Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake


Capítulo 2
Loup Garou


Notas iniciais do capítulo

1º capitulo! Espero que gostem ♥



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“Oh grande vale por baixo dos meus pés, continua a cuidar das almas dos meus irmãos, e caso os céus se voltem a encher de chamas e fumo, continua a vigiar os filhos de Lycaon”

 

 

Zeus, depois de saber todas as atrocidades que Lycaon tinha feito, transformou-o a ele e aos seus 50 filhos em lobos.

No  séculoX, dizia-se que os príncipes de Bucareste descendiam de lobisomens, então, quando os romanos se apoderaram da cidade e os príncipes foram mortos, disseram que “o reinado dos lobos” tinha chegado ao fim.

Em 1764-1767, um lobisomem aterrorizou a cidade de Gevaudan, no sul de França, dando origem á história da Besta de Gevaudan. Há registos de que matou mais de 113 pessoas num espaço de 3 anos, até ser finalmente morta.

Não importa qual seja a história em que se acredita. Não importa de que parte do mundo ela vem. Todas as histórias de fantasia têm o seu pingo de verdade, até mesmo a que estou prestes a contar-vos.

 

 

***

 

Mal sabia aquela corça que estava a ser vigiada e seguida á horas. No meio de uma das muitas florestas densas do Canadá, apenas se ouvia os pássaros no cimo das aves e os grunhos que a corça fazia ao comer as plantas rasteiras do chão. Um silêncio abate-se sobre este paraíso verde assim que um som faz despertar o alerta da corça. O veado de porte médio aguça a sua audição e olha em volta á procura do potencial perigo.

No meio dos cerrados e ramosos arbustos e árvores, dois irmãos se encaram. Nour, a rapariga, fuzila o irmão mais velho que como sempre nunca tem cuidado onde coloca os pés. Voughan, pede desculpa apenas com os lábios e ambos voltam a encarar o veado, agora um pouco mais afastado. É agora ou nunca. Estão no sítio perfeito.

A corça distrai-se com os últimos rebentos de Outono que ainda restam e um enorme lobo castanho achocolatado sai por de trás dos arbustos com uma colossal vontade de comer. A corça corre, desesperada por entre as árvores pedindo ás suas pernas para que corram o mais rápido possível. Um lobo preto sai do mesmo esconderijo uns segundos depois, mas toma um caminho diferente. É uma emboscada.

Com os calcanhares feridos das pequenas mordidelas que Voughan, o nosso lobo castanho vai dando, a corça está exausta. Voughan poderia matá-la aqui e agora se quisesse, mas tem que a conduzir até perto do riacho, onde Nour lhe pode dar uma morte rápida e limpa.

O ribeiro está já a uns metros á frente e a corça está prestes a saltar. Se ela assim o fizer, é o fim. O riacho marca o fim das suas terras.

Já no ar, a corça pensa que se salvou, mas Nour eleva-se mais alto ainda e pega a corça pelo pescoço, torcendo-o. Os seus caninos brancos e afiados como lâminas perfuram a carne e o veado cai já sem vida no chão.

 

****

 

Nour lavava a morte da corça dos seus braços, mãos e boca. Talvez a sua morte limpa afinal não seja assim tão limpa. Uma mancha de sangue no rio corre ao sabor da corrente e desce montanha abaixo. Nour aproveita para matar a sua sede com alguma água fresca e pura antes de reparar no seu reflexo na mesma. A imagem difusa do seu outro lado encara-a e reflete-a como um espelho.

Cabelo preto como a asa de um corvo. Lábios rosados como o pôr do sol no Verão. Olhos esverdeados como o musgo da floresta. Ela fecha os olhos por uns segundos e apenas se foca nos sons á sua volta. O Mimo-Gaio no alto da árvore e as águas sempre agitadas do rio era música para os seus ouvidos aguçados. Soava como paz. Se sempre que ela fechasse os olhos e ouvisse apenas estes sons, ela saberia que estava tudo bem.

Algo a sair dos arbustos trás a jovem loba á terra. Vougham está-se a aproximar e vem bastante animado. Á já algum tempo que não apanhavam uma corça tão grande.

—Vai haver banquete na Vila hoje – brinca ele. Voughan agacha-se para beber um pouco de água ao lado da irmã.

—Por pouco – ela resmunga_ tu e esses pés grandes e pesados. Quase que desperdiçávamos horas de perseguição por tua culpa.

—Estou a ficar velho para isto… - barafusta ele.

—Tens apenas 26 anos! – grita Nour ao dar um encontrão no irmão.

