Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake


Capítulo 3
Em Chamas...


Notas iniciais do capítulo

Olá Olá! 2º capitulo ! espero que gostem ♥



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Flashback

Era Verão. Debaixo de um pinheiro manso, 3 amigos aproveitavam a sombra para fugir ao calor abrasador de Agosto. Peach, terminava os últimos retoques no seu desenho de uma paisagem típica canadiense. Um riacho, florestas densas e montanhas com neve era a coisa que ela mais gostava de desenhar.

Soren, mandava ao alto pinhões e deixava os mesmos caírem na sua boca. Pelos menos aqueles que Nour deixava.

Seth, o mais novo e brincalhão do grupo, estava á mais de uma hora a tentar apanhar um peixe. Até mesmo o mais pequeno de todos eles, já o deixava contente. O jovem lobo tricolor encarava meticulosamente as trutas-arco-íris a passarem-lhe á frente dos olhos.

Ele tenta apanhar uma, enfiando o focinho dentro do riacho sem pensar duas vezes, mas sem sorte. Tudo o que conseguiu foi engolir água pelo nariz.

Todos começam-se a rir.

—Desiste! São mais rápidas e mais espertas do que tu! – brinca Soren.

Seth faz uma cara de desdenho.

Enquanto mastiga, Soren dá um enorme sorriso de gozo como forma de provocação. Ele adora atiçar Seth.

—Vem cá, deixa-me mostrar-te como se faz.

Nour sacode-se e aproxima-se de Seth á beira do riacho. Seth segue-a até a um monte de rochas mais abaixo e olha com muita atenção todos os passos de Nour.

—Tens de as fazer saltar – explica Nour_ assim, quando elas estiverem no ar, é só apanhar.

Seth entra cuidadosamente dentro de água e começa a assustar os peixes. As trutas elevam-se no ar e Seth imediatamente abocanha o ar na esperança de apanhar alguma.

Finalmente o seu objetivo realiza-se, mas quando olha para Nour, percebe que a loba preta já tem um montinho delas mesmo ao seu lado. Ele desanima por uns segundos, mas o sentimento de inutilidade não o atormenta por muito tempo.

Com a cauda levantada, Seth corre para perto de Peach e entrega-lhe o petisco que demorou uma hora para apanhar. Comovida com o gesto, a loirinha de olhos verdes parte a truta ao meio e divide com ele.

Seth agradece com algumas lambidelas na mão de Peach.

 

 

 

 

O céu alaranjado fazia até os mais corajosos engolirem em seco de nervosismo. Os habitantes da vila apressavam-se para pegarem em baldes ou outros objetos que pudessem carregar alguma água para extinguir o fogo.

Todos corriam de um lado para o outro em pânico. Alguns tentavam salvar as plantações de legumes ainda verdes das chamas, mas foram travados. Alguns campos mais afastados já não tinham salvação possível.

Nour, no meio da vila, está perdida. Ela perdeu de vista Soren, a sua mãe e irmãos. Ela é constantemente atingida com encontrões dos outros aldeões que pedem de forma rude e com pressa para que saia da frente, pois está a estorvar.

Alguém embate nela. Restos de pão, legumes e frutos secos rolam para fora de um saco de linho. Nour está desorientada, mas mesmo assim consegue reconhecer quem é a pessoa é frente dela.

O mais conhecido de “Os Renegados”: Nanuk. O jovem rapaz de 23 anos apressa-se a voltar a colocar tudo no saco e começa a fugir novamente. Ele não está a colher suplementos de reserva, está a fugir com eles!

Nour corre atrás dele a toda a velocidade, mas Nanuk é rápido. Branco e preto, ele parece-se muito com um tipinho Husky siberiano. Os olhos azuis incandescentes mostram que Nanuk já matou outros da sua espécie e nunca pareceu muito preocupado em esconder isso.

Com o saco na boca, ele percorre a vila e a floresta e chega mesmo a saltar por cima de vegetação em labaredas para fugir a Nour, mas ela não desiste. A perseguição da jovem loba preta só termina quando Nanuk decide ir pelo caminho errado.

Ele está encurralado pelo desfiladeiro. Ou passa por Nour, ou salta de uma altura de 200 metros onde a única coisa que o pode salvar de uma morte certa é a água do rio que corre lá em baixo.

Nanuk pousa o saco de linho e arreganha os dentes como forma de aviso. Nour devolve a ameaça. Ela está decidida a não o deixar passar de maneira nenhuma.

