Free Fallin' escrita por MrsSong


Capítulo 2
1. Ave do Paraíso


Notas iniciais do capítulo

Obrigada Daiana Caster e lolo pelos comentários e Megan Lily por favoritar esta história! ♥

Sobre os títulos dos capítulos: são flores que possuem um significado - o que eu adoro.



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Ave do Paraíso

excitação e antecipação

 

Bento entrou na van e sorriu para Giane no passageiro, enquanto lhe entregava uma revista de moda com Amora na capa. Giane fez careta ao ver as caras e bocas da amiguinha de infância.

— O que é isso, Bento? - perguntou bufando. O amigo riu.

— Para você. - ele respondeu achando graça de sua expressão irritada. Giane era uma menina bonita (ênfase em menina), que ficava ainda mais bonita irritada. A pureza e a raiva contrastavam em seu rosto… era bonito e ele sabia que era errado, mas Giane era uma flor que ainda precisava desabrochar, só precisava de sol e cuidados.

— Quem gosta dessazinha aí é você! - Giane retrucou, enfiando a revista em seu moletom de qualquer jeito. Depois daria para alguma menininha que se interessasse por essas coisas, porque ela não tinha a menor paciência para isso, mas, talvez, pudesse dar uma olhada, para saber sobre o que se tratava. Repensou na hora, daria para alguém. - Vamos logo que ainda temos entregas para fazer ou se esqueceu que temos que trabalhar?

Bento só assentiu e começou a dirigir.

 

x

 

O flashmob já estava a todo vapor quando Fabinho conseguiu chegar. Preferiu ir de ônibus, porque nunca sabia quando precisaria correr com aquela maloqueira que puxava briga com qualquer um que a olhasse torto e conhecia a rede de amigos de Bento: o lugar ia estar lotado de gente. Não que Fabinho não concordasse com o amigo, Bluma Lancaster não era flor que se cheirasse e ele sabia disso em primeira mão.

Ele ainda tinha visões das humilhações que sofreu, de ser quase expulso do apartamento de Camila Lancaster quando ficaram juntos, nenhum dos dois estava interessado em algo duradouro, só diversão, mas para a riquíssima Bluma Lancaster, aquilo era a derrocada de sua filha. Camila pediu inúmeras desculpas depois, mas preferiram evitar a fadiga que era bater de frente com a mãe dela, não compensava.

Procurou os amigos pela multidão. Viu Bento segurando Amora quase como se fossem uma capa de romance barato, os dois com os olhares fixos e com a expressão de surpresa, um não esperava o outro ali.

Só que Amora não estava ali para ajudar no protesto, isso era óbvio. Fabinho pensou em como aquilo parecia amor proibido, tinha até um noivo para a mocinha encantada pelo homem que não podia ter.

Era nessas horas que Fabinho agradecia não ser apaixonado por Amora, que louvava aos céus por ter percebido a boa bisca que aquela dali era… Foi mais fácil ao vê-la todos os dias, fingindo ser quem não era para garantir sua permanência no topo da cadeia alimentar. Não suportava essa mulher, mas respeitava sua capacidade de ludibriar quem quer que fosse para conseguir o que queria.

Enquanto ela se afastava com o noivo (Fabinho agradeceu que Maurício não notou sua presença ali. Como se o filhinho de papai notaria um dos estagiários do pai em um protesto contra uma empresa que tinha contratado a Class Mídia para fazer a propaganda), ele viu Giane pular nos ombros de Bento enquanto fazia barulho, incomodando as pessoas que entravam no evento. Riu ao ver que aquela maloqueira quase caiu de tanto que se mexia nos ombros do amigo e se aproximou.

— Vocês juntaram pessoas muito rápido. - comentou, enquanto Giane descia dos ombros de Bento e o encarava com um sorriso debochado.

— Nunca ouviu falar de internet não, Fraldinha? - Giane debochou e ele revirou os olhos puxando o capuz do moletom dela para lhe cobrir a cabeça.

— Então, Bento, sua rede de amigos está cada vez melhor. - frisou o nome do amigo, enquanto Giane revirava os olhos. - Isso vai mostrar para a senhora Lancaster.

