Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 47
A Última Cartada dos Chermont


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ta grandinho mas ta muito legaaal



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O pátio estava cheio de membros do Minus, todos calados e tensos, trajando seus uniformes pretos, que já pareciam feitos para o luto. De fato, era assim a vida de um caçador, nunca era certo se estariam vivos depois de uma determinada missão. Perder aqueles com quem se havia criado laços também era quase uma rotina e lidar com aquilo era algo ensinado, desde antes mesmo de se entender a dimensão do que era a morte.

Tudo era feito em prol do bem da humanidade e todos estavam cientes disso. Todos estavam dispostos a entregar suas vidas por esse propósito. Isso era ser um Minus. Isso era ser um caçador.

Era o que Blanc dizia diante dos dois caixões que estavam no meio do pátio. Lissa, noiva de Gaspar, era incapaz de conter o choro desesperado enquanto se debruçava sobre o cadáver frio de seu amado. Mas o caixão de Yuki nem ao menos pôde ser aberto, soube-se que o “estrago” havia sido grande demais.

Distante de todos ali presentes, Ryan sentia seu estômago revirar. As palavras de Blanc eram sensatas, mas não eram acolhedoras e de todos os sentimentos que ele poderia sentir, o conformismo era o último deles.

Enquanto o padre iniciava seu discurso fúnebre, Ryan caminhava em direção ao arsenal da sede.

— Sinto muito Rousseau, mas você não tem permissão para entrar — Um guarda informou.

Ryan queria nocauteá-lo e entrar à força, mas sabia que o pobre homem só estava fazendo seu trabalho.

— Não precisa fazer as coisas assim — Blanc se aproximou — Não haja pelas minhas costas como Yuki fez.

Aquelas palavras eram incômodas a Ryan, pois sentiu que ele estava culpando Yuki pelo seu fracasso e consequentemente a sua morte.

Diante da aproximação do general, o guarda liberou a entrada para o arsenal. Ryan permaneceu parado na porta e Blanc caminhou até o tesouro celestial que o interessava.

— Eu estou de volta. — Ryan tinha uma voz firme.

— E terá todo o meu apoio — Blanc entregou Safira para o jovem combatente.

Há poucos metros do jardim dos Chermonts, Josh demonstrava sinais de fraqueza física. Ryu o assistiu fazer aquele ritual bizarro, onde era aplicado raiz de laranjeira em suas veias. Se perguntava o sentido disso, ele poderia perder o controle? E se isso acontecesse, era tão perigoso assim? Tudo o que ele sabia é que Josh estava fraco, não sabia se seria capaz de derrubá-lo naquele estado, afinal, mesmo em desvantagem ele ainda era bem forte. Mas poderia acreditar que aquele caçador conseguiria lidar com os irmãos?

— O que foi? — Josh estava incomodado.

Ryu não havia notado, mas o encarava sem pausa há minutos.

— N-nada… — O guardião limpou a garganta — Não quer descansar?

— Acha que eu não dou conta? — Josh o olhou firme.

— Não disse isso… Só acho que você se esforçou muito.

— Cada segundo que passa, Catherine e as crianças estão mais próximos de virar comida — Josh respondeu de forma simplória.

A expressão de Ryu se enrijeceu, era inegável que o bem estar de Catherine era uma boa forma de convencê-lo de praticamente qualquer coisa. No entanto, isso não diminuía a hipocrisia de Josh, afinal de contas, ele mesmo praticamente o forçou a cuidar da própria saúde antes de partir para a missão.

— Masoquista… — Ryu sussurrou tão baixo que Josh foi incapaz de ouvi-lo.

 

Não muito distante dali na estação de trem que liga os 7 reinos, uma jovem mulher desembarcou, juntamente com um grupo de soldados.

— Majestade, tem certeza que quer se arriscar em uma missão como essa? — Um dos homens cercou o seu caminho.

— Você acha que eu não sou capaz de executá-la? — A garota encarou o subordinado.

O soldado tremeu.

