Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 50
Uma velha amizade




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Sam parou diante do belo teatro Chinês de Los Angeles. Sabia que encontraria Jade ali. Ela estava produzindo uma peça bastante comentada.

Ao adentrar ao recinto, Sam encantou-se ainda mais com o esplendor da parte interna. Avistou um rapaz passando com fios nas mãos e perguntou:

— Ei, você conhece Jade West?

— Ah, sim. A chefe está ali atrás, na coxia.

Sam apressou-se e logo viu Jade, com um fone de ouvido com microfone, disparando ordens a atores que se esforçavam na marcação da cena.

Não demorou para Jade perceber a presença de Sam, que lhe fitava fixamente.

Jade ordenou:

— Descanso! – e caminhou até Sam – Não imaginei te ver novamente, Puckett – com a expressão raivosa que já lhe era característica.

— Também não imaginei que nosso reencontro fosse para logo, mas a vida tem as suas armadilhas.

— O que quer? Não somos mais amigas e você sabe muito bem o motivo. Deveria me agradecer e me deixar em paz, porque não fiz com a sua filha o que eu tinha muita vontade.

— Isso faz tanto tempo, Jade...

— Pra você, que não viu seu filho arrasado, tentando se atirar da ponte, em depressão...

— Eu entendo, Jade, de verdade e lamento...

— Você lamenta! Nossa, me sinto muito melhor agora – com ironia.

— Seu filho já superou, mas parece que você não...

— Qual foi? Veio aqui só para me irritar?

— Eu não tenho tempo pra isso, se vim é porque o motivo é importante.

— Então, desembucha e vaza. Não quero ver mais a sua cara ou de qualquer um da sua família.

— Só lamento, porque ainda iremos nos ver muito. Pode ser do jeito fácil, se você estiver disposta, ou do difícil, o que vai ser pior para todo mundo, especialmente para os nossos filhos...

— Meus filhos não têm mais nada a ver com os seus.

— Claro que não, apenas o fato de que terão um bebê juntos.

— Isso é impossível! Isabelle teve gêmeos com Cristopher, estão casados, felizes, mesmo que tenham feito a desgraça do meu filho, não é?

— E o seu filho está feliz com a minha sobrinha Mabel, que está grávida, e que tem o meu sangue, olha só – ironizou Sam.

— Então, de onde tirou essa loucura?

— Sua filha Sarah espera um bebê do meu filho Nick.

Jade sentiu o sangue fugir-lhe das faces, as pernas bambearem e uma leve vertigem. Foi amparada por Sam, mas logo se recompôs, esbravejando:

— Sua doente! Mentirosa! Vem até aqui para me falar um absurdo desse! O que quer? Vingança?

— Eu não tenho motivo algum para me vingar de você, Jade. Aliás, você que sempre jurou vingança à minha filha e mesmo assim estou aqui querendo conversar civilizadamente.

— Só pode ser mentira! Sarah só tem 17 anos e nem tem namorado, muito menos o seu filho! Ela sabe que até falar da sua família é proibido lá em casa.

— Ela poderia não falar do meu filho, mas que fizeram um bebê juntos, é fato.

— Eu vou tirar essa história a limpo, se for mentira, você vai me pagar caro por mais essa, Puckett.

— Está bem, mas, se for verdade, me procura. Precisamos resolver isso juntas. São duas crianças que vão ter outra criança. Estou aqui como mãe, apenas. Aqui o meu contato – entregando um pedaço de papel com o celular anotado.

Jade não disse nada, mas, ainda atônita, pegou o papel e o guardou.

Em casa, Sarah, mesmo com fone de ouvido, pôde ouvir a porta de entrada batendo com muita força quando Jade chegou. Estranhou, afinal, Beck e Jade costumavam trabalhar até tarde e nunca chegavam em casa naquele horário. Desceu as escadas com uma tesoura na mão. Relaxou quando avistou a mãe.

— Oi, mãe! Que susto, pensei que era um ladrão.

