Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 32
Guerreiros da Paz


Notas iniciais do capítulo

Estamos avançando no passado dos nossos personagens!
Estou tão empolgada com o desenrolar e em poder mostrar tudo isso para vocês, espero que curtam!



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Era tarde da noite, muitos anos atrás, e Josh estava jogado em um pequeno cômodo trancado. O garoto possuía cortes e hematomas pelo corpo inteiro e nada havia sido dado para ele se cobrir, mesmo com o rigoroso inverno lá fora. Dada às circunstâncias precárias em que se encontrava, a criança apenas se encolheu em posição fetal e desistiu de encontrar maneiras de se manter vivo.

Um barulho de tranca sendo aberta surgiu, mas isso não trouxe nenhuma empolgação ao garoto, ao contrário disso, apenas o fez ter medo de uma nova surra.

— Trouxe comida!

Uma garota, pouco mais velha que Josh, sorriu de forma amigável enquanto se esgueirava pela porta semi aberta.

— Como conseguiu passar pelos guardas? — O garoto sentou-se para receber a recém chegada.

— Nocauteei todos aqueles molengas! — A menina dizia com empolgação, enquanto desenrolava um cobertor que havia amarrado ao redor do corpo.

Aquela criança se chamava Helena e era irmã mais velha de Josh, a primogênita de Blanc.

— Você vai acabar arranjando problemas com o pai… — Josh se encolheu no canto.

— Come logo! — A garota arremessou o saco de comida na direção do menino — Quer mesmo falar de arranjar problemas com o Blanc? Olha o seu estado!

Sem ter muito como argumentar, o menino apenas se calou.

— Olha… — A voz de Helena estava um pouco mais carinhosa — Eu sei que você não gosta de fazer as coisas que o pai manda, mas ele sabe o que é certo.

— Eu não quero matar ninguém... — Josh escondeu a cabeça entre os joelhos.

— Josh, você nasceu para ser um bom caçador, não uma boa pessoa! E por mais que você não queira aceitar isso, é o único caminho que temos.

— Eu tenho outro caminho, eu posso morrer! — O garoto encarou a irmã, seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas isso não os fazia menos firmes.

— Não! Não pode! — Helena estava claramente fragilizada, pensar na morte do seu irmão mais novo era como um pesadelo para ela.

— Você não pode me obrigar a ficar vivo! — O garoto tinha um tom de voz irritado.

— Eu posso bater em você até que mude de ideia! — A menina arregaçava as mangas.

— Todas as surras que o meu pai me deu só me fizeram querer mais!

As palavras de Josh, tiraram de Helena toda a sua motivação.

— Josh, caçadores não são ruins — Helena tentava uma abordagem diferente — Minha mãe disse que é só porque nós matamos as bruxas que as pessoas podem viver em paz.

O garoto permaneceu em silêncio e isso deu a Helena chance de continuar.

— Ontem o esquadrão de elite salvou uma cidade inteira de bruxas malvadas, salvou até os velhinhos e as crianças.

— É verdade? — Josh se mostrava um pouco menos relutante.

— É sim! — Helena se aproximou do irmão, sentando ao seu lado — Nossa missão nesse mundo é trazer a paz e a justiça. Assim todo mundo pode viver feliz e sem medo. Somos guerreiros da paz!

A essa altura, Josh já estava fascinado pelas palavras inspiradoras de sua irmã.

— Eu quero ser um guerreiro da paz! — O garoto vibrava.

— Vamos ser! — Helena tinha um sorriso terno em seu rosto — Vamos juntos nos tornar guerreiros da paz!

— Estando sem seus Tesouros Celestiais você é um tanto inútil, né?

A voz de Ryu pôs fim aos pensamentos de Josh.

— O que disse? — O caçador ainda estava um pouco confuso.

— As cimitarras! — Ryu apontou para as armas na cintura de Josh.

Apesar de ter contado toda a situação para o garoto, e deixado claro o quanto a ausência das armas o afetaria, Josh se sentiu ofendido por ser chamado de inútil.

— Eu tenho outros meios de combater meus inimigos, até porque é imprescindível que um guerreiro não se limite somente a sua espada.

A frase de Josh foi como um tapa em Ryu, mas de certa forma ele tomava aquilo como um alívio, afinal, depender inteiramente de Eveline era algo que ele queria distância.

— É muito fácil dizer essas coisas quando se nasce com o poder de arremessar um monstro de duas toneladas contra outro tão enorme quanto — Ryu mantinha passos firmes enquanto caminhava à frente de Josh — Eu sou só um cara comum com uma alma nível 4 que foi reprovado quatro vezes nos testes do Statera e três vezes no Minus.

Ao ouvir as palavras de Ryu, Josh arregalou os olhos. Em nenhum momento passou pela sua cabeça que aquele homem, que havia dedicado anos de sua vida treinando para se tornar um guardião, havia também tentado se tornar um caçador. Um total de 7 tentativas, incluindo o Minus naquela conta fazia toda a situação parecer um grande absurdo.

— Olhem só! — Alguns andares acima, Hector debochava da chegada de seus subordinados — Finalmente as donzelas conseguiram encontrar as bruxas.

Os três homens que haviam chegado, tinham expressões envergonhadas em seus rostos.

— Cuidei dos intrusos, achei as bruxas… Acho que eu deveria considerar a possibilidade de trabalhar sozinho! — Diante do silêncio dos rapazes ele desistiu de continuar a repreendê-los — Levem as duas, precisamos ir para o ponto de encontro agora! Detesto atrasos.