Voughan responde de volta com um encontrão mais forte e Nour cai dentro de água. A loba preta rosna para o irmão mais velho que abana a cauda castanha escura com um sorriso enorme nos lábios.

Os dois irmãos brincam no riacho como se ainda fossem duas crianças. Nour morde levemente a orelha de Voughan e vice-versa. Num segundo são humanos normais e no outro dois lobos a brincar de lutinhas dentro de um riacho, mas está na hora de voltar para casa. Já lá vai algumas horas desde que saíram para encontrar alguma comida.

 

 

****

 

A carrinha para mesmo é entrada da Vila. De imediato, Nour e Voughan são recebidos por Kaira e Sansa. Kaira é a irmã mais nova de Nour e Voughan, e Sansa a irmã mais nova de Peach, a melhor amiga de Nour. Kaira e Sansa conhecem-se desde que nasceram e não se largam nunca, sendo Kaira a mais velha com 10 anos e Sansa a mais nova com 8.

—Hey cara de sapo! – brinca Nour assim que pega na irmã ao colo.

—Eu não tenho cara de sapo! – resmunga Kaira. Nour começa-se a rir.

Voughan pega na carcaça da corça e carrega nas costas para levá-la para dentro da Vila. Ao todo, a mesma tem quase 400 habitantes. São casas normais feitas de pedra e tudo na vila foi construído de raiz. Casas, poço, enfermaria, até mesmo a loja do ferreiro. Todos vivem em comunidade. Ou a grande maior parte deles. Há sempre alguns que gostam de viver um pouco á parte. Chamam-lhe “Os Renegados”.

As condições de vida podem não ser as melhores, mas pelo menos estão vivos. Este é o pensamento na cabeça de cada um deles. Eles sabem que nunca poderiam viver no mundo lá fora devido aos seus impulsos. Seriam descobertos num piscar de olhos. Mas mesmo assim, há um inimigo que já sabe da existência deles.

Os OWK (Organization of Wolves Killers) (Organização de Assassinos de Lobos) têm caçado esta espécie por séculos. Ao longo do tempo, muitos foram abatidos por membros desta organização para fins de experimentos e para por fim á sua existência. Os Loup Garou (Lobisomens) tiveram que se esconder e arranjar métodos para que ninguém que os descubram. Alguns conseguiram infiltrar-se na sociedade e hoje em dia vivem como humanos normais, mas nem todos conseguiram se adaptar e foram descobertos.

Liv, mãe de Nour, Voughan e Kaira observa os seus filhos a virem na direção dela com um sorriso nos lábios. Nour coloca a irmã mais nova no chão e a mesma corre para a mãe. Todos se abraçam. Sempre que os seus filhos saem para fora, Liv fica com o coração nas mãos até ao regresso deles. O mundo lá fora não perdoa os que são diferentes.

—Mãe…onde é que ele está? – pergunta Nour depois de desfazer o abraço.

—Ouvi o teu pai dizer que ele foi buscar lenha – Liv dá uma piscadinha á filha.

A loba preta devolve o sorriso e sai de casa a correr em direção á floresta. Ela sabe onde muito provavelmente o seu noivo estará.

Correr com 4 pernas sempre foi mais rápido do que correr com duas então, depois de saltar por cima de uma rocha, Nour percorre a floresta em alta velocidade. Ela sente o chão por baixos das suas patas almofadadas e é como se estivesse a correr sobre nuvens.

Ela encontra-o numa clareira a apanhar lenha tal e qual como a mãe dela lhe tinha dito. Soren, distraído, vai escolhendo meticulosamente os paus de madeira e colocando num monte para depois carregar até á Vila. Nour resolve fazer uma pequena brincadeira.

Sem que Soren a veja, Nour vai roubando alguns paus á medida que Soren vai aumentando o monte. O lobo acinzentado e branco acha estranho á 1º e á 2º vez, mas logo percebe de quem se trata. Nour sempre teve esta brincadeira desde que eram crianças.

Sorem desaparece. Nour estava á espera que ele voltasse com mais madeira para continuar a diversão, mas o companheiro dela não volta. Desconfiada, Nour resolve sair do esconderijo e para no meio da clareira. O seu focinho preto fareja o chão á procura de Soren, mas ele está mesmo por de trás dela.

Ele salta-lhe para cima do dorso e deita-a ao chão. Ambos rebolam e Nour acaba por ficar por baixo de Soren.

—Apanhei-te – diz Soren carinhoso antes de a beijar.

