Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 57
Velhas Lembranças e Novos Caminhos


Notas iniciais do capítulo

A pedido de um assíduo leitor eu resolvi fazer um capítulo especial de Páscoa!
Ele pediu um combo com 5, mas não sou tão legal assim rsrs
Toma teu capítulo especial senhor leitor!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759767/chapter/57

15 anos atrás, houve um terrível ataque de bruxas a uma pequena cidade do primeiro reino, a pacata Griseo. Uma bruxa descontrolada, invadiu um bairro humilde e assassinou um adolescente de 12 anos. O jovem Jeremy, que nem ao menos possuía um sobrenome, foi congelado até a morte enquanto protegia seu irmão mais novo, o pequeno Charles de 7 anos.

— Venha comigo! — O pai da criança o acomodou em seu colo. Enquanto fugia desesperado da mira da assassina.

— Kara, aonde você vai? — Derrick, pai dos garotos, tentava impedir os passos da mãe enfurecida.

Mas Kara não ouviu, ela continuou seu trajeto até o meio da confusão.

Charles era pequeno, não compreendia muito o que passava ao seu redor. Ele soube que a bruxa foi derrotada por uma outra bruxa, provavelmente membro da igreja ou do santuário. Mas de que importava tudo aquilo? Jeremy não voltaria, ele nunca mais contaria histórias para ele. Nunca mais veriam filmes de lutas juntos. Eles também nunca mais planejariam uma viagem incrível até Shima, para conhecer os atores dos filmes de lutas. Naquele momento o garotinho entendeu que jamais havia tido ambições em sua vida. Tudo que o divertia, tudo o que almejava, eram nada mais do que os sonhos de seu irmão. Agora que Jimmy havia partido, o que restava?

— Que tal David? — Derrick sugeriu.

— Deixe que ele escolha — Kara se agachou na direção do filho — Qual nome você prefere?

O garoto não compreendia o sentido de precisar de um nome novo, mas não teve necessidade de pensar muito sobre o assunto.

— Ryu? — Derrick estava assustado — Que nome estranho.

— Eu gostei — Kara sorriu — Parece imponente. Como um guerreiro com um grande destino

Diferente de Derrick, Kara sempre estava atenta aos interesses dos garotos. E ela sabia muito bem de onde o pequeno Charles, havia tirado aquele nome. Era de algo especial, algo que lembrava seu irmão. O protagonista do filme que eles já haviam visto dezenas de vezes juntos.

Na noite que sua mãe partiu, seu pai estava dormindo, mas ele não. Ele a surpreendeu com uma pergunta inocente, mas muito dura:

— Você não vai voltar não é?

— A mamãe precisa ir agora… — Kara não estava preparada para aquela despedida — Mas ela te ama muito.

— Mentirosa — Ryu disse de forma áspera antes de entrar em seu quarto e fechar a porta.

Ele não chamou o seu pai, ele provavelmente tentaria impedi-la. As pessoas devem ir embora quando quiserem ir embora. Ryu tinha isso muito forte dentro dele. Ele não chorou nem uma vez depois daquela noite. Se estivesse no lugar dela faria a mesma coisa, afinal, a única pessoa que valia a pena naquela família tinha partido precocemente.

Derrick se tornou uma pessoa deplorável, e a academia que antes era o maior pesadelo de Ryu, acabou se tornando uma forma de escapar do pai violento.

— Já vou avisando — Hendrick se aproximava da novata — Ninguém suporta esse garoto. Deixe ele fazer o que quiser, e continue a sua aula para os alunos de verdade.

A jovem bruxa que havia sido contratada para dar aulas de combate para os recém formados da classe Júnior, caminhava em direção a sala com seus novos alunos.

— Quem é o garoto problema? — A bruxa se aproximou de Kai, um dos professores que também esperava a cerimônia de abertura.

— Aquele loirinho ali — O bruxo apontou para Ryu — Tem 13 anos e é extremamente temperamental.

