Aprendendo a Recomeçar escrita por Lelly Everllark


Capítulo 26
Epílogo I.


Notas iniciais do capítulo

Olá amores!
Voltei que nem o flash dessa vez e com o epílogo da história, espero mesmo que gostem, não vou me despedir ainda, a gente se vê nas notas finais.
BOA LEITURA :3



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“O meu amanhecer tem o cantar do galo

O cheiro do mato com gota de orvalho

E é tão gostoso beber um café

Olhando o sol nascer

 

Pego meu cavalo e saio pelo pasto

Toco meu berrante apartando o gado

Sei que sou caipira, mas vivo melhor

Morando aqui no mato”

Vivendo Aqui No Mato — Trio Parada Dura.

  - José Augusto – Theo diz pela milésima vez e reviro os olhos fazendo todo um malabarismo para levantar do sofá. Ele me ajuda todo prestativo e faço uma careta quando minhas costas reclamaram pelo peso da barriga.

  Eu havia completado nove meses a dois dias e todos estavam me tratando como uma bomba prestes a explodir, na verdade era mais ou menos isso que eu me sentia mesmo, como se fosse explodir a qualquer momento. Mas como meu pequeno não parecia estar fazendo nenhum movimento para sair de onde estava eu só podia esperar e continuar sentindo dor.

  - Ele não vai ter José no nome, Theo. Desiste. Vai ser só Augusto e pronto.

  - E por que não José que é o nome do meu avô? E só Augusto que é o nome do seu?

  - Por que não chamá-lo de Zé e isso pra mim é o fim da picada – reclamo indo até a cozinha em passos de tartaruga atrás de um copo de água. Nós estávamos nessa discussão interminável sobre o nome do bebê há quase dois meses.

  - E se eu te prometer que não vão chamá-lo assim? – ele pergunta me servindo a água que eu aceito de bom grado.

  - Você não pode me prometer isso. Só desista de uma vez.

  - Não – ele sorri diante da minha cara feia e me dá um selinho. Theo toca minha barriga e o pequeno se anima todo sob seu toque, chega a ser desconfortável. – Oi campeão, como está hoje? Eu e sua mãe ainda não decidimos seu nome...

  - Decidimos sim – o interrompo depois de beber minha água e ele finge não ouvir.

  - Ainda não decidimos, mas não se preocupe, quando você sair daí já vai estar tudo resolvido, prometo. Não incomode muito sua mãe, Ok? Amo vocês.

  - Também te amamos, mas acho que vou tentar dormir um pouco, toda dolorida.

  - Mas está se sentindo bem? – ele pergunta preocupado e sorrio fazendo que sim com a cabeça.

  - Estou. É dor nas costas, no pé e algumas cólicas que vem de vez em quando, esse menino nem cabe mais na minha barriga, acho que é só isso, falta de espaço. Vou lá tirar meu cochilo, pode ir trabalhar. Daqui a pouco Alice ou tia Beth aparecem aqui pra checar se eu estou bem a cada segundo.

  - Ok então, vou lá, mas daqui a pouco volto também, não gosto de deixá-la sozinha.

  - Tudo bem – digo sorrindo e começando minha peregrinação escada acima, quase cogitei a ideia de colocar uma cama no escritório no último mês, quase.

  Arrastei-me até o quarto e consegui me deitar sem maiores problemas, até por que o difícil não era deitar e sim achar uma posição confortável. Depois de intermináveis minutos eu finalmente consigo me acomodar.

  - José Augusto, em? – pergunto a ele que se acalmou um pouco. – Acho que não é tão ruim assim, mas não diga ao seu pai. Tirá-lo do sério é a única coisa que podendo fazer esses dias então é só o que tenho feito.

  Rio sozinha me sentindo um ser humano horrível, mas não posso fazer nada, eu tinha sido praticamente proibida por Theo e o resto do pessoal de fazer várias coisas, até meu trabalho de administradora Alice tinha roubado nas últimas semanas para simplesmente me deixar dormir. Eu não estava reclamando das sonecas, só do tédio mesmo, às vezes era insuportável.

