Olha, eu não fazia a menor ideia do tamanho da encrenca em que estava me metendo.

Eu não tinha pista alguma de para onde estávamos indo, por que motivo íamos para esse lugar e por que você me deixou segui-la, assim, DO NADA, sem uma reclamação sequer.

Confesso ter ficado com um pouquinho de medo, embora não fosse deixar claro isso, por motivos óbvios de querer te impressionar. Tudo o que eu sabia é que queria ficar perto de você, porque você fazia o meu tipo e porque eu sou comprovadamente viciado em adrenalina.

No entanto, odeio quando alguém me faz parecer menor do que eu sou. No meu mundo, Punk, eu sou uma celebridade. Crianças e vovós me adoram! Tiram selfies comigo! Me chamam pra filar a boia em festinhas de aniversários por 20 pratas! Entende, o meu ponto? Eu não podia deixar que seu irmão falasse daquele jeito comigo. Mas sabendo que ele não era pra brincadeira, e que, aparentemente, estava do meu lado, fiquei na minha. Só por enquanto.

— Quem é seu pai, afinal? — enfim havia feito a pergunta que borbulhava em meus lábios há horas, desde que esperávamos na recepção do que julguei ser um hotelzão daqueles — Quero dizer… Ele sabe que estamos aqui?

— Ele sabe de tudo, Parker.

— Como assim de tudo?

— Ele sabe de tudo, Parker — você repetiu, impaciente.

— Seu pai é tipo o Papa? Ou o Presidente?

— Mortal, essa é uma boa hora pra ficar calado — Ares surgiu de uma espécie de lavabo, enxugando as mãos em papel toalha — Até em pensamento. Vai por mim. Não adianta me mandar pro Tártaro, lá é meu lugar preferido pra ver shows de rock. Ha-ha! Fique na sua, garoto, pense em pôneis, e fica tudo certo pra você.

— E por que eu faria isso?

— Espera… Acho que não ouvi direito. O que disse?

— Por que eu te obedeceria? Não é como se você mandasse em mim.

— Mortal, acho que você ainda não entendeu direito onde está, com quem está e em que circunstâncias está….

— Ares… — você então hesitou, pedindo-o com jeitinho — Deixe-o em paz, um minuto pelo menos.

— Que seja, vou entrar sozinho!

Mas aí aconteceu a coisa mais bizarra de todas. Quando o deus da guerra empurrou as portas para adentrar o salão principal, escutamos um estrondo. O hotel ruiu de cima a baixo e tive a impressão de ter ouvido trovões. Se não fosse a minha teia, Thalia, estaríamos mortinhos. Omelete de punk e aranha pro jantar.

Você me olhou morrendo de raiva, como se fosse tudo culpa minha, mas não podia ser. Seu irmão esquentadinho que fez isso, tenho certeza. Só que não era o momento de discutir já que estávamos pendurados nos escombros, presos por um triz.

— Isso não pode estar acontecendo…

— Isso o quê? Eu ter salvado sua vida?

— Nem tudo é sobre você, Parker. Droga! Eu disse que mudar do Empire State seria uma péssima ideia!

— Punk, posso te fazer uma pergunta? — perguntei, cheio de receio.

— Pode.

— Por que estamos aqui?

— Não é óbvio? — você riu, aceitando minha ajuda para sentar num bloco de pedra — Reunião de família.

Então, quando achei que não podia ficar mais bizarro, adivinha quem apareceu? Isso mesmo, Thalia, a parte MALUCA da sua família. Gente gritando e discutindo ao mesmo tempo, gente GIGANTE, tipo, maior que o HULK! Mesmo de cima deu pra ver o barraco que se formava.

— Pelo visto, sua família não é tão diferente da minha, afinal.

— A sua também derruba prédios e causa incêndios?

— A tia May já queimou o jantar algumas vezes. Mas estou sempre pronto pra salvá-la, igual eu te salvei.

Aí você me fuzilou com o olhar.

Tipo a Feiticeira Escarlate, só que ainda mais maneira.