Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 33
A Promessa


Notas iniciais do capítulo

Eu realmente adoro esse capítulo!
Acho que ele marca uma evolução muito grande em Catherine e é quase um divisor de águas para a personagem.



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Em pé diante do mar calmo a sua frente, Catherine tinha uma expressão vazia em seu rosto. Por mais forte e confiante que havia se mostrado perante Hector, ela estava assustada, assustada como um gato encurralado. A mão do enorme homem que a mantinha presa, apertava seu braço com tanta força, que ela tinha certeza que teria hematomas. Parando um pouco para refletir sobre sua atual situação, a bruxa deu um longo suspiro e compreendeu que diante de seus momentos finais, hematomas não pareciam preocupações tão relevantes.

Foi então que ela notou, ao longe, uma pequena embarcação apontando sua chegada. Catherine sentiu sua respiração acelerar, o símbolo da pomba estampada no navio dava a certeza de que se tratava de seus carrascos.

Depois da explosão de terror tomar todo o seu corpo, ela foi atingida por uma súbita calma, como se estivesse anestesiada. Era como se tivesse compreendido que havia perdido. Pessoas perdem batalhas, e mesmo que o custo daquela seja a sua própria vida, ela precisava compreender que algumas batalhas a gente só perde.

Por favor… por favor… eu estarei esperando você no santuário. Por favor…

A voz de Ivan veio a Catherine, quase como se ele estivesse ali ao seu lado.

“Eu preciso cumprir a minha promessa.”

Catherine tentava convencer a si mesmo, mas diante do barco se aproximando, ela sentia que não havia o que ser feito.

Cat… Por favor…

Os olhos da jovem bruxa se enchiam de lágrimas e seu coração se enchia de medo. Ela poderia lutar aquela batalha? Poderia lutar sozinha? Ela precisava. Seu pai precisava dela e isso teria que ser seu combustível.

Poucos metros afastavam o barco do porto. Poucos segundos a afastava da derrota. Ela se daria por vencida?

Com um movimento quase involuntário, Catherine puxou o braço do homem que a segurava para perto de seus lábios e o mordeu com toda a sua força. O grito desesperado da vítima se fundia com o gosto de ferrugem na boca da bruxa.

Tomado pela dor, o soldado largou a garota e encolheu o braço para perto do peito. Aproveitando a oportunidade que havia surgido, a bruxa correu a toda velocidade para qualquer lugar longe dali, mas ela não teve tempo de se afastar mais que poucos metros. O homem que cuidava de Mirian a havia surpreendido e a agarrado por trás. Catherine se debatia como um gato selvagem, ela tentou morder mais esse adversário, mas diferente de seu companheiro esse homem se manteve longe de seus dentes afiados e pontiagudos.

— Bruxa asquerosa! — O homem a apertava com mais força — As suas artimanhas não a livraram de seu desti…

A palavras do subordinado foram interrompidas pelo seu próprio grito de dor.

Catherine havia cravado suas garras fundo no braço dele e rasgado a sua pele com força o suficiente para que o homem a soltasse.

Catherine era um perfeito híbrido, com dentes e garras de um felino, ela esperava ter a mesma agilidade de um.

— É bom te ver novamente Catherine Gibran!

A garota não parou sua corrida desesperada para ver a imagem do recém chegado, mas ela sabia muito bem que se tratava de Ryan. O trauma que ele havia causado era suficiente para a bruxa memorizar a sua voz.

Mas aquilo não importava, nada importava! Ela iria fugir, iria encontrar o seu pai! Não importa quem fosse seu adversário, ela não seria pega, ela não morreria até cumprir a sua promessa.

Com um movimento rápido e elegante, Ryan saltou para fora do barco e começou a caminhar na direção de sua presa assustada.

— Sem exageros, Safira — O caçador sussurrava para sua espada — Preciso dela viva.

Ao fim da sua exigência, Ryan brandiu sua lâmina e fez surgir uma intensa onda de energia que saiu em disparada rumo a Catherine.

O total pânico se instalou na bruxa, ela pôde sentir aquele poder se aproximando, e por mais rápido que tentasse, sabia que a alcançaria.

“Eu não posso desistir, eu não posso morrer!”