  - Mamãe te ama, mas já na hora de sair daí, não acha? – pergunto a ele que dá uma volta dolorosa em minha barriga me fazendo sentar na cama, a dor se vai e respiro fundo. – Vai com calma aí, Guto.

  Dou mais algumas respiradas antes de me deitar outra vez. Dormir. Era só isso que eu vinha fazendo ultimamente, mesmo por que, Alice havia adiado seu casamento em consideração a mim que não estava cabendo em vestido nenhum e com os pés mais inchados que bolas de futebol. Ela e Hugo viram que a casa demoraria mais que o esperado então tinham pensado em casar antes dela terminar mesmo, porém como eu não tinha disposição pra nada nos últimos meses eles meio que desistiram da ideia e resolveram ir com calma mesmo e esperar a casa terminar para se casarem, por que aí eu e ela poderíamos dar a louca organizando o casamento, por que se no meu ela surtou, agora Alice está quase histérica. Seria quase engraçado de ver se não fosse eu a pessoa obrigada a aturá-la.

  Estou quase dormindo quando sinto uma cólica assustadora. Sento-me na hora e minhas costas reclamam, tudo dói e respiro fundo me arrastando da cama para ficar em pé, mesmo que meus pés inchados discordem, em pé é a melhor posição pra mim nos últimos tempos. Ando pelo quarto tentando respirar normalmente como o médico ensinou e dor vai passando, ele me disse que não seriam incomuns contrações ou cólicas nessas semanas finais, mas nunca me disse que elas poderiam ser tão desconfortáveis.

  Quando dou mais um passo entro em pânico ao sentir o liquido quente e pegajoso escorrer entre minhas pernas.

  - Não, não, não, não... – vou murmurando sem acreditar, isso não pode estar acontecendo, definitivamente não pode! Um bebê não nasce assim do nada, nasce? – Guto, por favor... – choramingo apertando a barriga quando outra onda de dor parece que vai me rasgar ao meio me atinge. – Seu encrenqueirozinho por que não me avisou com mais antecedência que queria sair? Pra eu me preparar psicologicamente? Merda!

  Não tem ninguém aqui e eu não conseguiria descer as escadas nem se quisesse, e é por isso que vou até a janela.

  - Theo! – berro para o jardim por que alguém vai ter que me ouvir. Qualquer um. – Merda, Theo! – gritou outra vez e agarro a janela quando uma onda de dor me atinge.

  Não posso nem ligar pra ninguém, ou pra uma ambulância já que meu celular não funciona e o telefone está lá no escritório, maldita hora em que não me mudei pra lá, se eu tivesse lá embaixo nada disso estaria acontecendo.

  - Lilly!? – meu marido surge com Hugo e minha careta é o suficiente para os dois correrem em direção a casa. Eles não gastam nem cinco minutos para me alcançar. Theo vem até mim e me agarro a sua camisa. – Ai meus Deus! Você está bem, o que acontecendo?

  - O que você acha!? – rosno. – Seu filho está nascendo.

  - Aqui e agora?

  - É claro que é aqui e agora, faz alguma coisa, Theo!

  - Você ligou pra ambulância?

  - Eu? – pergunto irônica. – Você acha mesmo que eu consegui sai desse quarto desde que seu filho começou a tentar me rasgar ao meio!?

  - Hugo – meu marido se vira para o amigo que parece ter se transformado em uma estatua de cera nos encarando da porta. Homens são uns frouxos mesmo. – Hugo, aí ainda?

  - Tô — ele balança a cabeça como se pra acordar e agarro o braço de Theo quando outra contração vem. – Do que precisa?

  - Que vá até o telefone e ligue pra ambulância, depois vai achar minha mãe. E pelo amor de Deus, corre! Vai, agora! – Hugo não precisa de um segundo pedido antes de sumir correndo.

  Meu marido me olha e estamos os dois rindo, é assustador e ainda assim não deixo de rir, uma confusão como essa é a nossa cara.

