Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 58
A Maldição do Meio Sangue


Notas iniciais do capítulo

É um capítulo com muitas revelações e também é muito tenso, principalmente para as pessoas que se simpatizam com o Josh. Boa sorte aos Joshetes!



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Josh ainda sentia fortes dores, mas aos poucos conseguia recuperar a consciência. Sua visão embaçada se deparou com a imagem de Anabel, Marie e Joane. A bruxa mais velha parecia ocupada com algo que ele não era capaz de discernir, enquanto as duas crianças o observam com expressões preocupadas e bochechas ensanguentadas.

Gradativamente seus sentidos se aguçavam e o cheiro de sangue se tornava mais forte.

— O que vocês… — Josh tentava se levantar, mas seu corpo parecia pesar toneladas — O que vocês fizeram?

— Não se deve esperar que um lobo sobreviva se o alimenta com cenouras — Anabel dizia com um tom firme enquanto usava um pano molhado para limpar o rosto das gêmeas — Lobos são lobos e coelhos são coelhos.

Josh sentiu um nó na garganta enquanto seus olhos buscavam a origem de todo aquele sangue. Ao seu lado estava o corpo de uma jovem, pálido feito papel, com cortes nos punhos.

Os olhos de Josh se encheram de lágrimas, enquanto seu coração transbordava culpa. Não havia mais feridas em seu corpo, ou sinal de qualquer dor física, naquele momento ele poderia correr uma maratona. Toda aquela sensação de bem estar, fazia com que ele sentisse mais nojo de si mesmo e do que ele era.

— Ela se chamava Olívia, tinha 18 anos e estava a caminho do santuário. O garoto que estava com ela se chamava Tomás — Anabel encarava Josh — Sei que você prefere saber os nomes, por isso me certifiquei de perguntar.

— Eu cortei a garganta dela bem rápido, ela não sentiu dor — Joane estava envergonhada — Me desculpe, mas você ia morrer…

Em silêncio, Josh pegou o corpo de Olívia no colo e saiu da caverna.

— Josh...

— Deixe-o — Anabel interrompeu Marie e em seguida suspirou — Fizemos o que precisava ser feito.

A garota a encarou com receio, tal movimento permitiu que Anabel reparasse uma pequena mancha negra surgindo em seu pescoço.

— Temos que tomar cuidado com isso — A velha analisava aquela pequena imperfeição — Você está enferrujando.

Lá fora, Josh se deparou com o corpo de um rapaz, possivelmente o guardião da bruxa. Dois jovens com a vida precocemente tomada.

O ex minus então iniciou uma escavação com as próprias mãos. Não foram necessários muitos minutos para que sua força bruta possibilitasse o surgimento de duas covas.

— Perdoe a minha existência — Josh estava diante dos túmulos — Perdoe a natureza nojenta a qual eu pertenço e perdoe também as crianças que fizeram essa barbárie… A culpa é toda minha, por não ser forte o suficiente e haver necessidade que elas me protejam. Eu juro pela minha vida, que a cada dia se torna mais cara, que viverei para honrar seu nome Olívia e a sua bravura Tomás. Que ambos alcancem a luz que necessitam.

O rosto de Josh estava vermelho e seus olhos inchados. Aquela dor o acompanharia para sempre, assim como todas as dores que ele já causou em sua vida.

Mas no fim das contas era essa a vida de um híbrido, a metade de algo que busca incansavelmente a sua parte mais forte. Aquele ora com corpo de humano e alma de bruxa e vice e versa.

Josh se afastou dos túmulos e buscou a seringas com raiz laranjeira que sempre carregava em seus bolsos. Quando as encontrou, aplicou duas doses em sua veia. O líquido correndo pelo seu corpo causava uma dor indescritível.

Aquela dor, não era para ele apenas uma punição, era também uma forma de conter seus instintos. Para um híbrido o sangue de bruxa era uma fonte de poder viciante. Algo que os tornavam monstruosos, que os levavam a querer mais, com mais vigor e sem limites.

