Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 48
A Primogênita


Notas iniciais do capítulo

Tamo chegando na reta final dessa temporada! Preparem os corações que vai ser só tiro, porrada e bomba!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759767/chapter/48

— É a filha mais velha do sociopata! — Vincent recuou assustado — Veio salvar o seu irmãozinho?

Helena deu uma olhada ao seu redor e reconheceu Josh caído no chão.

— Para falar a verdade, eu nem sabia que ele estava aqui! — A caçadora deu de ombros — Na verdade eu estou em busca das crianças que vocês tiraram do meu reino. E é claro que vim matar vocês também.

O enorme machado que estava cravado na escada, voou novamente para as mãos de sua dona, que o ergueu como se ele fosse de brinquedo.

— Helena Lagunov, largue esse machado! — Vincent encarou a intrusa.

— O que? Ah… você está tentando me controlar? — Helena sorriu — Eu lamento, mas recebi um presente de uma amiga minha antes de vir para cá

A caçadora mostrou um pequeno feitiço escrito em seu pescoço. No momento em que os irmãos viram aquilo, tiveram seus rostos tomados por desespero.

— Ela disse que… Hum… — A garota levava a mão ao queixo enquanto tentava se recordar das palavras de Agnes — Ah! Foi algo como “É muito perigoso que um demônio como você fique sob o controle de um bruxo perverso.”

Em meio a confusão, Ryu se aproximou do corpo de Catherine e o deixou em segurança.

— Ela também me disse para tomar cuidado com você — Helena apontou para Louise — Mas acho que sem um braço você acaba ficando bem fraquinha.

— Desgraçada! — Louise envolveu o braço de Helena com suas teias.

Sem muito esforço, a caçadora puxou o membro preso e acabou trazendo junto a condessa Chermont. Com a bruxa vindo em sua direção a toda velocidade, Helena a acertou com uma cabeçada forte o suficiente para fazê-la rolar pelo salão.

Usando sua forma demoníaca, Vincent acertou a caçadora com um golpe no rosto que a fez recuar alguns metros. Nem um pouco abalada com a pancada, Helena começou a brandir seu machado de um lado para o outro, o movimento produzia ondas cortantes que mantinham afastados os fios de Louise e demolia a casa.

Em um dos movimentos o machado liberou um flash de luz que fez ir abaixo o resto da casa. Louise usou sua magia para salvar a si e o seu irmão, mas estava ciente de que não aguentaria mais um ataque como aquele.

Um coro de gritos chamou a atenção de Helena.

— As crianças estão lá em cima! — Maurice correu em direção a escada — Você vai acabar matando elas também!

As palavras do garoto fizeram Helena cessar seus movimentos. Ela não poderia descrever o quanto odiava batalhar em locais com civis. Talvez seu poder de destruição fosse algo um pouco fora do controle.

— Vamos embora agora… — Louise puxou Vincent pelo braço.

— Vocês não vão a lugar nenhum! — Helena avançava em direção aos dois bruxos.

Mas antes que pudesse alcançar seus inimigos, teve o pescoço envolto pelo chicote de Josh e foi arrastada para longe dos irmãos.

— O que está fazendo? — A caçadora estava agora diante do irmão.

Josh não respondeu nada, estava ali em frente a ela em posição de batalha, mas era incapaz de manter os olhos abertos.

— Desgraçado… — Helena deu uma última olhada para Vincent e Heloise que desapareciam junto a uma fumaça negra.

No momento em que Vincent sumiu daquele local, Josh largou suas espadas e caiu desacordado.

No mesmo instante, Anabel tomou sua forma humana e começou a tratar dos seus ferimentos.

— Ele vai ficar bem? — Helena estava visivelmente preocupada.

— Ele já saiu de situações piores, você bem sabe… — A velha bruxa respondeu.

Helena respirou fundo, se lembrando exatamente do que ela estava falando.

— Senhorita Helena — A pequena Isabel cutucou a caçadora — Você veio pela gente?

— Ah! Oi… — Helena sorriu para a garotinha. Ela nem ao menos a havia notado antes — Claro que sim! Me desculpe por ter demorado tanto… esse lugar é mais difícil de achar do que qualquer outro que já vi.

— Por que uma rainha se preocuparia com órfãos? — Felipe perguntou.

— Em primeiro lugar, eu não gosto de títulos nobres, então enquanto não organizarmos nossa república se dirijam a mim apenas como líder — Helena explicava pacientemente — E em segundo lugar… Vocês fazem parte do meu povo e estão sob minha proteção. Mendigos ou nobres, todos no segundo reino são igualmente importantes para o meu governo.

