A Pequena Lady de Ferro 3 escrita por Lady Danvers


Capítulo 3
Juntando os Pedaços


Notas iniciais do capítulo

Capítulo sobre o que está acontecendo com todo mundo na Terra. Ótimo pra situar os personagens nessa mudança de status.

DICA: Vocês já assistiram O Fantasma da Ópera (O filme de 2004 ou a peça)? Eu sou a louca dos musicais aqui em casa e amo esse, mas só agora descobri que tem uma peça sequência onde meu ship acontece mesmo e as músicas são incríveis.

Aqui tem minha música preferida caso vocês queiram escutar e viciem que nem eu: https://www.youtube.com/watch?v=tAUUeWIZLEE

Procurem essa música cantada pelos atores na peça é incrível.

Enfim, capítulo novo!



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BRAD

 

O luto transforma as pessoas. 

Faz duas semanas que Julie se foi e tudo ao meu redor parece ter parado no tempo. Todo dia, ouço alguém mencionando sua trágica morte como se eu não soubesse que uma garota jovem não devia morrer desse jeito. 

Julie está por todo o lugar que vou. Em Washington, há murais de rua para ela pintados por artistas inspirados. No fim da quadra do meu apartamento, há um mural gigante em sua homenagem, Julie vestida em sua armadura, mas sem o capacete, deixando seus cabelos castanhos voarem enquanto ela olhava para o horizonte. Era lindo. 

Sempre que posso, desvio o caminho. 

O mundo todo ficou em choque com a notícia. A primeira coisa que vi assim que saí do hospital foi a cobertura dos jornais, expondo tudo o que aconteceu, o vazamento dos arquivos da SHIELD só ajudou a inflamar ainda mais as discussões. 

Para começo de conversa, a SHIELD não existe mais. Foi decidido pelo Departamento de Segurança e até a ONU se envolveu já que os planos da HYDRA eram de escala global. Faz três dias que dei meu depoimento e a decisão de dissolver a SHIELD foi tomada e, levando em conta meu envolvimento no caso, tenho que agradecer por estar livre. 

Ainda assim, me sinto preso. 

Preso por culpa, principalmente. E não sou só eu que penso assim. 

Tentei conversar com Louise e Tony, mas Megan me aconselhou a esperar. Segundo ela, eles não pensavam em mim nos melhores termos nesse momento. 

Não os culpo nem um pouco. É uma reação natural. 

Entrei no prédio e chamei o elevador. Meu reflexo me encarava, uma versão quase morta de mim. As olheiras abaixo dos olhos não ajudavam muito. 

— Oi – Maureen disse assim que abriu a porta. Não era só eu que parecia querer morrer. 

Seus olhos claros estavam avermelhados o suficiente para que eu soubesse que ela havia chorado a noite, seu cabelo loiro estava preso em um nó mal feito e sua roupa consistia do seu pijama de unicórnios. 

— O que você tem aí? – Gesticulou para as sacolas que eu carregava em cada braço. 

— Comida tailandesa daquele restaurante a duas quadras daqui e algumas coisas dela que estavam no meu apartamento – Maureen pegou a sacola com a comida e depositou na mesa.  

— Você não quer ficar com o que encontrou? 

— A maioria eram roupas que ela tinha deixado lá – Respondi, deixando de fora o fato de que eu mal consigo passar dez minutos no meu apartamento sem cair na fossa de choro e culpa que minha mente se tornou. 

— Talvez você queira algo do quarto dela? A mãe dela pediu para empacotar tudo mandar para Malibu – Maureen explicou, me guiando até o quarto de Julie. 

Minha respiração saía irregular a cada passo que me aproximava do quarto. Era como se ela ainda estivesse lá, esperando por mim. 

O quarto ainda estava da mesma maneira que ela havia deixado. As paredes azul-claro estavam cobertas de papéis e projetos segurados por pins, a mesa em que ela trabalhava ainda estava cheia de peças, a cama estava arrumada com aquela colcha vermelha da Lady de Ferro que ela havia ganhado de um fã há um ano. 

As caixas para empacotar estavam em um canto, um lembrete silencioso da realidade. 

— É como se ela ainda fosse voltar – comentei, pegando um dos protótipos, uma manopla prateada. 

