Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 65
Invasão do Minus: O Resgate da Bruxa do Azar


Notas iniciais do capítulo

O arco tá esquentando



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Em uma pequena igreja, em um bairro mediano em Montis, Agnes havia conseguido abrigo. Ela se recusava a dormir nas instalações do Minus, acreditava que a aura daquele lugar estava completamente impregnada de sentimentos ruim. Seja do ódio dos caçadores em busca de uma hegemonia que jamais alcançariam, ou das bruxas que ali pereceram com os corações repletos de medo e tristeza. O Minus definitivamente não era um bom lugar para uma bruxa pura estar.

Agnes optou pela igreja porque estava em busca de paz, mas não foi isso aquela alcançou. Atormentada por pesadelos confusos, ela buscava por respostas. Há algumas semanas, ela havia sonhado com o fim do mundo. Os sonhos se repetiram noite após noite de maneiras diferentes, mas sempre com o mesmo resultado. A partir daí, mesmo sem o apoio da igreja, Agnes partiu em busca de uma forma de impedir aquele desastre. No entanto, naquela noite havia sido diferente. Algo havia saído do que ela costumava prever. Catherine não era mais uma arma de destruição marchando em busca do apocalipse, ela era uma prisioneira de algo maior. Algo sombrio.

— O que poderia ser maior do que a bruxa do azar? — Agnes refletia enquanto degustava do café que havia sido servido a ela.

Em um extenso planalto litorâneo nos arredores de Montis, Ivan aguardava a chegada de Blanc. O local era isolado e de difícil acesso, como ele imaginou que seria. Não dava para ter certeza do propósito daquele psicopata, mas mais uma vez era claro que ele não queria testemunhas.

— Espero não tê-lo feito esperar demais — Blanc saía de um dos carros do Minus.

— Onde ela está? — Ivan não estava aberto a conversas.

— Você terá que vir comigo. — Blanc o encarou.

— Você tem como provar que está com a minha filha? — Ivan estava desconfiado. Não se sentia confortável em estar a mercê das vontade de Blanc.

— Entre no carro — Blanc tinha um tom autoritário.

— Acho que devo acionar a justiça — Ivan remexeu em seus bolsos em busca de um telefone — Catherine Gibran não é uma ameaça a sociedade, por esse motivo, você não tem o direito de aprisioná-la.

— Não tenho tempo para lidar com questões burocráticas. Catherine é um perigo para a humanidade  — O general sacou sua espada — E eu preciso de você, para dar um fim a essa ameaça.

— Precisa de mim é? — Ivan estava suando frio — O que pretende? Quer um combate?

— Não seja ingênuo Ivan — Blanc sorriu com escárnio — Não somos mais adolescentes.

Enquanto a conversa corria, um exército de soldados se amontoavam ao redor dos dois. Com um pouco de atenção, ele também notou a presença de 4 navios atracados no porto ao longe.

— Por que trouxe tantos homens? — Ivan estendeu a mão para longe de seu tronco e fez surgir uma enorme alabarda — Eu sou só um caçador aposentado.

— Também não tenho tempo para suas formalidades — Blanc se afastou de Ivan e preparou-se para entrar novamente em seu carro mas foi subitamente interrompido pelo som de várias explosões consecutivas. Surpreso, ele procurava a origem da destruição e então se deparou com a imagem de seus 4 navios em chamas.

Sem oportunidade de identificar o que havia os atacado, Blanc foi forçado a se afastar de seu carro e em seguida assisti-lo explodir diante de seus olhos.

Do meios das chamas que consumiam o veículo, Lya saltou para frente de Blanc.

— Atacar o general do Minus? — Blanc tinha um sorriso aflito em seus lábios — É realmente uma bruxa atrevida.

— Como chefe de segurança da Fortaleza de Otium, tenho obrigação de cuidar da segurança do nosso corpo docente — Assim que terminou sua frase, Lya avançou em direção ao inimigo e o acertou em cheio com um soco no rosto que o fez ser lançado a metros de distância. Sem sequer dar uma chance para que Blanc compreendesse o que o havia atingido, a bruxa seguiu com uma sequência de ataques explosivos que destruíram parte do morro que os sustentavam.

— Espero que você queime no mais profundo inferno — Lya disse com desdém e em seguida cuspiu no chão.

