunicação entre ele e o Comensais, era só pegar a varinha e todos os seus amados seguidores apareciam em segundos, mas era apenas isso. Foi quando ele começou a aprimorar e acredito que tenha usado aqueles livros, pois eles falam de magia negra e seu uso no próprio corpo.

— Como sabe que ele começou a aprimorar?

— Ele morava na minha casa, Hermione. – o primeiro nome outra vez e o silêncio estranho logo após – Eu via muitas coisas, escutava outras, participava de algumas. Eu vi quando ele começou a fazer testes na marca dos enfeitiçados, já que eles não tinham ideia do que estava acontecendo. Ele teve muitas falhas nesse caminho, mas melhorou. A Marca começou a servir individualmente e o Lorde entrava na mente desses Comensais, para ver o que eles viam, especialmente algo relacionado ao Potter e também serviu como tortura. De algum modo, ele ligou a Marca à legilimência e entrava na cabeça dos comensais mais fracos, já que a maioria dos comensais de grandes famílias foram treinados desde pequenos a fechar a mente. Então, basicamente, ele fez com que a Marca fizesse tudo: era um chamamento, era uma tortura, era uma visão.

— E naqueles livros tem algo sobre isso?

— Não sei, eu não li. Sei que você gostaria de fazer isso. – ele deu um sorriso amarelo e Hermione revirou os olhos. Draco suspirou – Nós podemos dividir.

— É uma ideia melhor.

— Enfim, ele conseguiu melhorar a Marca, como eu disse. E quando eu fugi com vocês, ele usava a Marca para me torturar, como... Bom, você sabe disso. – Hermione assentiu; ela viu Draco sofrendo com as torturas de Voldemort quando eles estavam juntos – Ele nunca conseguiu entrar na minha cabeça, apesar de ter tentado, mas tive aula de legilimência por mais de dez anos. Mas uma coisa na tortura de Voldemort me fez pensar: a dor começava na Marca, mas se espalhava por todo o corpo. E o que se espalha pelo corpo todo?

— Sangue. – Hermione falou, ficando de pé – Talvez, ao receber a Marca, o sangue seja envenenado, coisa do tipo. Preciso tirar o seu sangue.

— Essa era a animação que eu esperava.

Draco foi até o gaveteiro e pegou uma seringa, um frasco e um torniquete. Sentou-se na cadeira que Hermione estava e deixou as coisas sobre a mesa. Ela amarrou o torniquete no braço dele, o mais próximo possível da Marca e logo a veia de Draco estava visível sob a pele pálida. Ela aproximou a seringa, mas parou a alguns centímetros, lembrando-se de algo e seus olhos se moveram para Draco.

Ele olhava para ela e ela soube que pensavam a mesma coisa.

Fazia duas semanas e meia desde que Draco Malfoy havia salvado eles. Depois de dois  dias turbulentos na casa de Gui e Fleur, com Draco trancado em um quarto até saberem o que fazer o que ele, Harry, Rony e Hermione tiveram uma conversa com ele, para entenderem seus motivos. Draco foi direto: não queria a vida que estava levando, só queria salvar sua mãe, ir embora de toda Guerra e ajudar Harry a ganhar, com o que quer que Harry precisasse, se eles o ajudassem a salvar sua mãe. Também pediu a segurança de que não iria para Azkaban após a guerra, coisa que Harry não prometeu, mas aceitou a ajuda de Draco para acharem as horcruxes e em troca o ajudaria a resgatar sua mãe.

Ficaram acordados desse jeito e então os quatro foram embora da casa de Gui e Fleur e estavam como andarilhos, já que Rony se cansava dos lugares muito fácil e realmente não era seguro ficar somente em um ponto por muito tempo, afinal, Voldemort tinha Comensais por todos os cantos.

Naquele momento, Hermione estava sentada em sua cama, na barraca que dividia com Harry e Rony, ouvindo o ronco dos melhores amigos, após ter acordado com o pesadelo de sua tortura. Passava a mão distraidamente na cicatriz em seu antebraço, ouvindo o vento balançando as árvores do lado de fora, em uma floresta escocesa que nenhum dos quatro sabia o nome, só sabiam que era longe o suficiente.