Josh já havia experimentado o descontrole, e quase matou o próprio pai aos 13 anos. Foi quando Blanc compreendeu que sua arma precisava de controle e foi também quando Josh entendeu que aquele controle seria seu mantra para a vida. Essa decisão não agradou Blanc, mas nada que fizesse de Josh minimamente humano o agradava.

— Onde está o Sebastian? — Josh perguntou, ainda do lado de fora da caverna.

Com uma expressão depressiva, Anabel caminhou até ele e negou com a cabeça.

— Seja clara Anabel — Josh cerrou os punhos e sentiu seu coração acelerar.

— Em vez de nos olhar com essa cara feia, deveria ter um pouco de gratidão — A voz da bruxa estava áspera.

— Ele ficou para trás… — Marie tinha uma voz abafada — Ele lutou com o Blanc para que conseguíssemos fugir com você.

— Goste ou não, você é nosso portador! Nós mataremos e morreremos por você! — Anabel estava cada vez mais irritada — Se não consegue conviver com isso, nos abandone e siga sozi…

Anabel foi brutalmente interrompida por um abraço. O corpo de Josh tão desesperado, caiu sobre ela e quase a derrubou. O caçador chorava como uma criança e como quando era criança.

O semblante irritado de Anabel foi substituído por uma expressão terna.

— Oh meu menino — A bruxa se sentou em uma rocha enquanto acariciava os cabelos do caçador — A vida é tão dura com você.

Marie e Joane se aproximaram dos dois e também abraçaram Josh.

Todos choraram. Eles precisavam daquilo. Pelo menos por um momento.

Na sede do Minus, Ryan aguardava a chegada do grupo, que já havia sido anunciado. Ele se sentia injustiçado por não poder ir a missão de captura, havia vindo a ele a desculpa de que precisavam de alguém para substituir o Blanc. Como sua posição estava acima dos demais presentes ali, ele foi o escolhido para a substituição.

Não sabia nada de Benjamin nas últimas horas e nem entendeu o porque de Blanc adicionar um bruxo naquela caçada contra Catherine. Ele estava no escuro, se sentia no escuro, se sentia solitário.

— Levem-na para a contenção! — A voz de Blanc interrompeu abruptamente os pensamentos do rapaz.

Ryan pousou seus olhos em Catherine, o corpo desacordado da bruxa foi posto em uma gaiola e era carregada por vários caçadores, que a segurava através de várias correntes, para manter distância.

— Que exagero — Ryan resmungava — Ela não é tão perigosa assim.

— Tudo correu bem por aqui? — Blanc caminhou até o seu subordinado.

— Sim senhor! Nada de importante aconteceu — Ryan se aproximou de seu superior — O que aconteceu com o Ryu?

— Quem? — Blanc estava confuso.

— O guardião dela.

— Não tinha guardião — O general dizia de forma simplista — Tinha apenas o Josh dando trabalho como sempre.

— Entendo — Ryan estava pensativo — Faltam muitos homens, o Josh é realmente um monstro.

— O Josh? — Blanc deu uma gargalhada — Ela acabou com todos sozinha, além de provocar um acidente de trem que infelizmente… — suspirou — Matou muitas pessoas.

A expressão de Ryan era de choque. Ele pôs seus olhos em Catherine mais uma vez e refletiu sobre o que havia ouvido. Ele já havia se encontrado com aquela garota duas vezes e em nenhuma delas, ela demonstrou tamanha agressividade.

— Bom, preciso ir! — Blanc ajeitava seu distintivo — Como eu estarei ocupado com questões envolvendo a bruxa do azar, peço que continue a frente das questões burocráticas.

Ryan assentiu positivamente com a cabeça e Blanc se retirou.

— Senhor? — Um caçador abordou o general.

— Diga, soldado — Blanc o encarou.

— Encontramos isso nos bolsos da bruxa do azar — Ele entregou para Blanc um pequeno envelope — O destinatário parece ser o antigo general do Statera.

— Interessante — Blanc pegou o envelope — Isso vai ser muito útil. Bom trabalho soldado.