— Eu só quero que ela entenda que não é certo o que ela está fazendo! Que ela perceba que seu empreendimento neste local não será benéfico para a comunidade! - Bento começou seu discurso de menino bom que às vezes incomodava o melhor amigo. Egoísmo às vezes era necessário para se manter são.

— Um dia ele vai salvar o mundo… - Fabinho comentou com Giane que riu.

— Ou vai morrer tentando. - ela completou e Bento os encarou como se os achasse muito céticos.

— Que nada, ele vai acabar nos matando. - Fabinho lembrou e a florista assentiu, enquanto Bento os abraçava pelos ombros.

— Ei! Que isso, eu sei me defender! - se soltando do abraço, ele se voltou para os amigos com um sorriso enorme. - Se bem que eu acho muito engraçado essa mania de bancarem meus pais que vocês têm às vezes.

— Que pai o quê! - Fabinho comentou, observando os arredores, abrindo um sorriso ao notar algumas pessoas no local. - Olha, eu sei que é protesto e tudo o mais, tem todo o meu apoio, mas eu vou aproveitar para distribuir o amor… Me disseram que está em falta no mundo.

Fabinho saiu piscando enquanto Giane parecia extremamente irritada e Bento gargalhava da atitude de seu melhor amigo.

— E você acha graça, Bento?

— Fabinho só faz isso para fingir que não se importa. Você também faz dessas. - Bento deu de ombros.

— Eu nunca saio falando que vou distribuir amor por aí! - ela se defendeu cruzando os braços.

— Mas se saísse, eu estaria no primeiro lugar da fila. - Douglas disse enquanto ela fazia uma expressão azeda e saía batendo o pé. - Garota difícil!

— Está para nascer o homem que vai conseguir controlar essa daí. - Jonas comentou e Douglas assentiu a contragosto e Bento se pegou pensando que talvez o cara certo a amasse exatamente pela personalidade complicada dela.

Mesmo que tivesse horas que ele desejasse uma sócia e amiga mais fácil de lidar, porque às vezes Giane era impossível de lidar e controlar, isso sem considerar algumas de suas grosserias sem intenção.

Faltava Giane amadurecer, só isso. E quando isso acontecesse, Bento sabia que ela seria uma mulher apaixonante.

 

x

 

Giane caminhava pelo protesto, cumprimentando conhecidos e estimulando as pessoas. Notou uma galera do grafite e se aproximou para conversar com uns conhecidos quando foi puxada com força por um segurança.

— Não vai depredar o patrimônio aqui não, moleque. - o homem lhe disse enquanto Giane brigava para se soltar.

— Me solta, cara! - ela gritou, virando e cotovelando o segurança que automaticamente lhe soltou, mas outro lhe segurou.

— Você vem conosco, moleque. - o outro segurança lhe disse enquanto era arrastada, esse movimento fez com que o capuz de seu moletom caísse e ela fosse revelada como a garota que era.

— Você está me machucando, cara. - Giane se soltou com um puxão e bufou, o cabelo estava soltando de seu amarrilho. O rosto vermelho e a aparência de quem estava pronta para começar uma briga. Os seguranças se assustaram ao perceber que ela era uma garota e Giane controlou a vontade de rosnar para estes homens idiotas.

— Está tudo certo por aqui? - Fabinho veio correndo até eles com uma expressão zangada.

— Esta... menina estava indo depredar o prédio. - o tom condescendente do segurança irritou mais ainda Giane, mas Fabinho lhe segurou pelo braço discretamente. Conhecia a amiga desde pequeno e sabia que aquela maloqueira não prestava e era facilmente inflamável para puxar uma briga.

Giane não se ajudava, lógico. Ela estava sempre pronta para briga e não parecia se importar com quem feriria, se tivesse que brigar. Tinha horas que ele queria amarrá-la e trancá-la em casa para evitar a fadiga.

— Ah, é a minha irmã. - Fabinho disse apertando com um pouco mais de força o braço de Giane para que ela entrasse na história. - Esta idiota está afim daquele carinha ali. - ele apontou na direção de um dos grafiteiro. - Mas ela é nova demais para ele.