Para Ryu, as palavras da mulher eram inspiradoras, talvez fosse o que mais o atraía nos caçadores: Os humanos eram os protagonistas. Infelizmente aquilo havia se perdido no Statera há muito tempo.

— Pelo cheiro, suponho que essa seja a bruxa do azar que andam falando… — Helena se aproximou de Catherine.

Um pouco desesperado, Ryu empunhou Eveline e se preparou para a batalha. Diante do que havia visto ali, só tinha certeza de uma coisa… ele seria massacrado.

— Senhorita Helena! — Maurice correu em direção a caçadora e cercou seu caminho — Por favor, não faça mal a Catherine, ela foi muito boa para nós!

— É verdade! — Felipe se juntou a Maurice — Ela me salvou do monstro e o acertou em cheio com um espeto de ferro!

De repente, todas as seis crianças estavam ali, diante da caçadora, contando os bons feitos da bruxa.

— Vocês não acreditam que eu atacaria um inimigo inconsciente não é mesmo? — Helena tinha uma expressão de insatisfação em seu rosto — E se vocês dizem que ela os ajudou, então Catherine Gibran não é minha inimiga.

— O Blanc vai ficar bravo… — Josh, que a pouco havia recuperado os sentidos, comentou.

— Ele fica bravo de qualquer jeito — Helena deu de ombros e caminhou até o braço de Louise que havia ficado para trás — Pelo menos não perdi o rastro deles.

— Majestade! — Um grupo de soldados se aproximou da casa destruída.

— Leon, guarde na bagagem! — Helena jogou o braço decepado na direção de um soldado — Isso ainda vai ser muito útil.

O soldado agarrou o membro e depois de dar uma boa olhada, teve a face tomada por completo desespero.

— Obrigada por me ajudar… estaria morto se não fosse por você — Josh se levantou, claramente contra a vontade de Anabel.

— Eu não entendo como você pôde ter ficado tão ferido numa luta contra aqueles bruxos — Helena estava confusa —, você era melhor que isso quando saiu do Minus.

— É fácil dizer essas coisas quando já encontra o caminho aberto… — Josh deu um sorriso amarelo.

— Não se esqueça, que sempre vai ter um lugar para você no meu castelo — A caçadora deu um soco leve no ombro do irmão e caminhou para fora do salão — Continue cuidando bem dele, Anabel!

— Continue cuidando bem dela, Hans! — Josh respondeu.

No canto do salão, Ryu permaneceu imóvel e calado. Ele já havia ouvido falar da “Besta Escarlate”, mas ela era muito mais assustadora pessoalmente.

— Se o Blanc tivesse mandado ela vir atrás da Catherine, essa travessia não duraria um dia sequer… — O guardião sussurrou.

— Talvez esteja aí o problema na sua frase… — Josh suspirou — O Blanc não manda nela.

Aquela resposta havia trazido um alívio indescritível para o coração de Ryu. Ele não queria enfrentar Helena, se é que a luta entre os dois poderia ser chamada de embate.

— Aquele machado... É um tesouro celestial não é? — Ryu se mostrou curioso.

— Sim, Hans o Conquistador — Josh tinha nostalgia em sua voz — É um dos grandes pontos fortes dela. Dizem que ele tem uns mil anos de idade.

— Aquela arma é incrível… — O guardião estava abobado — Se eu tivesse algo assim eu…

— Seria tão inútil quanto é agora! — Eveline tomou sua forma humana — Se eu estivesse ao lado de Ivan, colocaria essa fedelha no chinelo!

— Está com ciúmes por encontrar uma arma mais forte do que você? — Josh provocou.

— Mais forte do que eu? — Eveline estava claramente ofendida — Eu fui membro do grande conselho das 9 bruxas!

Enquanto os dois discutiam, Ryu voltou sua atenção a Catherine.

A bruxa estava respirando, mas não havia acordado desde o momento em que Vincent a atacou.

Uma mistura de ódio e culpa pulsavam dentro do guardião. O ódio se dava ao fato de não ter matado o maldito conde que a havia ferido e a culpa era por não ter sido capaz de protegê-la. As marcas de cortes em seus pulsos e pescoço, resgistraram um pouco do sofrimento que ela havia passado naquela casa.

Foi então que seus olhos se fixaram no enorme ferimento que a garota carregava no ombro, fruto da lâmina de Eveline, guiada por ele.

— Que ótimo guardião eu sou…  — As palavras saíram amargas.