A bruxa se virou de costas e então se deparou com o exército do Minus completamente estático diante daquela cena aterradora.

— Enfileirem-se — Lya tinha um tom confiante — Ou venham em grupo mesmo, não faz diferença.

— Lya! — Ivan apoiou sua arma em seus ombros e em seguida encarou a bruxa com uma expressão de repreensão — O que está fazendo aqui?

— Salvando a sua vida — Lya pôs as mãos na cintura e torceu o nariz como uma adolescente irritada — De nada.

Sem que Ivan tivesse tempo de dar a ela qualquer outra bronca, a conversa foi interrompida por uma movimentação muito rápida e imprevisível.

Do meio dos destroços onde deveria estar os pedaços de Blanc, saltou para fora o próprio caçador que, sem que ninguém pudesse impedir, atingiu Lya com um soco nas costas tão poderoso que a garota foi lançada longe e foi incapaz de se levantar. Sem pausa, Blanc avançou rumo ao corpo caído de Lya e preparou-se para o golpe final, mas sua pisada foi parada por um escudo luminoso que separava o rosto da bruxa da sola do sapato de Blanc por apenas alguns centímetros.

Diante daquela cena, Lya estava completamente sem reação. O estrondo que que aquele impacto provocou era tão alto, que ela tinha certeza que sua cabeça seria esmagada.

Blanc preparou-se para sacar sua espada mais uma vez, mas seus movimentos foram cessados por cortes finos em seus braços, mas suficientes para que seu sangue espirrasse por todos os lados.

Em sua frente Kai surgiu como um feixe de luz e desferiu mais alguns golpes que atravessam o campo de força de Blanc e causavam pequenos, mas profundos ferimentos.

— Já ouviu falar de Lingchi? — Kai tinha uma expressão diabólica em seu rosto enquanto fazia visível duas pequenas adagas em suas mãos. As armas eram feitas da sua própria magia por isso brilhavam como pequenos raios de sol.

— Morte por mil cortes? — Blanc tentava estancar os ferimentos causados pelo bruxo — Uma das técnicas de tortura mais cruéis criadas até hoje. Não brincaram quando disseram que você foi um torturador demoníaco.

— Pois é — Kai sorriu — Cortes rápidos para que o torturado não morra antes que você acabe, no entanto precisos para ter certeza de que ele morrerá.

Os dois permaneceram alguns segundos se encarando. A platéia permanecia completamente em choque.

— Lya cuide dos minions, eu fico com prato principal — Kai piscou para a esposa — Nesse momento sua força bruta não é suficiente para superar as técnicas de defesa dele.

Lya acenou positivamente com a cabeça e finalmente conseguiu raciocinar a ponto de se levantar.

— Vamos ver se sua técnica é tão boa assim — Blanc também sorriu.

— Eu tenho mil chances de acertar seus pontos vitais — Kai dizia enquanto avançada na direção do inimigo com suas adagas em punho — Alguma tem que funcionar.

— Irma — Blanc lançou seu comando — Proteção suprema!

Ao fim da frase do general, uma armadura prateada tomou seu corpo inteiro e o fez dobrar de tamanho.

Kai cessou seus passos por alguns segundos e suspirou, aquilo parecia difícil de atravessar, mas não impossível… talvez só mais demorado.

Nas instalações do Minus, Ryan havia conseguido escapar dos afazeres burocráticos aos quais havia sido encarregado. Ele não podia fugir da sua natureza, estar em uma sala fechada com vários papéis para ler e assinar era tão desesperador. Ele não conseguia compreender como Blanc havia se habituado a essa vida. Pelas histórias que ele ouviu, Blanc já foi um cão de guerra, dos mais ferozes. Entretanto, agora sua vida se resumia a leis, contratos, reuniões, estratégias, acordos… Ele se perguntava como ele estava se saindo agora, já não era mais um adolescente, e os anos parados talvez o tivessem enferrujado.

Enquanto refletia sobre essas questões, Ryan teve sua atenção tomada pela movimentação rápida de Masumi pelos corredores.

— Ei! — Ryan se aproximou do bruxo — Tá fazendo o que?

— O que você quer? — Masumi o encarou com desdém.

— Me certificar que um bruxo fora das celas não cause problemas — Ryan sorriu ironicamente.

— Estou investigando a morte da Yuki — Masumi respondeu a contragosto — Conversei com a Catherine e ela me fez pensar sobre algumas coisas.

