- Então, vai me ajudar não é? – Katherine perguntou novamente.

Não tive reação nenhum de inicio, mas o que posso fazer? Ela conta comigo pra tudo. Então abri o sorriso mais amigável que conheço e finalmente respondi para ela.

- Claro Katherine! Eu te ajudo no que for preciso...

Minha decisão desde o inicio era ir embora, então não posso criar vinculo com mais ninguém, e o próprio Henry me falou que se eu quiser ir embora é melhor ir de uma vez, sem deixar marcas neles. Então vou ajudar Katherine, como faltam alguns dias ainda para o próximo porto chegar, sou capaz de fazer Henry se apaixonar por ela e... ai eu dou um jeito em mim depois.

Katherine ficou pulando de um lado para o outro, toda animada.

- Eu sabia que a bebe não me decepcionaria!

- É é, como quiser... mas o que pretende fazer Katherine?

- Ah... bom, ainda não tenho um plano definido, mas talvez você possa conversar com ele sabe... saber o que ele pensa de mim...

Comecei a rir quando ela disse aquilo. Oras! O que um pirata acha de uma cortesã? Ela só pode estar de brincadeira comigo!

- Não é uma boa idéia não é mesmo?

Katherine estava olhando para baixo com um olhar muito triste. Poxa, o que estou fazendo? Ela gosta do Henry, ela gosta tanto que chegou a pedir minha ajuda! Estou me esquecendo novamente que ela também tem um coração e que se eu não ajudá-la ira se despedaçar em pequenos pedaços.

- Não Katherine, é uma ótima idéia! – falei tentando animá-la – Só nunca pensei que uma cortesã pudesse pedir ajuda para uma menina tão inexperiente quanto eu, só isso...

- Então o plano começa amanhã!

Katherine veio até mim, dando um forte abraço e voltando para seu quarto toda alegre e saltitante. Por favor, não me xinguem, a felicidade dela me comove! E outra, ela conhece Henry há muito mais tempo que eu, por isso tenho que considerar a minha derrota. Também não quero ficar gostando de um bobão pro resto da vida.

- Mary... o que está fazendo ai parada? – Henry perguntou enquanto entrava.

- Ah... nada... eu estava falando com a Katherine agora e...

- Escuta... eu sinto muito pelo que fiz agora a pouco...

- Não tudo bem... você estava certo quanto eu ser cabeça dura e tudo mais...

- Voltou a ficar doente? – Ele perguntou se aproximando de mim e colocando uma das mãos na minha testa

- Não, porque? – Perguntei confusa tirando a mão dele

- Está concordando comigo Mary, isso não tem nexo... ou... – ele começou - ...está mesmo apaixonada por mim...

Eu ia retrucar, mas ele se aproximou de mim me encostando na parede e me olhando maliciosamente. Meu coração dói de tanto que está batendo, mas não posso, tenho que me lembrar de Katherine.

- Não Henry... – eu o empurrei - ...não estou... na verdade estou com sono, vou dormir tá? Boa noite...

Eu sai e ele ficou lá, provavelmente sem entender nada, já que a poucos minutos atrás tínhamos nos beijado e agora eu estava completamente fria e seria com as brincadeirinhas dele. Como posso enfrentar tudo isso sem dizer a verdade? Abri a portinha do quarto das meninas e dei de cara com Carly, ela estava me olhando feio e fez um sinal para que eu a seguisse. É meio estranho isso, então a segui até lá fora novamente.

- Já que estão todos dormindo ninguém vai nos escutar... o que pretende Mary? – ela perguntou angustiada – Madame Katherine gosta muito dele...

- Carly, eu não sei do que você está falando.

Oh-Oh... ela viu, certeza.

- Vai mesmo fugir do assunto? – Ela perguntou se aproximando de mim – Mary, você e o Capitão se beijaram... e pelo que sei você odeia ele tanto quanto ele te odeia... e aquilo não foi qualquer beijo...

- Você não sabe nada do que foi aquilo Carly, como pode falar isso com tanta certeza?

- Eu sei das coisas... e sei também que o Henry nunca olha nos nossos olhos antes de nos beijar e muito menos age daquela forma... ele foi tão... diferente com você Mary... ele gosta de você...

- Não..ele não gosta...

- Então o que foi aquilo?

- A-apenas aconteceu Carly, só isso... eu vou embora... não se preocupe, eu não vou mais atrapalhar ninguém...

- Eu só espero que você não esteja tentando fugir dos seus sentimentos senhorita Mary... você não pode forçar ele a gostar da Madame Katherine se ele gosta de você... e você não pode ajuda-la depois daquilo que aconteceu... não quero ter que brigar com você por causa disso... eu realmente gosto muito de você... mas não traia a nossa confiança...