— Você pode me ajudar? Pode escolher alguma coisa para ficar para você – Maureen olhava para o quarto com uma tristeza avassaladora e tenho que me lembrar que Julie foi a pessoa mais próxima que ela teve durante esses anos e agora ela estava sozinha. – Foi a Sra. Martinez que disse. 

— Não acho que Louise ia querer que eu ficasse com alguma coisa dela. 

— Ela é mãe e ainda é muito recente. Dê tempo a eles – Maureen disse, com um sorriso fraco. – Vou buscar nossa comida e começamos, está bem? 

Andei pelo quarto enquanto Maureen foi até a cozinha. Julie era uma gênia, mas também era bagunceira, o que era evidente pela “arrumação” de suas gavetas cheias de papéis e cadernos. 

Uma arrumação caótica, era o que ela chamava. Só assim ela conseguia saber onde tudo estava. 

Maureen voltou e almoçamos juntos. Desde o que aconteceu, venho checar se Maureen está bem quase todos os dias já que os Stark e os Martinez não querem ver a minha cara e Megan está sendo bem cuidada pelo Steve. Pelo menos posso fazer companhia a alguém que parece mais solitária do que eu. 

Começamos com as roupas e havia tantas peças que levamos um bom tempo para dobrar e guardar. 

— Efeito de ter Megan Hoffman como amiga – Maureen comentou e ri pela primeira vez em semanas. 

— A Megan não vai querer nada? 

— Ela me pediu para levar uma pulseira prateada que ela deu de presente para a Julie e também algumas cartas que as duas trocaram quando a Megan foi fazer intercâmbio – Maureen pegou a caixa e me mostrou, mas não as abriu. – Vou passar no apartamento do Steve mais tarde, antes da mudança. 

— Mudança? 

— Agora que a SHIELD acabou, ele vai para Nova York. A sede dos Vingadores está lá. 

Eu nem havia pensado nisso. A vida sem Julie ia continuar, já estava continuando e tudo o que eu tinha não passava de fantasmas, a projeção de um futuro que jamais aconteceria. 

Os objetos foram mais rápido e mais difíceis ao mesmo tempo, cada um ecoando uma memória diferente. 

— Vou levar essa foto – falei. O porta-retratos mostrava Julie e eu esquiando na Suíça. Foi logo depois da batalha contra Loki, estávamos namorando há alguns meses e ela teve a brilhante ideia de me levar em uma viagem pela Europa. Na foto, ela segurava minha mão e ria enquanto eu parecia um pato que não sabia andar. 

— Eu vou ficar com essa. – Maureen indicou. O fim de semana em que subimos os morros de Los Angeles. Julie, Megan e Maureen estavam na frente posando como aqueles seguranças de boate com os braços cruzados olhando para o horizonte. Steve e eu estávamos atrás, rindo. 

— O que você vai fazer agora? 

— Honestamente? Eu não sei. A Sharon vai se candidatar para a CIA, mas não sei se quero isso – Maureen ainda olhava para o retrato em suas mãos, seu olhar distante. – Sempre fui uma agente da SHIELD e, antes disso fui órfã. Isso definiu a minha vida até aqui. Agora? Nunca me senti tão sozinha. 

— Você nunca mais vai estar sozinha, Maureen. Você ainda tem amigos – Maureen sempre foi forte, mas agora as lágrimas reinavam em cair de seus olhos azuis. 

— É irônico pensar que Julie e eu nós odiávamos no início. Bem, odiar é um pouco forte, mas não nós suportávamos mesmo – Maureen falava enquanto continuava guardando os objetos na caixa. – Ela sempre foi tudo o que eu lutei contra sabe? Eu era uma órfã porque meu pai ficou bêbado demais e matou minha mãe e meu irmão e se matou junto, é claro. Eu lutei tanto e sofri passando de casas de acolhimento para orfanatos e cada um deles só mostrava o quanto o mundo era cruel e doloroso para uma menina sem família. 

Aquele sentimento Brad conhecia muito bem. 