  - Você quer deitar? Um copo de água? Acho que a ambulância pode demorar.

  - Andar, vamos só andar, me acalma – digo e ele me apóia antes de começarmos a nos mover pelo quarto.

  - Como você não percebeu que estava em trabalho de parto? – ele pergunta segurando o riso e lhe dou um tapa – Ai! Que foi? Só estou curioso pela resposta.

  - Você por acaso já esteve em trabalho de parto? – pergunto irônica e ele nega com a cabeça, confuso.

  - Claro que não.

  - Pois é, eu também não! Então não tinha como saber, as dores de ontem eram mais tranquilas.

  - Ontem, Cordélia? Como assim ontem? Por que não me disse nada!?

  - Por que sabia que você ia surtar, exatamente como fazendo agora. E iria me arrastar para o hospital.

  - E não teria sido melhor? Por que ai não estaríamos aqui, agora.

  - Você fica quieto! Não tem direto de opinar! – reclamo apertando seu braço mais uma vez e ele faz careta.

  Quando outra contração me atinge tenho quase certeza de que não vai chegar ninguém, Guto quer sair e nada vai impedi-lo de fazer isso.

  - Acho melhor eu deitar – murmuro depois de me recuperar da onda de dor. – Tipo, agora.

  - Ok – Theo me pega no colo e me põe na cama, estou meio sentada meio deitada e a dor parece que vai mesmo me rasgar ao meio. – Posso? – ele indica o meio das minhas pernas e tenho vontade de rir.

  - Óbvio que sim, só faz alguma coisa – peço fechando os olhos e agarrando os lençóis. Ninguém tinha me dito que doía tanto. Sinto quando ele tira minha calcinha e abro os olhos só para encontrar os arregalados de Theo. O medo me invade em proporções gigantescas.

  - O que foi? Alguma coisa errada? Theo! – ele me olha outra vez, o choque dando lugar à felicidade, ao divertimento e me enchendo de alívio.

  - Ele não parece disposto a esperar. Você acha que pode fazer isso?

  - Eu já fazendo isso! – reclamo e ele sorri apertando minha mão.

  - Está, por que é forte, e incrível e aparentemente vamos ser nós dois a trazer nosso filho ao mundo. Esta preparada?

  - Não – murmuro em pânico. – Será que ele não quer passar mais algum tempo aí não?

  - Não, ele não quer, tenho certeza, eu já posso ver a cabeça. Vamos Lilly, você consegue, é uma guerreira. Força.

  Encaro seus olhos azuis que tanto amo e sua determinação me dá forças, ele está comigo, sempre esteve. Theo é meu amor, mas não é só isso, ele é meu amigo, companheiro, é parte da minha vida, e tê-lo aqui, agora, é único e especial.

  Queria poder segurar sua mão, mãos no momento ele precisa delas para amparar nosso pequeno tesouro que não quis esperar para vir ao mundo. Agarro os lençóis, cerro os dentes e quando outra onda de dor me invade faço força, e de novo e outra vez até não conseguir nem mesmo tirar a cabeça do travesseiro.

  - Só mais uma vez – Theo pede e quero dizer a ele que não consigo, mas o olhar apaixonado que ele me dirige me dá forças. Por eles eu posso fazer mais, sempre mais. E é só por isso que dou um último empurrão para logo em seguida escutar o chorinho agudo que preenche o quarto.

  Abro olhos só para ver Theo segurá-lo, uma coisinha pequena e exigente, coberta de sangue e do nosso amor, meu marido enrola nosso filho em um lençol e o estende a mim, ainda estamos ligados pelo cordão umbilical, mas não vejo problema nisso, deixe que ele ainda seja parte de mim por alguns minutos. O seguro com lágrimas nos olhos.

  - Ele é lindo, perfeito – digo tocando sua mãozinha, o choro já cessou, ele parece quase tranquilo, como se soubesse que não tem nada temer.

  - Sim, ele é, exatamente como a mãe – Theo se aproxima e me beija a testa – Você foi incrível.