— A prepotência não diminui com os anos não é mesmo, Helena? — Uma mulher com longos cabelos ruivos, presos em uma trança que se estendia até a sua cintura, dizia com sarcasmo.

— Gosto de conservar as minhas boas qualidades — Helena jogou seus longos cabelos vermelhos para trás — Obrigada pelas informações Agnes, daqui em diante eu sigo sozinha.

— Eu não seria louca de acompanhá-la até a mansão Chermont — Agnes sorriu cinicamente para Helena e em seguida sumiu como uma nuvem de poeira se espalhando pelo ar.

— Está pronto Hans? — A mulher se dirigia a um pequeno bracelete dourado que usava — Hoje teremos uma festa inesquecível.

Na mansão dos Chermont, a mesa do almoço estava posta.

Catherine ainda estava incomodada com a situação que havia passado com Maurice, mas não o havia procurado desde mais cedo. O garoto também não havia dito mais nada e a mesa seguia em silêncio.

— Recebi uma ligação mais cedo e soube que…

As palavras de Vincent foram suprimidas por um estrondo que pôs a porta que levava ao jardim, abaixo.

Na origem da destruição, Josh e Ryu se posicionavam para a batalha.

Enquanto o pânico se instalava na casa, os irmãos Chermont permaneciam calmos, como se a refeição ocorresse como esperado.

— Catherine, leve as crianças para o quarto! — Vincent se manifestou.

Mesmo estando claramente assustada, a bruxa apenas seguiu a ordem do conde.

— Cat! — Ryu tentou alcançá-la, mas foi friamente ignorado.

— Ela está sob o controle dele… — Josh o alertou.

Ryu suspirou e entendeu que a única maneira de falar com a garota, seria derrotando Vincent Chermont.

— Achei que vocês ao menos tentariam uma manobra mais sútil — Louise comentou.

— Levando em consideração que vocês já estavam cientes da nossa chegada, seria uma perda de tempo — Ryu respondeu categoricamente.

— Justo. — A bruxa sorriu.

Sem se preocupar em dar continuidade a aquele diálogo inútil, Josh avançou na direção dos dois irmãos, mas foi facilmente repelido por uma teia quase imperceptível.

Ryu empunhou Eveline e se preparou para cortar aquela barreira.

— Ryu — A voz de Vincent fez o guardião cessar seus movimentos — Mate Josh Lagunov.

Um silêncio tomou o local, Josh estava apático, seria os poderes daquele bruxo tão intensos a ponto de fazer com que Ryu se voltasse contra seu próprio companheiro.

As dúvidas dele foram sanadas, no momento em que sentiu a brisa cortante da lâmina do guardião agraciar seu rosto.

Desviar dos golpes dele não era difícil, mas fazer isso e enfrentar os Chermont era impossível.

Ouvir as histórias das habilidades de Vincent era uma coisa, presenciar aquilo parecia quase irreal.

— RYU! — Eveline gritava na cabeça do garoto — Sai dessa!

— Matar Josh Lagunov… — No meio da escuridão em sua mente, ele repetia sem pausa.

— Não seria mais prático mandar o híbrido matar o humano? — Louise protestou.

— Sim, mas seria rápido demais — Vincent explicava — Tentar ficar vivo sem matar o amiguinho ajuda nosso híbrido a ficar mais cansado.

— Ryu! — Josh tentava se comunicar com o guardião enquanto desviava de seus ataques incessantes — Sou eu!

— É inútil, Lagunov — O conde sorria orgulhoso — Pedir para um simples humano se livrar do meu controle chega a ser crueldade.

— Ryu! — Eveline ainda tentava se comunicar com o guardião, mas o via cada vez mais distante.

Foi nesse momento que ela se lembrou do dia em que se comunicou com ele pela primeira vez, ciente de que a mente de seu portador era o seu

, ela iniciou seu plano ardiloso.

A escuridão que cercava o garoto, aos poucos foi dando espaço para algumas imagens soltas, fruto das lembranças que Eveline trouxe a tona.

