Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 64
Especial: As Crianças do Statera - Final


Notas iniciais do capítulo

Agora acabou hahahha



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759767/chapter/64

Na sala da diretora Éris, um grupo de importantes membros do Statera se reuniu para discutir o resultado da batalha.

— Talvez devêssemos fazer uma nova batalha — Patrick, o atual general sugeriu — Acham viável que o filho de um fazendeiro caminhe rumo a uma posição tão importante? Ele não tem sangue nobre, não tem uma linhagem respeitável… Aquela bruxa velha no santuário não havia previsto que a Polaris seria um membro da família Lagunov? Quando o garoto nasceu com potencial para ser um caçador, já tínhamos a resposta para os nossos problemas!

— Talvez ela estivesse tão velha que acabou ficando caduca! — James, um dos professores soltou com tom de escárnio — Se querem saber a minha opinião, eu nunca fui com a cara do Blanc! Arrogante demais!

— Isso não é concurso de miss simpatia! — O general rebateu — Estão descartando um gênio nato e deixando nessa corrida um caipira qualquer! Eu me aposento em 5 anos e não vou deixar o Statera nas mãos de qualquer um!

— Em primeiro lugar — Éris interrompeu a discussão —, status nunca foi parâmetro para se escolher um general por aqui!

A feição de Patrick se fechou.

— E em segundo lugar — Éris continuou —, ainda temos muita coisa pela frente. Não podemos dizer com certeza de que o Ivan alcançará essa posição.

—  “Quando o mundo sucumbir em maldade, quando as trevas tomarem tudo o que conhecemos, haverá a Polaris da geração, que irá guiar a humanidade para o caminho certo. Um guia tão forte e imponente, que nenhum outro poderá sequer comparar-se a sua grandeza.” — Safira recitava aquela velha profecia com um sorriso no rosto — Quando eu vi o Blanc lutando hoje com a jovem corredora, eu vi um homem forte e imponente, mas também vi a maldade e as trevas que tanto tememos.

Todos permaneceram em silêncio diante da fala da bruxa.

— Eu entendi que por não ser uma humana, minha fala aqui vale menos do que a de qualquer um de vocês, no entanto, acho que não sou proibida de expressar o que penso — e continuou — Assim como em qualquer lugar, também existe grandes posições na igreja, onde indivíduos lutam e dão o seu melhor para conseguir alcançar. Mas se uma coisa eu aprendi nos meus anos lá é que aqueles que não almejam o poder, são os mais aptos a tê-lo. — Safira sorriu enquanto se lembrava de Ivan — Aquele garoto de Otium, não tinha ganância e nem maldade em seu coração. E apesar de não desejar o título de número um, foi incapaz de ficar longe dele. Se isso não for destino, eu não sei o que é.

— A profecia fala sobre grandeza incomparável não é? — James se empolgava — Você viu a forma como Ivan derrotou o Blanc? Ele jogou o duquezinho para fora da plataforma como se fosse um peso morto! Se aquele moleque se esforçar e confiar no próprio potencial, vai sair caçando bruxas Rank S sozinho!

Enquanto a conversa ali se desenrolava, em seu quarto, Blanc organizava uma muda de roupas para a viagem.

— Falei com seu pai — Uma voz se projetou junto com a imagem de um homem jovem e elegante — Ele quer que você volte para o quinto reino imediatamente.

Blanc permaneceu em silêncio enquanto terminava de fechar a pequena mochila que iria carregar consigo.

— Devo acreditar que você está se preparando para isso? — O homem o encarava com desapontamento.

Blanc saiu do quarto em silêncio e foi seguido pelo homem.

— Não precisa vir comigo Sebastian! — O Lagunov o repreendeu — Eu não devo estar indo para um bom lugar…

— Você se surpreenderia com os lugares que eu já estive — Sebastian dizia com desdém enquanto tomava a forma de um chicote e aterrissava na cintura de Blanc.

Era por volta de 2 da tarde, quando Blanc atravessou o portão da academia e se dirigiu até a estação de trem.

O destino era o sétimo reino, um lugar onde ninguém estava muito interessado em morar ou visitar. Onde provavelmente ninguém o encontraria.

Depois do desembarque, caminhou por algumas horas rumo a fronteira. A fronteira que os caçadores experientes temiam ir em grupo, mas que ele pretendia enfrentar sozinho.

— Esse é um dos terríveis lugares, onde eu já estive — Sebastian falava na cabeça de Blanc — Talvez você não volte.