Aquelas palavras saíram como facas afiadas e cortaram totalmente o meu ego. Carly tinha razão, eu estava ajudando Katherine, sabendo que ela não conseguiria enquanto eu tentava enganar a mim mesma sobre a verdade e todos os fatos que estavam acontecendo ali naqueles dias. Ela se aproximou de mim, tocando levemente minha bochecha com sua pequena mão.

- Pense nisso... por favor... boa noite...

E então ela saiu. Me deixando mais uma vez sozinha com esses pensamentos torturantes. Como posso dizer a verdade para todos eles? Não isso eu não posso fazer, preciso arranjar um jeito de...

- Nossa, será que eu sempre vou encontrar você aqui fora? – Matt perguntou se aproximando de mim.

Foi então que uma idéia louca surgiu na minha cabeça. Porque não Matt? Ele é bonito, fofo, meu amigo... ele poderia muito bem me ajudar nessa situação.

- E porque será que eu sempre te acho nos momentos em que eu mais preciso de ajuda? – falei me aproximando dele

- Está com problemas Mary?

- Não... pelo menos até agora... preciso muito da sua ajuda Matt...

- Qualquer coisa! – ele falou entusiasmado se sentando

Ficamos lá por horas. Contei toda a historia para ele, desde quando briguei com Henry até a ajuda que Katherine estava me pedindo. Ele ficou meio chocado com a historia, mas ficou um pouco mais chocado com o que eu pedi para ele.

- Perai... você quer que eu finja que você se declarou pra mim, que nos gostamos e somos um casal?

- Exatamente! Matt, como você é esperto! Por favor!

- Isso tudo para que o Henry de um pouco mais de atenção para a Katherine e eles fiquem juntos?

- Bom plano não? Me supero a cada dia! Fala a verdade! – dei um pequeno tapa no ombro dele

- Você não tem jeito né... tá, tudo bem...eu ajudo... mas como vai ser essa far—

Não deixei ele terminar de falar, coloquei a mão sobre a boca dele e me aproximei apenas encostando meus lábios nos dele por alguns segundos e me afastei.

- Teremos que ser convincentes... então prepare-se para se “apaixonar” por mim... – falei, mas logo comecei a rir.

Matt ficou estático por alguns instantes, mas entendeu o recado e me atrevo a dizer que acho que ele até gostou daquilo. Então chega por hoje.

Acordei só no outro dia pela manhã com Katherine me balançando de um lado para o outro.

- Ahhhhhhh... o que éééé... o que foi... me deixa em paz... – falei de forma rude empurrando os braços dela

- É o Matt... ele está lá fora... ah, só você vendo mesmo para entender, vai Mary, levantaaaa!

Com aquele berro acho que ela podia acordar todo mundo, claro, se estivessem dormindo ainda. Me levantei, arrumando o cabelo e tentando tirar aquela cara de sono e fui até lá fora. Todos os homens estavam em volta de Matt, conversando e batendo na cabeça dele. Nossa, eles estão em uma roda...

- Olhaaa! A Mary ta ai gente! – Um dos homens gritou

Todos se afastaram dando passagem para mim. Tá... vamos em frente então! Quando cheguei perto de Matt ele me pegou pela cintura e falou no meu ouvido.

- Tomei uma pequena liberdade de deixar as coisas mais realistas...

- Como?

Matt não respondeu com as palavras que eu queria e nem foi para mim que ele falou.

- Eu pedi para que todos viessem aqui para dizer que... estou apaixonado pela Mary... – ele me olhou ternamente - ...e quero perguntar o que ela pensa disso...

Senti meu rosto arder com aquela suposta pergunta de Matt, isso está se tornando real demais. Mas ele espera uma resposta e como eu que pedi não posso simplesmente deixar ele plantado lá sem entender nada como um idiota.

- Ahh... bom... eu....

Não dava para achar as palavras certas, porque por mais bonito que ele seja, eu não o amo. Droga! Eu tinha que começar com isso né...

- Não tenha vergonha menina!

- Vai lá!

- Pode falar! Somos uma família!

E com a pressão que eles estavam colocando em cima de mim, a coisa esta ficando cada vez pior...

Comecei a olhar em volta, tentando me distrair para falar algo útil, foi quando vi Henry parado lá em cima perto do timão me olhando fixamente segurando Katherine pela cintura. Ele parecia irritado, traído, chateado e seus olhos transmitiam a única coisa que eu ainda não tinha visto... ódio. Ele estava com raiva de mim. Eu sei disso, eu posso sentir através daqueles olhos feridos. Eu estou o ferindo com tudo isso... mas será melhor para ele e para mim. Katherine e ele serão felizes, algum dia ele vai ver o quanto ela é importante para ele.