— E depois de tantas experiências ruins, você se fecha para tudo porque é tão mais fácil viver, sobreviver, quando você não se importa – Maureen continuou. – Fui recrutada pela SHIELD e sabia que eu tinha que agarrar aquela oportunidade. Quantas garotas na mesma situação não dariam tudo para serem amparadas como eu fui? Quantas não estavam desperdiçando suas vidas nas ruas à noite, aceitando qualquer coisa por medo? Então eu foquei no meu objetivo e afastei todo o resto porque de que adiantaria ter amizades, gostar de alguém, quando todos vão embora um dia? Então entra Julie Stark, a jovem inventora que caiu de paraquedas em uma batalha e sobreviveu, aquela que foi tão carismática a ponto do diretor oferecer um cargo a ela, ou foi assim que eu pensei naquela época. Eu queria odiá-la porque ela não precisava estar ali, ela tinha infinitas opções, uma família que realmente a amava, amigos. Eu senti que poderia gostar de conhecê-la então a afastei do único jeito que eu sabia, com insultos e argumentos estúpidos, mas Julie sendo como era, sempre rebatia e me vi ficando cansada de argumentar ou ofender porque aquela garota sempre tinha uma resposta na ponta da língua. Quando fomos obrigadas a nos tornar parceiras então, achei que ia morrer de raiva por ter que treinar com a garota mimada só que aí percebi que ela nunca foi nenhuma dessas coisas que eu havia conjurado na minha mente. Ela se importava com todos, realmente se importava, e observando-a, fez com que eu quisesse me importar também. Eu vivi tanto tempo dentro dessa armadura para afastar todos que nunca percebi que havia rachaduras e que Julie tinha se infiltrado de um jeito ou de outro e quando me dei conta, já estávamos dividindo um apartamento porque esse era o verdadeiro superpoder da Julie, a empatia. 

A história de Maureen fez meu corpo arrepiar e algo tocou meu coração. Essa era a imagem final que eu gostaria de ter de Julie, uma garota cheia de vida e compaixão que tentava entender até às motivações de um monstro. 

— E agora ela se foi e tudo vai continuar sem ela, mas não parece certo. – Maureen abraçou o porta-retratos e começou a chorar. 

Partiu meu coração. 

Antes mesmo de perceber, eu abraçava Maureen. Ela chorava tanto que suas lágrimas encharcaram a minha camiseta. Ela sempre esteve sozinha e depois de finalmente ter um apoio seguro, ela perdeu isso novamente. 

— Nós somos o que ela deixou para trás. Por favor, não desapareça das nossas vidas porque eu seria um miserável solitário e preciso da minha amiga. 

 

 

 

 

 

MAUREEN

 

Eu estava perdida. 

Pelo menos era assim que eu me sentia enquanto encarava o prédio onde Steve morava e onde Megan estava me esperando, a caixa de madeira em minhas mãos parecia pesar uma tonelada. 

Na caixa estava a pulseira e todas as cartas que Julie guardara, um pedido de Megan. Não sabia sobre o conteúdo delas e nem me atrevi a perguntar sobre elas, não diziam respeito a mim. 

Apesar de Brad ter me dito que nossa amizade não acabaria, não tenho certeza disso. Julie foi minha primeira amiga em anos e todos os meus outros amigos eram uma extensão de nossa amizade: o namorado dela, a amiga e o namorado da amiga dela. 

Nunca fui boa com relações interpessoais e ter Julie ao meu lado me ajudava nisso. Ela era a minha ponte para o mundo. Aquela que entendia o que eu queria dizer e transformava meus sentimentos malformados em palavras claras. 

Para falar a verdade, não sei como me refazer dessa vez. 

Fazia uma semana desde que Brad havia me visitado e desde então tenho tentado juntar os pedaços da minha vida. O que sobrou, pelo menos. Enviei todos os pertences de Julie para a mãe dela em Malibu, ganhei uma indenização por perder o emprego por meus empregadores serem nazistas disfarçados e estou desempregada de vez. 

Não sei como continuar, mas estou tentando. Isso é um começo. 

— Maureen, ainda bem que você chegou – Steve me recebeu assim que toquei a campainha, me abraçando brevemente. 

— Oi para você também - Ele parecia bem cansado, mas acho que todos nós estávamos assim. As caixas de mudança também deviam ser grande parte disso. - Como a Megan está? 

— Ela não compra nada há três semanas – Steve sussurrou como se houvesse algo errado com isso. - Você sabe como ela é, está sempre comprando o que achar pela frente, mas ela não quer sair de casa e quando pergunto, ela responde que está bem, mas sei que não está. 

Isso era mais preocupante. 

— Talvez você possa falar com ela? - Ele parecia tão preocupado que não consegui responder nada além de assentir. -Obrigado. 

