Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 46
Adaptável


Notas iniciais do capítulo

DESCULPEM! Minha vida tava muito corrida e esses atrasos são por isso!
Mas fiquem tranquilos eu não vou sumir por muito tempo ok?



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— Eu sinto muito — Blanc dizia com pesar.

Mesmo com as recomendações para repouso, Ryan havia ficado de pé ao receber a notícia da morte de Yuki.

— Eu só soube que ela e Gaspar haviam saído escondido para essa missão difícil, pouco depois de receber os corpos…

A voz do general sumia em meio aos pensamentos conturbados do garoto.

— Morta… — Ryan cambaleou até conseguir se apoiar na janela do quarto.

— Filho… — Blanc se aproximou do pupilo — Não é hora de se deixar levar pela fraqueza… Lute por Yuki, assim como ela lutou por você.

“Ryu…” Um ódio percorreu o corpo do rapaz. Ele havia desistido daquele embate e acreditou ser um ato de maturidade, mas Yuki não pensava assim.

“Era claro que ela iria tentar limpar o meu nome… como fui tolo…”

Apesar de sempre tentar parecer forte diante de seu mestre, naquele momento Ryan não se importou em chorar.

— O enterro será em duas horas. — Blanc informou, antes de deixá-lo sozinho.

Na floresta vermelha, Ryu e Josh descansavam junto a um tronco de árvore. Durante toda a noite, os dois haviam enfrentado esqueletos e desviado de fios afiados, mas nunca chegavam a lugar nenhum.

Nem mesmo a magia de Anabel, a bússola que sabia de todas as direções, foi capaz de tirá-los daquele labirinto escarlate.

— Eu não aguento mais… — Ryu soltou.

— Nós sabíamos que não iria ser fácil! — Josh tentava animar o amigo, mas aquelas palavras não serviam nem para ele.

— Eu esperava uma batalha difícil, mas nem ao menos chegamos até nossos inimigos e já estamos exaustos! — Ryu rebateu.

Josh não tinha como contestar aquele fato, por isso apenas suspirou e tentou pensar em um novo plano.

Um longo silêncio se estendeu e então, Ryu se manifestou:

— O que é um híbrido?

— O que? — Josh foi pego de surpresa.

— A Eveline te chamou de híbrido fajuto… mas o que é um híbrido?

Josh franziu as sobrancelhas, para ele, Ryu já sabia mais do que deveria sobre a sua história, mas nunca parecia saciado.

— Ryu, estamos mais perto da morte do que de Catherine e você ainda me vem com essas perguntas sem sentido?

— Se vamos morrer, ao menos mate junto a minha curiosidade! — O guardião insistiu — O que é um híbrido?

— O filho de uma bruxa com um humano — A voz de Eveline se fez audível a todos e em seguida ela se apresentou em sua forma humana — Quase tão raros quanto um trevo de quatro folhas, nesse caso me refiro a Catherine.

— Eu não sabia que esse tipo de concepção era possível, mas mais do que isso, nunca pensei na possibilidade do Blanc se envolver com uma bruxa! — Ignorando a piada horrível de Eveline, Ryu se concentrou no que importava.

— Não foi algo tão utópico assim, não é mesmo Josh? — Eveline encarou o caçador.

Josh estava surpreso daquela desconhecida saber tanto sobre ele, mas considerando que se tratava de uma bruxa, ele apenas aceitou que não tinha muito controle sobre isso.

— Eu fui feito a partir de uma experiência em laboratório — Josh tinha um tom ríspido.

— Bruxas são incapazes de gerar crianças humanas pelo simples fato de seus corpos atacarem o feto. No corpo das humanas, o material genético de bruxos acaba por ser venenoso. Se uma mulher engravida de um bruxo, ela provavelmente morrerá antes do terceiro mês de gestação.— Eveline explicava de forma tranquila — Mas o Minus encontrou uma forma de tentar diminuir o efeito dessa natureza. Eles drenavam periodicamente o sangue de uma bruxa, o substituía por sangue humano e mantinham a hospedeira sob o efeito de raiz de laranjeira, impedindo assim que o seu corpo tivesse força o suficiente para destruir o feto.

As palavras de Eveline pareciam facas cravadas no peito de Josh e o peso delas era tão evidente, que Ryu se sentiu incomodado.

