Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 56
Gibran


Notas iniciais do capítulo

Capítulo tenso



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759767/chapter/56

15 anos atrás, houve uma das mais tensas reuniões do conselho do primeiro reino. Uma bruxa de 3 anos havia sido encontrada no meio das chamas de Pacem, ninguém era capaz de identificar sua origem ou qual era a afinidade que poderia ter possibilitado sua sobrevivência.

A criança foi exposta a um cristal milenar que fazia possível a identificação do tipo de magia de qualquer bruxa.

Testes rápidos descartaram a magia do fogo em sua alma. Foi cogitado a possibilidade de ela ser um tipo especial de bruxa pura ou impura. Mas o cristal continuava mostrando sua neutralidade. Catherine era a única bruxa cuja a magia não era identificada pelo cristal.

Poderia se dizer que ela era uma humana, se tudo ao seu redor não se comportasse estranhamente. Toda vez que ela se assustava, as luzes piscavam, seja das lâmpadas nos cômodos ou de relâmpagos no céu. Quando ela ficava triste, chovia. Quando ela ficava feliz, florescia.

— Ela atrai azar! — Luzia, uma velha bruxa que fazia parte do conselho do santuário deu o seu veredicto — Deve ser mandada para o desconhecido quando fizer 18 anos!

— Parece sorte para mim... — Safira, diretora do santuário, apreciava o jardim de margaridas que Catherine fez florescer em pleno inverno.

— Ela precisa ser queimada! — Blanc estava alterado — Esperar até que complete 18 anos é estupidez! Essa bruxa está fora de tudo o que conhecemos!

— Você é tão covarde que mata tudo o que não conhece, Blanc? — Ivan tinha um tom irritado — Na verdade você não costuma ser muito seletivo com o que mata, não é mesmo?

— Vocês humanos, podem se esforçar para não agirem de forma primitiva? — O rei Henrique repreendeu a atitude agressiva de Ivan — Se continuarem serão expulsos.

— Eu concordo com o general do Minus — Denize, outra membro do conselho das bruxas também se pronunciou — Não sabemos o que essa aberração pode fazer!

— Precisamos chegar a um consenso — O rei do primeiro reino, estava nervoso, afinal, devido a ocorrência em seu território, toda aquela situação recaía sobre ele.

— Eu voto no direito da criança crescer como qualquer outra bruxa — Safira se manifestou — O cristal mostrou que ela é uma bruxa neutra, então ela tem todos os direitos de um cidadão comum.

— Fogueira — Blanc declarou seu voto

— Fogueira — Denize se pronunciou.

—  O cristal foi claro — Ivan tinha um tom sério — Ela é um cidadão comum.

— Eu voto nulo — Luzia resmungou — A criança é uma bruxa neutra, mas não sabemos a que classe ela pertence. Matá-la é injustiça, mas é impossível deixar isso de qualquer jeito. Esperemos até que alcance a maioridade.

— Não seja tola! — Blanc se alterava — Não sabemos o que pode acontecer daqui até o momento em que ela amadurecer.

— Você já deu seu voto, caçador — O rei Henrique tinha um tom irritado — Você está em um território de bruxas, sua presença nesse conselho é mera burocracia política. Não cause mais problemas se não será excluído.

— Meu papel aqui é defender os interesses da humanidade — Blanc falava de forma ríspida — Acredito que isso vá além de burocracia política, majestade.

Henrique escolheu o silêncio, afinal as únicas palavras que ele queria pôr para fora era o decreto de enforcamento de Blanc Lagunov, afinal, ele, como qualquer outra bruxa, odiava o Minus com todas as suas forças. No entanto, ele estava ciente de que aquilo provavelmente provocaria desestabilidade em seu governo, ou talvez pudesse até render uma guerra.

— Como respeito as tradições vou acatar o desejo do cristal — Carine, representante do papado, se pronunciou pela primeira vez.

Blanc cerrou os punhos, era claro que ela estaria do lado de Safira, bruxas puras trabalham em bando, principalmente quando a diretora do santuário era nada mais, nada menos, que a filha do membro mais alto da igreja. Era quase como se ambas as instituições fossem apenas uma.

— Agora que decidimos o destino da criança, temos que encontrar alguém que se responsabilize por ela — Henrique se ajeitou em seu trono — Safira, talvez o santuário…

— Majestade! — Ivan o interrompeu bruscamente — Eu me responsabilizo por Catherine. Ela já se afeiçoou a mim e eu vou cuidar para que ela tenha uma boa educação.