Diante de Ryu surgiu a bruxa que havia assassinado Jimmy, seus olhos impiedosos o encaravam com desprezo, como no dia em que tudo havia acontecido.

Ao lado dela estava Claire, com sua expressão pretensiosa, ciente de que não havia limites para o que ela queria.

Aos poucos várias bruxas e bruxos surgiram, todos aqueles que ele odiou em algum momento da sua vida, seja pelas humilhações que havia passado ou simplesmente pelas injustiças que foi obrigado a assistir.

— O que está fazendo? — A voz de Vincent ecoava em sua cabeça e aos poucos ele se viu novamente na mansão Chermont.

— Ryu… — Josh estava um pouco receoso — Você consegue me ouvir?

— Eu disse para matar Josh Lagunov! — O conde tinha um tom irritado — Será que você é tão burro que é incapaz de entender um comando tão simples?

A perna direita do guardião ousou dar um passo para frente, mas Ryu logo a conteve. Seus dentes estavam cerrados e um ódio percorria todo o seu corpo.

— MATE JOSH LAGUNOV! — Vincent estava alterado.

Ryu sentia seu corpo inteiro ferver, como se cada célula do seu corpo lutasse bravamente contra a influência do inimigo. Ele odiava Vincent, o odiava mais do que conseguia mensurar. Naquele momento era como se tudo o que importasse fosse separar a cabeça dele de seu corpo.

— Malditos bruxos… — A voz de Ryu estava quase inaudível — … vocês escolhem nossos destinos, limitam nossos sonhos, destroçam nossas esperanças… Eu vou matá-los… — O guardião demonstrava certa insanidade em seu tom de voz.

— O que? — Vincent tinha em sua voz um misto de surpresa e desprezo — Quem você pensa que é? Melhor… O QUE você pensa que é?  — Vincent sorriu pretensiosamente — “quem” não parece adequado para uma criatura tão insignificante como você!

Um alívio tomou Eveline, ela sabia que se era incapaz de alcançar a sanidade do guardião, ao menos a sua fúria seria suficiente para quebrar aquele encanto. “Vamos Vincent! Continue a provocá-lo, está me fazendo um favor!” A bruxa queria dizer, mas não acreditou ser adequado revelar sua identidade para aquele velho conhecido.

— Ele conseguiu… — Maurice espiava tudo do alto das escadas.

— Maurice… — Catherine engatinhou até o garoto com cautela — Volte para o quarto!

— Talvez essa seja a nossa chance de sair desse inferno! — O garoto estava eufórico.

— Inferno? Maurice essa é sua casa! — Catherine se irritou — Tomara que o Vincent expulse logo esses marginais daqui!

— MATE JOSH LAGUNOV, AGORA! — O conde usava mais energia para controlar o guardião.

Ryu permanecia firme, mas seu corpo estava tão tenso, que parecia estar suportando uma pressão de toneladas sobre si.

— Josh…

Antes que Vincent conseguisse mudar o seu comando, Ryu avançou em sua direção, nem mesmo as fortes teias de Louise foram suficientes para contê-lo. Sem ter ao menos a chance de se esquivar, o conde foi atingindo em cheio por um corte diagonal que seguiu do seu peito até a cintura, fazendo jorrar uma quantidade gigantesca de sangue.

Diante da manifestação de Louise ao auxílio do irmão, Josh a imobilizou usando seu chicote e em seguida a arrastou em sua direção, pois sabia que um combate a distância seria suicídio.

Enquanto sacava uma de suas cimitarras para atacar a bruxa, Josh teve o braço preso pela teia de Louise que pretendia decepá-lo.

Mesmo sem o comando do caçador, Joane reduziu todos os fios que cercavam seu portador a pedaços, libertando-o.

Desnorteado, Vincent resumia seus movimentos a esquivos, pois os ataques rápidos e bestiais de Ryu, não faziam possível qualquer tipo de estratégia.

Sem que ao menos notassem, os dois lutadores seguiam em direção as escadas, se aproximando assim de Catherine e Maurice.