Mas o garoto não ouviu, apenas seguiu em passos firmes em direção a barreira que separava aqueles lugares.

No Statera, Ivan iniciava o treinamento intensivo que precedia a grande expedição. Seriam 6 meses extremamente puxados para preparar aqueles jovens para o que seria o mais desafiador momento de suas vidas até ali.

— Você não está focado! — Amélia se aproximou de Ivan — Como líder da expedição, você precisa estar à frente dos demais.

Desanimado, Ivan observava o lacre de uma garrafa de água que segurava. Seus pensamentos estavam longes dali, longe de todas aquelas questões burocráticas, dos treinamentos exaustivos, longe da voz agressiva de Patrick gritando o quanto ele não estava pronto. Sua mente vagava em seu almejo de ter o que lhe foi tirado, sem que nem ao menos percebesse. Ele era adulto agora, mas crescer havia doído tanto, que ele sentia falta de ser apenas um estudante júnior na academia do Statera.

— Faz 2 meses que ele sumiu — Amélia disse com um suspiro — Nem mesmo os Lagunov podres de rico tiveram recursos o suficiente para encontrá-lo. É como se ele tivesse virado poeira.

— Eu nunca achei que um dia deixaríamos de ser irmãos… — Ivan via em sua cabeça um filme com todos os bons momentos que havia compartilhado com Blanc — Sinto que eu não sei qual caminho seguir sem ele reclamando sobre as minhas terríveis decisões — Ivan sorriu nostálgico enquanto seus olhos marejavam — Eu me sinto solitário.

— Você é muito maior do que acredita ser — A garota sorriu para Ivan — Acho que chegou o momento de você se dar uma chance de ser você.

— Eu acho que não sei bem o que eu sou.

Sensibilizada, Amélia apenas segurou a mão do garoto.

— Eu espero que um dia ele possa me perdoar — Ivan sussurrava — Mas mais do que isso… Eu espero que ele fique bem.

— Se bem conheço o Blanc, ele tem calibre para ficar melhor do que qualquer um de nós em qualquer situação. — Amélia dizia de forma convicta.

Enquanto no primeiro reino, a primavera era ensolarada e brilhante, no sétimo reino uma tenebrosa chuva despencava incessavelmente.

Com as botas quase inteiras cobertas de lamas, Blanc caminhava em passos pesados para fora da barreira que dividia a humanidade da catástrofe do desconhecido. Parte das roupas do caçador estavam rasgadas e com algumas manchas de sangue escuras. Uma barba mal feita tomava parte do seu rosto, junto com algumas marcas de arranhões. Enquanto caminhava pelas ruas vazias daquele local, Blanc encontrou uma velha igreja, que mais parecia abandonada. Considerando sua falta de dinheiro e a condição deplorável que ele se encontrava, aquele local serviria bem para repor energias.

Poucos minutos após entrar na igreja, o rapaz reparou em uma movimentação estranha no que seria os fundos de lá. Pareciam ser algumas pessoas conversando, no entanto o tom de voz apontava não ser uma conversa amigável.

— Tem ouro aqui em algum lugar? — Uma voz masculina dizia em um tom ameaçador — Se você não falar onde está eu vou transformar ela em churrasco!

Enquanto caminhava rumo ao altar, Blanc conseguia ouvir aquilo com mais clareza.

— Não temos mais fiéis, mal temos o que comer… — Uma voz masculina madura suplicava — Ninguém mais aparece por medo dos saqueadores… Por favor, deixe a menina em paz!

— Bruxos… — Blanc sussurrava para si mesmo enquanto sentia o cheiro no ar, agora que estava a poucos metros da confusão.

— Se você não tem utilidade vai morrer junto com…

O homem não teve tempo de terminar sua frase, pois teve a cabeça arrancada com um único movimento.

Os outros dois desordeiros ficaram paralisados por alguns segundos, mas um deles avançou em direção a Blanc com o punho fechado, no entanto seu movimento foi facilmente parado pela palma do caçador. Blanc puxou o braço do rapaz trazendo-o para perto de si e em seguida com um movimento rápido e ininterrupto quebrou seu pescoço.

Uma garota havia sobrado, ela recitava um feitiço que fez com que todos os móveis do lugar levitassem no ar e avançassem rumo a direção de Blanc.

O garoto saltou sobre o velho piano que estava prestes a lhe atacar e com seu chicote em mãos atingiu a garota com um golpe certeiro no rosto. A bruxa interrompeu seu feitiço e começou a gritar de dor enquanto tentava estancar o sangramento do seu rosto recém deformado. Sem hesitação, Blanc sacou mais uma vez sua espada e cravou no peito da inimiga.