O casal beija-se no solo. Folhas partidas e terra alojam-se no cabelo preto de Nour, mas ela não quer saber. Soren coloca-se no meio das suas pernas, para ficar ainda mais junto da sua futura mulher.

—Casa comigo – pede Soren.

—Nós já vamos casar palerma – rebate Nour retirando-lhe uma folha do cabelo.

—Eu sei, mas eu estou tão apaixonado por ti que queria casar contigo duas vezes.

Nour sorri antes de pegar Soren pelo colar dele. Um Ying e Yang que ele próprio construiu está atacado por um leve fio e simboliza o seu lado bom e o seu lado mau.

Uma tosse forçada interrompe os dois amantes. Seth e Peach, ambos amigos de Nour e Soren, cruzam os braços assim que vêm o casal aos beijos no meio do chão.

—Arranjem um quarto – brinca Peach.

—Arranjem maneiras – brinca Seth_ o vosso lado animal não vos desculpa de tudo.

 

 

****

 

 

A noite já tinha caído á algum tempo. Numa casinha pitoresca á beira do vale, uma luz alaranjada fazia-se sobressair. Seth tomava conta da lareira para que ela não se apagasse. A noite seria fria. Voughan preparava a corça, esfolando o animal para depois todos se banquetearem, tentando aproveitar cada pedaço de carne.

—Sinto que hoje até vamos brigar pelos ossos… - sussurra Nour, mas todos ouvem.

—Porquê tanto pessimismo? O Inverno ainda não chegou – pergunta a sua mãe.

O cheiro a legumes cozinhados faz remexer o nariz apurado de Peach, que já coberta com uma manta de linho, tentava esquecer a fome e concentrar a sua energia em se aquecer. Soren também estava esfomeado. Com Nour deitada no meio do seu corpo, o casal tentava não pensar nos meses de escassez que se avinhavam. Faltava cerca de 3 semanas para o Inverno começar e as primeiras neves caírem, mas as manadas já tinham começado a migração á um bom tempo.

—Estou farta de comer legumes e fruta… até peixe era melhor – resmunga Peach.

—Eu dava um canino para comer um castor… - devolve Soren.

—Então meninos! Este Inverno será como todos os outros! – diz Liv limpando a mão a um trapo velho.

Liv pousa a velha panela em cima da mesa e todos vão a correr para começar a comer. Voughan apressa-se para terminar a carcaça da corça e juntar-se aos seus amigos e família.

Legumes e fruta para eles são como tofu para os humanos. Mantém-nos alimentados e vivos, mas nunca 100% satisfeitos. Á mesa, o vinho não faltou. Seth sugeriu um brinde a Nour e Soren, para celebrar o casamento que se realizará daqui a uns dias.

—A vocês, meus caros amigos, bebam e celebrem hoje como se fosse a última vez, pois amanhã o sol pode não nascer…

Todos elevam o seu copo de barro á boca e bebem. Nour e Soren beijam-se e trocam caricias um com o outro bastante felizes e contentes. Seth, já sobre o efeito do vinho, tocava e cantava para animar o ambiente. Peach convida Voughan para dançar e ele aceita imediatamente. Kaira, que tinha acordado com tanta animação, também se juntou. A festa durou até altas horas da noite. Agora, apenas um silêncio se abatia sobre a Vila. Todos dormiam pacificamente. A lareira debatia-se contra si mesma para se manter acesa e poder proporcionar nem que fosse um pouco de calor.

Lá fora, o perigo espreitava. Uma faísca irrompe do meio da floresta e como um rastilho de pólvora começa-se a espalhar por tudo o lado em segundos. A floresta estava a arder. Fumo denso e de mau cheiro começa a sobrevoar a Vila. Os narizes mais aguçados e astutos logo começam a mexer e várias pessoas começam a ligar as luzes e sair á rua.

Nour deteta o cheiro a madeira queimada e automaticamente acorda. Com o sobressalto de Nour, Soren também acorda.

—Que cheiro é este? – pergunta Soren de testa franzida.

—Parece que algo está a arder! – responde a loba preta.

Num ápice, Nour levanta-se e vai a correr até á janela. Os seus olhos vermelho sangue logo refletem e enchem-se do cenário diante da sua frente. Chamas, altas como árvores consumiam a floresta á volta da Vila. Tudo estava a arder.


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Notas finais do capítulo

Deixem a vossa opinião! É a 1º vez que escrevo em 3º pessoa então qualquer coisa digam :)

♥ ♥ ♥ ♥



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