— Olá! — A garota sorriu e se aproximou do menino — Eu me chamo Lya, serei sua professora de combate nível 3 e…

— Por que eu vou ser treinado por uma criança? — Ryu interrompeu a garota curioso.

— Eu já sou adulta faz um bom tempo, sabia moleque? — Pequenas rugas surgiam na testa da bruxa.

— Lya… — Kai tocou os ombros da bruxa — lembra o que o Hendrick disse sobre manter os nervos sob controle?

Lya respirou fundo e se virou para sair, mas Ryu não parecia satisfeito com aquela conversa.

— Então você é algum tipo de anã? — O garoto soltou.

— Você e eu...— Lya saltou para longe de Kai como um gorila enfurecido — Na arena!

Ryu estava achando aquilo engraçado, até levar uma surra que jamais esqueceu. Mas ele não pois aquele dia entre os piores que já teve, afinal, também conseguiu amigos com quem poderia contar em todos os momentos.

O garoto de Griseo não teve mais dias memoráveis, até o festival que iniciou a travessia.

O dia em que conversou com alguém que se sentia tão deslocado quanto ele. Alguém que parecia fugir de tudo o que ele estava destinado. Alguém com quem ele escolheu estar, mesmo que não parecesse algo muito inteligente. Mas talvez fosse isso que o garoto de Griseo precisasse, fazer suas próprias escolhas. Seu próprio caminho. Algo que viesse dele e mais ninguém.

Foi a partir dali que sua vida parecia ter continuado, desde a morte de Jimmy.

— Obrigada por trazer cor a minha vida. Eu fui muito feliz durante todos os momentos que estive ao seu lado… Eu queria ter sido esperta o suficiente para te dizer isso antes, para dizer o quanto… eu te amo…

A voz de Catherine estava tão longe, inalcançável. Foi nesse momento que,com muito esforço, ele conseguiu abrir os olhos. O movimento foi tão intenso que o garoto acabou caindo da cama em que estava repousando.

— Catherine! — Ryu levantava ainda desnorteado.

— Ei! Acalme-se — Marcos correu para auxiliar seu paciente — Está sentindo alguma dor?

Ryu cambaleou até se sentar novamente na cama.

— Eu sou médico, estou cuidando de você desde o ataque da bruxa de raios...

— Marcos… — Ryu o interrompeu — Há quanto tempo ela saiu?

Marcos estava apático, então ele estava consciente todo o tempo?

— 3 horas — Trevor estava em pé ao lado da porta — Sugiro que apresse seus passos e torça para que tenha ocorrido algum inconveniente com o trem.

Ryu assentiu com a cabeça e agarrou a muda de roupas que Trevor jogou em sua direção.

— Está maluco? — Marcos estava em choque — Meu paciente acaba de acordar e você já o manda sair em uma missão arriscada?

— Entre por esse portal — Trevor fez surgir um grande buraco negro na sala — Ele te levará até a estação de Montis, isso economizará duas horas de caminhada.

Marcos deu de ombros e saiu da sala, a opinião dele, claramente, não era relevante.

A intensa batalha na floresta que cercava os trilhos se arrastava para seu fim, Josh estava inconsciente e Catherine completamente sem forças. Somente as cimitarras de Josh seguiam firme protegendo seu portador.

— Vocês são realmente muito determinadas, no entanto — Blanc dizia enquanto erguia sua mão direita a frente do corpo, de repente, uma espada curta surgiu em sua palma e ele a brandiu em direção as cimitarras de Josh. O movimento gerou uma rajada de vento intensa, que fez com que ambas as espadas despencassem no chão —, o que é um tesouro celestial sem seu portador?

Enquanto Blanc se aproximava de Josh, Catherine tentava de alguma forma impedir que algo de ruim acontecesse ao seu amigo. Apertando firmemente a relíquia que havia ganhado, ela não tinha ideias que pudessem tirá-la daquela situação.

Foi nesse momento que o rosto de Masumi se empalideceu diante da quantidade de energia que saía do corpo de Catherine. As ondas de energia eram tão poderosas que faziam os grossos troncos das árvores se encurvarem sem que nenhuma força física fosse aplicada. A força de Catherine parecia ser restaurada e ela estava mais uma vez de pé.