Quando seu massacre acabou, o caçador reparou nos reféns encolhidos no canto da sala. Havia um padre que aparentava seus 60 anos de idade e 6 freiras que pareciam variar entre 18 e 50 anos.

— Muito o-obrigada — O velho tremia de medo diante da presença do recém chegado.

O que não era de se estranhar a julgar pela sua aparência e performance.

— Nós não temos dinheiro — Uma freira mais velha se levantou e se curvou educadamente — Não temos como pagá-lo pelo trabalho.

— Estranho seria se tivessem — Blanc dizia com desdém enquanto observava as condições do lugar — Mas eu não sou mercenário — Ele guardou a espada — Sou um caçador. E se puderem, eu aceito um prato de comida.

Depois de tomar um banho, Blanc se barbeou e usou as roupas de um dos bruxos que havia matado. Quebrar o pescoço de um dos inimigos havia sido uma escolha feita por ele no momento que percebeu que aquele bruxo tinha um porte físico semelhante ao dele. Morte limpa, roupa limpa.

Enquanto se alimentava, ele ouviu as freiras comentarem que aquele não era o primeiro grupo que havia aparecido. E muito provavelmente com a morte daqueles três, muitos outros viriam atrás de notícias e certamente vingança. Tal informção havia instigado o caçador que queria testar o que o treino no desconhecido havia lhe fornecido. Blanc passou alguns dias ali, dias que logo se tornaram semanas e por fim meses. Em sua estadia ele não se limitou a matar os que se aventuravam a saquear aquela igreja, Blanc havia encontrado e dizimado dezenas de gangues de bruxas que atormentavam aquela pequena cidade da fronteira.

Em um domingo de manhã, Blanc e Sebastian assistiam a uma missa na pequena igreja onde haviam se instalado. Desde que Blanc começou a sua limpa na cidade, a igreja vazia voltou a ser frequentada, naquele dia havia em torno de 20 pessoas presentes. As doações em gratidão ao feito daquele caçador, rendeu em uma grande reforma e ali nem parecia ser o mesmo lugar de poucos meses atrás.

— Eu passei dois meses no desconhecido, matei dezenas de bruxas lá e centenas aqui — Blanc sussurrava — Por que eu continuou me sentindo tão fraco? Por que eu me sinto um fracassado?

— Não importa o quão forte você fique — Sebastian também tinha um tom baixo — Sem um objetivo, você não sente satisfação.

— Eu não tenho um caminho — Blanc estava abatido — Eu não tenho propósito. Eu sou inútil.

— Não diga isso Blanc — O padre havia se aproximado sem que nenhum dos dois percebessem — Olhe essa igreja cheia de pessoas felizes.

Blanc havia se incomodado com a intromissão do velho, mas acabou atendendo ao pedido dele por respeito a sua posição. E de fato ele estava certo. A missa havia acabado sem que ele percebesse e as pessoas se despediam e conversavam. Seus rostos repletos de felicidade, com a completa ausência de preocupação, trazia ao caçador uma sensação de dever cumprido. Trazia satisfação.

— Os bruxos tiraram muito de nossa pequena cidade, mas desde que você chegou as crianças podem brincar na rua, as mulheres podem sair a noite e os homens podem dormir aliviados. — O padre dizia com um sorriso — Talvez você ainda não tenha compreendido, mas a sua missão no mundo é maior do que qualquer um poderia sonhar. Há quem te chame de Messias por aqui. — O Padre continuou com empolgação — A humanidade tem sorte em tê-lo ao seu lado.

— O que exatamente é um “Messias”? — Blanc perguntou ao velho.

— Bom, na Bíblia, o Messias era o salvador prometido por Deus, que viria para mudar o mundo — O padre explicou — Nossa pequena cidade pode parecer insignificante diante da imensidão de desgraças que atormentam o continente, mas para nós é tudo o que temos e conhecemos. É o nosso mundo.

Blanc estava reflexivo, seus olhos vagavam sem destino.

Sebastian sorriu com alívio, aqueles olhos pensativos, aquele semblante cheio de sonhos. A última vez que havia visto aquilo, foi antes do fatídico torneio do Statera.

— Então eu acho que é hora de expandir o que eu dei a vocês — Blanc tinha um sorriso prepotente em seu rosto — Eu irei mudar o mundo, padre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agora acabou hahha
Comentem gente! Comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Questão de Sorte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.