Hermione franziu o cenho quando ouviu um barulho do lado de fora e, logo depois, viu as chamas da fogueira do lado de fora se acender. Pegou sua varinha, calçou os sapatos, e andou sem fazer barulho até a saída da tenda, puxando o pano apenas um pouco para ver o que estava acontecendo do lado de fora.

Era Draco. Ele estava sentado em uma das pedras que serviam como banco ao redor da fogueira, tão perto que, caso ele se desequilibrasse, caia no fogo. Hermione o observou alguns segundos.

Ele não parecia o mesmo de duas semanas atrás, orgulhoso e em seu terno sob medida. Hermione havia reparado – Draco parecia doente, em duas semanas havia emagrecido pelo menos uns oito quilos, os ossos saltando na pele, marcantes. O rosto estava fino e ele permanecia calado, sozinho e encolhido em grande parte do tempo.

Ela não falava com ele. Nunca gostou de Malfoy e não falar com ele para ela, antes, era um prazer, mas não agora. Ele havia salvado sua vida e a de seus amigos e até mesmo Luna, após ser salva por Malfoy do calabouço de sua família, ainda na casa de Gui, disse, em seu tom sonhador, que Draco era outra pessoa agora, alguém melhor.

Hermione ainda não tinha certeza de nada quanto á Malfoy, mas sabia que em algum momento precisaria agradecer. Ainda não sabia quando nem como, mas precisaria.

Sem pensar muito, ela saiu da tenda. Draco a encarou e sua magreza refletida pelas chamas da fogueira deixava-o com um aspecto assustador.

— Tenho um cobertor a mais ali dentro. – Hermione disse, sem jeito.

— Estou bem, obrigado. – ele voltou a olhar para o fogo.

“Obrigado”; definitivamente ele não era mais o mesmo.

Hermione se aproximou e se sentou na outra pedra, de frente para Draco, separados pelo fogo.

— Sua tenda está fria? – ela perguntou, referindo-se a tenda que Gui havia dado para Draco.

Malfoy suspirou e negou com a cabeça.

O silêncio entre eles dominou enquanto Draco ainda a encarava.

— O que está fazendo acordada? – perguntou.

— O ronco deles não me deixa dormir. – ela apontou para a sua tenda.

Draco riu e ela também, mas pararam rapidamente, ao notarem que estavam rindo juntos, o que era errado, na concepção de ambos.

— Pode dormir na minha tenda se quiser. – Draco falou e Hermione o encarou, confusa – Tem camas demais lá dentro e eu não vou dormir tão cedo.

Ela assentiu, mas não disse nada. Observou Draco um pouco mais, a cada instante ele se encolhia mais e ficava mais próximo do fogo.

— Você está doente? – ela perguntou, de repente, porque não aguentava mais não saber.

Draco franziu o cenho, confuso. Depois de alguns segundos maneou a cabeça, como se chegasse a alguma conclusão.

— Não. – respondeu, apenas.

— Se estiver, seria legal avisar. Não é o melhor momento para as três pessoas mais procuradas no mundo ficarem de cama.

— Eu não estou doente, Granger. – ele elevou a voz, impaciente.

— Então por que está parecendo uma caveira?

Ela tampou a boca assim que disse, pois era ofensivo e não queria ter dito. Draco a encarou alguns segundos e, de repente, começou a rir.

Hermione ficou confusa, observando o garoto loiro rir como se não houvesse amanhã. Ainda rindo, ele ficou de pé e se sentou ao lado de Hermione, as pernas se encostando.

— Eu não queria ofender. – Hermione disse, sem entender.

— Não ofendeu. – ele disse, parando de rir, mas com um sorriso no rosto – Não estou doente. É só isso.

Draco levantou a manga da camisa e os olhos de Hermione se arregalaram ao ver a Marca Negra em carne viva em seu braço, os arredores do símbolo sangrando como nunca. Hermione segurou o braço dele, não acreditando no que via.

—  O que... o que é isso? – perguntou, a voz falhando.

— Isso é a minha doença. – Draco deu outra risada – Na verdade, é a minha tortura. Por, você sabe, ser um traidor.

— Você-Sabe-Quem está te...torturando? Com a Marca?

— É um jeito de controle. E de vingança. – ele deu de ombros.