— Uma bruxa sendo criada por um humano? — Denize tinha escárnio em sua voz — Onde já se viu tamanho absurdo?

Ivan sentiu seu corpo gelar, ele sabia que perder Catherine de vista era como condená-la à morte. Denize tinha olhos maldosos, no santuário a garotinha provavelmente não duraria muito.

— Uma bruxa incomum merece uma criação incomum, não acha? — Safira sorriu para a companheira.

— Parece bom para mim — Henrique dizia com desinteresse — Dou a reunião como encerrada.

Do lado de fora, a pequena Catherine aguardava junto com uma cuidadora o resultado do seu destino.

— Vamos para Otium! — Ivan disse entusiasmado assim que saiu da sala.

A criança sorriu e em seguida correu para os braços da única pessoa com quem havia criado proximidade.

— Serei seu pai a partir de agora e seu sobrenome será Gibran, como o meu! — Ivan acomodou a criança em seu colo.

— Gibran… — A menina arriscou a nova palavra.

— Aproveite seus momentos com o seu bichinho novo — Blanc estava encostado em uma pilastra observando a cena — Não vai durar.

— Se você ousar se aproximar da minha filha eu não serei misericordioso — Ivan tinha um tom de voz agressivo — Existe um abismo entre as nossas capacidades e eu o usarei para destruir  sua dignidade antes de tirar a sua vida.

A expressão de Blanc se tornou tão áspera que assustaria até o mais corajoso dos homens.

— Catherine Gibran — Blanc recitou.

Mesmo assustada a criança o encarou após o chamado.

— Eu vou queimá-la e seu sobrenome só fará mais satisfatória essa purificação — Blanc sorriu diabolicamente para a menina.

— Não se preocupe pequena — Ivan o ignorou enquanto se afastava em direção ao carro que os aguardava — Enquanto eu viver, não deixarei que nada de mal lhe aconteça.

Apesar de se sentir segura nos braços de Ivan, Catherine nunca conseguiu esquecer o medo que sentiu naquele dia. Todo o ódio que carregava aquelas palavras, toda determinação que os olhos de Blanc transmitiam enquanto ele falava da sua morte. 15 anos haviam se passado e ele estava ali diante dela, com a mesma determinação de acabar com a sua vida. O céu antes brilhante e cheio de vida, aos poucos tomava um aspecto sombrio.

Sem nada muito claro em sua mente, a bruxa se levantou em completo desespero e correu na direção oposta a do seu carrasco. A fuga não durou muito, pois logo ela foi agarrada por um dos soldados do Minus. Aos poucos ela compreendeu que estava completamente cercada, havia mais de 50 indivíduos ali.

— Acabou Catherine Gibran! — Blanc se aproximava da bruxa.

Foi nesse momento que o homem que imobilizava Catherine gritou estridente e em seguida caiu no chão com um enorme corte em suas costas.

Sem que qualquer outro pudesse se aproximar, Catherine foi envolta por um chicote e em seguida foi arrastada, parando somente nos braços de Josh.

— Corra! — O ex Minus deu o comando para a garota.

— Vem comigo! — A bruxa tentou puxar o braço do companheiro, mas Josh não moveu um centímetro.

— Eu seguro eles! — O garoto empurrou Catherine com força o suficiente para que a garota cambaleasse alguns passos para frente — Não pare de correr até se sentir segura, eu vou te encontrar em breve.

“Não vai não…” Catherine pensou.

Ao olhar a forma como ele já estava ferido devido ao acidente com o trem, era difícil se ter alguma esperança de que tudo ficaria bem. Mas o que ela poderia fazer? Ficar ali e fazê-lo se preocupar com ela enquanto enfrentava todos aqueles caras? Se ela não poderia ajudar que ao menos não atrapalhasse. Com esse pensamento em mente, Catherine se embrenhou na floresta que cercava a ferrovia.

Masumi correu em sua direção, mas Josh o impediu, com um ataque usando o seu chicote. O bruxo conseguiu se desvencilhar daquele golpe, mas foi incapaz de avançar um único passo.

— Soltem o monstro — Blanc deu o comando.

Josh não foi capaz de sequer assimilar aquelas palavras antes de ser atingido por um raio de energia tão poderoso que o fez ser lançado vários metros para longe. Um buraco havia sido aberto no seu abdômen e ele nem ao menos conseguia identificar o autor do disparo.

