Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 10
O Prisioneiro


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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— De onde você é? — Catherine sentou ao lado do prisioneiro.

O homem permaneceu em silêncio e nem por um segundo olhou para a garota.

— Olha, eu preciso ficar aqui com você até o Ryu voltar, você bem que poderia me ajudar a tornar isso mais agradável. — A bruxa dizia com uma expressão de reprovação em seu rosto enquanto retirava uma barra de chocolate do bolso.

Assim que Catherine rompeu o lacre da guloseima, ela ouviu um barulho grave e contínuo vindo do estômago de Josh.

— Quer? — A garota ofereceu chocolate para ele.

— Eu jamais aceitaria algo vindo de um demônio! — O prisioneiro tinha ódio em sua voz.

Catherine deu uma olhada no garoto com certo desdém e mais uma vez mexeu em seus bolsos.

Dessa vez Catherine tirou uma barra com uma embalagem diferente e começou a abrir o lacre.

O cheiro vindo do doce fez o estômago de Josh roncar mais uma vez. A bruxa mordeu o chocolate.

— Hummm… Recheio de caramelo! — Catherine dizia de boca cheia enquanto esticava o fio açucarado que ligava o pedaço em seus dentes ao restante da barra.

Josh tentava desviar o olhar daquela cena aterradora, mas Catherine seguia cada movimento dele.

Depois de alguns minutos nessa situação Catherine resolveu aproximar o chocolate do rosto de Josh, quase a ponto de tocar a sua boca. O movimento da garota foi fatal, pois prisioneiro abocanhou o doce com toda a sua vontade.

— Que sabor o doce do demônio tem? — Catherine tinha um sorriso maquiavélico em seus lábios.

O rosto de Josh estava vermelho, mas ele não parou de morder o chocolate até que acabasse.

— Você parece estar com fome ainda! — A bruxa disse com empolgação enquanto se levantava e corria até Tommy.

Ryu estava levantando acampamento quando viu Catherine passar por ele como uma flecha.

— O que houv… — Ele não teve tempo de perguntar, pois Catherine já havia voltado com a mesma velocidade que tinha aparecido.

Ryu observou a garota por alguns segundos e a viu por no chão o objeto que havia buscado no cavalo. Era uma mala onde ela guardada todas as porcarias que ela chamava de mantimentos.

— Cat, pare de dar chocolates para o prisioneiro! — Ryu repreendeu.

— Mas ele tá comendo tão bonitinho! — Catherine vibrava como uma criança.

— Catherine, ele não é um cachorro! — Ryu levou a mão ao rosto demonstrando indignação.

— Você disse a mesma coisa do Tommy. — A garota se mostrava incompreendida.

— Mas o Tommy também não é um… — Após refletir sobre a inutilidade da discussão Ryu deu de ombros.

— Ryu… — Catherine encarou o guerreiro — Não me chame de Catherine! Eu já te pedi isso.

— Também disse que era como o seu pai te chamava quando estava brigando com você.

— Sim, mas… — Catherine buscava uma boa resposta, mas o olhar repreensivo de Ryu fez ela se calar.

Muito distante dali, na fortaleza de Otium, todos os professores da academia se preparavam para a cerimônia de motivação. Esse evento de nome engraçado, era uma festa que acontecia na cidade de Vanitas, onde tecnicamente era o meio da travessia.

Lá os servos e os bruxos tinham uma noite de festa, com boa comida, entretenimento e por fim uma cama confortável para dormir.

A estadia durava poucos dias, mas o suficiente para que os aventureiros saíssem renovados.

Vanitas era uma cidade famosa pela vida extravagante dos moradores, que eram em sua maioria famosos ou nobres muito ricos. Era definitivamente o lugar perfeito para uma festa de comemoração aos que conseguiram chegar até metade do caminho.

— Faltam 3 dias e sinto como se nada tivesse sido feito. — Lya andava de um lado para o outro.

Kai permaneceu em silêncio, deitado no sofá, enquanto lia um livro.