— Ela está viva — Eveline se aproximou dos dois — Pedir mais que isso diante das circunstâncias é um luxo.

— Você disse que eu poderia confiar em você… — A voz de Ryu estava abafada.

— O que?

— Quando invadimos o covil dos contrabandistas, você disse que se eu tentasse qualquer coisa contra Catherine, você me impediria — Ele se virou bruscamente para a bruxa materializada.

— Agora você quer me culpar pelo o que aconteceu? — Eveline se mostrava ofendida.

— Eu nunca deveria ter confiado a vida de Catherine a você! — O guardião cerrou os punhos — muito menos a mim.

— Acho linda a sua forma de tentar se desvencilhar da sua culpa, mas você acredita mesmo que naquele estado bestial em que estava, você pretendia ferí-la com um golpe no ombro? — A bruxa encarava Ryu com seriedade — Você mirou no peito de Catherine! Então sim, eu mantive a minha promessa!

Aquela revelação foi para o guardião como uma facada. Por um instante pensou em como ficaria se tivesse, de fato, matado Catherine.

— Eu acho que não foi para tanto… — Josh tentava se aproximar de Ryu.

Sem dar continuidade no assunto, Eveline assumiu a forma da espada e voltou para a bainha de Ryu.

— Ela é importante para mim… mais do que eu consigo explicar… — A voz do guardião estava trêmula — Faz tempo que me sinto incapaz de protegê-la, mas agora eu mesmo a feri… entende o quanto isso está me quebrando?

— Ryu… Eu fui incapaz de proteger a única mulher que eu amei na minha vida… — Josh o olhava firme nos olhos — Meu pai a matou… meu próprio pai… e tudo porque eu fui incapaz de enfrentá-lo.

Aos poucos, as árduas lembranças invadiam a memória do híbrido.

— Vamos! — Blanc rodeava o filho caído — Levante-se!

— Deixe ela em paz… — Josh correu em direção a Blanc e o acertou com um soco no rosto.

Blanc se manteve firme e revidou, mas foi evitado pelo filho que o acertou no estômago com mais um golpe.

O general do Minus cambaleou alguns metros e voltou a investir contra Josh, mas a sua velocidade era claramente inferior, por isso seu ataque foi evitado e uma lâmina foi posta em seu pescoço.

Naquele momento, os olhos dos dois se encontraram e permaneceram assim por alguns segundos. A chuva forte, volta e meia os faziam fechá-los, mas eles novamente se encaravam como se não houvesse mais nada ao redor.

— FAÇA! — Blanc gritou — Pelo menos assim saberei que você é o monstro que eu esperei que fosse!

— Eu não sou um monstro… — Josh afastou o velho pai com um empurrão.

Enquanto caminhava em direção a Safira, sentiu uma dor excruciante em suas costas.

Um enorme corte fazia o sangue jorrar como um rio furioso.

— Não vire as costas para um inimigo! — Blanc cravou sua lâmina mais uma vez nas costas do filho — Eu te ensinei isso tantas vezes e mesmo assim você permanece no erro!

Desnorteado, Josh se arrastava pela lama, vermelha de sangue. Para ele, Blanc não era um inimigo, era apenas o seu pai.

— Safira… — O guerreiro, quase inconsciente via o corpo sedado de Safira sendo levado por vários caçadores para, cada vez, mais longe dele.

— Vamos acabar com isso — Blanc puxou o cabelo de Josh de forma que sua garganta ficasse exposta — O fato de você continuar respirando, fere o meu nome e envergonha o meu legado.

No momento em que Blanc se preparava para executar o filho mais novo, foi arremessado para vários metros longe dele.

Levantando-se imediatamente, o velho caçador se deparou com a imagem de Helena a sua frente. Os cabelos tinham um tom de vinho escuro devido a umidade, e mesmo sendo impossível de identificar suas lágrimas, a sua expressão tinha estampada uma tristeza profunda.

— Eu não estou pronto para me decepcionar com você também Helena… Saia da frente! — Blanc estava irritado — Você não quer essa luta!

— Não haverá uma luta… — A garota largou o machado no chão — Eu jamais seria capaz de levantar uma lâmina para o senhor… mas não vou deixá-lo matar o meu irmão!

— Os fracos caem… — Blac encarava a filha com desprezo — Se mesmo com todas essas habilidades, ele é incapaz de derrotar um velho…

— Ele não quer machucá-lo! — Helena o interrompeu aos prantos — Apesar de tudo… Ele tem respeito pelo senhor… ele o ama…

— Então é ainda mais grave  — O velho caçador exalava indiferença — A fraqueza dele está na alma.