Aos poucos, a paisagem se tornava mais escura e buracos negros surgiam de todas as partes, sugando os caçadores do Minus.

Masumi fez com que diversos dos seus pergaminhos avançassem rumo a bruxa, mas nenhum deles tinha força o suficiente para escapar da sucção dos buracos negros e até mesmo os que estavam aderidos a pele dela, queimavam como se estivessem diante de chamas intensas.

Gradativamente a quantidade de soldados diminuía, até o momento que do Minus, apenas Blanc havia sobrado. Até mesmo a criatura havia sido engolida pelas fendas.

Sem muitas alternativas, o bruxo de Shima ergueu sua preciosa relíquia em direção a Catherine. Uma onda de luz vermelha parecia repelir toda a força da garota e cancelar os buracos negros que sua magia havia criado.

Usando sua última tentativa de defesa, a bruxa ergueu sua relíquia em direção a Masumi e as duas energias iniciaram uma batalha direta. No entanto, não demorou muito para que a relíquia de Catherine se desfizesse em inúmeros pedaços. No momento que isso aconteceu, Catherine foi atingida por uma energia tão poderosa que acabou caindo desacordada.

— Eu estou realmente surpreso — Masumi tomava fôlego — Esse feitiço é muito raro, nem mesmo uma bruxa com 100 anos de treinamento seria capaz de executá-lo sem que isso fosse parte da sua herança de magia — O garoto observava os pedaços da relíquia de Catherine espalhadas pelo chão — Isso é poderoso, mas não passa de um catalisador, você é realmente monstruosa bruxa do azar.

Sem mais nada a acrescentar, Masumi se preparava para levar Catherine em seus braços. Mas foi surpreendido por um ataque furtivo que fez com que sua mão fosse perfurada e presa a um tronco de árvore por uma das cimitarras de Josh.

Mesmo muito ferido, o ex Minus estava de pé e avançou em direção a Catherine.

Masumi tentou acertá-lo com uma de suas magias, mas antes que pudesse sequer se aproximar de Josh, teve seu punho envolto por uma corda de raiz de laranjeira e em seguida recebeu um chute no estômago que o fez ser lançado há vários metros dali.

Josh ergueu Catherine até os seus ombros, mas sem chance de dar um único passo sequer, foi apunhalado pelas costas por Blanc.

— Não importa quantos anos se passem, a sua estupidez segue intacta — O general encarava o filho caído sobre o corpo de Catherine — Você é como uma barata! Não importa quantas vezes eu te esmague, você continua se movendo e movendo!

Blanc ergueu o pescoço de Josh, que a essa altura não tinha forças para se defender, e em seguida posicionou sua adaga na garganta do rapaz. No entanto, antes que ele pudesse dar o golpe final, teve o seu pescoço envolto pelo chicote de Josh e em seguida foi arrastado para longe do filho.

— Sebastian! — Blanc se levantou rapidamente — Não cansa de ser um maldito traidor?

— Você que traiu o seu propósito, pequeno tolo — Sebastian se armou de duas espadas que haviam sido abandonada no chão.

— Vamos! — Anabel instruía as duas gêmeas — Precisamos sair daqui!

— E o Sebastian? — Marie estava assustada.

— Façam reforço físico para carregá-lo — Anabel continuava a dar os comandos — Eu vou cuidar para que ninguém nos siga.

— Se quer saber — Blanc sorriu — Eu sempre esperei por este momento. Sempre almejei a oportunidade de te mostrar o que é um guerreiro de verdade.

Blanc possuía rancor em seu coração, afinal, Sebastian havia sido lhe apresentado quando tinha apenas 8 anos. Ele o seguiu até a academia do Statera, o acompanhou quando migrou para o Minus, mas foi a Josh que ele seguiu até o fim.

Aquele era o seu fim, isso ele poderia garantir.

— Eu vou encontrá-lo mais cedo ou mais tarde — O general assumia pose de batalha.