— Isso... isso está te deixando doente, Malfoy.

— Não exatamente. Ele tenta entrar na minha cabeça, mas não consegue, mas impedi-lo requer energia demais. Além disso, isso dói bastante, então talvez meu corpo realmente esteja ficando um pouco comprometido.

— Malfoy, isso é sério. Temos que dar um jeito nisso.

— Granger, eu não preciso de nada.

— Cale a boca. – ela disse e ficou de pé, antes que ele pudesse falar qualquer coisa.

Entrou na tenda, pegou sua bolsa e procurou pelo frasco de pomada de ostras, um remédio de cura de feridas de pele imediata, além de servir um prato de ensopado de vegetais, a janta do dia e de todos os dias. Olhando para o prato ela se lembrou de que em nenhum dos dias havia jantado com Draco, mas ela sempre pensou que era porque ele se sentiria desconfortável ao redor do trio e não porque ele simplesmente não comia.

Estava quase saindo da tenda quando voltou, procurou na bolsa mais uma vez e pegou um pouco de raiz de valeriana, um calmante natural que ajudava a dormir. Então saiu da tenda e voltou para o lado de Draco, de frente para o fogo. Com um aceno da varinha fez o prato de sopa flutuar sobre o fogo para esquentá-lo e então olhou para Draco.

— Me escute, você vai comer aquele prato de sopa e depois vai dormir. Mas agora eu vou usar essa pomada para melhorar o seu braço e então você vai comer e descansar porque você mesmo disse que isso suga sua energia e você precisa dela. Você me entendeu, Malfoy? – ela estava usando sua “voz de mandona”, como Harry dizia.

Draco olhou para ela, depois para o prato de sopa e apenas assentiu e estendeu o braço da Marca.

— Tudo bem. – Hermione suspirou, passou os dedos no creme da pomada, encarou Draco novamente e então começou a espalhar o antídoto no braço dele.

Com movimentos leves, Hermione espalhou todo o creme esverdeado pela Marca Negra e depois pela região ao redor, que estava ainda mais em carne viva e nesse momento Draco soltou um grunhido de dor.

— Desculpe. – Hermione sussurrou, mas continuou, pois sabia que se algo melhoraria a dor de Draco era aquilo.

Ficaram em silêncio até Hermione terminar. Ela fechou o creme de algas, colocou-o no chão e observou o braço de Draco, a pele cicatrizando e fechando as feridas aos poucos.

— Viu só? – ela disse, sorrindo – Com certeza está bem melhor. A dor melhorou?

Ela levantou os olhos para ele e Draco a encarava, mas havia algo de diferente – ele a encarava como se a visse pela primeira vez em toda a sua vida.

— O que foi? – ela sussurrou, olhando nos olhos dele e talvez tenha sido a primeira vez que reparou que os olhos dele eram cinzas.

— Você tirou a dor. – ele respondeu, parecendo em choque.

— Ah. Sim. É um creme de algas do Mar do...

Ela não terminou de falar porque ele simplesmente segurou o rosto dela e a beijou. Hermione não entendeu no início, mas logo retribuiu, o que foi ainda mais confuso para o seu cérebro brilhante.

O beijo não durou nem mesmo um minuto, antes de eles se afastarem como se tivessem tomado um choque.

— Por que fez isso? – Hermione perguntou, assustada.

— Eu não sei! – ele exclamou, parecendo perdido – Me desculpe, eu não sei, eu...

— Tudo bem. – Hermione o cortou – Só tome a sopa. Precisa cuidar de si.

Draco parecia perdido, trocando um olhar entre Hermione e o prato de sopa, até que ele conseguiu raciocinar, pegou a sopa e voltou a se sentar ao lado dela, comendo.

Todo o tempo que ele demorou para comer eles ficaram em silêncio. Aquele beijo não saia da cabeça de Hermione e ela até mesmo evitava olhar para ele. Ela não entendia como aquilo havia acontecido, mas havia gostado e por um instante pensou em querer mais, mas tirou isso de sua cabeça rapidamente, afinal, ele era Draco Malfoy, o garoto que detesta sangue-ruins. Ou detestava?

— Obrigada. – Draco disse, deixando o prato de sopa vazio no chão e ficando de pé.