— Você é irmão desta mocinha? - o segurança parecia desconfiado, mas Fabinho agradeceu não ter se lembrado de se barbear pela manhã.

— Mas é claro. Minha irmã mais nova, viemos aqui acompanhar meu amigo e ela se afastou de mim… - ele suspirou cansado. - Mas já vamos para casa, né, Rosa? - ele disse como se desse uma bronca na amiga que bufou irritada. Giane não era uma mocinha tonta, uma menininha que precisasse ser salva.

Principalmente ser salva por Fabinho, que depois ia ficar jogando na cara.

Antes que os seguranças retrucassem, Fabinho saiu arrastando Giane para o outro lado. Quando já estavam fora da visão dos seguranças, ele a soltou e a encarou sério.

— Podia não ter se envolvido em treta, moleque? - Fabinho perguntou cruzando os braços.

— Eu não fiz nada, aquele cara que veio me agarrando do nada, aí me defendi. Acho que eles estão com medo de dar merda, aí me pegaram. - Giane imitou o gesto do amigo e mantendo o olhar fixo no dele. - Só não entendi o por quê.

— Deve ser porque você é a representação física da encrenca, maloqueira. - Fabinho pôs uma das mãos no ombro de Giane e então começou a rir. - Cara, você quase apanhou de um segurança em um protesto pacífico!

A hilaridade da situação era tanta que Giane o acompanhou em um riso frouxo. Um encarando o outro enquanto riam em meio a pessoas que dançavam.

Uma chuva fina começou a molhar as pessoas de São Paulo, já acostumada a uma chuva de fim de tarde. Fabinho recolocou o capuz do moletom em Giane com uma expressão entediada.

— Ainda vai ficar doente, tranqueira? - ele perguntou e ela empurrou as mãos do amigo de si. - O que o Bento vai me dizer se ele descobrir que eu te deixei ficar doente, hein?

— O Bento não vai dizer nada e… - Giane parou no meio da frase, notando que tinham perdido o amigo no meio da multidão. - Cadê o Bento?

— O Bento é grandinho, Giane. Ele volta para casa, tenha certeza. - Fabinho mordeu os lábios não resistindo à oportunidade de incomodar a amiga. - Talvez não sozinho. - ele acrescentou com um sorriso sacana nos lábios e Giane revirou os olhos.

— O Bento não é como você, não. - ela defendeu o amigo e Fabinho a encarou com uma expressão de deboche.

— Nem como você, moleque. - ele lembrou e Giane lhe mostrou a língua. - Se eu não soubesse em primeira mão, diria que você nunca beijou alguém. - ele riu ao notar o rubor da amiga. - Você é muito inocente, cara.

— E você é um cretino, safado e… - ela começou a atacar, até perceber o que ele tinha dito, então murmurou segurando seu braço. - Você prometeu nunca dizer nada sobre aquilo, Fabinho.

Fabinho pensou em continuar falando, mas sabia que a situação deixava Giane desconfortável e ele nunca levou aquilo a sério, foi uma coisa que aconteceu sem querer e que quase destruiu a convivência dos dois. Apesar de achar Giane uma pessoa difícil, não queria perder uma das poucas pessoas que eram realmente sinceras com ele, uma das poucas pessoas que lhe diziam quando ele fazia merda.

— Eu disse alguma coisa? - ele se fez de desentendido e olhou ao redor. A chuva engrossava e algumas pessoas começavam a ir embora. - Vamos para casa, maloqueira. Não quero pegar um resfriado por sua culpa.

— Espera! Deixa eu avisar o Bento, aí levamos a van! - Giane pegou a chave de seu bolso da frente e sacudiu na frente de Fabinho.

Conforme ela foi pegar seu celular, a revista que Bento lhe deu caiu do bolsão de seu moletom. Fabinho se abaixou para pegar a revista e arregalou os olhos. Uma revista levemente molhada, mas que mostrava uma verdade que Fabinho não sabia se queria saber.

— Fabinho, o que foi? - Giane perguntou confusa.