Nour aproxima-se lentamente de Nanuk e os dois lobos rapidamente embrulham-se numa agressiva luta.

Ambos abocanham o ar na tentativa de se morderem um ao outro. Num movimento brusco, Nanuk é matreiro e faz Nour cair no chão, ficando ele por cima com as patas sobre o pescoço dela.

Nanuk arreganha os dentes de tal forma que baba começa a escorrer pelos cantos da sua boca. Nour começa a ficar sem ar e a ganir roucamente.

Nanuk para de rosnar imediatamente ao vê-la aflita por ar. Ele não a quer matar. Ele só quer que ela o deixe em paz com os seus restos de comida que conseguiu antes de todos entrarem em pânico por causa do fogo.

Os dois encaram-se por segundos.

De repente, Nanuk é abalroado. Voughan não mede forças e ataca Nanuk com tudo o que tem. O irmão mais velho de Nour disfere mordidas e patadas fortes no tingido de Husky sem dó nem piedade. Nanuk gane, pois Voughan não o larga por nada.

Soren, Peach e Seth aparecem. Nour, com a sua mão humana sobre a garganta, tenta acalmar a tosse provocada pela falta de ar. Soren vai ao auxílio dela.

—Voughan para! Já chega! – grita Nour aflita.

Voughan para o punho que já ia lançado á cara ensanguentada de Nanuk e fica a encará-lo de maxilar cerrado.

Nanuk cospe um pouco de sangue e Voughan acaba por sair de cima dele. Nanuk levanta-se, mas está coxo.

—Que seja a última vez que tens coragem de atacar a minha irmã… - ameaça Voughan. Nanuk limpa um pouco de sangue do canto da boca e dá um sorriso antes de responder num tom brincalhão:

—Ela que não me tente roubar o jantar da próxima vez…

Voughan prepara-se para terminar com Nanuk, mas Peach coloca-se á frente impedindo-o. Soren, não satisfeito, sai disparado a correr em direção a Nanuk.

—Soren não! -gritam Nour e Seth.

Nanuk ouve-os e vira-se para trás. Soren está pronto para uma vingança.

Á anos atrás, Soren e Nanuk lutaram ferozmente depois de Nanuk ter tentado roubar uma sandes a Soren. Nanuk saiu da luta com um bocado da bochecha arrancada e Soren com o sobrolho aberto.

Mesmo com a bochecha em carne viva, Nanuk saiu vencedor. Soren estava esgotado e Nour lambeu-lhe as feridas nessa noite. Ambos carregam cicatrizes nos respetivos sítios.

—Não bastava ter-te vencido uma vez, tenho que te vencer duas? – pergunta Nanuk num tom desafiador.

Soren rosna e salta para cima de Nanuk. O Husky transforma-se e desvia-se de Soren que não consegue travar assim que coloca as patas no chão.

Nour ouve um ganido de desespero. A loba preta arregala os olhos assim que o vê Soren pendurado no desfiladeiro.

—Nanuk ajuda-o! – implora Nour, mas Nanuk não se mexe. Ele está hesitante_ Nanuk!!

Nour corre em direção a Soren e agarra-o pelo antebraço com a boca um segundo antes de Soren cair.

Pingas de sangue escorrem do braço de Soren e caem na sua cara. Nour tem todos os dentes da sua boca a segurarem Soren. Ele berra de dor.

Seth vai para ajudar, mas é empurrado por Voughan antes que uma árvore em chamas o esmagasse. Nour está por sua conta. Os seus amigos e irmão não a podem ajudar.

—Larga-me... – pede Soren. Nour começa a chorar_ tu não vais conseguir segurar-me Nour, larga-me!

A loba preta começa a fraquejar. Soren é pesado demais e está a começar a arrastá-la consigo. Lágrimas escorrem descontroladamente de ambos os rostos.

—Vamos cair os dois! Nour larga-me! – grita Soren. Ela recusa-se_ olha para mim… -pede ele, mas Nour permanece de olhos fechados_ olha para mim!

Ela obedece e abre-os Soren dá um sorriso meigo.

—Nour cuidado!

Voughan grita, pois, uma árvore em labaredas está prestes a atingir o casal. Involuntariamente, Nour larga Soren.

—Eu amo-te…

Ele cai…e o desfiladeiro inteiro fica em silêncio para Nour. Tudo á sua volta deixa de existir enquanto ela o vê a ficar cada vez mais longe. Nour, caída de joelhos, chora á beira do precipício. Um grito de raiva e tristeza sai de dentro dela, fazendo eco no vale inteiro.