  - Eu sei – digo rindo, nem me lembro mais da dor. Só sinto amor, puro e simples. – Diga “Oi” ao papai, José Augusto.

  - Você esta de brincadeira, certo? – ele pergunta rindo e dou de ombros.

  - Se estiver achando ruim, vai ser só Augusto mesmo.

  - Não, não. José Augusto está ótimo.

  - Ai meu Deus! – a exclamação de alguém nos tira de nossa pequena bolha, Theo e eu nos viramos e lá estão – um pouco tarde de mais – tia Beth, Alice, Hugo e até tio Jorge. Minha tia tem lágrimas nos olhos e as mãos sobre o rosto. – Eu não acredito que os dois acabaram de ter um bebê aqui.

  - Acabamos, acredite – digo mostrando-o e eles se aproximam. – E a ambulância que você foi chamar, Hugo, cadê?

  Como se ensaiado, ouvimos a sirene ao longe e isso é o suficiente para todos caírem na gargalhada.

  - Agora? – Theo pergunta sem acreditar.

  - Ele é lindo – Alice diz se aproximando e tocando o rostinho ainda sujo do bebê em meus braços. – Oi Guto, eu sou sua madrinha, a gente já bateu vários papos e vamos bater muitos outros. Você é muito perfeito, seja bem-vindo.

  - Eu vou lá receber os paramédicos – tio Jorge diz depois de dar uma boa olhada no neto e Hugo desce com ele.

  Tia Beth e Alice vão pegar as coisas do bebê e restamos eu e Theo no quarto com nosso filho mais uma vez. Não precisamos de palavras, só ficamos lá olhando o rosto gordinho dele e quando o pequeno abre os olhos parcialmente sei que vou ter que ter cuidado com esses meus garotos, por que seus olhos são tão azuis quanto os do pai.

  Se existe alguém mais feliz que eu nesse momento, desconheço. A vida pode realmente ser maravilhosa e encantadora. Pequenos momentos são o que a fazem tão especial. E esse com certeza é um desses momentos, que vão ficar marcados pra sempre em minha memória e em meu coração.


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Notas finais do capítulo

E é isso, acabou...
É com muita satisfação que chego até aqui, que termino mais uma história, eu nem se quer imaginei, quando comecei a escrever Contrato de Amor, que estaria terminando minha terceira história assim, é surreal e incrível.
Eu só queria agradecer a vocês leitores lindos, por lerem, acompanharem, comentarem e me fazerem tão feliz! Obrigada mesmo, vocês são incríveis!
Queria agradecer também – como sempre! – a minha amiga, leitora e melhor designer de capas que conheço obrigada Amanda, você é de mais e com certeza faz os melhores trailers também ♥
Vou deixar um obrigada especial a minha irmã, que se tornou minha leitora que adora me pedir capítulo novo sem nem ter lido o anterior, tanks Michelly, eu reclamo de você, mas te amo de mais!
É simplesmente de mais poder estar aqui, terminando mais uma vez, uma obra minha, alguma dessas loucuras que saem da minha cabeça romântica e apaixonada! Foi muito bom poder chegara até aqui, tiveram atrasos, enrolação, mas consegui, aeee!
E é isso, espero que vocês tenham gostado de acompanhar essa história tanto quanto eu gostei de escrevê-la, obrigada mais uma vez por tudo!
Beijocas e até a próxima, Lelly ♥
PS: Uma curiosidade sobre Aprendendo a Recomeçar, ela foi inspirada naquela música do primeiro capítulo “Ela não gosta de cowboy” do Loubet, eu estava de boa no youtube e ouvi a música por acaso, eu sempre quis escrever algo nesse gênero “cowboy x patricinha” e a música me deu a ideia.
PPS: Eu ainda não vou marcar a história como concluída por que se eu der a louca, talvez eu ainda volte uma última vez kkkk
PPPS(?): Já voltei por que sou muito louca e dessa vez com mais uma história muito fofa cheia de crianças kkkk quem quiser dar uma olhadinha, aí o link:
https://fanfiction.com.br/historia/777149/Confusao_em_Dose_Tripla/



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