— Milhares de bruxas morreram nas experiências, milhares de fetos foram descartados e até bebês já nascidos foram sacrificados, pelo simples fato de nascerem doentes ou deformados — A bruxa não se importava com o como Josh se sentia a respeito disso — Mas houve um bebê que sobreviveu…

— Eveline, chega! — Ryu intercedeu.

— Pensei que estivesse curioso. — Eveline tinha sarcasmo em sua voz.

— Já foi o suficiente obrigada… — Ryu dizia em meio a suspiros.

— Eu soube disso aos 18 anos… — Josh desabafou — Antes eu acreditava ser a única vítima de tudo isso…No final, descobri que estava mais para um culpado do que uma vítima. “Você é uma arma perfeita!” Era tudo o que me diziam.

— Não parece ter sido uma infância fácil… — Ryu tentava passar segurança — Eu entendo bem sobre infâncias difíceis.

— Alguns dias depois de descobrir isso, eu fugi… Eu acreditei que poderia ser livre, mas a verdade é que… não dá para fugir daquilo que está dentro de você — Josh encarava a sua mão esquerda freneticamente.

— Talvez você não precise fugir — Ryu sorriu de forma terna para Josh — Assim como Catherine, não acredito que você seja um erro… na verdade eu acredito que vocês dois são especiais. Para mim vocês são pessoas abençoadas e nada menos do que isso.

Josh foi atingido em cheio por aquelas palavras, mas não foram dolorosas como as de Eveline, foram… acolhedoras.

— Obrigada… — O caçador sussurrou enquanto encarava sua mão com mais intensidade — Fico feliz de não precisar me esconder.

— Não precisa esconder coisas de mim cara — Ryu deu um soco leve no ombro de Josh — Somos amigos!

— Não vou mais me segurar — Josh sorriu para Ryu, enquanto as veias em sua mão se acendiam.

Talvez por medo, ou apenas por puro instinto, o guardião se afastou do caçador. No momento em que se deu conta que Ryu estava em um local seguro, Josh acertou o solo em cheio com os punhos fechados. A força do golpe fez o chão inteiro tremer como um terremoto, uma larga trilha de destruição se estendeu até o fim da floresta, mas Josh não havia alcançado seu objetivo. No final do caminho se encontrava um precipício e não a mansão Chermont.

— Venha para trás de mim! — O caçador instruiu.

Ryu não foi capaz de ver o fim da passagem que Josh havia aberto, mas confiava nos bons olhos do amigo.

Um segundo golpe foi desferido contra o chão e mais um caminho foi construído, entretanto esse caminho se findava na entrada da floresta, em direção a cidade.

— Para trás! — Josh disse mais uma vez, enquanto se preparava para seu próximo ataque.

Ryu se questionava o motivo de ele não ter feito isso antes, mas optou por não abordá-lo com essa questão, afinal quem era ele para julgar os problemas psicológicos dos outros?

No casarão, Catherine caminhava apreensiva em direção ao estúdio de Vincent.

“Será que ele sabe da minha conspiração com o Maurice?” A bruxa pensava.

— Olá meu amor! — Vincent se levantou para receber Catherine.

A bruxa sorriu de forma discreta.

— Notei que você não estava muito disposta essa manhã — O conde a acomodou em uma poltrona — Teve algum problema durante a noite?

“Eu quase fui morta por um demônio que você mantém em sua casa como bichinho de estimação!”  Catherine pensou.

— Acho que tive pesadelos… — Catherine respondeu.

— Que coisa terrível! — Vincent parecia profundamente afetado por aquela informação — Infelizmente eu não posso protegê-la desse tipo de situação…

Catherine sentiu profundo desprezo pelas palavras dele, afinal, era ele quem havia feito de sua vida um pesadelo.

— Tenho algo para você… — Ele caminhou até Catherine e retirou uma caixinha vermelha de dentro do bolso de seu sobretudo — Ainda não oficializamos nosso noivado, por isso queria que vc usasse isso na entrevista de amanhã.

Enquanto falava, Vincent mostrou a Catherine o conteúdo da caixa.

Se tratava de um anel com um generoso diamante no meio.

A bruxa sentiu um arrepio na espinha.

— Agora sim! — Vincent colocou o anel no dedo dela — O contraste com a sua pele é divino…

Enquanto Vincent se aproximava de Catherine para beijá-la, a bruxa se afastava como se estivesse diante de um monstro.