— Fiquei sabendo que você tem aquela pilha de relatórios para preencher. — Lya sorriu de forma prepotente — Afinal, a relação dos bruxos e dos guardiões precisa estar bem organizada e…

— Aquela pilha está preenchida. — Kai apontou para os tais papéis sem muito interesse. — Eu segui seu conselho sobre fazer as minhas obrigações antes do lazer, por isso passei a noite preenchendo os relatórios para ter tempo de ler durante o expediente.

A expressão de Lya se quebrou e logo se tornou incredulidade. Não era bem isso que ela havia aconselhado.

— A Gabriella não se toca! — Kai pousou o livro sobre o colo e encarou Lya irritado — Qualquer um percebe o clima entre o Jason e o Eduardo, menos ela!

Lya estava pronta para brigar com o garoto, mas no momento em que ouviu suas queixas, saltou para perto dele com apenas um movimento. Sua expressão autoritária foi substituída por um sorriso empolgado, era como se tivesse pequenas estrelas brilhantes ao redor do seu rosto:

— EXATAMENTE!

**

Um som bestial fez com que todos os pássaros fugissem para longe daquele local. Na origem do som estava Ryu, diante de Catherine que o olhava com uma expressão de culpa.

— Eu dormi… — A bruxa se encolhia.

— Não foram 5 minutos que tirei os olhos de vocês! — O guerreiro tinha em sua voz uma mistura de raiva e incredulidade.

— Onde já se viu deixar um prisioneiro sob a supervisão de uma uma garotinha tão fofa e indefesa quanto eu?

Ryu revirou os olhos.

Josh havia escapado e ainda conseguido levar todos os seus pertences.

Até a hora do almoço, Ryu e Catherine discutiram sobre a culpa ou inocência da bruxa diante do ocorrido.

— Ryu… — Catherine debruçou-se sobre Tommy, desde o ocorrido ele havia proibido a garota de viajar em seus bolsos — A gente precisa parar para comprar mantimentos.

— Estamos um dia atrasados, se quisermos chegar em Vanitas depois de amanhã, não podemos fazer paradas.

— Mas meus chocolates acabaram e…

— Deveria ter pensado nisso antes de dar tanta comida para o prisioneiro… Isso sem falar a que você deu para o cavalo. — Ryu interrompeu a garota bruscamente.

O animal relinchou, como se protestasse o comentário indelicado do rapaz.

— O Tommy precisa de energia, olha a quantidade de peso que ele leva! — Catherine defendeu.

— Em primeiro lugar, dar tantos doces a ele só diminui a eficiência. — Ryu explicava pacientemente — Em segundo, se você não trouxesse tanta bagagem ele não carregaria tanto peso.

— Os doces dão energia! — Catherine contra argumentou.

— Picos de energia! — Ryu corrigiu — O seu pâncreas…

— E eu trouxe bagagem o suficiente! — Catherine interrompeu Ryu.

Um ódio súbito percorreu o corpo do guerreiro, ele detestava sentir que estava falando aos ventos e o descaso de Catherine era no mínimo irritante.

— Sem chocolate para você! — Ryu concluiu.

Eles prosseguiram por mais algumas horas, enquanto Catherine reclamava a falta de comida e recusava qualquer fruta que Ryu oferecesse.

— Minus? — Ryu parou seus passos.

— O que? — Catherine também fez com que Tommy parasse.

Ryu apontou para um grupo de homens que ele havia avistado ao longe. Alguns deles estavam montados em cavalos que tinham o brasão do pombo estampado nos mantos.

— Você ganhou! — Ryu suspirou — Vamos nos hospedar em Ita.

Claramente era mais seguro ficar em uma cidade cheia de pessoas do que se isolarem sozinhos na floresta.

— O que eles fazem aqui? — Catherine estava atônita.

— Eu não faço ideia, nem sabia que era permitido a intromissão deles na travessia — O guerreiro deu de ombros — De qualquer forma precisamos evitá-los

— Esses Minus são nojentos! — A expressão de Catherine estava diferente de todas as que Ryu já havia presenciado.