Catherine já havia fechado os olhos, e nem se importava mais com o caminho que estava percorrendo, ela só sentia que precisava fugir.

Foi então que ela esbarrou em alguém. Completamente desesperada, a garota se debateu contra o peito do indivíduo que a havia parado na tentativa de afastá-lo.

— Cat, fica calma! — A voz de Ryu tinha alívio e compreensão — Sou eu…

Os olhos confusos da garota, lentamente encontraram os de Ryu.

— Eu vou proteger você agora — O guardião tocava o rosto gelado da bruxa — Me desculpe por não estar aqui desde o início.

Catherine foi incapaz de dizer uma simples palavra que fosse, mas se agarrou a Ryu com tanto alívio, que estava claro que tudo o que a importava era que ele estava ali naquele momento.

Aos poucos, o corpo inteiramente tenso da bruxa, se acalmou.

Diante de Ryan, havia um imenso paredão negro, que além de engolir Catherine, tinha conseguido absorver o golpe de Safira sem sofrer nenhum arranhão.

Aos poucos a imensa construção foi se desfazendo até se resumir a uma espada de lâmina negra empunhada por Ryu.

Atrás dele, Catherine se escondia com a confiança de quem estava sendo protegida por um exército.

— A minha missão é capturar Catherine Gibran, e assim que o fizer voltarei para a sede do Minus — Ryan estava sério — Mas confesso que te encontrar aqui fez com que eu me sentisse muito mais realizado.

Ryu sorriu um pouco debochado, ele não havia visto em Ryan um inimigo a ser superado, mas sim um obstáculo a ser deixado para trás. Ele não poderia dizer que era incapaz de compreender os sentimentos do caçador, afinal havia sido uma criança extremamente competitiva, e talvez não tivesse deixado isso totalmente para trás, mas naquela travessia a única coisa que estava em sua mente era a segurança de Catherine. Essa prioridade não abria espaço para muitos outros sentimentos.

— Esse seu sorriso esbanja uma superioridade que eu sou incapaz de compreender — Apesar do semblante tranquilo, Ryan estava ofendido — Você acha que pode me vencer  facilmente? Eu jamais o perdoarei por me fazer falhar diante da missão mais importante da minha vida.

Naquele momento, Ryu não pôde se conter e soltou uma gargalhada longa e alta.

O semblante de Ryan foi tomado por completa indignação, sentia que o guardião estava zombando de sua honra e aquilo era algo que ele não podia suportar.

— Me desculpe — Ryu tentava se conter em meio a pigarros — Mas é que eu não entendo nada disso que você está falando.

— É natural que alguém que veio de tão baixo, detenha tamanha ignorância — O caçador passava um tom de superioridade para Ryu.

— Ah por favor, não me entenda mal! — Ryu levava as mãos a frente do corpo enquanto expressava um sorriso inocente — É que bem… — A expressão de Ryu tomou um tom arrogante repentinamente — Você nunca foi um adversário para mim, no máximo um inseto pertinente, assim como todo o resto de vocês.

Catherine, que observava a tudo em silêncio olhou para Ryu com uma expressão assustada. Ela jamais esperaria uma postura tão cretina vinda dele. Mas não foi necessário muitas lembranças para refrescar a memória da bruxa.

“Ele sempre foi um babaca, só precisa de um incentivo para intensificar esse lado.”

— Quais são os seus termos? — Ryan estava com os dentes cerrados e sua mão tremia como quem se segurava com todas as suas forças.

Analisando a situação com atenção, Ryu chegou a conclusão que aquele cara sofria de problemas com a raiva e ele sabia muito bem o que era isso.

“A luta parece possível para você?”

Ryu se comunicava com Eveline mentalmente.

“Ah! Depois de cantar de galo para cima da elite do Minus você quer saber se consegue dar conta?”

“Se você não se acha boa o suficiente para enfrentar a espada dele, eu entendo.”

“Você realmente acha que depois de séculos de existência eu vou cair na manipulação de um humano qualquer, que mal saiu das fraldas?”

“Não precisa se envergonhar Eveline, às vezes acabamos por ficar frente a frente com um inimigo muito mais poderoso do que nós. Se você acha que precisamos fugir, fugiremos!”

Eveline ficou em silêncio por alguns segundos, mas logo respondeu com irritação.

