— Rony… – foram as únicas palavras que saíram da minha boca quando aparatei na casa do ruivo. Eu gostaria de dizer que o que eu sentia era raiva, mas na verdade não. Eu tinha um nó na garganta, uma descrença na alma, estava me sentindo traído. Como ele pode sequer COGITAR aquela possibilidade? 

— Harry, o que aconteceu? – Rony veio até mim, percebendo o quão perdido eu estava e me guiando até um dos sofás, se sentando no acento do lado.

Eu ainda não acreditava. Aquilo era doloroso demais até para eu imaginar que talvez em um universo paralelo isso pudesse acontecer.

— Ele… Eu… Eu não… – neguei com a cabeça repetidas vezes, tentando expulsar aquilo de mim. Draco não podia pensar isso, não, ele não podia. Como ele pode? Como?!?!

— Harry, calma, respira – a voz do meu amigo tentava me passar calma enquanto suas mãos afagavam minhas costas – Tem a ver com você e o Draco?

Assenti, ainda atordoado. Draco, Draco. Aquelas palavras, aquela acusação… Mas o pior foi aquele tom de “Estou bravo, porém não surpreso”.

— O que aconteceu? Vocês brigaram?

Nós havíamos brigado? Eu não sei. Briga parecia uma palavra tão chula para aquilo… Era mais como se houvéssemos nos quebrado.

— Ele me acusou de traição, Rony! Traição! – como Malfoy? Por quê? Quando que eu te dei motivos para isso?

— Por que ele fez isso? – eu pensava que Ron iria fixar indignado, mas sua voz continuava calma.

— Porque eu usei a droga do preservativo! 

“E me diz qual outro motivo eu tenho para pensar algo diferente Potter!” Aquela frase estava ali, martelando, insinuando, me lembrando daquele momento. Coloquei minha cabeça entre as mãos na esperança de afastar a lembrança daquele momento.

— Harry, você contou a ele sobre o veneno? – senti uma pontada de acusação na voz de Ron, mas eu sabia que ele tinha razão.

Apenas neguei com a cabeça.

— Mas isso não é motivo, Ron! Ele podia ter conversado comigo! Ele não tinha o direito de pensar uma coisas dessas! Caralho, eu sou louco por ele, nunca pensei em alguém que não fosse ele!

Embora eu ainda estivesse alarmado, começava a me acalmar o suficiente para manter uma conversa civilizada – ou a quão civilizada aquele momento permitia.

— Harry, eu sou seu melhor amigo, e é meu dever te dizer que você não está no seu completo direito – tirei minha cabeça das mãos e me virei para ele, não acreditando no que estava ouvindo – Não me olhe assim! Mas me responda, dês de quando você esconde do seu cônjuge que foi envenenado? 

Francamente Ron, que pergunta mais estúpida! Mas, talvez...

— O assunto não surgiu... – respondi baixo.

Rony semicerrou os olhos.

— Harry, se o Draco pegasse esse vírus sem querer no hospital, você ia querer saber?

Se Draco pegasse esse vírus eu esperaria ser avisado na hora, e pararia o que estava fazendo para ir ate lá, e saber sobre cada coisinha mínima...

— É diferente... 

— Claro, agora pense. Se hoje você chega em casa e quem usa um preservativo sem te falar nada é ele...

Se fosse ele, provavelmente eu começaria a entender porque ele faz aquela cara cada vez que eu tento algo, ou que ele é tão impassível. 

Não respondi nada.

É só que eu e Draco não conversávamos sobre algo que não fosse Scorp, então qual motivo eu teria para contar isso a ele? Afinal, não era como se trocássemos sorrisos na hora do jantar e perguntássemos do dia um do outro. Isso era algo que acontecia somente em comerciais de margarina, e nossa vida não era um.

— Olha, vou arrumar o quarto de hospedes para você. Tenta se acalmar. Descanse e relaxe. Lilá dormiu na casa dos Black para ajudar com as crianças hoje. Amanhã vocês conversam, aposto que os dois estão com a cabeça quente.

Murmurei um som que nem eu entendi direito e concordei.

Mas aquele momento não me deixava em paz o suficiente para dormir.

Quando paramos de perguntar sobre o dia um do outro? Quando parei de lhe lançar aquele sorriso que deixava claro que eu era a pessoa mais sortuda do mundo?

Em qual momento eu deixei que o sofá e as cervejas me parecessem mais atrativo do que o meu marido e a nossa cama? Isso foi antes ou depois de Draco desviar dos meus beijos, retirar a sua mão da minha? O que mais me alarmava era que eu não sabia.

A partir de quando eu voltei a ser o Potter pra ele?

Quando eu fui i infeliz que deixou o homem da minha vida ir? E porque infernos eu só havia percebido isso agora?!

Eu não permitiria isso. Eu amo Draco Malfoy, e vou fazer questão que ele saiba disso todos os próximos dias das nossas vidas, em cada pequeno gesto. Eu o traria de volta para mim e o faria a pessoa mais feliz do mundo – depois de mim, porque só o fato de ter Scorp e saber que tenho novamente homem da minha novamente.

Suspirei decidido e fui em direção ao quarto de hospedes.  

Eu mostraria, diria, imploraria para ele.

Eu estou dizendo Draco, estou dizendo o quanto eu te amo.