— Eles só estão trabalhando. — O guerreiro ficou sério.

— O trabalho deles se resume em matar pessoas inocentes!

— Bruxas! — Ryu corrigiu — Eles matam bruxas… e a maioria delas não é do tipo inocente.

O rosto de Catherine tinha uma expressão de incredulidade misturada com decepção.

— Eles tentaram me matar quando eu tinha três anos!

— Você sabe que os seus poderes são perigosos Cat.

— Então você acha que eu deveria ter morrido?

— O que? Eu não disse isso! — O guardião estava perplexo com as conclusões da garota.

— É só o dinheiro que te fez sair de Otium não é? Fui idiota em pensar que eu era uma exceção na sua lista de desprezo — Os olhos da bruxa encaravam Ryu com firmeza.

— É, com certeza. Deve ser por isso que eu rejeitei o contrato da Bortoluzzi. — O garoto estava irritado — Você tem noção que o que ela poderia me pagar poderia me poupar uma vida de trabalho?

— Deveria ir atrás dela pedir perdão, ela estava tão interessada, provavelmente te dê uma outra oportunidade. — Catherine estava tentando segurar o choro.

— Realmente, assim eu não precisaria lidar com uma bomba relógio tão temperamental.

Catherine ficou em silêncio, sua boca estava aberta. Ela era incapaz de acreditar que havia ouvido aquelas palavras tão cruéis.

Ciente da gravidade do que havia dito Ryu tentou se justificar, mas foi interrompido pelo trotar dos cascos de Tommy. Catherine tinha fugido para dentro da cidade de Ita.

O guerreiro voltou sua atenção novamente para os Minus e para seu alívio a movimentação exagerada de Catherine não havia chamado nenhuma atenção.

— Droga… — Ryu murmurou para si mesmo enquanto observava a poeira da estrada se dissipando.

Distante dali, Catherine cavalgava a toda velocidade sem nem ao menos saber para que lado estava indo. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e sua respiração estava ofegante. No momento em que houve total ausência de comando por parte da bruxa, o cavalo cessou a corrida vagarosamente até estar completamente parado.

Quando Tommy parou, Catherine saltou de suas costas um pouco atrapalhada, andou até um pequeno poço fechado e sentou nele. Ali ela apenas se permitiu chorar o quanto queria, repassando a conversa que havia tido com Ryu momentos atrás.

Tommy caminhou até a garota e arfou sobre os seus cabelos, hora os puxando como se fosse feno, hora os soprando a ponto de bagunçá-los por completo. Não demorou muito para que Catherine risse daquela cena. De fato os movimentos do cavalo a causavam cócegas, mas o mais engraçado era a sua compreensão diante do momento de dor da garota. Por fim, Catherine se consolou com um abraço do seu fiel amigo de quatro patas.

— Mostra a cara! — Uma voz grossa e desconhecida fez Catherine tremer.

Assustada, a garota se virou para a origem da voz e ergueu os braços assim que viu a espingarda quase colada em seu rosto.

“Minus?”

Assim que a garota mostrou o rosto, o portador da arma, antes intimidador, assumiu agora uma aparência mais acolhedora.

— É só uma menina, Gertrudes! — O velhinho disse com um sorriso.

— Ah querida! — Uma senhora ruiva e rechonchuda correu em direção a Catherine e a abraçou — Me desculpe por isso! Mas ultimamente tem vindo muitos saqueadores por aqui!

Catherine estava um pouco sem graça, mas sorriu educadamente para a mulher:

— Eu compreendo. Bom, agora que resolvemos esse mal entendido, acho melhor eu ir.

— Não quer ficar para o almoço? — Gertrudes ofereceu.

Catherine estava prestes a subir em sua cela, quando sentiu seu estômago roncar. A última vez que ela havia feito uma refeição, foi há muitas horas.

Apesar de sentir que precisava reencontrar Ryu, decidiu que não faria mal algum sumir por algumas horinhas.


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Notas finais do capítulo

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