Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira
Sam parou diante do belo teatro Chinês de Los Angeles. Sabia que encontraria Jade ali. Ela estava produzindo uma peça bastante comentada.
Ao adentrar ao recinto, Sam encantou-se ainda mais com o esplendor da parte interna. Avistou um rapaz passando com fios nas mãos e perguntou:
— Ei, você conhece Jade West?
— Ah, sim. A chefe está ali atrás, na coxia.
Sam apressou-se e logo viu Jade, com um fone de ouvido com microfone, disparando ordens a atores que se esforçavam na marcação da cena.
Não demorou para Jade perceber a presença de Sam, que lhe fitava fixamente.
Jade ordenou:
— Descanso! – e caminhou até Sam – Não imaginei te ver novamente, Puckett – com a expressão raivosa que já lhe era característica.
— Também não imaginei que nosso reencontro fosse para logo, mas a vida tem as suas armadilhas.
— O que quer? Não somos mais amigas e você sabe muito bem o motivo. Deveria me agradecer e me deixar em paz, porque não fiz com a sua filha o que eu tinha muita vontade.
— Isso faz tanto tempo, Jade...
— Pra você, que não viu seu filho arrasado, tentando se atirar da ponte, em depressão...
— Eu entendo, Jade, de verdade e lamento...
— Você lamenta! Nossa, me sinto muito melhor agora – com ironia.
— Seu filho já superou, mas parece que você não...
— Qual foi? Veio aqui só para me irritar?
— Eu não tenho tempo pra isso, se vim é porque o motivo é importante.
— Então, desembucha e vaza. Não quero ver mais a sua cara ou de qualquer um da sua família.
— Só lamento, porque ainda iremos nos ver muito. Pode ser do jeito fácil, se você estiver disposta, ou do difícil, o que vai ser pior para todo mundo, especialmente para os nossos filhos...
— Meus filhos não têm mais nada a ver com os seus.
— Claro que não, apenas o fato de que terão um bebê juntos.
— Isso é impossível! Isabelle teve gêmeos com Cristopher, estão casados, felizes, mesmo que tenham feito a desgraça do meu filho, não é?
— E o seu filho está feliz com a minha sobrinha Mabel, que está grávida, e que tem o meu sangue, olha só – ironizou Sam.
— Então, de onde tirou essa loucura?
— Sua filha Sarah espera um bebê do meu filho Nick.
Jade sentiu o sangue fugir-lhe das faces, as pernas bambearem e uma leve vertigem. Foi amparada por Sam, mas logo se recompôs, esbravejando:
— Sua doente! Mentirosa! Vem até aqui para me falar um absurdo desse! O que quer? Vingança?
— Eu não tenho motivo algum para me vingar de você, Jade. Aliás, você que sempre jurou vingança à minha filha e mesmo assim estou aqui querendo conversar civilizadamente.
— Só pode ser mentira! Sarah só tem 17 anos e nem tem namorado, muito menos o seu filho! Ela sabe que até falar da sua família é proibido lá em casa.
— Ela poderia não falar do meu filho, mas que fizeram um bebê juntos, é fato.
— Eu vou tirar essa história a limpo, se for mentira, você vai me pagar caro por mais essa, Puckett.
— Está bem, mas, se for verdade, me procura. Precisamos resolver isso juntas. São duas crianças que vão ter outra criança. Estou aqui como mãe, apenas. Aqui o meu contato – entregando um pedaço de papel com o celular anotado.
Jade não disse nada, mas, ainda atônita, pegou o papel e o guardou.
Em casa, Sarah, mesmo com fone de ouvido, pôde ouvir a porta de entrada batendo com muita força quando Jade chegou. Estranhou, afinal, Beck e Jade costumavam trabalhar até tarde e nunca chegavam em casa naquele horário. Desceu as escadas com uma tesoura na mão. Relaxou quando avistou a mãe.
— Oi, mãe! Que susto, pensei que era um ladrão.