“Eu vou fazer você se arrepender por ter me subestimado dessa maneira.”

“Esse é o espírito.”

Ryu estava 100% satisfeito.

— QUAIS SÃO OS TERMOS? — A voz de Ryan era tão intensa quanto um trovão.

— Vamos acabar logo com isso Ryan… — Ryu tinha uma voz despreocupada.

Já fora do armazém, Hector observava o caçador e o guardião se encarando como duas feras prontas para batalha.

A chegada de Ryan causava certo alívio a ele, afinal, assim que Catherine entrasse naquele barco, ele teria fechado negócio. Entretanto, a presença de Ryu o surpreendia, depois de explodi-lo e ainda o fazer despencar por 5 andares, lá estava ele, sem nenhum vestígio de poeira em sua roupa.

Foi então que seus olhos curiosos se puseram fixos na espada que o guardião empunhava. Seria aquele o tesouro lendário de Ivan? Considerando a bruxa que ele escoltava, não era nem difícil obter essa resposta.

— Eu a quero para mim… — Hector sussurrava gananciosamente.

Nem mesmo a fortuna oferecida por Catherine poderia superar aquela relíquia. Ele não se importava com a batalha que aqueles dois pretendiam começar, ele havia fechado negócio pela bruxa do azar, a espada negra era outra história.

Diante da aproximação de mais caçadores que desciam aos montes do barco atracado, Ryu se mostrou hesitante. Ele não poderia lutar com Ryan e proteger Catherine ao mesmo tempo. Estar ali era perigoso demais para ela, mas mandá-la fugir era deixá-la longe e sem nenhuma proteção e aquilo era algo que ele não deixaria acontecer de novo.

— Me pediu termos, aqui estão! — Ryu tentava assumir uma posição confiante — Essa luta definirá o destino de Catherine.

— EI! — A bruxa atingiu Ryu com um soco nas costas.

— Eu estou tentando te manter segura… — Ryu sussurrava para a garota.

— Negado. — Ryan respondia de forma ríspida — Eu não posso negligenciar a minha missão. Catherine Gibran é meu trabalho, lutar com você é pessoal.

Ryu cerrou os punhos, ele não sabia qual atitude tomar a partir dali.

“Vamos fugir”

Eveline se manifestou.

“Estamos cercados.”

“A Catherine é nossa prioridade.”

“Me dê um plano e eu o executarei com muito prazer.”

De dentro do armazém saiu um homem completamente coberto de poeira com uma pessoa inconsciente nas costas.

Josh tinha uma expressão descontente em seu rosto enquanto colocava Ian no chão.

Ele então respirou fundo e desenrolou o chicote que carregava na cintura.

— Eu estou definitivamente cansado dos seus joguinhos!

A voz de Josh fez Hector saltar.

— Mas que merda! — O contrabandista se virou para encarar o recém chegado — Como você não morreu? Por que nenhum de vocês morre?

— Eu me recuso a morrer assim! — Josh estava visivelmente irritado — Você me acertou de surpresa! E já é a segunda vez que faz isso… Fora as bestas que deixou para lutar no seu lugar. — O caçador apontou o dedo para Hector — Será que você não consegue lutar feito um guerreiro de verdade?

Hector revirou os olhos, demonstrando certo tédio.

Há poucos metros dali, Ryu sorriu. Em partes aliviado pela certeza de que estava tudo bem com seu mais novo amigo, e também tranquilo por saber que não estava sozinho naquela batalha.

— É melhor se afastar… — Ryu falava em um tom de voz baixo, mas o suficiente para que Catherine o ouvisse — Mas fique dentro do meu campo de visão por favor.

“Eu disse para fugirmos!”

Eveline estava furiosa.

“Vamos dar conta!”

Ele rebateu.

A bruxa não disse mais nada, mas Ryu pôde sentir a indignação dela fluir pelo seu corpo.


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Notas finais do capítulo

O que achou do capítulo?
Já tem um personagem favorito?
Um leitor me perguntou porque eu deixava o Josh tão misterioso o tempo inteiro. Essa é a cereja do bolo do personagem fala sério? hahaha
O que você acha que faz o Josh ser tão forte?
Deixe um comentário e vamos papear xD



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