— Venha comigo! — Catherine puxou o braço do garoto e o levou até o quarto — Não é seguro aqui!

— Mas eu quero ver… — Maurice resistiu por um tempo mas acabou cedendo.

No quarto, as crianças se encolhiam assustadas e Catherine espiava o que acontecia lá fora.

— Ele vai acabar matando o Vincent… — A bruxa estava preocupada.

— Tomara que sim! — Maurice resmungou.

— O que há de errado com você Maurice? — Catherine estava indignada.

O garoto apenas revirou os olhos e se juntou às outras crianças no canto do quarto.

Do lado de fora, Ryu avançava em direção a Vincent cada vez mais feroz, enquanto o bruxo recuava sem chance de defesa.

Talvez por descuido ou por interferência do subconsciente de Catherine, o conde tropeçou no carpete amassado e caiu no chão.

Diante do inimigo indefeso, Ryu ergueu Eveline para um golpe final, mas foi impedido por um empurrão inesperado. Instintivamente, ele desferiu um ataque contra quem havia interferido naquela luta e em seguida forçou ainda mais a espada na carne do intruso, fazendo até mesmo a parede que o sustentava se rachar.

— CATHERINE! — Maurice correu em direção a bruxa ensanguentada.

Um frio percorreu o corpo do guardião enquanto retirava a espada do corpo ferido e ele se manteve imóvel diante da imagem da garota a sua frente.

Ryu tentou se aproximar de Catherine para se certificar de que ela estava bem, mas ela se afastou dele em um movimento desesperado, mantendo Maurice nas suas costas, na tentativa de protegê-lo daquele psicopata que havia invadido a sua casa.

Tomado por um desespero contido, Ryu não sabia se corria em direção a Catherine ou para longe dela, dentro dele estourava um mix de culpa e preocupação. Antes que pudesse escolher qual atitude tomaria, teve o pescoço enrolado por vários fios e foi arrastado pelas escadas até estar diante de Louise. Ao seu lado, Josh também estava preso e gravemente ferido.

— Sinceramente, eu admiro a coragem de vocês… — Louise caminhava ao redor dos dois garotos — Mas foi apenas perda de tempo.

— Está tudo bem meu amor? — Vincent se aproximou de Catherine e a ajudou a se levantar.

A bruxa acenou positivamente com a cabeça.

— Não se preocupe, esses bárbaros terão o que merecem! — O conde tinha um tom sério — Agora volte para o seu quarto, mais tarde tratamos desse ferimento.

Catherine acenou positivamente com a cabeça e fez como pedido.

Vincent ajeitou cuidadosamente seu terno rasgado e sujo de sangue, e em seguida desceu as escadas rumo ao encontro de Louise.

— Como pedido… — Louise usou sua teia para levar Josh até o conde.

— Isso vale o terno perdido? — Vincent se aproximou do caçador com uma expressão de escárnio em seu rosto.

— Catherine para de fazer tudo o que ele manda! — Maurice puxava o braço da bruxa em direção as escadas.

— Viu no que deu quando saímos do quarto… — A garota resistia enquanto tentava estancar o sangue que escorria de seu ombro.

— Por favor… venha comigo! — Maurice insistiu — Juro que depois disso eu paro de te desobedecer!

Aquela oferta era bastante tentadora e apesar de se sentir envergonhada por ser incapaz de conter um garoto de 12 anos sozinha, ela acabou aceitando.

Do alto da escada, os dois mais uma vez espiavam o que se passava.

— O que ele vai fazer? — Catherine sussurrou.

— O que ele sempre faz com quem vai contra ele… — Maurice respondia no mesmo tom.

Naquele momento, diante dos olhos de todos ali presentes, inclusive de Catherine e Maurice, Vincent passou por uma transformação gradativa, no fim tomando a forma de um monstro.

Catherine precisou levar a mão a boca para conter o grito que estava prestes a sair, diante da criatura horrenda que estava a sua frente.