Na porta do santuário, Ivan, juntamente com um exército bruxo, aguardava a chegada das bruxas e o fechamento do portão.

Apesar da expressão serena estampada no rosto, o seu coração parecia que iria parar a qualquer segundo.

— Faltam 15 minutos… — Lya sussurrava — Por que eu não o vejo correndo desesperado até o portão?

Kai permaneceu em silêncio.

— Você acha que ele morreu, não acha? — A bruxa o encarou.

— Espere os 15 minutos Lya — Kai suspirou. Ele estava tentando manter o controle diante daquela situação.

Passaram-se 15 minutos, minutos esses que pareceram horas, mas eles não chegaram.

Assim que o portão fechou, Ivan caminhou a passos longo em direção a pequena instalação que ficava ali perto. Chegando lá, iniciou suas ligações. Catherine precisava estar em algum lugar e tudo o que ele precisava fazer era encontrá-la e, a partir de agora, protegê-la, custe o que custar.

Nas instalações do Minus, Catherine aos poucos recuperava sua consciência.

— Onde eu estou? — A bruxa estava confusa.

— No Minus — Masumi era o único presente naquela sala.

A garota se encolheu no canto de sua jaula e agarrou os joelhos. Ela nunca se sentiu tão assustada na vida.

— Recebemos uma ligação recente avisando que dezenas de soldados do Minus “caíram do céu” em Otium — Masumi caminhava ao redor da cela da garota — Por quê?

— Por que o Minus vai ter que lidar com umas boas multas e vários processos judiciais por invadir uma cidade que está dentro do Acordo Continental — Catherine tinha um tom de vingança em sua voz.

— Multas? — Masumi estava incrédulo — Aquela magia tinha capacidade para desmembrá-los por diversas dimensões e você vem me falar de multas?

— Ai que horror! — Catherine levava a mão ao rosto assustada — Eu jamais faria isso com essas pessoas.

Masumi continuava com uma expressão incrédula em seu rosto.

— Você matou Yuki Yamamoto? — O bruxo foi direto em sua pergunta.

— A Yuki está morta? — Catherine estava em choque — N-não… eu não fiz isso… Na última vez que eu vi a Yuki ela estava nadando enquanto carregava o Ryan e o Benjamin… Quer dizer… ela não conseguiu chegar em casa?

— Yuki foi brutalmente assassinada enquanto trabalhava em uma missão clandestina, juntamente com outro caçador chamado Gaspar — Masumi respondeu de forma simplista.

— Foi esse tal de Gaspar que inventou essa história? — Catherine estava brava — Eu espero que ele tenha provas! Por que eu jamais mataria alguém!

— Ele está morto — Masumi estava sério.

— Nossa… — O peito de Catherine havia murchado — Quanta gente morrendo né? — A bruxa voltou seus olhos para o carcereiro — Mas, se todo mundo na missão foi morto, de onde veio a história?

— É isso que eu estou me perguntando neste exato momento, Catherine — Após dizer essas palavras, o bruxo se retirou da sala e a deixou sozinha.

Às margens da ferrovia, Ryu buscava por sinais da passagem de Catherine por ali. A área estava isolada e lotada de policiais e paramédicos. O nome de Catherine Gibran estava na lista dos passageiros, mas não havia sinal de corpo e ela não estava entre os feridos.

Foi dito que o motivo do acidente havia sido uma explosão acidental nos motores. O nível era superior a de qualquer outro registrado nos últimos 50 anos. Uma falha que não cabia mais aos modelos atuais de trens produzidos.

Desnorteado, Ryu não sabia qual atitude tomar a partir dali. Não sabia onde procurar Catherine, pois não havia sinal dela em lugar nenhum.

Foi quando uma imagem conhecida surgiu em meio a multidão de oficiais. Josh.

— Onde ela está? — Ryu avançou rapidamente em sua direção.

— Minus — Josh suspirou e abaixou a cabeça — Eu sinto, muito… Não fui capaz de protegê-la.