— ELE É SEU FILHO!

— Ele é meu erro — Blanc estava irredutível — Ao invés de me conformar com o bom combatente que Deus me deu, eu fui levado pela minha ambição humana e criei um monstro… um aliado do mal.

— Eu não lutarei pai… mas também não permitirei que o senhor machuque o meu irmão — De cabeça abaixada, Helena explicou sua posição — Se o senhor continuar com essa insanidade, perderá dois filhos hoje! Isso inclui, o bom combatente que Deus lhe deu…

Um silêncio torturante se estendeu por vários minutos e então Blanc guardou sua espada.

— Se eu o encontrar novamente, não serei tão misericordioso — O velho general disse e em seguida, se juntou ao seu batalhão de soldados.

— Safira… — Josh delirava — Preciso salvá-la…

— Meu irmão… — Helena o pôs nos ombros — Não tenho mais nada a oferecer…

Ryu estava perplexo diante do desabafo do caçador. Josh, que até então fazia de tudo para não revelar seu passado, agora estava ali, contando algo tão íntimo.

— Eu não tenho um bom final para contar… ou alguma lição de moral… — Josh coçava a cabeça — Mas Catherine ainda está viva… É o suficiente para provar que você está fazendo um bom trabalho.

Ao encerrar sua fala, Josh tinha um sorriso em seu rosto.

Não era um sorriso feliz, na verdade Ryu era incapaz de compreendê-lo, tudo o que sabia era que falar com Josh o fazia bem.

— Obrigada! — Ryu deu um tapinha nos ombros de Josh.

— O Blanc é horrível… — A voz de Catherine ecoou pelo salão destruído — Quer dizer, eu sempre soube que ele não era boa pessoa, mas me surpreendo mais a cada relato.

Os dois garotos permaneceram em silêncio, em partes assustados pelo súbito despertar da bruxa, mas em partes também estavam envergonhados por ela assistir aquele momento tão sensível dos dois.

— O que foi? — A bruxa encarou os rapazes — Estão desconfortáveis? Não se preocupem comigo! — Ela sorriu — Na verdade eu curto bastante o casal!

— O QUE? — Josh saltou para metros de distância de Ryu.

Ryu não se sentiu ofendido, na verdade, a reação de Josh o incentivou a cooperar com Catherine.

— Ainda estamos nos descobrindo… — O guardião deu um sorriso tímido.

— O QUE? — Josh estava vermelho como um tomate.

— Ah… — Catherine levou as mãos ao rosto e sorriu empolgada — Tão fofinho!

— PAREM COM ISSO AGORA! — O caçador estava muito envergonhado — EU GOSTO DE MENINAS! E SÓ DELAS!

— Assim você me magoa… — Ryu fez bico.

— O QUE? — Josh sentiu um arrepio no corpo.

Apesar do momento descontraído, ele não pôde evitar de notar aquela súbita recuperação. Bruxas se curam rápido, mas depois de tudo o que passou, ela estava ali, como se nada a tivesse atingido. Catherine estava evoluindo em uma velocidade impressionante, e aquilo era um tanto assustador.

Não muito distante dali, Claire se escondia debaixo do cobertor.

— Eu sei que as coisas parecem ruins agora, mas em breve…

— Cale a boca — Claire se desvencilhava dos lençóis — Cale essa maldita boca!

Os olhos da bruxa estavam vermelhos e sua expressão abatida, era quase impossível de associar aquela imagem com a bela e impecável nobre de sempre.

— Todos viram aquela humilhação… — A garota chutava uma das 5 revistas que estavam jogadas no chão, todas com o seu rosto estampado na capa — Ela destruiu a minha vida.

Sem ter muito a dizer, Henry apenas observou os títulos das matérias.

“Claire Bortoluzzi faz escândalo em frente a hotel de luxo"

“Amor não correspondido, marquesa de Otium é rejeitada por conde Vincent Chermont”

— Claire…

— Senhorita Bortoluzzi — A abertura abrupta da porta, interrompeu a fala de Henry — Catherine Gibran está de volta à cidade.

Henry não tinha palavras para descrever o quanto aquele guardião havia chegado em má hora, mas sabia que era exatamente o que Claire queria.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Está gostando do rumo das coisas? Qual seu personagem favorito? Deixa um comentário pra gente bater papo xD
Finalmente ta chegando minhas férias e eu vou trabalhar feito louca no final dessa história!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Questão de Sorte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.