— Espere. – ela ficou de pé também. – Fique com a pomada, vai te ajudar. E fique com isso, é raiz de valeriana, ajuda a dormir. Só mastigue e beba um pouco de água para ajudar a engolir. – ela entregou a pomada e os ramos da raiz para ele e até mesmo os toques das mãos deles agora pareciam erradas.

— Obrigado. – ele disse e a encarou de novo – Me desculpe.

— Está tudo bem.

Draco voltou para a tenda dele e Hermione ficou sozinha, parada ao lado de uma fogueira no meio de uma floresta escocesa desconhecida. Ela havia beijado Draco Malfoy e uma parte de si – uma parte significativa – havia gostado e isso era assustador. Nem sabia por que havia retribuído o beijo... apesar de Draco Malfoy realmente mostrar que havia mudado, ele mostrava cada dia mais.

Será que ele estava mudando?

 

Ela se lembrou disso, segurando o braço dele daquele jeito novamente. Draco continuava olhando para ela e ela sentia vontade de se aproximar mais, mas não fez isso. Simplesmente afundou a seringa no braço dele, exatamente na cabeça da caveira, para que toda aquela lembrança fosse embora. Desviou os olhos para o sangue subindo e entrando no frasco a tempo de ver o sangue de Draco totalmente preto.

— Isso não é possível. – foi ele quem disse.

— Aparentemente é. – ela terminou de tirar o sangue, retirou a seringa e colocou um pequeno adesivo para o sangue estancar. Fechou o recipiente com o pouco sangue totalmente negro. – Se o sangue todo do seu corpo está assim, acredito que você não chega aos 25 anos.

— Não, não, não. Não é possível. – Draco ficou de pé, foi até o gaveteiro e pegou outra seringa, retirando a agulha e então furou um dos dedos. – Viu só? – ele virou o dedo para Hermione e havia um pouco de sangue totalmente vermelho saindo de onde ele havia se furado. – Sangue vermelho.

— Então seu sangue é assim somente na área da Marca... Precisamos analisar isso. Definitivamente o poder da Marca é através do sangue, podemos ter certeza agora.

Hermione pegou o frasco do sangue e foi até o grande caldeirão, colocando o sangue dentro do recipiente. Deu uma mexida no líquido antes de uma fumaça verde começar a sair do caldeirão, formar a Marca Negra no ar e então se dissipar.

Hermione olhou dentro do caldeirão mais uma vez e não havia mais o sangue negro de Draco lá dentro, só água.

— O que aconteceu? – Draco perguntou.

— Desapareceu. – Hermione disse, confusa – A Marca apareceu e o sangue simplesmente sumiu.

— Então... o sangue formou a Marca? Logo depois se dissipou.

— É a única lógica. Mas se isso acontecer todas as vezes nunca vamos saber o que tem de diferente no sangue da área da Marca.

— Vamos precisar arrumar um jeito. Devem existir alguns componentes que podemos usar para reagir, ver o que há de diferente no sangue. Não podem existir tantas coisas no mundo que deixem o sangue assim, ainda mais relacionado a magia negra, que é algo bem restrito.

— Se tiver, vão estar naqueles livros. – Draco falou, apontando para os seis livros sobre a cadeira no canto do cômodo.

Hermione respirou fundo.

— Então acho que temos uma longa noite de leitura pela frente. – ela disse.

Draco bufou, parecendo o garotinho mimado que Hermione conheceu quando criança, mas logo depois foi até a cadeira, pegou os livros e os trouxe para a mesa.

Ele pegou o primeiro, fez um gesto com a varinha que fez a cadeira que estava com os livros flutuar até o seu lado e se sentou, pronto para começar a leitura. Hermione foi até a outra única cadeira presente ali, se sentou e pegou um livro de capa dura marrom com os dizeres “A pele queimando maldade: tutorial para bruxos poderosos” em prata.

Eles ficaram lendo por mais de uma hora em completo silêncio. O livro de Hermione falava em grande parte das Maldições Imperdoáveis, do efeito no corpo de tais maldições (havia somente uma linha para explicar o efeito do Avada Kedavra, que dizia apenas: morte) e de algumas poções extremamente torturantes, o que causava arrepios em Hermione. Ao contrário dela, quando Hermione tirou os olhos da página porque simplesmente não conseguia mais ler sobre torturas e olhou para Draco, ele estava cochilando.