— VINCENT! — A voz de Louise entrou na sala como um trovão.

— O que foi?... — O conde  respondeu a contragosto.

— Temos problemas sérios! — Louise foi ríspida.

— Não podem esperar?

— Nem um segundo sequer!

Catherine observava aquela conversa conturbada em silêncio.

— Minha querida… — Vincent acariciou o rosto de Catherine — Terminamos essa conversa mais tarde.

A bruxa acenou positivamente com a cabeça, aliviada.

Enquanto caminhava em direção ao jardim, Catherine pensava em alguma forma de sair daquele lugar. Naquele momento não se tratava mais apenas dela e sim de todas as crianças naquele casarão.

Foi quando ela se deu conta da oportunidade que estava a sua frente. Se os irmãos Chermont estavam com problemas sérios, aquilo era claramente uma oportunidade para ela e as crianças. Seja lá o que fosse aqueles problemas, poderia de alguma forma ajudá-los a sair dali.

Mas investigar essa situação exigia da bruxa uma tarefa um pouco assustadora: espia-los.

Ivan sempre a ensinou que ouvir a conversa dos outros era falta de educação, mas naquela situação até mesmo ele a compreenderia.

— Você disse que eles não seriam problema! — A voz de Vincent estava alterada.

A essa altura, Catherine já ouvia tudo de atrás da porta.

— Você achou uma boa ideia deixar o guardião vivo! — Louise rebateu.

— Eles estão botando a floresta abaixo! — O conde se mostrava preocupado.

— Esse problema é seu! — Louise estava irritada — Vá até lá e o resolva!

— Deixe os vir… Quero prová-lo… — Vincent parecia estar diante de uma refeição suculenta — Quanto tempo faz que não me alimento de um híbrido?

— Seus caprichos ainda nos custaram caro! — Louise resmungou.

A porta estava aberta, Catherine estava um pouco assustada mas queria saber mais do que se passava lá dentro. Ela então se inclinou lentamente em direção ao quarto e, por sorte, Vincent e Louise estavam de costas. No telão a frente, passava a imagem de dois homens caminhando por uma trilha de árvores caídas. Apesar de um deles também ser familiar a ela, o garoto de cabelos loiros tomou toda a sua atenção. Era ele. Ela não tinha dúvidas que se tratava do homem que aparecia nos seus sonhos. Um alívio indescritível percorreu o corpo da garota ao saber que ele não estava apenas em sua imaginação.

“Eu sabia que ele viria me salvar…”

Catherine era incapaz de lembrar do nome do rapaz, mas ela o conhecia e ele era importante. Uma importância que Vincent nem sequer conseguia se aproximar.

“Mas por que é com o conde que vou me casar?”

Supondo que aquele casamento não passasse de uma farsa, a bruxa não compreendia o motivo de aquele circo ter sido armado para ela.

Ela sabia que a sua beleza estava longe de estar acima da média e apesar de ter uma situação financeira considerável, nem se comparava a fortuna que os Chermont ostentava.

“O que eles querem comigo?”

— Eu disse que ela viria! — Louise disse em um tom alto.

Antes que Catherine pudesse processar aquelas palavras, foi arrastada para dentro da sala, por um fio quase invisível.

— A porta aberta a atraiu, apenas isso… — Vincent estava incomodado.

— Não seja idiota! — Louise o repreendeu severamente — Eu avisei a você que essa bruxa não seria uma presa que poderia ser mantida em rédeas frouxas!

— Por que… — Catherine tinha dificuldades para falar, devido ao fio preso no pescoço a enforcando — Por que eu?

— Sugue toda a energia dela e vamos acabar logo com essa situação irritante! — Enquanto falava, a condessa ergueu Catherine pelo pescoço e a pôs diante de Vincent.

— Louise… tenha calma… — Vincent tentava contornar a situação.

— Você se afeiçoou a ela… — Louise deu um longo suspiro e em seguida apertou mais o pescoço da garota.

