Estou comendo a carne dos meus dedos com a fome com que devoro o conhecimento. As teorias que quero acreditar que mais ninguém pode resolver, elas são meu vício. Número após número, fórmula depois de fórmula, resultados e mais e mais e mais resultados. Acho que estou ansiosa, acho que estou exausta, mas não sei e não me importa. Sou uma máquina, sou um prêmio, sou um número nos meus cálculos. Eu poderia ser aquele infinito ou aquele número imaginário. Meu denominador é zero e eu sou uma alma impossível. Acho que Jesus veio por todos menos por mim. Acho que meu inferno é aqui e agora, nesses números congelados, nessa ânsia pela resposta que nenhuma questão jamais busca – e, ao mesmo tempo, é para onde todas convergem. Quero saber, quero ler, quero crer. Tenho fome pelo conhecimento como pela pele em volta de minhas unhas. Estou sangrando e no vermelho do meu sangue existem respostas e números e conclusões que escorrem pelos meus dedos e pingam no papel. Meu sangue agora é grafite e o vermelho está aprisionado numa múltipla escolha. Meus pensamentos ficam presos em variáveis e caminhos de velocidade, minha poesia se transforma em terceira dimensão e então em quarta. Mas a quarta dimensão é distorcida e curvada – por isso que a gravidade se manifesta, parece – e meus pensamentos se distorcem e curvam. Eles me dizem que na quinta dimensão não existe verdade, tampouco ordem ou sequência. E no famigerado impasse do ser ou não ser, me encontrei perdida. Eu era uma linha com infinitos ramos – seria um plano então? – cada ramo era uma possibilidade. Eu era maior do que minha mente jamais poderia imaginar e eu sou um número impossível. Se não posso compreender, sou impossível, e não existo. Se não existo, não escrevo. Se não escrevo, não existo.

Não há mais carne para devorar, e acho que não sangro mais.