Ela fechou o livro com força e ele acordou com um pulo. Olhou para Hermione irritado.

— Não é hora disso. – ela falou. – Precisamos ler esses livros.

— Tecnicamente, é hora disso sim, já é noite. E não tem absolutamente nada nesse livro. – Draco respondeu, se espreguiçando – Só está falando sobre a história da magia negra e realmente não é algo que eu acho que tenha a ver com a Marca.

— Talvez não no início, mas em algum ponto deve haver algo sobre a comunicação entre bruxos, deve ser algo antigo. Só continue lendo.

Draco suspirou alto.

— Tinha esquecido o quanto você era mandona.

— É, você esqueceu de muitas coisas. – ela disse antes mesmo que pudesse se controlar.

— O que quer dizer com isso? – Draco perguntou, franzindo o cenho e virando-se para ela.

— Nada, eu... falei sem pensar. Vamos continuar lendo. – ela sentiu suas bochechas queimarem. Não devia ter falado aquilo, pois expressava alguns sentimentos dela que ela se recusava a ter.

Os sentimentos eram válidos, mas não para ela e não por sentir isso por Draco Malfoy: ela sentia mágoa. Pelo jeito que ele foi embora, por não a ter procurado após a Guerra, por não a procurar em nenhum momento desses seis anos, mesmo com ambos vivendo em Londres, mesmo com a facilidade que ele tinha de achá-la, como já havia sido provado.

Não sabia como perdoá-lo por isso, por mais que se envergonhasse disso. Ela poderia ter procurado por ele, é claro, mas sempre teve o sentimento de que se ele quisesse vê-la ele já teria feito isso. Draco era dono de uma empresa gigantesca, realizava comércio por todo o mundo bruxo e era exatamente nisso que ela trabalhava. Ele sempre estava no Ministério, sempre no departamento dela e nunca a procurou, mesmo a metros de distância. Ele não queria vê-la, então ela também não o procurou – e, sim, o orgulho grifinório tinha culpa nisso também.

Ela guardava mágoa de Draco Malfoy e se envergonhava por isso.

Continuou lendo, apesar de sentir os olhares dele sobre ela em alguns momentos. Em um certo ponto, ao final do seu livro, Hermione leu algo interessante:

“A marca na pele representativa de um grupo é um dos maiores feitos de um poderoso bruxo. O feitiço requer prática e só pode ser produzido e passado adiante pelo líder do grupo, assim como somente ele é quem pode melhorá-lo. Um simples feitiço chamado Macula (pronuncia-se mácula) e você terá a habilidade de controlar seus fiéis seguidores.”

— Achei algo. – Hermione disse, colocando o livro sobre a mesa e apontando para o parágrafo – Esse é o feitiço e só Voldemort poderia marcar seus seguidores e melhorar seu feitiço. Apenas ele.

Draco leu o que Hermione apontava e dobrou um canto da folha, para marcá-la.

— Ainda estou na batalha de Grindelwald. – ele falou – Não vou demorar tanto para chegar em Voldemort.

Hermione assentiu e ficou de pé.

— Por mais que esteja muito divertido, eu já vou indo. – ela disse, ironicamente – Tenho que trabalhar amanhã. Vou levar mais um dos livros e volto amanhã no mesmo horário.

Draco assentiu e a observou vestir o casaco. Quando Hermione colocou o pé na escada, ele a chamou.

— Hermione.

Ela parou, porque o nome dela na boca dele era algo que demorava a ser absorvido.

— O que foi? – ela perguntou, olhando para ele.

— Você acha que eu esqueci de você?

A pergunta a pegou de surpresa. Ela continuou encarando os olhos cinzas dele de longe, a profundidade daquele par de olhos sempre conseguia deixá-la impressionada.

Ela teve vontade de responder que sim. Teve vontade de perguntar por quê. Teve vontade de perguntar como ele a abandonou tão facilmente. Teve vontade de perguntar o que ela significou para ele.

Mas simplesmente subiu as escadas e foi embora.


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Notas finais do capítulo

espero que gostem!



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