— O que há para investigar? — O semblante de Ryan, antes tranquilo, agora estava tenso e irritado — Deveria evitar de ficar de conversa fiada com os prisioneiros.

— Para você as coisas são simples, não é? — Masumi também havia se irritado — Tudo preto no branco. Se Blanc falou é a mais pura verdade.

— Prefiro acreditar no meu superior do que em uma bruxa maldita — Ryan havia alterado seu tom de voz — Mas é pedir muito que você pare de compactuar com seus semelhantes não é?

— As evidências vêm de todas as partes — Masumi se recompôs — Você precisa parar de ser passivo, lealdade e burrice são coisas diferentes!

— Maldição — Ryan chutou uma lata de lixo com força o suficiente para que ela voasse por vários metros — Você e essas malditas desconfianças! Parece até a…

— A Yuki? — Masumi o encarou com firmeza — Se eu aparecer morto você já sabe. E dessa vez, não vai haver bruxa do azar para culpar.

Ao terminar sua frase, Masumi saiu e deixou Ryan sozinho.

As palavras do bruxo veio ao caçador como uma facada no peito. Como ele poderia dizer algo tão cruel? Ele queria socá-lo até que ele se arrependesse de abordar algo tão delicado daquela maneira. Como ele poderia dizer essas coisas?

Ryan respirou. Ele era um líder e precisava manter sua cabeça no lugar. Como um bom líder, ele deveria estabelecer metas e não se desviar dos seus caminhos. Era isso que um líder deveria fazer.

Alguns andares abaixo, Catherine havia passado as últimas horas sendo cobaia das experiências de Hoffman.

— Já injetei 500 ml de raiz de laranjeira diluída nas veias dela e nada acontece — Hoffman resmungava com seu assistente.

— Talvez se fizéssemos algum tipo de estímulo físico…

— Não, não! — Hoffman andava de um lado para o outro — O Blanc nos instruiu para não matá-la e isso seria um risco muito alto

— Qual é a de vocês? — Catherine se apoiava nas grades — Raiz de laranjeira não funciona comigo faz um bom tempo — A bruxa mostrou a língua para o cientista.

— Percebi — Hoffman se aproximou vagarosamente de Catherine e em movimento rápido cortou o braço da garota com um bisturi.

— Ai! — Catherine se afastou da grade rapidamente — Qual o seu problema?

Não demorou muito para que o pequeno ferimento se fechasse.

— Além do mais com essa regeneração absurda, não há nada que possamos fazer que não ponha a vida dela em risco — O velho ignorava as reclamações da garota.

— Não entendo — O assistente observava uma pequena tela que contabilizava as informações transmitidas por uma coleira que havia sido colocado em Catherine — O que essa bruxa tem de tão importante? O nível da alma dela só fica oscilando entre 5 e 7.

— Sabe Brian, essa garotinha é como um cofre que guarda uma jóia muito preciosa — Hoffman se aproximava da grade de maneira sinistra — E nós precisamos descobrir um jeito de abrir esse cofre entende?

Uma movimentação no fundo fez com que os presentes ali se assustassem.

— Ah é você! — Hoffman dizia com desdém — Você está dormindo há tanto tempo que eu nem me lembrava mais.

Benjamin, que agora parecia muito maior do que antes, cambaleava pelo laboratório.

— Como se sente soldado? — Brian se aproximou do paciente — Enjôos? Câimbras? Alguma tontura?

— Tontura… — Benjamin murmurou.

— Vá para o seu quarto, tome um banho e durma mais um pouco — Hoffman instruiu — Seu corpo precisa de tempo para se recuperar.

Benjamin assentiu positivamente com a cabeça e saiu do laboratório.

— Ele vai ficar bem? — Brian encarou seu superior.

— Vai saber — Hoffman fazia algumas anotações — Independente do resultado, enriquecerá minha pesquisa. Blanc extinguiu o uso de cobaias humanas, mas ele não tem nada a ver com as cobaias que se voluntariam ao processo.

Há alguns quilômetros dali, Josh e Ryu caminhavam rumo a instalação.

— Você sabe que os portões do santuário estão fechados, não é? — Josh iniciou a conversa — O que pretende fazer em relação a segurança de Catherine daqui em diante?