A neve que começou a cair acalmou o fogo e Voughan, Peach e Seth conseguem chegar a Nour.

Voughan tenta levantá-la, mas Nour está em choque.

—Temos de ir busca-lo! Ele pode estar vivo! – grita ela_ ele pode estar vivo Voughan!

—Nour… - o seu irmão acaricia-a_ ninguém sobrevive a uma altura destas… nem mesmo nós. Desculpa…

—Não… -ela desaba. Peach abraça Seth_ Não, não, não, não…não pode…ele está vivo… ele tem que estar vivo…

Voughan consola a irmã que está despedaçada neste momento. Peach chora, com o rosto escondido nos braços de Seth.

—Onde está o Nanuk? – pergunta a loba tom de pêssego. Todos olham em volta.

Nour retira o rosto encharcado de lágrimas dos braços do irmão e olha com um olhar furtivo para a frente. Um rasto de pegadas ainda está á vista. Nanuk fugiu, mais uma vez.

 

 

****

Nour deixou de andar, mas sim a arrastar o corpo pesado e triste. Cabisbaixa, ela é a última do grupo. Voughan olha para trás. A expressão de vazio da irmã aperta-lhe o coração.

— Hey... - Voughan chama-se à atenção - temos que encontrar a mãe e a Kaira...vamos lá.

— Onde elas estão? - pergunta ela.

—Deixei-as com o pai. Eles estavam a ir em direção ao Lago Moraine.

— Tu deixaste-as com ele?! Voughan ele não as consegue proteger!

 

—Hey! – Seth mete-se no meio_ não há tempo para isto agora. Todos nós temos que encontrar as nossas famílias e encontrar um sítio seguro para toda a gente.

—É melhor separarmo-nos – aconselha Peach_ eu tenho que ir procurar a minha mãe e a minha irmã.

Todos se separam, exceto Voughan e Nour. Os irmãos percorrem a Vila em labaredas e dirigem-se para o lago. Está tudo a cair aos bocados. Nour quase que é atingida por um telhado que sucumbia ás chamas.

"Onde está toda a gente?"— pergunta ela em desespero.

—"Já devem de estar no lago. Só espero que não se tenham esquecido de nós…"

Nour olha em volta e depara-se com alguém a espreitar de lá de cima do desfiladeiro onde ainda á pouco enfrentou Nanuk. Ela franze a sobrancelha.

—Nour vamos! – grita Voughan que já ia mais á frente. Nour volta a olhar lá para cima, mas já não vê ninguém.

Os dois lobos atravessam a Vila de uma ponta á outra e percorrem a floresta em chamas. Nour olha para os vários corpos caídos no chão, sem vida, que o fogo já matou.

As patas almofadas estão-lhe a arder, a falta de oxigénio está-lhe a começar a afetar a visão. Voughan apercebe-se no estado da irmã e volta para trás para ajudá-la.

—Vai-te embora sem mim – pede Nour ofegante.

—E deixar-te aqui para morrer? Nunca.

Ele coloca um braço da irmã á volta dele e ambos caminham a um passo apressado em direção ao lago. Lá, Liv, Kaira e Balto esperam por eles juntamente com o resto da comunidade.

Balto é o pai de Nour, Voughan e Kaira. Á muitos anos, depois de um acidente, sofreu lesões graves e ficou sem uma perna. Ele nunca se conformou em andar com muletas de madeira e em não ter tanta autonomia, muito menos em não conseguir tomar conta da própria família.

Nour e Voughan aparecem por entre as árvores e vários membros vão ao auxílio deles.

Nour grita de dor assim que se atira para dentro de água. As suas mãos e pés estão queimados.

Peach arrasta-a para fora de água e pega nas mãos dela. Nour está lágrimas.

—Vais ficar bem okay? Olha para mim, tu vais ficar…

Um barulho de flecha a ser lançada impede Peach de terminar. Os seus lábios cor carmesim começam a transformar-se num vermelho vivo. Peach cospe sangue e olha para baixo. Nour segue o olhar da melhor amiga e encara uma pequena flecha que atravessa o tronco de Peach.

A loirinha de olhos verdes tomba ao lado dela. Nour fica sem reação. Seth corre em direção a Peach que ainda luta para respirar. Nour olha para trás, onde um homem com uma aparência idosa ainda mira uma besta para elas as duas. Atrás dele, um grupo de soldados vestidos com proteções e armados com armas estranhas prepara-se para atacar.


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Notas finais do capítulo

Ansiosos pelo próximo? eu estou!

♥ ♥ ♥



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