Um rugido denunciou o culpado e quando o ex Minus pôs os seus olhos na criatura, ficou completamente apático. Em toda a sua vida ele jamais havia visto um híbrido defeituoso lançar uma magia tão poderosa.

— Espalhem-se! — Blanc instruiu o pelotão — Procurem a bruxa.

Josh queria poder impedi-los, mas a criatura avançou ferozmente em sua direção e ele precisava se preocupar em ficar vivo.

Desesperada, Catherine continuava a se embrenhar na floresta. Naquele momento, uma intensa chuva se iniciou, uma espécie de déjà vu a ocorreu. Mais uma vez ela estava ali, correndo pela sua vida, no meio de uma tempestade, suja de lama, perdida em uma floresta e preocupada com vida de uma pessoa importante, que havia se ferido por sua causa.

— Aí está você! — Um caçador surgiu em sua frente, com uma rapidez impressionante, digna de um corredor.

Catherine preparava-se para fugir por outra direção quando avistou mais dois se aproximando. Em pouco tempo ela estava cercada por mais de 10 homens.

Era assim que sempre seria? Agora ela deveria esperar alguém aparecer para salvá-la? Ninguém viria. Ninguém precisava vir. Uma pequena checada em seus bolsos e a bruxa encontrou o presente que havia recebido do Lorde das trevas.

Ela pode auxiliá-la a elaborar feitiços que você tenha em suas lembranças. Quase como copiar magias, mesmo sem compreender sua mecânica.

— As minhas lembranças… — Catherine sussurrava.

Aquele cenário só a fazia lembrar de uma coisa.

“Claire”

De repente o corpo de Catherine começou a emanar uma energia poderosa que aos poucos tomou a forma de raios brilhantes que se disparavam por toda a parte.

— FUJAM!

Os soldados gritavam desesperados enquanto assistiam a floresta inteira ir abaixo.

— Renda-se bruxa maligna! — Masumi prendeu o braço de Catherine com uma corrente de água e arrastou violentamente em sua direção.

Ao olhar atentamente para o que a prendia, a bruxa fez com que a corrente se desfizesse e em seguida usou a mesma magia para aprisionar Masumi.

O bruxo se libertou de imediato e atacou a garota diretamente com uma rajada de água.

A chuva que caía forte sobre os dois, cercou Catherine como um escudo circular. Masumi continuou a atacá-la insistidamente mas nenhum dos seus ataques parecia ser eficazes contra aquele poderoso escudo. Foi então que o bruxo usou a lama em que Catherine pisava como uma armadilha para desestabilizá-la. A bruxa acabou caindo de joelhos e diante daquela oportunidade, Masumi iniciou seu feitiço de selamento.

No entanto, antes que Masumi terminasse sua magia, foi atacado por uma rajada de vento vinda de Catherine, que o fez ser arremessado longe, parando apenas ao se chocar contra um tronco de árvore. Se ela aprendeu alguma coisa no seu tempo com Mirian é que não se deve dar oportunidade para o inimigo investir contra você.

Não muito distante dali, Josh lutava sozinho contra a criatura desconhecida.

Por mais que Anabel se esforçasse para amenizar seus ferimentos, o buraco no abdômen de Josh permanecia aberto e sangrando.

Joane e Marie seguiam firme evitando a aproximação do monstro, mas toda aquela força bruta era algo difícil de se conter.

Completamente sem forças, o caçador tentava ao máximo se afastar do animal enfurecido, no entanto a diferença de vitalidade dos dois era incomparável. Foi nesse momento que Josh foi surpreendido por um estrondo seguido da imagem do animal sendo atingido por uma onda de energia poderosa.

— A cavalaria chegou! — Catherine sorria triunfante.

— Desde quando você consegue lançar raios? — Josh estava realmente surpreso com a magia feita pela bruxa.

— Não temos tempo para conversar — Catherine tentava ajudar Josh a se levantar.

O ferimento no abdômen do garoto fazia a bruxa se preocupar, ele mal conseguia ficar de pé. Como eles escapariam dali?

“Não é hora de se lamentar Catherine!” A bruxa refletia. Todos haviam juntado forças para protegê-la até aquele momento. Era o mínimo que ela poderia fazer para retribuir.

Foi nesse momento que Catherine escorregou no chão molhado e caiu, juntamente com o corpo de Josh. Aquele movimento foi a escapatória de um ataque furtivo de Blanc, que pôs abaixo uma árvore gigantesca.