— Se o que eu soube for verdade, você vai desejar que antes fosse um ladrão.

— Não entendi.

— Vou ser direta: Sarah West Oliver, você está grávida?

A moça empalideceu, mas negou:

— Claro que não, mãe! Quem disse isso?

— Não importa. Mas, se você não está mesmo grávida, não vai se incomodar de me acompanhar à minha ginecologista, não é?

— Você está precisando ir à médica, mãe?

— Eu não, mas, você não vai à médica desde que menstruou pela primeira vez, está na hora de um check-up.

— Eu estou muito ocupada, é meu último ano do colégio, tenho que estudar...

— Vou perguntar pela última vez, se estiver mentindo, vou descobrir, então, é melhor que eu saiba pela sua boca. Sarah, você está grávida?

A moça abaixou a cabeça e nada disse.

Jade levantou o rosto da filha, sentindo o sangue lhe ferver:

— Você está, não está? Quero ouvir da sua boca? – alteando a voz.

— Sim, mamãe – chorando.

Jade soltou um tapa no rosto da filha, que intensificou o choro, soluçando.

— Engravidou, não foi? Como se não bastasse, daquela família maldita dos Puckett Benson, que tanto mal fizeram ao seu irmão!

— O problema foi com a Isabelle e não com o Nick.

— Há quanto tempo está de safadeza com esse moleque pelas minhas costas?

— Desde o início da adolescência, mas só quando a gente se via, esporadicamente, não era sério.

Jade ameaçou acertar mais um tapa em Sarah, que se encolheu, mas a mãe recolheu a mão:

— Não era sério e você está de bucho cheio! – esbravejou, atirando um vaso na parede.

— Eu vou resolver isso, mãe.

— O que quer dizer com isso?

— Eu não preciso ter o bebê, já falei com Nick...

— E aquele irresponsável aceitou o fato de você querer tirar o filho dele?

— Ele falou que queria muito que eu tivesse, mas que não podia mandar no meu corpo.

Jade não falou mais nada, dirigiu-se às escadas. A filha perguntou:

— Mãe, o que quer que eu faça?

— Eu preciso pensar – subindo.

No quarto, Jade pegou o celular e ligou para Sam, que já aguardava a ligação. As duas marcaram um encontro no shopping.

Cumprimentaram-se cordialmente e sentaram-se numa mesa na Praça de Alimentação. Pediram dois cafés.

Jade começou:

— Agora me diga: O que vai fazer para resolver a confusão que seu filho aprontou?

— Peraí, meu filho não aprontou essa sozinho. Precisamos resolver isso juntas.

— Seu filho é mais velho que a minha filha.

— Ora, quando um não quer, dois não brigam, ou melhor, não fazem um filho.

— Ela foi seduzida.

— Jade, eu com a idade dela já estava grávida e você só com um ano a mais, sabemos que não éramos tão inocentes assim.

— Minha filha vai para a faculdade ano que vem! E agora?

— Meu filho está desempregado. Devolvo a pergunta: E agora?

— Ele que vá arrumar um trabalho para sustentar o filho. É formado, não é?

— Estamos nos entendendo. Pelo visto, concordamos que essa criança deve nascer.

— Eu não disse isso.

— Jade, vai ter coragem de mandar matar o seu neto? Eu sei que por trás de todo gelo aparente bate um coração. Você não se desfez do Rick quando tinha só um ano a mais que sua filha. Ainda assim, estudou, se formou, trabalhou...

— Eu tive apoio da minha mãe.

— Bingo! Já passamos pela mesma situação. Vamos simplesmente apoiá-los. Com a nossa ajuda, eles vão conseguir.

Jade voltou para casa mais calma, sentiu-se reconfortada por Sam. Entendeu que mesmo negando tal sentimento, sentia saudade da amizade de Sam. Eram tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes, mas uma entendia a outra tão bem como ninguém mais. Afastou os pensamentos ainda reforçando o velho rancor e subiu. Precisava de um banho e de algumas horas de sono.

Os meses foram passando...


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