— Se o que eu soube for verdade, você vai desejar que antes fosse um ladrão.
— Não entendi.
— Vou ser direta: Sarah West Oliver, você está grávida?
A moça empalideceu, mas negou:
— Claro que não, mãe! Quem disse isso?
— Não importa. Mas, se você não está mesmo grávida, não vai se incomodar de me acompanhar à minha ginecologista, não é?
— Você está precisando ir à médica, mãe?
— Eu não, mas, você não vai à médica desde que menstruou pela primeira vez, está na hora de um check-up.
— Eu estou muito ocupada, é meu último ano do colégio, tenho que estudar...
— Vou perguntar pela última vez, se estiver mentindo, vou descobrir, então, é melhor que eu saiba pela sua boca. Sarah, você está grávida?
A moça abaixou a cabeça e nada disse.
Jade levantou o rosto da filha, sentindo o sangue lhe ferver:
— Você está, não está? Quero ouvir da sua boca? – alteando a voz.
— Sim, mamãe – chorando.
Jade soltou um tapa no rosto da filha, que intensificou o choro, soluçando.
— Engravidou, não foi? Como se não bastasse, daquela família maldita dos Puckett Benson, que tanto mal fizeram ao seu irmão!
— O problema foi com a Isabelle e não com o Nick.
— Há quanto tempo está de safadeza com esse moleque pelas minhas costas?
— Desde o início da adolescência, mas só quando a gente se via, esporadicamente, não era sério.
Jade ameaçou acertar mais um tapa em Sarah, que se encolheu, mas a mãe recolheu a mão:
— Não era sério e você está de bucho cheio! – esbravejou, atirando um vaso na parede.
— Eu vou resolver isso, mãe.
— O que quer dizer com isso?
— Eu não preciso ter o bebê, já falei com Nick...
— E aquele irresponsável aceitou o fato de você querer tirar o filho dele?
— Ele falou que queria muito que eu tivesse, mas que não podia mandar no meu corpo.
Jade não falou mais nada, dirigiu-se às escadas. A filha perguntou:
— Mãe, o que quer que eu faça?
— Eu preciso pensar – subindo.
No quarto, Jade pegou o celular e ligou para Sam, que já aguardava a ligação. As duas marcaram um encontro no shopping.
Cumprimentaram-se cordialmente e sentaram-se numa mesa na Praça de Alimentação. Pediram dois cafés.
Jade começou:
— Agora me diga: O que vai fazer para resolver a confusão que seu filho aprontou?
— Peraí, meu filho não aprontou essa sozinho. Precisamos resolver isso juntas.
— Seu filho é mais velho que a minha filha.
— Ora, quando um não quer, dois não brigam, ou melhor, não fazem um filho.
— Ela foi seduzida.
— Jade, eu com a idade dela já estava grávida e você só com um ano a mais, sabemos que não éramos tão inocentes assim.
— Minha filha vai para a faculdade ano que vem! E agora?
— Meu filho está desempregado. Devolvo a pergunta: E agora?
— Ele que vá arrumar um trabalho para sustentar o filho. É formado, não é?
— Estamos nos entendendo. Pelo visto, concordamos que essa criança deve nascer.
— Eu não disse isso.
— Jade, vai ter coragem de mandar matar o seu neto? Eu sei que por trás de todo gelo aparente bate um coração. Você não se desfez do Rick quando tinha só um ano a mais que sua filha. Ainda assim, estudou, se formou, trabalhou...
— Eu tive apoio da minha mãe.
— Bingo! Já passamos pela mesma situação. Vamos simplesmente apoiá-los. Com a nossa ajuda, eles vão conseguir.
Jade voltou para casa mais calma, sentiu-se reconfortada por Sam. Entendeu que mesmo negando tal sentimento, sentia saudade da amizade de Sam. Eram tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes, mas uma entendia a outra tão bem como ninguém mais. Afastou os pensamentos ainda reforçando o velho rancor e subiu. Precisava de um banho e de algumas horas de sono.
Os meses foram passando...
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