Sem pensar em muitas alternativas, Catherine investiu contra Blanc através de uma rajada de vento. O golpe fez o caçador recuar alguns metros, mas sem qualquer dano, ele continuou a avançar na direção da bruxa. A garota tentou lançar mais um ataque contra o inimigo, mas Blanc avançou rapidamente em sua direção, a ergueu pelo pescoço e em seguida chocou violentamente seu corpo contra uma árvore.

Catherine tentou acertá-lo com um raio, mas a pele de Blanc parecia estar envolta por uma espécie de campo de energia que impedia o contato com qualquer coisa que fosse nociva a ele.

Diante da distração de Blanc, Josh agarrou o broche que ornamentava a roupa do general e em seguida o atingiu com um soco no estômago.

O impacto fez com que Blanc cambaleasse e diante dessa oportunidade, Josh o atingiu novamente com um soco no rosto que o fez ser lançado para vários metros dali.

Catherine estava assustada, o corpo inteiro de Josh brilhava como se fossem luzes de natal. Ela jamais havia visto coisa parecida.

— Maldito bastardo! — Blanc se levantava enquanto limpava o sangue no rosto — Vai usar essa sua habilidade imunda contra mim?

Sem responder nada ao pai, Josh jogou o broche em direção a Catherine e em seguida avançou rumo a batalha.

A bruxa olhou atentamente para o objeto e entendeu que aquilo se tratava de um tesouro celestial. Era então aquele pequeno objeto que impedia que Blanc recebesse qualquer dano de seus inimigos. Antes que a bruxa pudesse tirar quaisquer mais conclusões sentiu o broche tentar fugir da sua mão, mas ela o agarrou firme. No entanto, o objeto continuava a tentar fugir de volta para o seu portador, cada vez com mais vigor a ponto de fazer Catherine ser arrastada por alguns metros.

— Fica quieto! — Catherine usava toda a sua força para tentar impedir que o broche alcançasse Blanc novamente — Seu portador é muito malvado!

— Me solte bruxa do azar — Uma voz feminina saía do broche — Tire suas malditas mãos de mim!

— Nem pensar! — Catherine lutava para mantê-lo sob controle.

Aos poucos o local se enchia novamente de soldados.

No entanto qualquer um que tentasse interferir na luta de pai e filho era fatiado pelas lâminas gêmeas de Josh. Catherine por outro lado, criou um escudo de água que servia como arena para ela e seu arqui-inimigo: o broche.

De repente, com a distração da bruxa, o escudo que cercava Catherine se desfez em uma poça de água e a garota foi atingida por uma magia estranha.

Um pequeno pergaminho voou em sua direção e se aderiu a sua pele. No momento que as duas superfícies se encontraram, a bruxa sentiu um enorme choque percorrer todo o seu corpo e tirar a força de seus membros. Sem conseguir controlar suas pernas, a garota caiu de joelhos.

A visão turva, ainda era capaz de notar a aproximação de Masumi, que estava cercado de papéis flutuantes, como o que estava grudado em sua pele. Mesmo sem entender o que se tratava, Catherine tentava usar todas as suas forças para retirar aquele objeto de seu braço.

— Você é muito resistente bruxa — Masumi dizia enquanto lançava outro pergaminho em direção a Catherine.

No momento em que o segundo pergaminho tocou a garota, ela caiu de bruços no chão.

O broche voou em direção ao seu portador e Josh sentiu seus punhos chocarem contra o aço que havia, novamente, se tornado a pele de Blanc.

Com sua vantagem retomada, Blanc voltou a investir pesado contra seu inimigo. Soco após, soco, Josh recuava. Sem chance de revidar, ele estava cada vez mais fraco. Sem muitas alternativas, suas cimitarras voltaram para suas mãos na tentativa de auxiliá-lo naquela batalha. Nem mesmo o escudo de Blanc resistia às investidas das lâminas de cristal, todavia, sem que ninguém o cobrisse, Josh começou a ser alvejado por flechas vindas dos outros caçadores.

Anabel tentava usar sua magia de ilusão para confundir os atiradores, entretanto o último golpe contra Josh não pôde ser impedido por nenhum de seus aliados. A criatura voltou ao campo de batalha e o agarrou com uma mordida que cobriu do seu ombro até o peito. As presas do animal perfuraram a pele do ex Minus profundamente. Ela o sacudiu no ar e em seguida o arremessou para longe, já desacordado.

— Está acabado! — Blanc ajeitava seu casaco — Eu encerro aqui o erro que cometi há 26 anos!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam de deixar um comentário me falando o que mais curtiu no capítulo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Questão de Sorte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.