— Não é a primeira vez que você vê isso Catherine! — Maurice sacudia a garota — Tente se lembrar de quando você salvou Isabele, ontem a noite!

Os olhos de Catherine estavam arregalados e ela era incapaz de dizer qualquer palavra devido ao choque.

— Você conseguiu se livrar uma vez, pode fazer isso de no…

As palavras de Maurice foram sufocadas pelos fios de Louise enrolados em seu pescoço. Assim como havia feito com Ryu, a bruxa arrastou o garoto pelas escadas e o ergueu a sua frente.

— Eu estou cansada desse mini híbrido conspirando pelas nossas costas! — A condessa tinha uma expressão fria em seu rosto.

— Híbrido? — Vincent assumiu novamente sua aparência humana.

— Surpresa — Louise sorriu de forma sarcástica para seu irmão.

— Deixe ele em paz! — Catherine desceu as escadas correndo.

— Querida… — Vincent a segurou pelo braço, impedindo assim que ela alcançasse Maurice — Volte para o quarto!

— Me solte! — A bruxa se debatia, na tentativa de se livrar do domínio de Vincent.

— Cat… — Ryu sussurrava sem forças.

Josh estava quase inconsciente.

— Catherine! — Maurice implorava por ajuda.

— Põe ele no chão! — A bruxa não cessava a sua reluta perante o conde.

— Me obedeça, Catherine! — Vincent chacoalhava a garota brutalmente.

— Tire essas suas mãos imundas de mim! — Catherine empurrou o bruxo com força o suficiente para afastá-lo alguns metros dela.

— Eu disse que ela iria se rebelar, mas você nunca escuta os conselhos da sua sábia irmã — Louise disse com sarcasmo.

Com apenas um movimento de mãos, ela também aprisionou a bruxa em sua teia.

— Mate-a! — Louise ordenou.

— Não! — Ryu tentava se livrar das amarras, mas quanto mais ele se debatia mais ferido ficava.

— Cale a boca… — Conforme falava, a condessa apertava os fios no corpo do guardião, o ferindo ainda mais — De todos aqui, você certamente é o mais inútil! Espero que seu sangue ao menos sirva para ajudar a consertar a bagunça que seu amigo fez na nossa floresta!

Aos poucos os fios transparentes se tornavam vermelhos e Ryu ficava cada vez mais fraco.

— O que está esperando? — Louise encarou Vincent — Sugue toda energia dessa bruxa, é o mais seguro a se fazer agora…

— Mas… — O conde estava receoso.

— Agora Vincent! — A condessa gritou — Seja sensato pelo menos uma vez!

Diante de toda a confusão que a cercava e também a que a preenchia, Catherine estava apática. Em quem ela poderia confiar? Louise era uma assassina, Vincent era um monstro.

— Cat… — A voz do intruso continuava a chamá-la, mas ela não sabia como ajudá-lo. Não sabia como ele a conhecia.  Não sabia como ele conhecia o apelido que ela só dizia para as pessoas mais próximas dela...

“As pessoas mais próximas…” Naquele momento Catherine se lembrou de Ivan. A única coisa que permanecia clara em sua mente.O seu porto seguro. Ela sabia que se o encontrasse, tudo se ajeitaria.

Quando era pequena, Catherine via seu pai chorando junto a foto de uma mulher que ela não conhecia. Quando questionava o motivo, ele sempre dizia que estava feliz, feliz de ter tido a oportunidade de conhecê-la. “As pessoas também choram por felicidade, sabia?” Por muito tempo, ela acreditou que Amélia era sua mãe, mas quando ficou mais velha entendeu que não era esse o caso. Mas gostava de fazer parecer que era verdade, fazendo Ivan se sentir, de alguma forma, mais perto de quem havia perdido.