Então virei para Matt com um enorme sorriso e comecei a falar tudo o que eu sinto pelo "homem que eu amo".

- O que eu acho disso? Matt, o que mais posso dizer? Eu também te amo!

E pulei nos braços dele. O que eu não contava era não consegui conter minhas lagrimas. Meus soluços despertaram a curiosidade dele.

- Não precisa parecer tão real assim Mary, pare de chorar... – ele falou um pouco serio.

- Me tira daqui Matt... por favor... – falei entre soluços.

E foi o que ele fez, Matt correu para dentro me segurando e me levou para o quarto me colocando em cima da cama. Não consigo mais segurar as lagrimas.

- Não gosto de machuca-lo Matt, me dói o coração ver o rosto dele daquele jeito... não suporto... Matt... dói tanto...

- Calma Mary... – ele disse me abraçando - ...você disse que queria fazer isso pela felicidade da Katheirne... calma..vai passar...

As palavras dele me confortaram um pouco e finalmente pude levantar meu rosto olhando para ele. Aquele olhar terno e amigável que ele tinha me fazia sentir mais culpada ainda, porque eu sei que é errado isso, que não podia ter pedido isso justo para ele.

Pedi para que ele me deixasse sozinha e passei o resto da tarde trancada naquele quarto. Meus pensamentos me perturbando e eu não parando de chorar. Para quem não gosta de drama, estou fazendo um bocado não é mesmo?

- Você não vai acreditar Carly! – Escutei a voz de Katherine vindo de fora do quarto – O capitão pediu para que eu fique no barco junto com você porque ele me ama! Finalmente! Finalmente vou ter o que sempre sonhei... não acredito!

Continuei imóvel na cama e olhei para a janelinha, ali um certo par de olhos da cor do mar me olhavam, sérios e ainda feridos.

- O que quer aqui? – falei enquanto me virava para o outro lado.

Ele pulou a janela e se sentou na cama ao meu lado.

- Escutou o que a Katherine disse não é mesmo?

- E porque eu não escutaria, tenho um par de ouvidos...

- Huum..

- A onde quer chegar com essa conversa Henry? – Me levantei irritada o encarando.

- Eu que pergunto Mary... porque mentiu para eles?

- Eu não estou mentindo...

- Então você ama mesmo o Matt?

- Amo...

- Mesmo? Ainda tem chance de voltar atrás com esse joguinho...

- Não sei do que está falando... – virei o rosto ainda brava.

- Então tá... depois não vem dizer que você não começou com isso...

- Com isso o que?

Virei para encará-lo, mas ele já estava pulando a janela do quarto. Eu realmente não sei do que ele esta falando, então posso ficar com a consciência limpa certo?

O resto dos dias se passaram despercebidos. Tive que continuar agindo como um casal com Matt e Henry anunciou a todos os outros sobre ele e Katherine, toda noite ela me agradecia no quarto e contava os detalhes do romance dos dois, ela apenas reclamava que ele estava muito aéreo ultimamente, mas que deveria ser porque ele estava finalmente mudando. Me engana que eu gosto! Henry mudando?

Como uma boa amiga, escutei tudo o que ela tinha a dizer, afinal ela também queria saber minhas novidades com Matt. Os outros tripulantes viviam mandando ele vir dormir comigo, mas ele sabia que não podia e que não tínhamos nada juntos. Apesar de que com o tempo ficamos mais amigos e só dávamos alguns beijos de vez em quando para que ninguém desconfiasse. Meu coração esta em pedaços, admito. E minha saúde indo pro ralo... ultimamente eu tenho tossido muito, mas nada do que um bom repouso não me ajude não é mesmo?

Era de manhã quando o barco atracou no porto e dessa vez não era um porto comum, ficava em uma ilha dominada por piratas, então podíamos ficar a vontade lá. Katherine e Carly tinham saído logo cedo com Mercedes para fazer algumas compras e me prometeram que trariam alguns vestido novos, os outros tripulantes, incluindo Matt e o Capitão, tinham ido a um bar e eu estava sozinha no barco.

Estava esfregando o chão quando comecei a tossir que nem louca. Não conseguia parar, era como se meu corpo quisesse colocar alguma coisa para fora e na verdade eu acabei colocando... sangue. Eu estou tossindo sangue? Fiquei olhando assustada para a minha mão, vendo a pequena possinha de sangue que tinha saído graças a minha tosse frenética.