— Maureen? - Megan apareceu na porta do quarto usando um pijama de tarde e com um pote de sorvete a tiracolo. 

—E essa é a minha deixa – Steve sussurrou e caminhou até Megan. - Tenho algumas coisas para resolver, mas a Maureen está aqui para te fazer companhia. Até mais tarde, Meg. 

Steve a beijou no rosto e saiu piscando para mim como se não fosse óbvio o que ele estava fazendo. 

— Você está usando as roupas que ajudei a escolher – foi a primeira coisa que Megan disse assim que Steve saiu. 

— Sim – olhei para meu short de cintura alta e a regata preta. - E você está de pijama. 

— E? 

— E são 15:00 da tarde. Tome um banho e vista-se, vamos sair – Megan me encarou incrédula. Antes, era ela que costumava fazer isso com Julie e eu. - Eu trouxe o que você me pediu e só vou te entregar quando pisarmos fora desse apartamento. 

Megan bufou e foi se arrumar. 

 

 

— Como vão as coisas? - Perguntei, mexendo meu café. 

Estávamos em uma cafeteria próxima do apartamento, o que já era uma vitória. Megan, apesar de quieta, havia se arrumado o suficiente para sair na rua, com bem menos maquiagem do que de costume. 

— Steve vai se mudar para Nova York no fim de semana. 

— Você vai com ele? 

— Não. Pelo menos ainda não - os olhos azuis de Megan pareceram se reacender enquanto falava de Steve. - Vou voltar para a faculdade por enquanto. Steve tem muito o que fazer e eu também. Minhas aulas estão todas acumuladas. 

— Pelo menos você tem algo para voltar. Sou uma desempregada sem prospectos no momento. 

— A Sharon se inscreveu para a avaliação da CIA. Talvez você possa tentar isso. 

— Talvez, mas preciso de um pouco mais de tempo. 

Estávamos dançando ao redor do assunto, mas não conseguia evitar. O vazio de Julie assombrava aquela conversa. Foi ela quem nos aproximou e não paro de me perguntar se algum dia eu seria amiga de alguém como Megan caso Julie não tivesse sido a intermediária. 

— Maureen, ainda somos amigas? - A pergunta me pegou desprevenida, mas Megan nunca foi de segurar sua língua. Megan me encarava, esperando uma resposta. 

— Espero que sim – respondi, sem saber como continuar. 

— É que conheço a Julie desde os meus doze anos. Conhecia. - Megan se corrigiu e a tristeza em seus olhos voltou. - Ela era minha melhor amiga e sei que ela era a sua também. Só não quero que você se afaste porque ela não está mais aqui. 

— Obrigada – apertei a mão de Megan em um conforto silencioso. Era isso que eu precisava ouvir. - Ah, eu trouxe o que você me pediu. 

Entreguei a caixa e senti as mãos de Megan tremerem. Ela abriu a tampa e seu rosto se iluminou. 

— Eu sabia que ela tinha guardado. - Megan olhou para mim, um misto de alegria e tristeza. - Nós tínhamos 15 anos quando eu fui fazer um intercâmbio na França por seis meses. Julie queria ir, mas estava envolvida em um projeto de ciências maluco então ela me fez prometer que trocaríamos cartas como antigamente. Tudo muito dramático do jeito Julie de ser. 

Isso parecia mesmo do feitio dela. 

— Ainda não parece real – Megan falou, a pulseira de prata em suas mãos. - Na minha cabeça, ela só está atrasada como sempre e vai aparecer daqui a pouco. Toda vez que meu celular toca, tenho certeza que é ela. 

— A primeira noite depois do que aconteceu, eu não consegui dormir em casa. Eu podia jurar que ela estava no quarto dela com aquela música alta de estourar os tímpanos. Passei a noite em um hotel do outro lado da cidade – confidenciei algo que eu não havia falado para ninguém. 

— Eu não acreditei quando me contaram. Não parecia verdade e ainda não parece, mas é real. Acho que o único modo de aceitar que a Julie não está aqui é se ela estiver em um lugar melhor. É a única forma que eu vou conseguir dormir à noite. 

Nunca fui muito religiosa, mas tinha certeza que onde ela estivesse, estaria bem. 

— À Julie – levantei minha xícara de café e Megan imitou o gesto. 

— À Julie. 

 


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Notas finais do capítulo

Até!



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