Perder a esposa havia sido um trauma que ele nunca conseguiu superar, mas ela sempre o fazia sorrir, mesmo logo depois que ele chorava. Ela o presenteava com desenhos horríveis aos 5 anos, mas Ivan sempre adorava recebê-los. Ele ria das piadas horríveis que ela contava aos 10 e comemorava as boas notas do ensino médio. Ele sempre adorava as comidas nojentas que ela fazia e quando eles visitavam o túmulo de Amélia, ele sempre sorria quando Catherine falava sobre a possível Altiore dos caçadores.

— Minha querida… — Vincent tocava o rosto molhado da bruxa — Não precisa ter medo…

— Eu preciso ir ao santuário… — Catherine sussurrou.

— O que? — Vincent estava confuso.

— Eu prometi ao meu pai que estaria lá…

Uma aura de cor amarelada envolveu o corpo de Catherine e lentamente dissolveu todos os fios que a aprisionavam. Não mais suspensa pelas teias de Louise, a bruxa caiu de joelhos.

— Se você não vai matá-la, eu mato! — Louise fez surgir mais uma porção de fios, mas nenhum deles foi capaz de tocar Catherine, todos dançavam ao redor do corpo da bruxa, como se ela estivesse protegida por um campo de força.

A energia se espalhou por todo o salão com um tom sépia profundo. No mesmo instante todos os reféns de Louise foram libertados.

— Ela é muito forte… — Mesmo fraco, Josh assistia a tudo.

A energia de Catherine parecia suprimir e absorver a energia dos Chermont.

Enquanto Vincent estava tomado por desespero, Louise conjurava um feitiço antigo.

— Você… — Catherine caminhava em direção a Ryu — Eu sei quem é você...

Vincent tentou alcançá-la, mas foi repelido por uma energia tão forte que acabou se chocando contra uma das paredes que cercavam o salão.

A obstinação da bruxa do azar foi suprimida por uma súbita dor em seu peito. A dor era tão intensa que ela foi incapaz de se manter de pé.

— Você tem muito potencial — Louise caminhou até Catherine e a encarou de cima —, mas ainda é só uma criança. Eu conheci outros como você…

— Outros como eu? — Catherine estava quase inconsciente — Existem outros como eu?

— Não mais — Louise sorriu — Mas eu fui sábia em acreditar que poderia haver algum de vocês perdido por aí e mantive guardada essa magia milenar.

— Deixe ela em paz! — Ryu avançou em direção a bruxa, com Eveline em punho, mas foi arremessado para longe sem que a condessa precisasse mover um dedo sequer.

— Inseto insistente...— Louise suspirou — Catherine… te matar é um desperdício, mas as coisas ficaram maiores do que deveriam.

Vincent permaneceu em silêncio, com uma expressão descontente em seu rosto.

— Acredito que diante dos acontecimentos, você não tenha nenhuma objeção — Louise se virou para o irmão.

Sem responder mais nada, ele caminhou até Catherine e a acomodou em seu colo. Tomando novamente a sua forma demoníaca, ele se aproximou do rosto da garota e começou a sugar a sua energia.

Conforme ele absorvia energia, o corte em seu peito se fechava e a aparência de Catherine se tornava mais desgasta.

— Não deixe sobrar uma gota! — Louise ordenou.

— Joane… Marie… — Josh sussurrou.

As duas cimitarras partiram como raios em direção a Vincent, mas acabaram ficando presas em uma teia posta por Louise ao redor do irmão.

— Os insetos sempre continuam a se debater, mesmo diante da inevitável morte — A condessa suspirou mais uma vez.

Um silêncio tortuoso se estendeu por alguns segundos, antes de ser quebrado por uma explosão que pôs abaixo toda a fachada da casa. Da direção da explosão um enorme machado dourado, rasgou o ar e junto decepou o braço de Louise.

— Me desculpe… — Uma mulher escalou os destroços e em seguida saltou sobre o carpete do casarão — Na verdade eu queria a sua cabeça.

— Quem é você? — A condessa estava atônita.

— Helena Lagunov, filha de Blanc Lagunov e atual líder do terceiro reino — A mulher sorriu prepotentemente e em seguida encarou a bruxa — Eu vim caçá-los.


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam? A Helena é muito meu amor viu



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