— Eu vou hipnotizá-la e nós poderemos esquecer esse episódio desconfortável… — O conde acolheu Catherine em seus braços e a livrou dos fios que estavam a ponto de rasgarem sua garganta — Ela nos será muito útil… você viu o quanto a energia dela é poderosa…

— Você vai mantê-la acorrentada em algum quarto? — Louise encarava o irmão — Afinal, você claramente não tem força o suficiente para subjugar a vontade ela. E a cada tentativa, ela se torna mais resistente a sua magia. Ela é adaptável Vincent! Tudo o que você ou qualquer outro usar contra ela, se tornará ineficaz logo em seguida.

— Do que está falando? — Vincent sorria pretensiosamente enquanto mantinha Catherine sob seu domínio — Ela mesmo acabou se tornando meu combustível para controlá-la.

— Me deixe em paz! — Por mais que se esforçasse para se livrar de Vincent, sentia a força física dele muito superior à dela.

— Catherine, pare!

Ao som do comando do conde, a bruxa cessou todos os seus movimentos. Diante da resposta satisfatória de sua magia, Vincent não viu necessidade de usar a força bruta para controlá-la, por isso se afastou.

— Desde que chegou a esse casarão você tem sido inundada por sensações tão agradáveis que você simplesmente é incapaz de explicá-las — Vincent caminhava ao redor de Catherine enquanto recitava essas palavras como poesia a garota em transe — Você não vê a hora de chegar o nosso, tão esperado, casamento para que possamos desfrutar desse glorioso momento de felicidade.

Louise observava a tudo com uma expressão de desprezo estampada em seu rosto.

— Catherine… — Vincent encarava a garota, que havia despertado com um estalar de dedos — Como está?

— O que? — A bruxa o encarou com confusão em sua expressão — Eu estou bem… mas porque a pergunta?

— Você estava um pouco tonta agora pouco… — O conde se aproximou da garota e retirou uma mecha de cabelo que cobria seu rosto — Mas vejo que você está bem melhor.

— Desde que eu esteja com você, tudo vai ficar bem! — Catherine tinha um sorriso sincero em seu rosto.

— Me sinto da mesma maneira — Vincent sorriu para a garota e em seguida a beijou.

Louise deu um longo suspiro e em seguida saiu da sala.

Em partes ela estava aliviada por ainda terem aquela fonte ilimitada de alimento a disposição, mas sentia que Catherine era tão mutável quanto um rio agitado.

Depois de se despedir, de Vincent, Catherine caminhou em direção ao jardim.

— Catherine! — Maurice a abordou com desespero enquanto ainda estavam na sala — Está tudo bem?

— Sim… — A bruxa deu um sorriso confuso — Por que todos estão me perguntando isso?

— Foi estranho ele te chamar assim do nada… — Maurice acompanhava a garota em direção ao jardim — Achei que ele pudesse ter ouvido algo do que nós falamos e… mexido com a sua cabeça, sabe?

Catherine encarou o menino com uma expressão perdida. Maurice também a encarou e diante do silêncio torturante, ele cessou seus passos.

— Ele fez… — De cabeça abaixada, a voz da criança estava quase inaudível.

— Me desculpe… mas eu não entendo… — A bruxa sentiu-se pressionada.

— Eu estou sozinho de novo! E quando a noite chegar as crianças estarão novamente em perigo… — Maurice estava chorando — Eu estou cansado de estar sozinho…

— Do que está falando? Que perigo? — Catherine se aproximou do garoto e o tocou nos ombros — Você não está sozinho… pode contar sempre comigo, ok?

— Não, eu não posso! — Maurice se desvencilhou de Catherine bruscamente e em seguida correu para longe dela.

Um pouco atordoada, Catherine o deixou ir, sentiu que talvez a sua presença não trouxesse nenhuma ajuda naquele momento.

Sem que nenhum dos dois percebesse, Louise assistia a tudo do alto da escadaria que levava aos quartos.

Diante da total lucidez do garoto, a condessa concluiu que o feitiço de Vincent era inútil para ele. Talvez se o conde usasse um pouco mais de energia poderia subjugá-lo facilmente, mas esse tipo de ação só era necessária tratando-se de um bruxo ou um caçador. Mas mesmo um caçador, seria incapaz de manifestar tamanha energia com tão pouca idade.

— Como a vida é engraçada… — Louise sorriu cinicamente — Vincent se queixava de não provar um híbrido desde a Guerra das Raças, mas temos um vivendo debaixo do nosso teto esse tempo todo.


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Notas finais do capítulo

Eu amo o Josh e sinto vontade de protegê-lo de todo o mal hauhauha



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