— Então, eu garantirei que seja mais tarde — Sebastian sorriu com escárnio — Vamos retomar aquelas aulinhas de combate armado? Será que você melhorou essas pernas frágeis?

Sebastian foi para Blanc um tutor, um amigo e um pai, já que o grande duque Lagunov não tinha tempo para cuidar do seu pequeno herdeiro.

Mas uma coisa foi essencial para que o general Lagunov chegasse onde estava: Se livrar das pontas soltas. Seja as que possam atrapalhar os seus planos, ou as que amoleçam o seu coração.

E foi assim que aquela manhã chegou ao fim, juntamente com a batalha, que durou apenas 3 golpes.

— Aperfeiçoar os braços… foi uma ótima maneira de compensar as pernas — Sebastian murmurou — Vejo que você amadureceu em alguma área da sua vida.

Enquanto assistia a imagem do seu antigo pupilo se afastar, Sebastian foi tomado por um alívio indescritível.

“Então essa era a sensação de finalmente alcançar Altiore?”

Os tesouros celestiais são almas de bruxas que ainda possuem problemas não resolvidos. Sebastian sentia que havia falhado com Blanc. Se ele tivesse lhe ensinado mais sobre empatia e menos golpes fatais. Se ele tivesse lhe dado mais amor e menos testes físicos. Se… haviam tantos “se” mas nenhum podia ser reescrito. Não havia mais nada a se fazer ali.

Assim, Sebastian, o tesouro celestial, encerrou suas funções naquele plano.

Não muito longe dali, Anabel procurava um lugar seguro para esconder Josh. Uma caverna, parecia o local ideal para essa finalidade.

— O Sebastian não vai voltar… — Joane encarava Anabel com uma expressão abatida — Ele morreu, não é?

— Joane, não precisamos falar sobre isso agora — Anabel tentava conter os nervos — Preciso de silêncio para me concentrar em curar os ferimentos do Josh.

Marie estava encolhida no canto, seu rosto se escondia entre seus joelhos e ela não parou de chorar desde o momento em que deixaram Sebastian para trás.

— Eu tenho certeza de que ele está bem — Joane também estava chorando, mas tentava consolar a irmã — Dizem que Altiore é o lugar mais lindo que existe.

Anabel se esforçava para ignorar tudo ao redor e se concentrar no seu trabalho, mas estava tão abalada quanto as crianças. Josh estava muito ferido, havia perfurações no tórax, abdômen e ele tinha perdido mais sangue do que qualquer ser humano poderia suportar.

— Eu não posso salvá-lo — Anabel disse depois de um suspiro.

— O que? — As meninas gritaram em coro enquanto engatinhavam para o redor de Josh.

— Ele está quase morrendo e… — Anabel estava extremamente preocupada — Não tenho magia o suficiente para reconstruir seu corpo…

Marie iniciou mais uma vez sua crise de choro e Joane parecia estar em choque.

— Meninas… — Anabel chamou atenção das gêmeas — Só tem um jeito de ajudá-lo… mas isso não vai ser nem um pouco bonito.

Há alguns quilômetros dali, Ryu havia sido informado que o trajeto para o sétimo reino havia sido bloqueado. A causa era um acidente grave com o último trem que havia saído dali.

Um frio percorreu a espinha do guardião. Seria aquilo uma consequência da magia de Catherine? Ou talvez uma investida do Minus? Quão grave poderia ter sido esse tal acidente?

O garoto não tinha muitas informações, apenas que teria que percorrer 35 km até chegar no trajeto afetado.

— Maldição… — Ryu alongava as pernas — Eu deveria ter trago o Tommy!

Sem muito o que fazer, o guerreiro iniciou uma corrida junto aos trilhos.

Mas algo estava diferente, Ryu sentia como se suas pernas estivessem mais soltas, seu corpo parecia mais leve. Talvez ele devesse receber mais choques como aquele para melhorar a sua desenvoltura.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Domingo de Páscoa e não foi só Jesus que ressuscitou né Ryu? Hehehe
Espero não ir pro inferno com essa piada profana



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Questão de Sorte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.