— Eu não sei — Ryu suspirou — Mas vou cuidar dela. Não importa como, vou mantê-la segura enquanto ela precisar de mim.

— Acho que mais cedo ou mais tarde ela vai acabar aprendendo a cuidar de si mesma — O caçador sorria com certo orgulho — E nós vamos ser dispensáveis.

— Não vejo a hora de isso acontecer — Ryu também sorriu — Preciso de férias.

— Parecemos dois velhos reclamões — Josh coçava a cabeça — Mas no fundo vamos sentir falta disso.

— Eu não tenho dúvidas — Ryu tinha um tom animado.

De repente os dois garotos se depararam com um aglomerado de pessoas na entrada de um pequeno vilarejo que cercava as instalações do Minus e servia como moradia da família dos caçadores.

Enquanto se embrenhavam na multidão eles finalmente conseguiram enxergar o que havia prendido a atenção de todos aqueles cidadãos. Uma execução.

Desesperado, Ryu passou a atropelar as pessoas para que pudesse se aproximar do corpo que a essa altura já estava completamente carbonizado.

Uma placa à frente da fogueira quase apagada trazia informação sobre o condenado.

“Clarisse Bortoluzzi, 18 anos, natural de Otium. Acusada de diversos crimes de abuso de poder e agressão contra humanos. Perigo contra a humanidade. Erradicada.”

— Droga… — Ryu observava aquele cadáver chamuscado — Precisamos ir atrás da Catherine… agora!

Até aquele momento, apesar de toda a situação na qual foi colocado, Ryu não havia sentido tanto peso. Mas alguém estava morto, alguém que ele conhecia, alguém poderoso e com influência. Catherine estava em perigo, e ele sabia disso, mas agora todo o seu corpo parecia gritar em estado de emergência.

— Me perdoe… — Josh se ajoelhou de frente para os restos da fogueira de forma respeitosa — Não era esse destino que eu gostaria que você tivesse, minhas atitudes a trouxeram a essa situação.

Ryu estava pronto para criticar a atitude do amigo bonzinho, mas uma movimentação estranha o fez mudar o foco.

— Josh… — Ele sacou sua espada — Temos companhia.

Josh voltou sua atenção para os recém chegados, e notou que haviam mais de 10 soldados se aproximando deles.

No interior das instalações um alarme foi soado. Ryan correu para o pátio e então foi informado da aparição de Josh e Ryu nos arredores.

— Vigiem a bruxa do azar — O substituto do general passava as ordens — Eu irei cuidar dos intrusos.

— Sua obrigação é cuidar da sede, senhor — Benjamin surgiu do meio da multidão de soldados — Cuide dos seus papéis, nós cuidamos das coisas sujas por aqui.

Foi por pouco que o jovem caçador não caiu de costas diante da aparição do companheiro. Benjamin tinha mais de dois metros e seus músculos pareciam ter o dobro do tamanho. Sua imagem parecia fugir um pouco a de um ser humano.

— E-eu passo as ordens aqui — Ryan tentava se recompor.

— TRAGAM A BESTA! — Um soldado gritou.

— Não — Ryan cercou o andamento da jaula — Essa criatura precisa ser sacrificada! Sabe que ela matou 9 pessoas em Otium?

Diante da ordem do comandante, o soldado parou.

— Continue seu trabalho, soldado — Benjamin deu impulso na jaula, fazendo com que ela andasse alguns metros.

— Eu dei uma ordem direta — Ryan ordenou imponente enquanto usava sua força para cessar o andamento da jaula.

A movimentação fez com que a criatura ficasse agitada.

— Uma ordem direta, é? — Benjamin tinha um sorriso cínico em seu rosto.

Enquanto Ryan tentava prever o que viria a seguir, foi surpreendido por uma atitude inesperada. Benjamin atingiu a jaula com tanta força, que acabou amassando suas extremidades. Diante do enfraquecimento da contenção, a besta usou suas garras afiadas para alcançar total liberdade.

— O que você fez? — Ryan estava em choque — Está maluco?

— Estou sim — Benjamin enlargueceu ainda mais o sorriso em seu rosto.


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Notas finais do capítulo

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Tenho percebido que meu número de leitores está crescendo muito, mas os comentários nem tanto.
Se vcs gostam do conteúdo, comentem, favoritem...
Autores que não recebem feedback se sentem desmotivados a escrever



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