Ryu o observou em silêncio por alguns segundos. Não era capaz de duvidar que Josh tinha dado o seu melhor para mantê-la em segurança.

— Ela ainda está viva não é?

— Muito provavelmente — Josh comentou — Meu pai tem planos para ela que não envolvem morte, pelo menos não por agora.

— Que planos são esses? — Ryu o encarou.

— Transformá-la em um tesouro celestial ou sintetizar a alma dela em um soro — Josh explicou — Mas para isso ele precisa elevar a magia dela ao máximo, isso é comumente provocado com o auxílio da raiz de laranjeira, no entanto, Catherine não tem essa fraqueza. Ele precisa de tempo e um novo método.

— Então vamos resgatá-la agora — O guardião tinha um tom sério.

— Eu estou pronto! — Josh deu um passo à frente.

— Eu estou falando de invadir o Minus e lidar com todos aqueles soldados sabe? — Ryu estranhou aquela atitude imprudente vinda de Josh.

— Eu conheço bem as instalações, ela provavelmente está na sede em Montis — Josh iniciou a caminhada.

— Então tá bom — Ryu sorriu confiante.

Ele também estava pronto. Iria acabar com a raça de Blanc, resgatar Catherine e dizer a ela o quanto a amava. Ele precisava dizer isso.

Em Montis, Kai e Lya espreitavam o escritório de Ivan. Ambos não tinham ideia do que fazer, por isso aguardavam o mais afetado tomar uma atitude.

Foi nesse momento que um entregador se aproximou da porta e bateu algumas vezes. Ivan abriu imediatamente e o garoto o entregou um envelope, foi possível ver, mesmo ao longe, a imagem da pomba prateada estampada no papel. Kai e Lya ficaram chocados, assim como Ivan.

A porta se fechou e os dois bruxos estavam mordidos de curiosidade.

Dentro do escritório, Ivan respirou fundo, caminhou até sua mesa e sentou-se confortável em sua cadeira. De alguma forma, ele sabia o que estava por vir, por isso certificou-se de estar preparado.

Abrindo o envelope, havia dois papéis, no primeiro havia uma carta formal de convite de reunião vinda do Minus. O segundo por outro lado, trouxe aflição ao peito de Ivan, era uma carta escrita com a caligrafia de Catherine.

“Querido e amado pai

Obrigada por ser tão bom para mim.

Por muito tempo eu me senti amaldiçoada, acreditei que o mundo havia sido injusto comigo e que eu poderia ter uma vida comum, como uma bruxa comum, em uma família comum… Mas a verdade é que eu fui abençoada pela oportunidade de fazer parte da sua história. Obrigada por me ensinar a ser uma boa pessoa, por me dar todo o carinho que tinha, obrigada pelo sobrenome e obrigada até pela comida ruim…

Pai, você é a pessoa mais importante da minha vida, por isso, eu imploro que não sofra muito com a minha partida. Eu prometo que vou cuidar muito bem de mim mesma e provar que você criou uma mulher forte. Cuide bem do meu cavalo, ele se chama Tommy e é muito bonzinho. Eu te amo. E vou pensar em você todos os dias.

Com amor, Catherine Gibran.”

Com as mãos suadas, o velho caçador amassava as bordas da carta. Ele lia e relia sem pausa, todas aquelas palavras, mas nada era capaz de ajudá-lo a organizar as ideias. Aquilo era uma carta de sequestro, feita para que ninguém desconfiasse. Um convite passe único, uma carta de despedida de Catherine… Ele estava com ela. Blanc estava com a sua menininha e ele precisava encontrá-lo sozinho.

— Estou indo a uma reunião — Ivan caminhou a passos largos e pesados ao lado do casal de bruxos e seguiu rumo a saída da academia.

— E aí? — Lya encarava Kai — conseguiu pegar alguma coisa?

Os olhos de Kai estavam arregalados e sua expressão era de terror.

— Catherine está nas mãos de Blanc.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Compartilhem suas opiniões!
E preparem um bingo de morte de personagens, porque a chapa vai esquentar!
Façam suas apostas.



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