Sem dizer uma palavra, Fabinho virou a revista para Giane. A página aberta mostrava Irene – mais de 20 anos mais nova – do lado do cineasta Plínio Campana, com uma legenda que sobre o noivado relâmpago dos dois. Giane pegou a revista de Fabinho e a fechou, enfiando novamente em seu moletom e depois segurou na mão do amigo e o conduziu até a van da Acácia. Quando estavam lá dentro, Giane se virou para Fabinho não se contendo mais.

— O que você vai fazer? - ela perguntou e Fabinho pôs o cinto de segurança do passageiro lentamente quase em transe.

— Eu não sei. - ele respondeu e então piscou algumas vezes antes de voltar a si. - Vou mandar mensagem para o Bento, avisando que já fomos para casa.

Giane assentiu e começou a dirigir. A verdade se aproximava e rápido, principalmente porque estava atrasada em mais de 20 anos.

 

x

 

Douglas viu Giane e Fabinho caminhando juntos e suspirou cansado. A garota sempre corria atrás de Bento ou Fabinho, sempre preferindo os dois aos outros – por mais que negasse, dizendo que a relação com Fabinho era de eterna zoação e que eles se suportavam por dividir o mesmo melhor amigo, ele conseguia ver que o Fabinho era amigo de Giane.

— Ela diz que não suporta o cara, mas está indo para casa com ele. - comentou com Jonas, que revirou os olhos.

— Eles dizem isso da boca para fora. E você sabe disso. - Jonas pôs os braços ao redor dos ombros do amigo. - Esquece a Giane, meu. Ela não vai dar condição nunca para você.

— Se ela olhasse para o lado, veria alguém que quer fazê-la feliz.

Bento se aproximou dos dois confuso.

— Ué, cadê a Giane e o Fabinho? - perguntou, mas antes que os dois pudessem responder, seu celular vibrou, sorriu lendo a mensagem. - Foram para casa e levaram a van, acho que é nossa deixa também.

— Bento, você não acha estranho a Giane e o Fabinho tão amiguinhos? - Douglas perguntou e Bento riu.

— Douglas, a Giane é uma irmã mais nova para nós dois, eles só ficam de implicância porque não resistem. - ao perceber a expressão tristonha do rapaz, ele complementou. - Eu sei que você tem interesse na Giane, só que você não precisa ter ciúmes nem de mim, nem do Fabinho.

Jonas conteve o comentário de que Douglas devia ter ciúmes de Bento, não queria ser ele a expôr os sentimentos da amiga. Só Deus sabia o que ela lhe faria se abrisse a boca. Sem contar que Douglas parecia mais tranquilo com a afirmação de Bento e não queria que o amigo encarasse uma realidade que nunca poderia ter.

Giane não daria condição para Douglas nunca. Ela nem pensava que o interesse do amigo era mais do que fogo por ela ser uma das poucas meninas que os cercavam. Ela sequer notava quão bonita era!

 

x

 

Giane estacionou a van e encarou Fabinho com uma expressão que mostrava sua incapacidade de oferecer ajuda. Abriu um sorriso triste e pegou uma das plantas que ainda estavam dentro do veículo, uma ave do paraíso e lhe entregou. Ele sorriu como se questionasse o significado.

— Irene ama aves do paraíso. Ela vai ficar feliz em receber uma. - disse simplesmente e Fabinho sorriu.

— Morro de medo pela minha mãe. - ele a encarou se aproximando discretamente de sua motorista.

— Eu também. - Giane sussurrou e se aproximou um pouquinho e então lhe deu soquinho no ombro e deu um sorrisinho torto. - Mas vai para casa que amanhã os dois pegam no batente cedo.

Desceram do carro e cada um foi para seu lado. Não havia nada que pudesse ser dito. Os dois sabiam muito bem disso.

— Viu como você precisava de mim para evitar que fosse presa? - Fabinho perguntou de seu portão. Giane fez uma careta ao ouvir tal comentário.

— Eu não sou uma donzela em perigo, filhinho da mamãe.

— Não, mas precisa de salvação. - Fabinho retrucou e entrou em sua casa, deixando Giane com uma expressão irritada.


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Notas finais do capítulo

Que tal?