Os homens trataram de amarrar as bruxas com raízes de laranjeira e as arrastaram para fora do quarto.

— O que vai fazer com Ian? — Mirian estava um pouco sonolenta — Eu entendo que acabou para mim e eu não me importo com o que vem depois… mas por favor, liberte ele. A vida dele não pode acabar por minha causa.

Uma expressão de escárnio tomou o rosto de Hector e ele fez um sinal para que o homem parasse de puxar a bruxa de vento, dando assim espaço para que ele se aproximasse:

— Não é novidade para ninguém que amar uma bruxa é a perdição de um homem, creio que Ian já está ciente disso — O caçador acariciou o rosto desesperado de Mirian e sorriu — Ele assinou a sentença de morte quando escolheu você.

Ao ouvir as palavras do homem Mirian, que até então usava de todas as suas forças para se manter de pé, caiu de joelhos em total desespero.

As lágrimas da garota e a total indiferença de Hector, causaram repulsa em Catherine.

— Você é desprezível… — A bruxa do azar sussurrou, ainda estando sob o domínio de um dos guardas.

— O que disse? — O contrabandista estava um tanto incrédulo com a reação inesperada da garota.

— Você é desprezível — Catherine repetia silabicamente enquanto mantinha seus olhos em Mirian, que a essa altura estava sendo levantada pelo guarda.

— E o que te faz se achar digna de fazer tal julgamento? — Hector tinha sarcasmo em sua voz — Afinal, até onde eu sei, estou diante da bruxa amaldiçoada! O demônio dos demônios! A personificação do apocalipse…

— Talvez a minha vasta experiência, facilite o reconhecimento de vermes nojentos como você! — Catherine respondeu com frieza.

—  É de fato, louvável que alguém na sua atual posição tenha tanta audácia — Hector tentava se conter, mas estava claro que as palavras de Catherine o haviam alcançado mais do que ele gostaria.

— Você mesmo disse que eu sou o demônio dos demônios — A bruxa dizia de forma calma enquanto se virava para encarar o contrabandista — É claro que o único audacioso aqui é você.

— Acha que pode me assustar, enquanto está com as mãos amarrada e sendo arrastada por um dos meus subordinados? — Hector tentou pôr um sorriso em seu rosto, que mais parecia estar congelado — Você é muito tola Catherine Gibran.

— Amarrada? Eu não aprendi a usar magia com as mãos, eu não preciso de nada para usar magia! — Catherine sorria como um vilão em seu ato mais grandioso.

O rosto do ex caçador se fechou por completo e ele se virou de costas para o grupo:

— Levem-nas agora!

Ao ouvir o comando do chefe, os dois soldados puxaram as bruxas com brutalidade para fora da sala.

— Espero que tenha uma boa sorte na vida, Hector! — Catherine soltou categoricamente quando já não era mais possível para Hector avistá-la.

Dentro do cômodo, o contrabandista sentiu um arrepio na nuca.

Ele sabia do que Catherine era capaz, mas acreditava que ela não. Ouvir ameaças de alguém que realmente poderia cumpri-las o fazia se sentir pequeno e indefeso.

Enquanto ele refletia sobre a situação pôde ver o exato momento em que o vidro da enorme janela que iluminava o cômodo se rachou, sem aparentemente nenhuma interferência externa.

— Espero que esses caçadores malditos cheguem logo — Ele sussurrou para si mesmo, na expectativa de se livrar daquela bomba relógio.

Assim que a porta do elevador se abriu, Josh e Ryu saltaram para o corredor prontos para uma batalha.

Mas não havia nada, parecia estar completamente abandonado.

Josh então se concentrou na tentativa de achar novamente o cheiro de Catherine.

— Embaixo.

Ao ouvir a conclusão do caçador o semblante de Ryu ficou decepcionado, afinal de contas eles haviam acabado subir até aquele andar.

Evitando comentar algo ofensivo naquele momento desconfortável, Ryu apenas se dirigiu até o elevador e encarou Josh esperando que ele fizesse o mesmo.

Foi quando uma explosão fez o guardião perder a noção do que estava acontecendo.

De repente o elevador começou a descer mais rápido do que deveria, o que fez Ryu compreender que estava caindo.

No andar de cima Josh também havia sido surpreendido, mas antes que pudesse tomar alguma atitude, foi atingido no estômago com um golpe tão forte, que ele acabou sendo lançado longe e atravessou a espessa parede de concreto que dividia as duas alas do armazém.

— Se quer uma coisa bem feita faça você mesmo. — Diante da destruição que havia acabado de provocar, Hector se mostrava elegante, enquanto endireitava os botões em sua manga.

No térreo, Ryu sentia seu coração acelerado. O elevador havia despencado e ele sentiu o impacto daquilo, mas por algum motivo, estava ileso.

Ainda deitado, ele abriu os olhos mas tudo estava escuro. Naquele momento o guardião refletiu se havia morrido ou ficado cego.

— Dark Blood — A voz de Eveline sussurrou na mente de Ryu — A armadura suprema.

Aos poucos, a visão do garoto foi recuperada, como se algo tivesse sido tirado de seu rosto.

Tudo estava destruído a sua volta, mas seu corpo estava coberto por um camada negra que parecia uma espécie de segunda pele.

— Isso vai ser muito útil… — Ryu comentou.


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Notas finais do capítulo

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